sexta-feira, 17 de agosto de 2018

HILDA HILST FOI CONSIDERADA UMA DAS MAIORES ESCRITORAS DA LÍNGUA PORTUGUESA DOS ÚLTIMOS TEMPOS. COM UMA EXTENSA PRODUÇÃO ARTÍSTICA, A AUTORA FOI UMA POETISA, FICCIONISTA, DRAMATURGA E CRONISTA BRASILEIRA QUE DEIXOU UM GRANDE LEGADO.

 

 

 


 

 
 
A intensa e prolífica atividade literária de Hilda Hilst se desdobrou em livros de ficção e em peças de teatro, mas foi na poesia que ela deu início e fim à sua carreira. Ao longo de 45 anos, entre 1950 e 1995, a poeta publicou em pequenas tiragens graças ao entusiasmo de editoras independentes — com destaque para Massao Ohno, seu amigo e principal divulgador. No início dos anos 2000, os títulos de Hilda passaram a ser publicados pela Globo, editora com ampla distribuição. Nessa época, a sua escrita, até então considerada marginal e hermética, começou a receber o interesse de uma legião de leitores e estudiosos. Agora, a Companhia das Letras reúne, pela primeira vez, toda a lavra poética da autora de Bufólicas em um só livro, que inclui, além de mais de 20 títulos, uma seção de inéditos e fortuna crítica. O material contém posfácio de Victor Heringer, carta de Caio Fernando Abreu para Hilda, dois trechos de Lygia Fagundes Telles sobre a amiga e uma entrevista cedida a Vilma Arêas, publicada no Jornal do Brasil em 1989. A poesia de Hilda — que ganha forma em cantigas, baladas, sonetos e poemas de verso livre — explora a morte, a solidão, o amor erótico, a loucura e o misticismo. Ao fundir o sagrado e o profano, a poeta se firmou como uma das vozes mais transgressoras da literatura brasileira do século XX.
 
 
 
 

 
 
 
PRESSÁGIO — POEMAS PRIMEIROS foi lançado quando Hilda Hilst tinha vinte anos. A obra, publicada em São Paulo em 1950 pela Revista dos Tribunais, com ilustrações de Darcy Penteado, deu início a uma extensa produção que, a partir da década de 1960, passaria a abarcar também peças de teatro e, em 1970, títulos de ficção. Mas foi na poesia que Hilda começou sua carreira. Entre Presságio e Cantares do sem nome e de partidas, de 1995, sua lavra poética se estenderia por volumes frequentemente ilustrados, publicados por pequenas editoras ao longo de quase cinco décadas.
 
 
 
O segundo livro de Hilda, Balada de Alzira, veio a lume em 1951, num intervalo de apenas um ano em relação ao primeiro. Dessa vez o título, publicado pela também paulistana Edições Alarico, incluía ilustrações de Clóvis Graciano. O terceiro volume, que saiu em 1955 pela editora carioca Jornal de Letras, fecharia uma espécie de trilogia de formação. Balada do festival concluiu a primeira fase da poesia de Hilda, que, experimentando gêneros variados, encontrou na balada uma de suas formas de predileção: com os cantos de amor e de amizade ela retratou a “paisagem sem cor dentro de mim”, anunciada nas lamentações de partida e nas assombrações com a solidão e a morte.
 
 
Os três livros seguintes — Roteiro do silêncio, de 1959, Trovas de muito amor para um amado senhor, de 1960, e Ode fragmentária, de 1961 — foram publicados pela mesma editora de São Paulo, a Anhambi. Nesses volumes, Hilda proclama: “Não cantarei em vão”. Os poemas retomam o apreço pelas formas clássicas, com canto medieval e intensa dedicação ao amado. Sete cantos do poeta para o anjo, de 1962, ilustrado por Wesley Duke Lee, apontou o início de uma profícua parceria entre Hilda e Massao Ohno — amigo, editor e um dos principais entusiastas de sua poesia.
 
 
Em 1967, a obra de Hilda foi recolhida pela Livraria Sal, de São Paulo, em um único tomo intitulado Poesia (1959/1967). É possível perceber algumas modificações se as primeiras edições forem comparadas com esta coletânea, sobretudo na estrutura: os três primeiros títulos ficaram de fora da compilação, que tem início em Roteiro do silêncio. A reunião abrange, além dos títulos mencionados, Trajetória poética do ser (I), Odes maiores ao pai, Iniciação do poeta, Pequenos funerais cantantes ao poeta Carlos Maria de Araújo e Exercícios para uma ideia, livros que não haviam sido publicados de modo avulso.
 
