quarta-feira, 9 de abril de 2025

SINFONIA DE UMA VIDA: PERFIL BIOGRÁFICO DE GIUSEPPE VERDI


No fértil terreno da Itália romântica, onde a emoção transbordava em canções e a identidade nacional fervilhava, surgiu Giuseppe Fortunino Francesco Verdi. Imortalizado pelo simples, mas poderoso nome de Verdi, este compositor de óperas não apenas capturou o espírito de sua era, mas o inflamou. Considerado o coração musical do nacionalismo italiano, sua influência no século XIX rivaliza com a de Richard Wagner na Alemanha, ambos gigantes que moldaram a sonoridade de suas respectivas nações. 

Na alvorada fria de um outubro distante, em 1813, a pequena Le Roncole, aninhada no coração da Itália, testemunhou o nascimento de um menino cujo destino ecoaria pelos séculos. Chamaram-no Giuseppe, e sua vida se entrelaçaria para sempre com a tapeçaria da ópera, tecendo melodias que cativariam plateias e incendiariam paixões. 

Desde tenra idade, a chama da música ardia intensamente em Verdi. Nascido em lar modesto, encontrou no presente singelo de um cravo antigo a sua primeira janela para um universo sonoro. Seus dedos pequenos logo desvendaram os segredos das teclas, e aos doze anos, já dedilhava as harmonias sacras como organista da igreja local. Contudo, seu espírito ambicionava voos mais altos, sonhando com os corredores do prestigioso Conservatório de Milão. A porta, porém, fechou-se inesperadamente, julgando-o um talento tardio e insatisfatório.

Mas a rejeição não silenciou a sua vocação. Com a perseverança como guia, buscou aprimoramento com mestres particulares, pavimentando seu próprio caminho para o palco lírico. Em 1839, sua estreia com Oberto alcançou um sucesso discreto, um prenúncio tímido do que viria. A sombra da tragédia, contudo, logo pairou sobre sua vida, ceifando em poucos anos o amor de sua esposa e a inocência de seus dois filhos. No abismo da dor, a música quase se tornou uma lembrança distante.

O destino, porém, reservava uma ária diferente para Verdi. Em 1842, a estreia triunfal de Nabucco o catapultou ao estrelato. O pungente coro "Va, pensiero", entoado pelos escravos hebreus, transcendeu a ópera, tornando-se um hino não oficial para os italianos que ansiavam pela unificação de sua pátria. O compositor transformou-se em símbolo do Risorgimento, a força motriz por trás da unificação italiana. 

A partir desse momento, a torrente de sua genialidade tornou-se imparável. De sua pena floresceram obras imortais como o drama visceral de Rigoletto (1851), a paixão ardente de Il trovatore (1853) e a comovente história de amor em La Traviata (1853), inspirada na vida da cortesã parisiense Marie Duplessis, que também ecoou em "A Dama das Camélias".

Com o passar dos anos, Verdi aprofundou sua arte, presenteando o mundo com monumentos líricos como a grandiosa Aida (1871), encomendada para a inauguração do Canal de Suez, e a intensidade dramática de Otello (1887), um mergulho na alma shakespeariana. Sua derradeira ópera, a espirituosa Falstaff (1893), revelou que mesmo na maturidade, sua chama criativa permanecia incandescente. 

Apesar da fama e da fortuna, Verdi manteve a simplicidade como um farol em sua vida. Em seus anos derradeiros, utilizou sua riqueza para construir um lar acolhedor para músicos idosos e necessitados, a Casa di Riposo per Musicisti, um gesto de generosidade que espelhava seu profundo amor pela arte e pelo seu povo. 

Quando Giuseppe Verdi se despediu do mundo em 27 de janeiro de 1901, Milão se vestiu de luto. Mais de trezentas mil pessoas acompanharam seu cortejo fúnebre, e enquanto seu caixão percorria as ruas, uma onda sonora uniu as vozes em um só canto: "Va, pensiero", a melodia que havia insuflado esperança e união em uma nação.

 

Hoje, sua música pulsa com a mesma vitalidade, lembrando o homem que elevou a ópera a um patamar de emoção, poder e beleza inigualáveis. Giuseppe Verdi não foi apenas um compositor; ele personificou a alma da Itália, e seu legado ressoa eterno, uma melodia que jamais se extinguirá. 

