“Uma encenação da peça Henrique VIII de Shakespeare aconteceu no Globe Theatre. Ela foi promovida sob o título alternativo de: A Pura Verdade. Durante o primeiro ato, cena 4 da peça, um canhão cenográfico deflagrou um incêndio, o Globe Theatre foi destruído pelas chamas. William Shakespeare nunca mais escreveu outra peça.”
Este é o preâmbulo do filme “A Pura Verdade” (All Is True), lançado em 2018 e que conta um pouco da vida do notável William Shakespeare. Com a direção de Kenneth Branagh, roteiro de Ben Elton, este drama histórico / biográfico cativa pela simplicidade e leveza com que trata de momentos profundos e melancólicos da vida deste que é considerado por muitos o maior dramaturgo que já existiu.
Após um incêndio destruir o palco de encenação da sua peça Henrique VIII, sobre aquele rei que rompeu com a Igreja Católica pra casar com Ana Bolena, William Shakespeare (Kenneth Branagh) se vê desconsolado a ponto de não conseguir mais escrever outra peça e resolve retornar ao seio de sua família, no interior da Inglaterra.
Mas em A Pura Verdade (All is True) esse não será um retorno fácil para o poeta inglês, que logo se vê tendo de dormir num quarto separado da esposa (Judi Dench) e ainda tem que lidar com a perda do filho e o ressentimento das filhas (Clara Duczmal e Katrhyn Wilder), amplificado por uma sociedade androcentrista que tratava as mulheres como propriedade e lhes negava até mesmo a alfabetização.
Nem o maior escritor da história da literatura está imune aos muitos dramas familiares, ao preconceito pelas raízes pouco nobres, ao fracasso por não ter um herdeiro homem, a paixões platônicas. E enfrenta tudo isso enquanto dedica-se a criar um jardim para homenagear Hamnet seu filho.
A humanidade e o sentimento que Branagh imprime a seu Shakespeare maduro e sofrido, mesmo debaixo de uma maquiagem pesada e um nariz avantajado é o pilar em torno do qual o filme se desenvolve. Mas o ator e diretor faz seu elenco brilhar, com destaque para Judi Dench e Ian McKellen, numa participação especial já antológica em torno do Soneto 29, um dos mais célebres escritos por Shakespeare.
O elenco é composto por Kenneth Branagh, Judi Dench, Ian McKellen, Kathryn Wilder, Lolita Chakrabarti, Michael Rouse, Jack Colgrave Hirst, Matt Jessup, Eleanor de Rohan e Doug Colling.
A trama se passa em 1613. Depois do desastroso incêndio no The Globe, o célebre escritor e dramaturgo inglês William Shakespeare (Kenneth Branagh) dá por encerrada a sua carreira, deixando Londres para trás e retornando para sua cidade-natal, Stratford-upon-Avon. Com sua volta ao lar, Shakespeare terá que encarar de frente inúmeras e profundas reflexões sobre suas relações familiares, erros e acertos cometidos, bem como a morte de seu filho de 11 anos e sua ausência como pai e marido. É neste cenário que ele escreverá suas memórias, enquanto tenta se reconciliar com a família.
O filme nos apresenta importantes
reflexões sobre a importância das coisas a nossa volta e seu papel em nossa
vida. Um trecho que merece lembrança está a seguir:
Já não temas o calor do sol,
nem a ira do raivoso inverno.
Ao fim do trabalho terreno,
vem descanso sereno,
e o merecido soldo eterno.
Rapazes e moças em ouros guarnecidos,
como o pó nas chaminés,
pelo tempo são consumidos.
Já não temas o olhar dos poderosos
estás livre dos golpes do tirano.
Não se preocupe com roupas e
alimentos,
para vós, o junco é soberano.
O rei, o sábio, todos enfim seguem
sua sorte e um triste fim.
Já não temas os raios e afins
nem as pedras do céu temidas
por todos não temas a calúnia,
a censura sem fim.
Acabaram-se as alegrias
e todos os louros.
Jovens amantes vêm,
jovens amantes vão,
mas um dia é certo,
ao pó voltarão.
WILLIAM SHAKESPEARE nasceu em Stratford-upon-Avon, 23 de abril de 1564 e faleceu em Stratford-upon-Avon, 23 de abril de 1616, foi um poeta, dramaturgo e ator inglês, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. É chamado frequentemente de poeta nacional da Inglaterra e de "Bardo do Avon" (ou simplesmente The Bard, "O Bardo"). De suas obras, incluindo aquelas em colaboração, restaram até os dias de hoje 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas narrativos, e mais alguns versos esparsos, cujas autorias, no entanto, são ainda disputadas. Suas peças foram traduzidas para todas as principais línguas modernas e são mais encenadas que as de qualquer outro dramaturgo. Muitos de seus textos e temas permanecem vivos até os nossos dias, sendo revisitados com frequência, especialmente no teatro, na televisão, no cinema e na literatura.
Shakespeare nasceu e foi criado em Stratford-upon-Avon. Aos 18 anos casou-se com Anne Hathaway, com quem teve três filhos: Susanna e os gêmeos Hamnet e Judith. Entre 1585 e 1592 William começou uma carreira bem-sucedida em Londres como ator, escritor e um dos proprietários da companhia de teatro chamada Lord Chamberlain's Men, mais tarde conhecida como King's Men. Acredita-se que ele tenha retornado a Stratford em torno de 1613, morrendo três anos depois. Restaram poucos registros da vida privada de Shakespeare, e existem muitas especulações sobre assuntos como a sua aparência física, sexualidade, crenças religiosas, e se algumas das obras que lhe são atribuídas teriam sido escritas por outros autores.
Shakespeare produziu a maior parte de sua obra entre 1590 e 1613. Suas primeiras peças eram principalmente comédias e obras baseadas em eventos e personagens históricos, gêneros que ele levou ao ápice da sofisticação e do talento artístico ao fim do século XVI. A partir de então escreveu apenas tragédias até por volta de 1608, incluindo Hamlet, Rei Lear e Macbeth, consideradas algumas das obras mais importantes na língua inglesa. Na sua última fase, escreveu um conjunto de peças classificadas como tragicomédias ou romances, e colaborou com outros dramaturgos. Diversas de suas peças foram publicadas, em edições com variados graus de qualidade e precisão, durante sua vida. Em 1623, John Heminges e Henry Condell, dois atores e antigos amigos de Shakespeare, publicaram o chamado First Folio, uma coletânea de suas obras dramáticas que incluía todas as peças (com a exceção de duas) reconhecidas atualmente como sendo de sua autoria.
Shakespeare poeta e dramaturgo respeitado em sua própria
época, mas sua reputação só viria a atingir o nível em que se encontra hoje no
século XIX. Os românticos, especialmente, aclamaram a genialidade de
Shakespeare, e os vitorianos idolatraram-no como um herói, com uma reverência
que George Bernard Shaw chamava de "bardolatria". No século XX sua
obra foi adotada e redescoberta repetidamente por novos movimentos, tanto na
academia e quanto na performance. Suas peças permanecem extremamente populares
hoje em dia e são estudadas, encenadas e reinterpretadas constantemente, em
diversos contextos culturais e políticos, por todo o mundo.
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