 
Júbilo, memória, noviciado da paixão, lançado em 1974 por Massao Ohno, ilustrado por Anésia Pacheco Chaves, introduz uma nova fase de Hilda. Há, nesse livro, a mesma estima pela tradição lírica e a veia apaixonada que consolidou sua obra, mas com uma diferença singular: é o primeiro livro de poesia posterior à sua estreia na prosa. Pouco antes de Júbilo, ela mergulhou intensamente no teatro, escrevendo oito peças no fim dos anos 1960, e se dedicou também a dois livros de ficção, Fluxo-Floema (1970) e Qadós (1973).
 
 
Publicado em 1980 por Massao Ohno e Roswitha Kempf Editores, Da morte. Odes mínimas também traz uma novidade: os poemas são ilustrados com seis aquarelas da própria Hilda. O conjunto inaugura sua segunda compilação, que deu conta de vinte anos de produção em Poesia (1959/1979), lançada no mesmo ano de 1980 pelas Edições Quíron e pelo Instituto Nacional do Livro.
Cantares de perda e predileção, publicado em 1983 por Massao Ohno em parceira com M. Lydia Pires e Albuquerque, reúne setenta poemas que tematizam a morte, o sacrifício e a espiritualidade. No ano seguinte, em 1984, o editor Massao Ohno, em colaboração com Ismael Guarnelli Editores, lançou Poemas malditos, gozosos e devotos. Se nas odes ilustradas do livro de 1980 Hilda interpela diretamente a morte, em Poemas malditos seu interlocutor imediato é a busca por uma ideia de Deus.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A incapacidade de dar nome a Ele é o fio que conduz Sobre a tua grande face, publicado em 1986 por Massao Ohno, com grafismos de Kazuo Wakabayashi. Amavisse, Via espessa e Via vazia formariam uma trilogia lançada em 1989 por Massao Ohno sob o título Amavisse. Em tom metafísico, o livro elabora a perda do amor e o lugar ocupado pelo desejo. Em entrevista ao Correio Popular, de Campinas, em maio de 1989, a autora definiu este como sua “despedida”: “não vou publicar mais nada, porque considerei um desaforo o silêncio”.1 A reunião, acrescida de Sobre a tua grande face, Do desejo, Da noite e Alcoólicas — este último publicado em 1990, com ilustrações de Ubirajara Ribeiro, pela editora paulistana Maison de Vins —, daria corpo a um novo livro, concebido pela própria autora. O conjunto dos sete volumes resultou em Do desejo, publicado em 1992 pela editora Pontes, de Campinas.
 
 
No mesmo ano saiu Bufólicas, com desenhos de Jaguar, lançado por Massao Ohno. O volume encerra a tetralogia obscena, composta por esse livro de poesia e três de prosa, que marcam a fase em que Hilda disse “adeus à literatura séria”: O caderno rosa de Lori Lamby, de 1990, Contos d’escárnio/ Textos grotescos, de 1990, e Cartas de um sedutor, de 1991. Depois dessas fábulas parodiadas, com altas doses de humor, Hilda lançou em 1995, com Massao Ohno, sua última e breve coletânea de dez poemas, reunidos em Cantares do sem-nome e de partidas. Sua última compilação em vida, publicada em parceria de Massao Ohno e Edith Arnhold em 1999, é Do amor.
 
 
Em 2001, a obra de Hilda passou a ser publicada pela Globo, editora de amplo alcance que agrupou sua lavra poética em oito tomos, organizados pelo crítico Alcir Pécora.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No presente volume, que reúne pela primeira vez toda a poesia de Hilda, a ordem cronológica dos livros foi mantida. Acrescentamos uma seleção de versões e esboços de poemas inéditos, recolhidos na Casa do Sol e na Unicamp, para observar de perto o processo criativo da poeta que, com frequência, inventava palavras — é o caso de “malassombros”, “mesmismo” e “correirice”, além de aglutinações como “porisso” e “vezenquando”.
 
 
Este livro cobre, assim, um arco de intensa atividade de Hilda, que se dedicou apaixonadamente à poesia ao longo de 45 anos. Em entrevista ao Suplemento Literário de Minas Gerais, em abril de 2001, ela ponderou sobre sua poética:
 
 
“Não é que eu queira uma aceitação do público. Mas quando a gente vai chegando à velhice como eu, com setenta anos, dá uma pena ninguém ler uma obra que eu acho maravilhosa. Fico besta de ver como as pessoas não entendem o que escrevi. Recuso-me a dar explicações. Falam coisas absurdas, que a minha obra não tem pontuação, não tem isso, não tem aquilo… Acho desagradável ter que falar sobre a minha obra, é muito difícil. Sei escrever”.
 
 
 
 
 
 
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