VIDA PESSOAL E CARREIRA

Apesar de gostar de dar a impressão de vir de uma origem camponesa, o pai de Verdi, um estalajadeiro e pequeno proprietário de terras, garantiu que ele tivesse aulas de música desde cedo e outras oportunidades educacionais. Verdi começou a estudar antes dos quatro anos e, aos sete, ganhou um espineta de presente.

Verdi casou-se com Margherita Barezzi, filha de seu patrono Antonio Barezzi. Eles tiveram dois filhos, Virginia e Icilio, que morreram na infância. Pouco depois, em 1840, Margherita faleceu aos 26 anos, um período de grande sofrimento para o compositor. 

Mais tarde, Verdi teve um relacionamento duradouro com a soprano Giuseppina Strepponi, com quem se casou em 1859. Ela foi uma importante influência em sua vida e carreira. Verdi tornou-se um símbolo do movimento de unificação italiana (Risorgimento). Seu coro "Va, pensiero" de Nabucco tornou-se um hino patriótico. Ele chegou a ser eleito para o primeiro parlamento italiano.

Conhecido por ser um homem sério e reservado, com um forte senso de integridade e profissionalismo. Ele era meticuloso em seu trabalho e tinha opiniões fortes sobre a produção de suas óperas. 

Após o sucesso de Aida, Verdi considerou se aposentar, mas voltou a compor com as aclamadas óperas Otello e Falstaff. Nos seus últimos anos, dedicou-se à construção da Casa di Riposo per Musicisti, um lar para músicos aposentados.

É considerado um dos maiores e mais influentes compositores de ópera da história. Suas obras são pilares do repertório operístico mundial.

Verdi revolucionou a ópera italiana, afastando-se das convenções tradicionais e buscando uma maior integração entre música e drama. Ele enfatizava a expressividade vocal e a intensidade emocional. 

Suas óperas são famosas por suas melodias belíssimas e memoráveis, que capturam as emoções dos personagens de forma poderosa.

As suas óperas permanecem extremamente populares até hoje, sendo frequentemente encenadas em teatros de todo o mundo. Ele, ao lado de Puccini, é um dos compositores de ópera italiana mais representados. 

A sua música transcendeu o mundo da ópera, influenciando a cultura italiana e mundial. Suas melodias foram usadas em diversos contextos, e seu nome se tornou sinônimo de paixão e intensidade emocional. 

Embora seja mais conhecido por suas óperas, também compôs outras obras, incluindo um belíssimo e monumental Requiem (1874), considerado uma de suas maiores conquistas não operísticas. Ele também escreveu algumas peças sacras e canções. 

VISÃO ARTÍSTICA E PROCESSO CRIATIVO 

Verdi acreditava que a música na ópera deveria servir ao drama. Ele dava grande importância à expressividade da voz humana, moldando suas melodias para realçar as emoções e os conflitos dos personagens.

Verdi era muito exigente com seus libretistas e se envolvia ativamente no processo de criação do libreto. Ele tinha uma visão clara de como a história deveria ser contada e como os personagens deveriam se expressar musicalmente. Suas colaborações com libretistas como Francesco Maria Piave e Arrigo Boito foram cruciais para o sucesso de suas óperas.

Suas primeiras óperas mostram influências do bel canto, mas ele gradualmente desenvolveu um estilo mais dramático e pessoal, com harmonias mais ricas e uma orquestração mais expressiva. Suas últimas obras, como Otello e Falstaff, demonstram uma profundidade psicológica e uma sofisticação musical ainda maiores. 

Embora a voz fosse central, Verdi também utilizava a orquestra de forma magistral para criar atmosfera, sublinhar emoções e comentar a ação dramática. Ele explorava as cores e as possibilidades expressivas de cada instrumento. 

Verdi tinha aversão a passagens musicais puramente virtuosísticas que não servissem ao drama. Ele buscava uma música que fosse sempre significativa e emocionalmente carregada.

