Quem lê prosa contemporânea poderá pensar na tetralogia napolitana da Elena Ferrante, em “Torto Arado”, “Detetives Selvagens”. Nos livros de Ursula K. Le Guin ou de Philip K. Dick. Valter Hugo Mãe ou Rachel Cusk. Zadie Smith ou Falero. São obras enormes. São como monumentos arquitetônicos na paisagem literária.
Disso nasce o convite: Entre os dias 16 e 22 de janeiro de 2023, será o início ao “Primeiro Capítulo – A Semana da Preparação do Romance”, uma formação online e gratuita na qual falaremos disso e apenas disso: do romance e daquilo que o romance abarca.
A mensagem começa com uma pergunta, que eu gostaria de fazer:
Qual
é o gênero literário que você lê com mais frequência?
Contos ou romances? Crônicas ou romances? Poesia ou romance?
A chance é de que dentre os gêneros ficcionais, você tenha respondido: romance. É o que as pessoas mais leem.
E
por que o romance é o gênero mais lido e vendido em todo o mundo?
Talvez você também tenha esta resposta: porque num romance desaparecemos. Passamos um tempo em um determinado mundo, num conflito específico. E parte do prazer da leitura está nesta supressão do sujeito de sua realidade imediata, na maravilhosa oportunidade de embarcar em outro destino. Nas páginas de uma saga, de uma jornada, de um destino, deixo momentaneamente os meus aborrecimentos. O mundo cresce de tamanho.
O
romance costura destinos e, com isso, a chance é de que exerça um efeito
reparador nos leitores. Uma matéria publicada na revista Brain Connectivity de
2014 relata um estudo que mapeou a atividade cerebral de voluntários durante a
leitura de um romance. O que descobriram? Que o cérebro entende a narrativa
como algo real, faz novas conexões, deixa vestígios, mobiliza a plasticidade
cerebral em áreas ligadas à ação, não apenas à memória. Todo cérebro tem algo
de quixotesco, portanto, confundindo a ficção dos livros com a realidade. E
isso implica em aprendizados, distanciamento, repertório de vida.
A preferência dos leitores pelo gênero longo desmente a ideia de que as pessoas não gostam de ler. Os mais jovens, os menos habituados à leitura de obras exigentes do ponto de vista formal e lexical, são facilmente absorvidos por um romance.
E quando gostam do que leem, a tendência dos leitores é que, entre arriscar-se a ler um autor de que nunca ouviram falar ou uma nova obra deste mesmo romancista, o sujeito numa livraria ficará com este último. Este é o mesmo motivo dos sucessos das séries, de thrillers policiais a ficções fantásticas, mas também de todas as obras bem urdidas e bem elaboradas. As pessoas querem voltar a habitar um mundo, uma voz. É como se o romancista e seus personagens se tornassem amigos dos leitores. Nós nos apegamos.
Para os autores, aparte a chance de conquistar leitores e de ser lido por mais gente, a escrita do romance pode ser um caminho para quem se aventura pela escrita e deseja aprender com a própria prática, mesmo que você nunca tenha escrito e publicado um texto dos gêneros breves.
Uma das maiores dificuldades na hora de escrever é construir um hábito. A melhor maneira de construir este hábito é mergulhar num estado de esquecimento dentro da obra que você está escrevendo, dia após dia. Quer você decida estruturar a sua obra, quer não, um romance tem um fio. Você acorda de manhã com uma noção vaga do que vai fazer, e isso é fundamental para sentir-se entusiasmado quando sentar-se diante do computador ou do caderno. É claro, você nunca vai saber exatamente como se dará uma sessão de escrita, e disso deriva parte do prazer. Mas este “fio” é o que costuma ajudar o ficcionista a escrever com regularidade. É o melhor remédio contra um suposto bloqueio do escritor. No conto, por exemplo, você estará sempre procurando, tentando definir o próximo passo, porque você está sempre criando a partir do zero.
Romances são imersivos não apenas para os leitores, mas também para seus autores. A melhor maneira de aprender a escrever é escrever com regularidade. Se você quer escrever pra valer e habitar este hábito, talvez o romance seja o seu caminho.
A questão seguinte é: mas como? Afinal, o romance é o Everest dos gêneros literários. É um sinal tremendo de autoridade do autor, até porque não é um tiro de cem metros. É uma maratona.
Quando pensamos num romance, nos vem à cabeça um “Grande Sertão: veredas”, um “O Morro dos Ventos Uivantes”, “Crime e Castigo”, “Orlando” ou “São Bernardo”. Quem lê prosa contemporânea poderá pensar na tetralogia napolitana da Elena Ferrante, em “Torto Arado”, “Detetives Selvagens”. Nos livros de Ursula K. Le Guin ou de Philip K. Dick. Valter Hugo Mãe ou Rachel Cusk. Zadie Smith ou Falero. São obras enormes. São como monumentos arquitetônicos na paisagem literária.
O romance demanda habilidades específicas, e um conhecimento variado de seus recursos, para que o seu autor não se perca no caminho.
É
um caminho de possibilidades infinitas, mas eu cansei de ver pessoas que
desistiram ou embarcaram em obras que lhe tomaram dias, meses, anos, e que
careciam de elementos essenciais – coesão, apelo, tratamento da linguagem,
respeito ao tempo da obra etc. – que poderiam ser sanados com uma formação: um
diálogo com a experiência anterior de romancistas consagrados, com leitores e
editores, com o que estamos vivendo na literatura hoje.
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