CANDIDO P O RTINA R I No c í r c u l o d e lu z Na a s a d o s o l
PALAVRAS DO CURADOR: J a c o b K l i n t o w i t z
A ideia de fazer uma exposição individual do artista Candido Portinari sempre esteve presente no meu imaginário, desde que comecei a trabalhar nesta área. Cresci rodeado por arte e isso moldou a minha percepção estética. Tenho uma relação pessoal também com a obra de Portinari, portanto a realização desta exposição é a concretização de um sonho. Admiramos pessoalmente e profissionalmente o trabalho do João
Candido Portinari à frente do Projeto Portinari, sem o qual este projeto não teria sido possível, por isso, o nosso muito obrigado. Gostaríamos de agradecer também ao curador Jacob Klintowitz, por nos presentear com a sua sensibilidade, apurada percepção e conhecimento inigualável para a concretização deste projeto. Sem ele, não teria sido possível a sua devida concretude. A exposição por ele intitulada:
Candido Portinari
No círculo de luz
Na asa do sol
faz menção a um dos últimos poemas escritos por Portinari, meses antes da sua morte. A trajetória do artista é marcada por um processo de trabalho árduo, valoroso, e com um reconhecimento em vida digno de grandes personalidades, como é a do artista. Mesmo sabendo da fragilidade de sua saúde devido à intoxicação pelo chumbo das tintas, continuou a trabalhar até a morte. Achamos oportuna a produção desta mostra coincidir com os 120 anos de nascimento do artista, dessa forma prestamos também uma homenagem ao seu legado estético.
A última exposição comercial de Portinari aconteceu há cerca de sete anos, na cidade de São Paulo. Recentemente tivemos a exposição “Portinari para Todos”, no MIS Experience, que recebeu expressivos 400 mil visitantes. O diferencial da nossa exposição é que conseguimos reunir um número significativo de obras que estavam dispersas em coleções particulares, e pela primeira vez nesta exposição serão expostas em conjunto. Nesse sentido, consideramos uma grande oportunidade para o público ter acesso a obras raras e pouco expostas. A exposição apresenta aproximadamente 100 obras que marcam diversas facetas e fases do artista, com o intuito de tornar íntimo e próximo penetrar no universo do fazer portinariano.
Com a certeza de que esta exposição
nasce histórica, marcando o papel da Galeria Frente em valorizar a memória e a
história dos grandes artistas nacionais, produzimos também este livro. Nele,
além de trazer as obras que
foram expostas, contextualizamos a
produção do artista a partir de um trabalho
primoroso selecionado pelo curador e
com o apoio inestimável do Projeto
Portinari, que nos cedeu as imagens para este grande projeto. Desfrutem!
Tenho a honra de receber com gratidão esta exposição em comemoração aos 120 anos do nascimento do meu pai. É ainda mais especial por ser resultado de um “trabalho de amor e técnica” - como Antonio Callado, biógrafo de Portinari, certa vez descreveu o Projeto Portinari, realizado por três caros amigos que ocupam um lugar muito especial em minha estima e admiração, além de serem personalidades de proa nas artes e na cultura: Jacob Klintowitz, curador da mostra, e James e Acacio Lisboa, comandantes da Galeria Frente, todos três profundamente conectados ao legado de Portinari.
Em 6 de fevereiro de 1962, Guilherme
Figueiredo despede-se de Portinari:
“… Morreu o menino Candido Portinari, que saiu de minha terra com papel e cores em punho para a imensa aventura de pintar uma pátria. Pintá-la, não: criá-la de uma realidade ignorada, mostrá-la aos quatro cantos do mundo, contorcida, ofegante, opressa, inaugural, como a dizer-lhe: ‘Somos assim’.
Um dia, seremos apenas os farrapos de narrativa de nossa existência. E mãos ávidas, mãos sábias do futuro virão recompor o que fomos, virão surpreender-se de nós. E do pó que seremos, retirarão o que beberam aqueles olhos e o que se escapou por aqueles dedos. E saberão que neste lugar existimos, porque ele inventou a nossa eternidade …”
Se um dia essas “mãos ávidas do futuro” quiserem saber quem foi Portinari e o que ele nos legou, o texto composto por Jacob especialmente para esta ocasião bastaria para ir ao fundo da compreensão. Comoveu-me especialmente Jacob ter se referido, como o fez, ao nosso inesquecível mestre e amigo Israel Pedrosa, que certamente, lá do Alto, estará emocionado com esta linda homenagem ao pintor e amigo que ele tanto amou.
Concluo minhas breves palavras
formulando o desejo de que todos os visitantes desta exposição possam renovar,
especialmente em tempos tão confusos e ameaçadores, sua fé na Arte, de que ela
é capaz de nos salvar da brutalidade, da falta de afeto e de significado, do
desamor e da desesperança, como tão bem captou Drummond:
O universo portinariano
Se às vezes dói
Sempre fulgura
Entrelaça como num verso
O que é humano
Ao que é pintura
Nenhum comentário:
Postar um comentário