RELAÇÕES E INFLUÊNCIAS 

Influências Musicais: Embora tenha desenvolvido um estilo próprio inconfundível, Verdi foi influenciado por compositores como Gioachino Rossini, Vincenzo Bellini e Gaetano Donizetti, especialmente em suas primeiras obras.

Verdi tinha uma relação complexa com outros compositores de sua época. Ele admirava alguns, como Meyerbeer em certos aspectos, mas também era crítico de outros. Sua relação com Richard Wagner, em particular, era marcada por um respeito mútuo, mas também por diferenças significativas em suas abordagens à ópera.

A influência de Verdi é vasta e duradoura. Muitos compositores posteriores, tanto italianos quanto de outras nacionalidades, foram influenciados por sua abordagem dramática, sua melodia expressiva e sua maestria orquestral. 

A história de sua rejeição no Conservatório de Milão é bem conhecida, mas é importante notar que ele foi aconselhado a procurar tutores particulares, o que ele fez com sucesso. 

O coro "Va, pensiero" de Nabucco rapidamente se tornou um símbolo da identidade italiana e do desejo de unificação, sendo cantado espontaneamente em manifestações e eventos patrióticos.

Em seus últimos anos, Verdi dedicou-se também à administração de suas propriedades agrícolas perto de Busseto, mostrando um lado prático e ligado à terra.

A Casa di Riposo per Musicisti, fundada por Verdi, continua a operar até hoje, oferecendo um lar digno para músicos idosos e necessitados, testemunhando sua generosidade e seu amor pela profissão. 

Seu funeral em Milão foi um evento de proporções nacionais, com uma enorme multidão prestando suas últimas homenagens a um dos maiores ícones da cultura italiana. 

Em resumo, Giuseppe Verdi foi um artista multifacetado, um mestre da ópera que revolucionou o gênero com sua visão dramática e sua capacidade de criar melodias que tocam a alma. Sua vida foi marcada por triunfos artísticos, tragédias pessoais e um profundo amor pela sua pátria e pela música. Seu legado continua vivo em cada apresentação de suas obras, emocionando e inspirando novas gerações.

 © Alberto Araújo

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COM GRANDE ALEGRIA O PEN CLUBE DO BRASIL CONVIDA PARA UMA LEITURA TEATRALIZADA ESPECIAL DE "CARTAS DE DAMAS".

 

Este espetáculo, idealizado e dirigido por Paulo Reis, traz à vida as palavras e histórias de figuras femininas marcantes.

Onde termos a honra de acompanhar as interpretações de Rose Abdallah como Carlota Joaquina, Alexia Dechamps na pele de Maria Leopoldina, Isadora Ribeiro vivenciando Domitila de Castro, e Laís Chamma interpretando Genoveva Mattos. Os textos que darão voz a estas damas são assinados por Duia Assumpção, Márcia Santos, Maria Clara Mattos e Regiana Antonini.

Um Encontro Inesquecível com as Damas que fizeram História!

O aclamado espetáculo "CARTAS DE DAMAS", idealizado e dirigido pelo visionário Paulo Reis, convida você a mergulhar em um universo de paixão, intriga e reflexão. Quatro talentosas dramaturgas cariocas – Duaia Assumpção, Marcia Santos, Maria Clara Mattos e Regiana Antonini – teceram breves monólogos que revelam os corações e mentes de figuras femininas icônicas do nosso passado. 

Imagine-se em um animado debate de época, onde as cartas enviadas a Dom Pedro I por sua mãe, Carlota Joaquina, sua esposa, Maria Leopoldina, sua amante, Domitila de Castro, e sua governanta, Genoveva Matos, são lidas e reinterpretadas sob uma nova luz. 

Mas a jornada não para por aí! Em um encontro celestial surpreendente, essas quatro personagens fascinantes – eternamente vivas em nossa imaginação – compartilham segredos de suas vidas e confrontam a evolução da mulher na sociedade brasileira ao longo dos séculos. 

E para culminar esta experiência única, prepare-se para uma conversa franca e reveladora com as brilhantes atrizes Alexia Deschamps, Isadora Ribeiro, Laís Chamma e Rose Abdallah, em um diálogo aberto com o público presente sobre as questões que ecoam desde aquele tempo até os nossos dias. 

