Na manhã ensolarada do dia 11 de junho de 2023 – domingo, o Centro da Comunidade Luso-Brasileira, presidido pelo Sr. Anselmo Ferreira Dias promoveu a solenidade comemorativa do Dia de Portugal, de Luís Vaz de Camões e das Comunidades Portuguesas, ocasião em que a Professora Doutora Márcia Pessanha proferiu palestra sobre o tema.
O evento aconteceu diante do busto de Camões, emblemática escultura que fica junto ao prédio da Biblioteca Parque de Niterói e Academia Fluminense de Letras, na Rua Dr. Celestino em Niterói. A solenidade contou com a organização da cerimonialista Senhora Ana Ranhada.
O
encontro teve a presença do Sr. Orlando Cerveira Presidente do Clube Português de
Niterói e Sr Anselmo Ferreira, Presidente da Comunidade Portuguesa de Niterói.
Dia de Portugal, de Camões
e das Comunidades Portuguesas
Estamos aqui reunidos nessa bela manhã de junho, brasileiros e portugueses, diante do busto de Luís Vaz de Camões para prestar-lhe uma justa e merecida homenagem.
O
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas celebra a data de 10
de junho de 1580, data da morte de Camões, sendo este dia também dedicado ao
Anjo Custódio de Portugal.
A
1ª referência ao caráter festivo do dia 10 de junho ocorreu em 1880, por um
decreto real de D. Luís I, que declara Dia de Festa Nacional e de Grande Gala,
para comemorar os 300 anos da morte de Luís de Camões. Houve várias mudanças e
considerações a respeito das comemorações desta data. Até 25 de abril de 1974 o
dia 10 de junho era conhecido como o Dia
de Camões, de Portugal e da Raça, mas na Terceira República com uma
filosofia diferente, em 1978 converteu-se em Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas.
Assim,
10 de junho é uma data para celebrar Portugal, sua história, sua cultura,
tradições, sua e nossa gente. E Luís Vaz
de Camões, poeta máximo da língua portuguesa, deixou para sempre gravado em seu
poema épico, publicado em 1572, Os
Lusíadas a saga de um povo e realça, também, a contribuição das comunidades
portuguesas espalhadas pelo mundo na valorização de Portugal, como bem podemos
ouvir seu brado patriótico, no canto 1, versos 15 e 16 : Cantando espalharei por toda parte,/ se a tanto me ajudar o engenho e a
arte. E isso aconteceu, pois a memória histórica e sentimental portuguesa
está bem enraizada no Brasil e aqui em Niterói é bem expressiva a participação
da comunidade luso-brasileira.
Antes
de falarmos especificamente sobre a obra camoniana, vamos conhecer um pouco de
sua biografia. Filho de Simão Vaz e Ana de Sá, Luís
Vaz de Camões nasceu em Lisboa, por volta de 1524/1525. Provavelmente teve uma
boa e sólida educação, na qual aprendeu sobre história, línguas e literatura. Estudos
indicam que ele era indisciplinado e que, supostamente, teria ido à Coimbra
para estudar. No entanto, não há registros de que ele tenha sido aluno da
Universidade.
Ainda jovem, interessou-se pela literatura, iniciando sua
carreira literária como um poeta lírico na corte de Dom João III. Muitos
historiadores dizem que nesse período Camões teve uma vida muito boêmia. Na
altura, também passou por uma desilusão amorosa, momento em que decidiu
tornar-se um soldado. Diz-se que uma de suas paixões foi Catarina de Ataíde,
Dama da Corte de Catarina da Áustria. Desiludido, ingressou no Exército da
Coroa Portuguesa em 1547 e, no mesmo ano, embarcou como soldado para a África.
Foi ali que Camões perdeu o olho direito.
Em 1552, ele volta a Lisboa e continua com sua vida
boêmia. No ano seguinte, embarca para as Índias, onde participa de várias
expedições militares. Estudos apontam que ele foi preso tanto em Portugal,
quanto no Oriente. Foi durante uma de suas prisões que ele começou a escrever
sua obra mais conhecida: Os Lusíadas. E quando retornou a
Portugal, resolveu publicar sua obra. Na ocasião, recebeu uma pequena quantia
em dinheiro do Rei Dom Sebastião. Muitas vezes incompreendido pela sociedade,
Camões se queixou pelo pouco reconhecimento que teve em vida. Foi somente após
sua morte que sua obra passou a ser foco das atenções.
Hoje, ele é considerado um dos maiores escritores de
língua portuguesa e ainda, um dos maiores representantes da literatura mundial.
Seu nome é conhecido em todo o mundo e é usado em diversas praças, avenidas,
ruas e instituições
O túmulo de Camões encontra-se no Mosteiro dos Jerônimos
em Lisboa.
Vamos, então, agora, retroceder no tempo/espaço, no
século XVI em Portugal e acompanharmos a narrativa camoniana, em Os Lusíadas que se desenrola em cantos,
semelhantes a capítulos ou episódios.
