LUÍS ANTÔNIO PIMENTEL foi um poeta, professor, jornalista e memorialista brasileiro. Referência para muitas gerações nas áreas em que atuou, foi ao longo de sua vida um ativo militante de sua profissão, de suas bandeiras e principalmente da cultura.
Nasceu em Miracema - RJ, em 29 de março 1912, posteriormente, se mudando para Niterói. Sempre se mostrou engajado nas causas a favor da história da cidade de Niterói, colaborando decididamente para a consolidação das instituições culturais locais.
Pimentel mudou-se para Niterói aos
dois anos de idade, e viveu desde os 5 anos na mesma casa. Na escola, aprendeu
o ofício de entalhador e marceneiro, desenvolvendo uma placa comemorativa feita
na infância que hoje adorna a escadaria da Biblioteca Pública de Niterói.
Sobrinho do literato Figueiredo Pimentel, de quem sempre reconheceu a
influência da obra sobre os primeiros trabalhos literários, o professor começou
a trabalhar como jornalista em 1935.
Num plantão de carnaval na Gazeta de
Notícias, viu o anúncio de uma bolsa de estudo no Japão. Foi para lá em 1937,
único brasileiro em um bairro só de japoneses. Esteve fora entre 1937 e 1942.
Na volta, trouxe seu livro “Namida no Kito”, de 1940, o primeiro de um poeta de
língua portuguesa traduzido e publicado em japonês. Trouxe também a paixão pelo
haicai, pequenos poemas típicos do país.
O autor também reconheceu ter se permitido inovar esse estilo de poesia ao tratar de temas tropicais, criando também o haicai erótico, o engajado politicamente e o étnico. Contudo, estas pequenas transgressões não corromperam o cânon estético inaugurado por Matsuô Bashô, como a rigorosa métrica e a exigência da indicação da estação do ano (Kigo) e dos fenômenos da natureza nas composições.
No Brasil, o jornalista tornou-se um dos precursores desse estilo, ao lado de Olga Savary e Helena Kolody, tendo trabalhado para a inclusão do termo “haicai” na língua portuguesa e para a sua inclusão em dicionário. Na época, Pimentel encaminhou o pedido a Aurélio Buarque de Holanda, por intermédio do gramático Celso Cunha, evitando que o termo se dispersasse em outras transliterações.
Formou-se em 1952, na terceira turma do curso de Jornalismo no Brasil. Seu patrono na formatura é o mesmo da cadeira que ocupou na Academia Niteroiense de Letras, desde 1973, José do Patrocínio. Foi um dos jornalistas mais antigos a exercer a atividade, como colunista da área de cultura fluminense do jornal A Tribuna desde a década de 1950.
Ao longo de sua vida, o escritor teve
sua obra poética traduzida também para o inglês, o alemão, o francês, o
espanhol e o sueco. O professor, folclorista, pesquisador, historiador,
fotógrafo, haicaísta, jornalista, poeta e, principalmente, apaixonado por Niterói,
escreveu cerca de 15 livros, entre eles estão “Contos do Velho Nippon”, de
1940, “Tankas e haicais”,de 1953, “14 Igrejas que contam a história de
Niterói”, de 1986, e “Topônimos Tupis de Niterói”, um glossário de verbetes em
tupi, de 1980 “Cem haicais eróticos e um soneto de amor nipônico”,de 2004,
“Haicais Onomásticos”, de 2007.
Além da primeira biografia, assinada
por Alaôr Eduardo Scisínio, a obra do poeta recebeu diversos estudos, como o
escrito pelo filósofo brasileiro R.S. Kahlmeyer-Mertens, que nos últimos anos
vem dedicando trabalhos sobre a produção de haicais do poeta, destacando o
relevo do pensamento de Pimentel para a contemporaneidade.
Memorialista e biógrafo, sendo carinhosamente chamado de "homem-enciclopédia", Pimentel foi em seu centenário homenageado pela Secretaria Municipal de Cultura e pela Fundação de Arte de Niterói, por meio da editora Niterói Livros, com a reedição, em um volume, de dois de seus mais importantes livros: "Eles Nasceram em Niterói" e "Topônimos Tupis de Niterói", obras básicas para se conhecer a história da cidade.
Morreu aos 103 anos, em 06 de maio de
2015, em Niterói, depois de um quadro de pneumonia.
O BUSTO EM BRONZE DE PIMENTEL – POESIA
DE ALBERTO ARAÚJO
Não, não quero que o vejam como
simples
estátua no bronze a acinzentar-se
e a cabeça sem o corpo inteiro.
Tampouco deixar seu fulgor
se esvaecer ao tempo.
Sou seu discípulo. Conheci o seu
cérebro
e sei como suas pupilas amadurecidas
fazem falta a mim, seu eterno
escudeiro.
Sim, quero que o vejam como
o busto que esbraseia,
ainda eterno baluarte
com a luz do olhar,
palpitante a cintilar.
Não, não quero que o vejam como
mero torso sem clarão e sorriso
por onde passa a multidão.
Sim, quero que o vejam como
monumento resplandecente
com seu mais brilhante casaco de
estesia
bailando sua eterna poesia
ao sol dourado desta Praça
em frente a esse mar de sortilégio e
graça.
De manhã até ao ocaso já enluarado
estará Pimentel, no bronze eternizado,
cuja memória nos fortalece e guia,
não sendo sua estátua
uma quimérica fantasia.
Alberto Araújo
editor e jornalista
FONTE:
https://www.culturaniteroi.com.br/blog/mapeamentocultural/2616
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