Não perca esta oportunidade de presenciar as Grandes Damas do Brasil "dando as cartas" e desvendando os caminhos que moldaram  e ainda moldam o nosso destino. 

Este espetáculo é um convite irrecusável a uma viagem no tempo, repleta de emoção, inteligência e a força inesquecível das mulheres que marcaram a nossa história.

Este evento imperdível acontecerá no dia 14 de abril de 2025, às 17h, no PEN Clube do Brasil, situado na Praia do Flamengo, 172, 11º andar.

 

Site: https://penclubedobrasil.org.br/

Instagram: https://www.instagram.com/penclubedobrasil/

E-mail: pen@penclubedobrasil.org.br

Editorial

Alberto Araújo

Focus Portal Cultural







A TELA QUE GRITA EM MEIO À TEMPESTADE REFLEXÃO DE ALBERTO ARAÚJO SOBRE A "TEMPESTADE NO MAR DA GALILEIA" DE REMBRANDT

 


A "Tempestade no Mar da Galileia" de Rembrandt transcende a moldura e o tempo. Não é tinta sobre tela, mas sim um grito silencioso ecoando através dos séculos, um espelho implacável que nos confronta com a fragilidade da nossa própria existência. As ondas turbulentas não são apenas pinceladas selvagens; representam o caos que irrompe em nossas vidas, as crises que nos lançam ao mar revolto da incerteza e do medo. 

Observemos o terror estampado nos rostos dos apóstolos. Ali, em cada expressão de pavor e desespero, reconhecemos nossas próprias reações diante do inesperado, da dor lancinante, da sensação avassaladora de perda de controle. Eles são nós, agarrados precariamente à embarcação da esperança, enquanto as forças da adversidade ameaçam nos engolir. 

E no centro da turbulência, a figura serena de Jesus. Sua presença, em contraste gritante com o pandemônio ao redor, não é um mero elemento pictórico. É a âncora que nos questiona: em meio ao naufrágio iminente, onde depositamos nossa fé? A quem recorremos quando as ondas da vida se tornam implacáveis? 

A tela de Rembrandt não é um mero registro histórico de um milagre bíblico. É uma metáfora visceral da nossa jornada humana. Cada pincelada carrega a urgência de uma mensagem atemporal: as tempestades virão, inevitavelmente. A questão crucial não é se elas nos alcançarão, mas sim quem está no nosso barco.

Essa obra icônica, tragicamente roubada, permanece viva em nossa memória e imaginação, não apenas como um tesouro perdido da arte, mas como um lembrete poderoso e inquietante. Ela nos intima a olhar para além da superfície das nossas provações e a buscar a força que reside na fé, na esperança e na convicção de que, mesmo nas piores tormentas, se a presença divina nos acompanha, nosso barco, por mais sacudido que seja, jamais afundará. É um chamado à introspecção, um convite a encontrar a calmaria no epicentro da tempestade, ancorados em uma certeza que transcende a fúria das ondas.


SOBRE A TELA
 

“Tempestade no mar da Galileia” é uma pintura a óleo sobre tela de 1633, do artista da era de ouro dos Países Baixos, Rembrandt Harmenszoon van Rijn. 

A pintura foi roubada em 1990 do Museu Isabella Stewart Gardner e, desde então, permanece desaparecida. A pintura retrata o relato bíblico onde Jesus, durante a travessia do mar da Galileia, acalma a tempestade que ameaçava afundar o barco, como é especificado no evangelho de Marcos, no capítulo 4. É a única pintura de Rembrandt que tem o mar como tema. 

A pintura, em formato vertical, mostra os discípulos lutando, freneticamente, contra a força da tempestade para retomar o controle do barco pesqueiro onde estavam. Uma grande onda bate na proa e rompe a vela. Um dos discípulos é visto vomitando na parte de baixo do barco. Ao seu lado, olhando diretamente para quem olha a pintura, está um auto retrato do artista. Apenas Jesus, à direita, permanece calmo.





terça-feira, 8 de abril de 2025

O CONCERTO DAS ESTRELAS SILENCIOSAS MINICONTO. 08 DE ABRIL, DIA NACIONAL DO SISTEMA BRAILE. HOMENAGEM DO FOCUS PORTAL CULTURAL



O CONCERTO DAS ESTRELAS SILENCIOSAS

MINICONTO

 

O sol daquela tarde de outono em Niterói pintava o céu com tons de laranja e violeta, mas para o pequeno Tiago, de apenas sete anos, as cores vibrantes se esvaíram em um instante de gritos e areia. A brincadeira de pique-bandeira na praia, que antes era pura alegria e correria, terminou em um choque inesperado, uma queda abrupta e a escuridão impiedosa engolindo a luz dos seus olhos.