Camões
manifestou o espírito do Renascimento através de sua obra dividida em:
Poesia lírica- em que o
amor e o destino do homem são temas constantes
Poesia épica- em que
recria a história do povo português, retrata as conquistas dos grandes
navegadores portuguesas, a viagem de Vasco da Gama às Índias e muito mais
Poesia dramática-
teatro: escreveu à maneira medieval Auto de Filodemo
e à maneira clássica Anfitriões.
Ainda
sobre os Lusíadas – poema épico ou epopéia é aquele que narra o mundo das
realizações humanas em sua dimensão ideal e grandiosa, desvendado pelo poeta
observador. As personagens do poema épico são heróis de elevado caráter, cuja
grandeza vence os obstáculos.
São epopeias famosas: Ilíada e Odisseia de Homero, a Eneida de Virgílio, A Divina
Comédia de Dante. E ilustrando os feitos de Portugal Os Lusíadas, escrito no século XVI. O nome Lusíadas prende-se à
palavra luso, que significa português.
Seguindo
o modelo da Eneida de Virgílio, a epopeia Os
Lusíadas apresenta a seguinte estrutura: 10 cantos, 1.102 estrofes, 8.816
versos decassílabos com rimas ab, ab, ab,cc,
1ª parte:
(a) Introdução: o poeta se propõe a cantar os feitos guerreiros dos ilustres portugueses.
(b) Invocação: o poeta invoca as Tágides, musas que habitavam o rio Tejo;
(c) Oferecimento: o poeta oferece sua obra ao rei D. Sebastião
2ª parte: Narração (
verso 19 do Canto I até o Canto X) – Conta a viagem de Vasco da Gama às Índias.
Em meio a todas as peripécias são relatados por Vasco da Gama episódios importantes
da História de Portugal.
3ª
parte: Epílogo ( parte do canto X) – No epílogo de sua
obra, Camões refere-se à pátria assolada de epidemia, marchando para uma ruína.
Na
2ª parte –Narração –
Canto
III- No reinado de D. Afonso IV, e descrita a batalha de Salado e o episódio de
Inês de Castro, proclamada rainha depois de morta
Canto IV, são narrados:
(a) A morte de D. Fernando, que termina com a dinastia de Borgonha
(b) A batalha de Aljubarrota
(c) A conquista de Ceuta
(d) Os reinados de D. Duarte, D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, com maior destaque para este último
(e) O sonho de D. Manuel em que o Rio Ganges e Indo aparecem personificados para profetizar a expansão ultramarina dos portugueses.
Como Vasco da Gama ficou incumbido de descobrir o caminho marítimo para as Índias.
(f) O episódio do Velho do Restelo: na praia do Restelo surge um velho que faz severas críticas à viagem.
No Canto V - ressalta-se o episódio do
Adamastor- personificação do Cabo das Tormentas( depois o Cabo da Boa
Esperança)
No Canto VII - A chegada da frota em
Calicute
No Canto VIII - ele dá exemplos histórico-mitológicos do poder
corruptor do dinheiro e da ambição humana.
No Canto IX - Destaca-se o episódio da Ilha dos Amores
No Canto X - O banquete que Tétis oferece
aos navegantes. E esta narra as façanhas futuras dos portugueses. Camões pede
inspiração a Calíope, musa da poesia épica, para terminar seu poema,
Tétis faz a Vasco da Gama uma exposição
do Universo, mostrando-lhe no globo terrestre os lugares em que os portugueses
se notabilizarão. Depois de narrar a chegada dos portugueses à pátria, o poeta
se queixa de seu cansaço e da decadência dos lusitanos. E termina sua epopéia,
exortando D. Sebastião a reerguer a nação dos lusíadas.
Cumpre ressaltar que Camões deixou registrados em Os Lusíadas seus conhecimentos nas áreas de Literatura, História, Geografia, Mitologia, Filosofia, Teologia e muito mais.
Camões lírico - seus poemas e sonetos de amor idealizado, presença da natureza idílica, ele fala do Tejo, dos verdes prados “ Alegres campos, verdes arvoredos/ claras e frescas águas de cristal/ O prado as flores brancas e vermelhas/está suavemente apresentando:/as doces e solícitas abelhas/com sussurro agradável vão voando;/as cândidas pacíficas ovelhas,/ das ervas esquecidas, inclinando/as cabeças estão ao som divino/ que faz, passando, o Tejo cristalino.
E
os poemas com a visão da mulher idealizada Mais
alva que jasmins, e mais corada/ que purpúreas cerejas pelo Maio/ mais loura
que manhã destrançada.
