segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

MARIA JACINTHA TROVÃO DA COSTA CAMPOS - TEATRÓLOGA ATUANTE - UMA HOMENAGEM DO FOCUS PORTAL CULTURAL.

 
 


 
 

Artista que participa do período de modernização do teatro, trabalhando no Teatro do Estudante do Brasil (TEB) e fundadora do Teatro de Arte do Rio de Janeiro e do Teatro Fluminense de Arte.

Sua carreira como teatróloga começou quase por acaso. Disposta a escrever um romance, verificou que seu estilo era teatral, recheado de diálogos. 

Tendo Benjamin Lima como seu primeiro grande incentivador, em 1940, sua primeira peça, intitulada "O Gosto da Vida", era encenada no Teatro Rival pela Companhia Jaime Costa, garantindo à Jacintha lugar privilegiado nas colunas de crônica teatral de todos os jornais do país.

 

 




Maria Jacintha Trovão da Costa Campos nasceu em Cantagalo - RJ em 27 de setembro 1906, autora, crítica, ensaísta e tradutora e diretora.
 
Seu primeiro texto teatral, O gosto da vida, foi montado pela Companhia Jaime Costa, em 1938. As peças Conflito, Já é manhã no mar e Convite à vida foram encenadas por Dulcina de Moraes. A Doutora Magda foi encenada pela Companhia Iracema de Alencar. Em Já é Manhã no Mar estiveram em cena Ribeiro Fortes, Jardel Filho, Dulcina de Moraes e Odilon Azevedo.

Convite à Vida tinha um pendor paficista e foi encenada no momento da partida da FEB (Força Expedicionária Brasileira) rumo à Itália. A última peça de Maria Jacintha, Um não sei quê que nasce não sei onde (1968), foi inspirada nas situações dramáticas do país sob a ditadura instaurada em 1964. Maria Jacintha, durante esse período da história brasileira, chegou a ser presa durante aquele regime militar [Maria Jacintha traduziu escritores russos, como Tchekhov, cuja vida foi anterior à revolução de 1917 (Tchekhov morreu em 1904). Sua peça Intermezzo da imortal esperança foi publicada pelo Serviço Nacional de Teatro (MEC), Rio de Janeiro, em 1973.

Tendo recebido o apoio do teatrólogo Benjamin Lima, fundador e diretor do CPT (Curso Prático de Teatro, do MEC, por muitos anos, Maria Jacintha foi a diretora artística do TEB (Teatro do Estudante do Brasil), tendo contribuído para a atualização do repertório do grupo. Organizou as temporadas de Arte de Dulcina de Morais.


Participou do período de modernização, na primeira metade do século XX, do teatro brasileiro, tendo sido uma das fundadoras do Teatro de Arte do Rio de Janeiro e do Teatro Fluminense de Arte. Conhecida por seu vasto conhecimento histórico e literário, lecionou no Conservatório Brasileiro de Teatro, que funcionava na Praia do Flamengo, Rio, no prédio da UNE (União Nacional dos Estudantes), edificação que depois foi incendiada, durante o regime militar.


Notabilizou-se pelo apoio que dava aos novos talentosos atores, entre eles, por exemplo, Nicette Bruno, Fernanda Montenegro, Kléber Machado, Mauro Mendonça e outros. Segundo Maria Jacintha, uma erudita da tradição intelectual dos escritores brasileiros da primeira metade do século XX, - à qual o termo renovação não era estranho -,

"teatro", fundamentalmente, "é texto e interpretação".


Desde que sofreu um acidente automobilístico, Maria Jacintha usava uma bengala, que dela se tornou amiga inseparável, mas já se deslocava em cadeira rodas  quando, perto do fim de sua vida, no Teatro Municipal de Niterói, foi homenageada pelo conjunto de sua obra e pela coerência e firmeza de suas idéias e práticas como educadora, dramaturga, crítica e tradutora. Nessa ocasião, com o local lotado, Nicette Bruno, já internacionalmente célebre como atriz de telenovelas, expressou, entre depoimentos outros de amigos e estudiosos da obra de Maria Jacintha, a gratidão pelo auxílio que Maria Jacintha lhe deu no início da carreira. Quando Arlete Pinheiro Esteves da Silva - a Fernanda Montenegro - tornou-se a primeira atriz latino-americana a receber uma indicação, pela Academia de Hollywood, para o Oscar de melhor atriz, Maria Jacintha já havia falecido.

Maria Jacintha, que dominava também o idioma russo, traduziu da língua francesa peças dos seguinte autores: Jean Girandoux, Jean Anouilh, Paul Claudel, Albert Camus etc.

Sobre Maria Jacintha escreveu Mário de Andrade: "(...) autora [que] faz questão de manifestar durante todo o texto uma imparcialidade absoluta, permitindo que as personagens exponham seus pontos-de-vista e se revelem"


A Universidade Federal Fluminense, onde se estuda em profundidade a obra de Maria Jacintha [em 2006, Marise Rodrigues defendeu uma tese de doutorado concernente (RODRIGUES, 2006)], tem em seu principal auditório uma placa que a homenageia. No teatro onde funcionou o antigo Cassino da Praia de Icaraí, são levadas peças teatrais, podem ser ouvidos concertos música clássica ou popular e, também servindo como cinema, ali são exibidos filmes de excelência estética ao público niteroiense e carioca que para lá se desloca em busca de arte e sensibilidade.