Os primeiros dias foram um turbilhão de dor física e emocional. A saudade das cores da sua pipa, do azul infinito do mar que tanto amava, do sorriso da sua mãe, era uma ferida constante. Tiago se fechou em um mundo de silêncio e lágrimas, onde a escuridão era a única constante. Seus pais, com o coração em pedaços, buscavam incessantemente uma forma de reacender a chama da vida no pequeno corpo fragilizado. 

Foi Dona Helena, uma senhora doce e de mãos enrugadas que frequentava a igreja do bairro, quem trouxe uma nova melodia para a vida de Tiago. Ela era professora de Braille e, com uma paciência infinita, começou a apresentar ao menino um universo de possibilidades através de pontos em relevo. As letras dançavam sob seus dedos, formando palavras, frases e, aos poucos, abrindo as portas de um novo aprendizado.

Paralelamente ao aprendizado do Braille, Tiago descobriu um refúgio inesperado no velho piano da sala. Inicialmente, eram apenas toques hesitantes, notas soltas que ecoavam a sua tristeza. Mas, com o tempo, seus dedos ganharam firmeza e sensibilidade. Ele passava horas explorando as teclas, sentindo a vibração das cordas, deixando que a música preenchesse o vazio da sua visão perdida. 

Um professor de música local, o Maestro Ricardo, percebeu o talento bruto e a paixão que emanavam dos dedos de Tiago. Ele se ofereceu para ensiná-lo, guiando-o pelos intrincados caminhos da harmonia e da melodia. Maestro Ricardo não via a cegueira de Tiago como uma limitação, mas sim como uma porta para uma percepção musical mais profunda. Ele o ensinou a ouvir as nuances, a sentir as emoções em cada acorde, a traduzir em som o que seus olhos não podiam mais ver. 

Anos se passaram, e Tiago se tornou um pianista virtuoso. Seus concertos lotavam teatros em todo o Brasil. Sua música era carregada de uma emoção palpável, uma intensidade que tocava a alma de cada ouvinte. Críticos o aclamavam, não apenas pela sua técnica impecável, mas pela forma como ele parecia conversar com o piano, extraindo dele melodias que pintavam quadros na mente de quem o escutava. 

Na noite de um concerto especial, realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a plateia estava em silêncio reverente enquanto Tiago se preparava para tocar sua peça mais ambiciosa, uma composição original que ele havia dedicado à sua jornada. As luzes se apagaram, e seus dedos deslizaram pelas teclas com uma precisão e uma paixão avassaladoras. A música que emanava do piano era ora suave como um sussurro, ora forte como um trovão, carregando consigo a dor da perda, a perseverança do aprendizado e a alegria da descoberta através do som.

Ao final da apresentação, a plateia explodiu em aplausos fervorosos. Tiago curvou-se, um sorriso sereno iluminando seu rosto. Mas o momento mais impactante ainda estava por vir.

Após os aplausos cessarem um pouco, uma voz familiar ecoou do meio da plateia: "Meu filho...". Era a voz embargada de sua mãe. Tiago ergueu a cabeça na direção da voz, um brilho diferente nos seus olhos antes opacos. 

Sua mãe se aproximou do palco, guiada por seu pai. Ela segurava algo em suas mãos. Ao chegar perto de Tiago, ela colocou em suas mãos um pequeno objeto. Os dedos sensíveis do pianista exploraram a superfície, reconhecendo instantaneamente o formato familiar. Era a pequena bandeirinha de tecido desbotado, a mesma que ele segurava naquele fatídico dia na praia.