E
finalizo com dois célebres sonetos de
amor
Amor é fogo que arde
sem se ver;
É ferida que dói e
não se sente;
É um contentamento
descontente;
É dor que desatina
sem doer;
É um não querer mais
que bem querer;
É solitário andar por
entre a gente;
É nunca contentar-se
de contente;
É cuidar que se ganha
em se perder;
É querer estar preso
por vontade;
É servir a quem
vence, o vencedor;
É ter com quem nos
mata lealdade.
Mas como causar pode
seu favor
Nos corações humanos
amizade,
Se tão contrário a si
é o mesmo amor.
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Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma coisa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
Camões foi um poeta que vivenciou
muito do que escreveu. E como disse a escritora portuguesa Sophia de Mello
Breyner Andresen “ o artista não vive isolado em uma torre de marfim. Ele
influenciará através de sua obra na formação de uma consciência comum. E Camões
proporcionou nosso encontro aqui hoje, brasileiros e portugueses por uma língua
comum – a portuguesa, e como bem declarou outro grande português Fernando
Pessoa “ nossa pátria é a língua portuguesa.”
E viva CAMÕES!
Professora Doutora Márcia Maria de Jesus Pessanha
Niterói, 11 de junho
de 2023
Inúmeras personalidades da cultura do nosso estado estiveram presentes: Desembargador Nagib Slaibi Filho, atual Vice-Presidente do IHGN e também do Cenáculo, o acadêmico representou a Dra. Matilde Carone Slaibi Conti – Governadora do Distrito 8 do Elos Internacional, Presidente do Cenáculo, IHGN; Publicitário Paulo Roberto Cecchetti, Presidente da Academia Niteroiense de Letras; Márcia Japor membro da diretoria da ASPI/UFF; Professora Cecília Medeiros da CODIM e Presidente do Conselho do Idoso; Acadêmica Sara de Lourdes Cabral, Vice-presidente do Elos Clube de Niterói; Jornalista Erthal Rocha, membro da diretoria da AFL; Trovadora Dulce Mattos da UBT; Zeneida Apolônio Seixas do Rotary Clube de Niterói e inúmeros membros da Comunidade Portuguesa, representantes do Rancho Folclórico Luís de Camões e demais convidados e amigos.
Esta
revista cultural soube por intermédio de amigos que participaram do evento, que
a palestrante Dra. Márcia Pessanha proferiu uma belíssima conferência abordando
o tema relacionado à homenagem. Pois,
sim, somos sabedores de seu desembaraço e verve em muitos encontros que a
intelectual participa.
UM
POUCO SOBRE A PALESTRANTE
Dra. Márcia Pessanha é natural de Campos dos Goytacazes - RJ. Atualmente, é a Presidente da Academia Fluminense de Letras; Federação das Academias de Letras do Estado do Rio (FALERJ); Elos Clube de Niterói. Em 2015 foi eleita Intelectual do Ano de Niterói. Iniciou no magistério, lecionando em escolas do interior campista.
Casada, veio para Niterói, continuou lecionando em escolas estaduais, e ingressou na Universidade Federal Fluminense(UFF).
Formou-se em Letras (Português/Francês), fez Mestrado e Doutorado, em Letras/Literatura na UFF, onde defendeu tese baseada na obra “Quarto de despejo” de Carolina de Jesus. Cursou Aliança Francesa e fez estágio na França (em Vichy). Já como Profª da UFF, participou de intercâmbio na Sorbonne, Paris V. Antes de ingressar na UFF, também lecionou na Faculdade Plínio Leite e na Universo (antiga ASOEC). Coordenou o Curso de Pedagogia da UFF, foi Diretora da Faculdade de Educação da UFF, Presidente do Colegiado de Unidade, Membro do Conselho Universitário (CUV); Vice-presidente do Conselho Municipal de Educação. Atualmente é Coordenadora do PENESBI (Programa Nacional de Educação sobre Negros e Indígenas na Sociedade Brasileira) e Coordenadora do NUEC/PROEX/UFF, Núcleo de Educação e Cidadania da UFF. Foi Representante Regional da Fundação Cultural Palmares (Rio de Janeiro e Espírito Santo) 2015/ 2016.
Foi Presidente da Comissão Executiva do 4º Salão de Leitura de Niterói. Âncora do Programa de Televisão – via NET “Educação na Cidade”, promovido pela Fundação Municipal de Educação de Niterói.
Coordenadora do BOLETRAS – Boletim da Academia Fluminense de Letras.
No dia 02 de junho de 2023, lançou com Paulo Roberto Cecchetti – presidente da ANL a obra “HAICAIS EM DUETO – OLHARES POÉTICOS" com ilustrações de Milalonso e a capa produzida pelo editor Mauro Carreiro Nolasco. Prefácio “Da Palavra, do Palco e do Olhar” assinado pela professora Leonila Murinelly e o “De pincéis e de Palavras” pelo professor Iran N. Pitthan. A obra tem o selo da Editora “Parthenon” sob a edição de Mauro Nolasco e contém 62 páginas.
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