Assume a direção do TEB, em 1940, quando Paschoal Carlos Magno se ausenta do Brasil. Sob sua direção, estreia Cacilda Becker, e Sandro Polloni faz seus primeiros cenários. Dulcina de Moraes e Esther Leão são suas ensaiadoras. Funda o Teatro de Arte do Rio de Janeiro, em 1947, junto com Dulcina e Odilon Azevedo, companhia em que se lançam os estreantes Nicette Bruno, Fernanda Montenegro, Kléber Machado e Mauro Mendonça. Funda o Teatro Fluminense de Arte. Suas peças são encenadas pelas companhias Dulcina-Odilon, Jaime Costa e Iracema de Alencar-Álvaro Pinto. O Gosto da Vida, que estréia em 1938, recebe o 1º Prêmio de Teatro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Na década de 1950, escreve para rádio-teatro e suas peças vão ao ar pela Rádio Nacional. Sua tradução de As Três Irmãs, de Anton Tchekhov, em 1953, ganha a medalha do Serviço Nacional de Teatro (SNT).
 
 
 
Com a pintora e jornalista Silvia Chalréo, funda e dirige a revista Esfera. Colabora com diversos periódicos - O Globo, Correio da Manhã, O Jornal, Jornal do Commercio, Revue Française du Brésil, entre outros.
 
 
Traduz, do francês e do russo, peças que são publicadas e encenadas, entre elas: Anfitrião 38, de Jean Girandoux; Jezebel, de Jean Anouilh; O Sapato de Cetim, de Paul Claudel; Estado de Sítio, de Albert Camus.
 
 
Libertária e pacifista, discute em suas peças os direitos da mulher e a motivação das guerras. O jornalista Genolino Amado escreve sobre Convite à Vida, encenada pela Companhia Dulcina-Odilon em 1945: "Há, na peça da Senhora Maria Jacintha, uma qualidade literária e uma alerteza, diante das questões políticas do momento, que a distinguem e, mesmo, a singularizam em nosso repertório atual, tão escasso de obras assim. [...] há, em verdade, um convite ao que honra e enobrece a vida moderna - isto é, a desinteressada meditação diante da sorte do mundo, neste pós-guerra [...]".1
 
 
Na opinião de Mário de Andrade, "a autora faz questão de manifestar durante todo o texto uma imparcialidade absoluta, permitindo que as personagens exponham seus pontos-de-vista e se revelem".

No ano de 1988 recebeu o Título de Intelectual do Ano, concedido pelo Grupo Mônaco do Cultura.

A artista faleceu em Niterói - RJ em 20 de dezembro de 1994.
 
 
 


Outros dados:
 
 
Formação (Niterói-RJ), 1923:
Escola Normal de Niterói;
Radioteatro (Rio de Janeiro-RJ, peças apresentadas pela Rádio Nacional)
A Confidente;
Uma História para uma Canção;
Travessia;
O Vampiro;
História de Todos os Tempo.
Principais Trabalhos como Tradutora:
As Três Irmãs, de Tchecov;
Anfitrião 38, de Jean Giraudoux;
Jezebel, de Jean Anouilh;
O Sapato de Cetim, de Paul Claudel;
Estado de Sítio, de Albert Camus;
Homenagens/Prêmios:
1939 - Rio de Janeiro RJ - 1º Prêmio de Teatro da Academia Brasileira de Letras, ABL - por sua peça O Gosto da Vida;
1953 - Rio de Janeiro RJ - Medalha do Serviço Nacional de Teatro, SNT - melhor tradução por As Três Irmãs, de Anton Tchekhov.

Peças de teatro

  • Conflito. Porto Alegre: Edições Meridiano, 1942. (Coleção Tucano)
  • Já é manhã no mar. Petrópolis: Vozes, 1968. (Coleção Diálogo da Ribalta)
  • Um não sei quê que nasce não sei onde. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1968. (Teatro Brasileiro)
  • Convite à vida. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1969. (Teatro Brasileiro)
  • Intermezzo da imortal esperança. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, MEC, 1973.
 

Sala Maria Jacintha no Solar do Jambeiro, Niterói - RJ





 
 
 
 
FONTE
 

Texto publicado em JACINTHA, Maria. Conflito. Porto Alegre: Tucano, 1939.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Jacintha

  • LEITE, Luiza Barreto. A mulher no teatro brasileiro. Rio de Janeiro: Espetáculo, 1965.
    • MAGALDI, Sábato. Moderna dramaturgia brasileira. São Paulo: Perspectiva, 1998.
    • RODRIGUES, Marise. Ressonâncias & memórias: Maria Jacintha, dramaturga brasileira do século XX – história de uma pesquisa. Tese (Doutorado em Letras; Estudos de Literatura, Literatura Comparada) – Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.
    • RODRIGUES, Marise. Um não sei quê que nasce não sei onde: Maria Jacintha e a ditadura encenada. In: MACIEL, Diógenes; ANDRADE, Valéria (orgs.). Por uma militância teatral: estudos de dramaturgia brasileira do século XX. Campina Grande: Bagagem/ João Pessoa: Idéia, 2005, p. 93-108.
    • VINCENZO, Elza Cunha de. Um teatro da mulher: dramaturgia feminina no palco brasileiro contemporâneo. São Paulo: Perspectiva, 1992.
    • WILLEMART, Philipe. Bastidores da criação literária. São Paulo: Iluminuras; Fapesp, 1999.





     
     

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