Lágrimas silenciosas escorreram pelo rosto de Tiago enquanto seus dedos percorriam as dobras do tecido. Naquele momento, não havia escuridão. Através do toque, ele revivia a memória daquele dia, não com dor, mas com uma compreensão profunda. Aquele acidente, que lhe roubou a visão, paradoxalmente o havia conduzido a um universo de sons e sensações que ele jamais teria explorado de outra forma.

Com a voz embargada pela emoção, Tiago disse ao microfone: "Esta bandeirinha... ela me tirou a luz dos olhos, mas me deu a luz da música. Ela me ensinou que, mesmo na mais profunda escuridão, existem estrelas silenciosas esperando para serem ouvidas." 

O silêncio que se seguiu foi mais eloquente do que qualquer aplauso. A plateia, comovida, compreendeu a profundidade daquelas palavras. Tiago não havia apenas superado a sua cegueira; ele a havia transformado em sua maior força, encontrando na ausência da visão uma sinfonia de possibilidades que ecoava em cada nota do seu piano, um concerto eterno para as estrelas que brilhavam em seu coração. 

© Alberto Araújo


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Junho de 2018, Inspirado, após assistir ao filme “Música do Silêncio” baseado na vida de Andrea Bocelli. Musical. Direção: Michael Radford | Roteiro Michael Radford. Elenco: Toby Sebastian, Antonio Banderas, Jordi Mollà.

 

MENSAGEM DE ALBERTO ARAÚJO DO FOCUS PORTAL CULTURAL PARA AQUELES QUE NAVEGAM PELO MUNDO SEM O FAROL DA VISÃO, MAS COM A BÚSSOLA DA CORAGEM NO CORAÇÃO.

Que a ausência da luz dos olhos jamais ofusque o brilho da sua alma. Vocês são a prova viva de que os obstáculos são apenas desvios no caminho, e não barreiras intransponíveis. Cada toque que desvenda um novo mundo em Braille, cada melodia que ecoa da ponta dos seus dedos, cada passo firme em direção aos seus sonhos é um testemunho da força indomável que reside em vocês. 

Lembrem-se que a visão vai além do que os olhos podem ver. Vocês possuem uma percepção aguçada, uma sensibilidade profunda e uma capacidade de superação que inspira e transforma. O mundo se revela a vocês de maneiras únicas, e em cada desafio conquistado, vocês reescrevem a definição de limite.

Não se deixem definir pela ausência, mas sim pela presença vibrante da sua resiliência, da sua inteligência e da sua paixão. O caminho pode parecer mais tátil, mais sonoro, mas ele é igualmente rico e cheio de possibilidades infinitas.

Continuem a trilhar seus caminhos com a certeza de que a verdadeira visão reside no coração e na mente. O mundo precisa da persistência de vocês, da sabedoria que conquistaram e da luz interior que irradia em cada vitória. Vocês são faróis de esperança, maestros da superação e a melodia inspiradora de uma vida sem limites. Sigam em frente, com a força que só vocês possuem. O futuro é tão vasto e promissor quanto a imaginação dos seus corações.

 

© Alberto Araújo




A MEDIAÇÃO NA SEGUNDA INSTÂNCIA EM DESTAQUE COM O DESEMBARGADOR NAGIB SLAIBI FILHO



No dia 07 de abril de 2025, a advocacia brasileira testemunhou um marco significativo para a resolução de conflitos. A Comissão de Mediação e Arbitragem (CMedArb) da ABAMI RJ, sob a inspiradora presidência da Dra. Alessandra Duarte Caldeira Avila, promoveu um evento que ecoará nos anais do direito: "A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO NA SEGUNDA INSTÂNCIA PROFERIDA PELO DESEMBARGADOR NAGIB SLAIBI FILHO". 

A noite foi abrilhantada pela presença e sabedoria do Excelentíssimo Desembargador Nagib Slaibi Filho, uma voz de referência no cenário jurídico nacional. Sua palestra, aguardada com grande expectativa, iluminou a importância crucial e os benefícios inegáveis da Mediação no âmbito da segunda instância. Compartilhando sua vasta experiência, o Desembargador enriqueceu a compreensão de todos sobre o potencial transformador da mediação em instâncias superiores do judiciário, desmistificando paradigmas e inspirando uma nova perspectiva sobre a resolução de litígios.

A solenidade ganhou um toque ainda mais especial com a posse da Dra. Matilde Slaibi Conti como nova Secretária Jurídica de Mediação da CMedArb. Sua chegada representa um reforço inestimável para os trabalhos da Comissão, trazendo consigo expertise e uma dedicação notável à promoção da mediação e da arbitragem como caminhos eficazes e humanizados para a solução de controvérsias.

Realizado em formato híbrido, conectando o presencial no prestigiado auditório Darnley Villas Boa na Av. Rio Branco, 135, grupo 504 - Centro, com o alcance do online via Zoom, o evento demonstrou a visão vanguardista da CMedArb em disseminar o conhecimento e fomentar a participação de todos, independentemente da localização. 

Sob a dedicada organização da Coordenação da Comissão de Mediação e Arbitragem da ABAMI RJ, presidida pela Dra. Alcilene Ferreira de Mesquita, este encontro não apenas celebrou a importância da mediação, mas também reforçou o compromisso da ABAMI RJ com a evolução e o aprimoramento dos mecanismos de resolução de conflitos no Brasil. 

O dia 07 de abril de 2025 ficará marcado como um momento de aprendizado, celebração e fortalecimento da cultura da mediação na segunda instância, impulsionado pela visão e experiência do Desembargador Nagib Slaibi Filho e pelo renovado vigor da CMedArb.

 

Editorial

Alberto Araújo

Focus Portal Cultural






















LEGADO DE HONRA E SABEDORIA: DESEMBARGADOR NAGIB SLAIBI FILHO COROADO PELA MAGISTRATURA FLUMINENSE

 

A foto mostra um grupo de pessoas posando para uma foto em um ambiente formal, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. No centro do grupo, vestindo uma toga preta com detalhes vermelhos, está o Dr. Nagib Slaibi Filho. Ele está cercado por outras pessoas, presumivelmente amigos e colegas, que estão sorrindo para a câmera. O ambiente sugere uma ocasião especial, possivelmente uma homenagem ou celebração, dada a vestimenta formal de algumas pessoas e a atmosfera geral da imagem.

 

Em um dia marcado pela reverência e reconhecimento, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) celebrou a trajetória exemplar do desembargador Nagib Slaibi Filho, condecorando-o com a prestigiosa Medalha de Honra da Magistratura Fluminense. A solenidade, realizada em sessão solene do Órgão Especial em 07 de abril de 2025, marcou também a despedida compulsória do magistrado, que dedicou mais de quatro décadas de sua vida à nobre missão de servir à Justiça. 

As palavras do presidente do TJRJ, desembargador Ricardo Couto de Castro, ecoaram o sentimento de toda a corte, enaltecendo a figura de Nagib Slaibi Filho como um "grande magistrado, professor de todos nós". Sua jornada multifacetada, que o viu trilhar os caminhos da Justiça desde oficial de justiça até desembargador, enriquecendo o tribunal com sua vasta experiência e conhecimento, foi motivo de orgulho para seus pares.

A homenagem proferida pela desembargadora Maria Inês Gaspar ressaltou a profundidade do currículo do desembargador, um intelectual prolífico com inúmeros livros e artigos publicados, além de sua ativa participação em diversas instituições jurídicas e literárias, como a Academia Fluminense de Letras e a Academia Niteroiense de Letras. A entrega da medalha, um símbolo máximo do reconhecimento da magistratura fluminense, foi conduzida pela 1ª vice-presidente do TJRJ, desembargadora Suely Lopes Magalhães, e pela desembargadora Maria Augusta Vaz Monteiro de Figueiredo.

Em seu discurso de despedida, o desembargador Nagib Slaibi Filho, que presidiu a 3ª Câmara de Direito Público desde 2011, compartilhou um balanço de sua notável trajetória, iniciada há 55 anos. Sua caminhada, que abrangeu as funções de oficial de justiça, escrivão de polícia, promotor, juiz e, finalmente, desembargador, totaliza 43 anos dedicados à causa da Justiça. 

A vasta erudição do desembargador, atestada por seus títulos acadêmicos  pós-doutorado, doutorado e livre-docência em Direito, além de sua atuação como professor titular da Universidade Salgado de Oliveira e presidente de importantes fóruns e escolas da magistratura solidifica seu legado como um pilar do saber jurídico. 

A condecoração e a despedida do desembargador Nagib Slaibi Filho representam não apenas o reconhecimento de uma carreira brilhante, mas também a celebração de um magistrado que, com sua dedicação, conhecimento e integridade, deixou uma marca indelével na história da Justiça fluminense. Seu legado de honra e sabedoria continuará a inspirar as futuras gerações de juristas.

 

Editorial

Alberto Araújo

Focus Portal Cultural








FONTE: https://www.tjrj.jus.br/noticias/noticia/-/visualizar-conteudo/5111210/403766706




segunda-feira, 7 de abril de 2025

A MELODIA QUE ACALENTA A ALMA E O CORAÇÃO CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO

(Leon Hansen Nascimento tocando piano)

A tela do celular captura um instante de pura ternura, um fragmento de um vídeo na página do Facebook de Dalma Nascimento que ressoa com a beleza dos laços familiares e o poder transcendente da música. 

Na imagem, o neto Leon Hansen entrega-se à melodia de Elvis Presley ao piano, seus dedos deslizando pelas teclas em uma homenagem sentida. Ao seu lado, a avó Dalma, com um olhar atento e carinhoso, absorve cada nota, cada inflexão da música e voz do neto que inunda o ambiente de afetividade. 

A cena se completa com a presença serena de um companheiro de quatro patas, um cachorro que repousa tranquilamente ao lado de Dalma, como se também ele estivesse imerso na magia da canção. É um quadro de perfeita harmonia, onde a música preenche o ambiente, unindo avó, neto e até mesmo o fiel amigo em um momento de contemplação compartilhada. 

A legenda singela, "Apreciando a voz de meu neto Leon Hansen. Canção: An American Trilogy - Elvis Presley", revela o orgulho e o afeto que emanam de Dalma. 

Ao contemplar essa imagem, é impossível não sentir a emoção que ela irradia. Presenciei a minha esposa, Shirley, vivenciar e se emocionar com a linda cena, que é um testemunho da beleza dos momentos simples, da força dos laços familiares e do talento multifacetado de Leon, um artista completo que encanta não apenas com sua voz e música, mas também com sua sensibilidade e amor pelos seres vivos. 

Para além deste momento íntimo, Leon Hansen Nascimento possui uma voz extraordinária, frequentemente comparada à do lendário Elvis Presley, um talento que já encantou plateias em ocasiões especiais. 

Em momentos memoráveis, como a posse de sua avó, Dalma Nascimento, na Academia Niteroiense de Letras, Leon emocionou os presentes no salão nobre da Academia Fluminense de Letras, em 29 de maio de 2019, com uma interpretação tocante de My Way, acompanhada pela suavidade do piano.

Sua “performance” brilhou novamente na posse do jornalista e escritor Alberto Araújo, onde sua voz potente e afinada voltou a emocionar o público com a mesma canção, entre outras apresentações notáveis. 

Leon não é apenas um cantor de voz excepcional, mas também um exímio pianista com composições próprias e um virtuoso no violão. Sua paixão pela música o levou a estudar canto lírico na Faculdade de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aprimorando ainda mais seu talento. 

Entretanto, a arte de Leon transcende a música, alcançando o universo do cinema, revelando um artista multifacetado com diversas formas de expressão. 

E suas qualidades admiráveis não se restringem ao campo intelectual e artístico; Leon demonstra uma profunda compaixão pelos animais, resgatando-os das ruas e dedicando-lhes cuidados amorosos.

E concluindo a minha crônica, a melodia de Leon ao piano, embalando a atenção carinhosa de sua avó e a tranquila presença do cachorro, é um lembrete de que, em meio à vida, existem instantes de pura beleza e emoção que aquecem o coração e celebram um talento que toca a alma em diversas dimensões.

Link do vídeo no Facebook de Dalma Nascimento

https://www.facebook.com/share/v/1A9y4tWDKK/  


(ou clicar na imagem para assistir ao vídeo)

 

© Alberto Araújo

07 de abril de 2025. 

Dia Nacional do Jornalista