No dia 10 de novembro de 1948 nasceu Mário Viegas, Mário Viegas um gênio que nunca separou a poesia do teatro. Tanto assim que o ator é recordado tanto pelo que deu aos palcos e às câmaras como, também, pela poesia que declamou desde Fernando Pessoa e Eugenio de Andrade a Jorge de Sena.
Fez parte da Companhia teatral ‘A Barraca’, fundada por Maria do Céu Guerra e Mário Alberto e, além de ator, destacou-se, igualmente, como encenador e foi responsável pela fundação de três companhias teatrais, incluindo a ‘Companhia Teatral do Chiado’.
Dos seus trabalhos mais notáveis no teatro destacaram-se "Europa não, Portugal nunca!", o seu último êxito corrosivo e socialmente satírico de 1995; "D. João VI", de Hélder Costa, peça pela qual ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Teatro de Sitges, mas não só. Ficariam na memória as suas adaptações de Samuel Beckett, Anton Tchekov, Luigi Pirandello, Eduardo De Filippo e Peter Shaffer, entre muitos outros, sem esconder ou deixar para trás o seu lado satírico, humorístico, ácido e perscrutador que tanto o caracterizava.
Na televisão, a partir dos meados dos anos 80, foi responsável por dois programas essenciais - ‘Palavras Ditas’ e ‘Palavras Vivas’ -, dedicados aos grandes poetas e escritores portugueses.
António Mário Lopes Pereira Viegas nasceu em Santarém, no dia 10 de novembro de 1948 e faleceu em Lisboa, no dia 01 de abril de 1996.
Criado no seio de uma família originária de Santarém, que se dedicava à exploração de farmácias, e de tradição republicana, Mário Viegas despertou para o teatro quando ainda era estudante de história, na Faculdade de Letras de Lisboa. Posteriormente, depois de um período em que viveu no Porto, inscreveu-se na Escola de Teatro do Conservatório Nacional, tendo a sua estreia profissional ocorrido no Teatro Experimental de Cascais, com Carlos Avilez.
A carreira de Mário Viegas como ator centrou-se no teatro ao longo da sua vida, fundou três companhias teatrais a última das quais a Companhia Teatral do Chiado. Enquanto encenador e/ou diretor artístico, foi responsável pela adaptação e encenação dos grandes clássicos do teatro, de autores tais como Samuel Beckett, Eduardo De Filippo, Anton Tchekov, August Strindberg, Luigi Pirandello ou Peter Shaffer. O seu último êxito teatral foi a peça Europa Não! Portugal Nunca (1995).
Paralelamente, Mário Viegas deu-se também a conhecer também pela sua admirável forma de dizer poesia, gravando extensa discografia, em que deu a conhecer ao grande público a obra de alguns dos principais poetas portugueses do século XX, como Antônio Gedeão, Fernando Pessoa, Guerra Junqueiro, Cesário Verde, Camilo Pessanha, Jorge de Sena, Ruy Belo ou Eugenio de Andrade, mas também Luís de Camões, Bertolt Brecht, Pablo Neruda, entre outros.
No cinema, o percurso de Mário Viegas iniciou-se com o longa-metragem O Funeral do Patrão de Eduardo Geada (1975). Participou em seguida em mais de 15 películas, onde sobressai a colaboração regular com José Fonseca e Costa — Kilas, o Mau da Fita (1981), Sem Sombra de Pecado (1983), A Mulher do Próximo (1988) e Os Cornos de Cronos (1991). Participou ainda em O Rei das Berlengas de Artur Semedo (1978), Azul, Azul de José de Sá Caetano (1986), Repórter X de José Nascimento (1987), A Divina Comédia de Manoel de Oliveira (1991), Rosa Negra de Margarida Gil (1992), e A Firma Pereira de Roberto Faenza (1996), onde contracenou com Marcello Mastroianni.
Do seu percurso fazem parte também as suas incursões na política. Em 1995, candidatou-se a deputado, como independente, nas listas da União Democrática Popular (UDP). Em 1996, contando também com o apoio da UDP foi candidato à Presidência da República Portuguesa, adotando a palavra de ordem O sonho ao poder, e buscando apoio no meio universitário lisboeta.
Também foi colunista do Diário Econômico, onde escreveu sobre teatro e humor: Publicou uma autobiografia intitulada Auto-Photo Biografia (1995).
Morreu de SIDA, no dia 01 de Abril de 1996, no Hospital de Santa Maria. O seu corpo está em campa rasa, no talhão dos artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
PRÊMIOS E RECONHECIMENTO
Pela sua atividade teatral, Mário Viegas foi distinguido diversas vezes pela Casa da Imprensa, pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro e pela Secretaria de Estado da Cultura, que lhe atribuiu o Prêmio Garrett (1987). No estrangeiro, foi premiado no Festival de Teatro de Sitges (1979), com a peça D. João VI de Hélder Costa.
E no Festival Europeu de Cinema Humorístico da Corunha, ganhou o premio Melhor Interpretação em 1978, pelo o seu papel no filme O Rei das Berlengas de Artur Semedo.
Recebeu a Medalha de Mérito do Município de Santarém em 1993, que também deu o seu nome ao Fórum Cultural da cidade e o homenageou novamente em 2019, com a visita guiada Santarém em Cena.
Foi condecorado pelo governo português com título de comendador da Ordem do Infante D. Henrique (1994), foi entregue pelo então presidente da República Mário Soares.
O Museu Nacional do Teatro e da Dança dedicou-lhe a exposição Um Rapaz Chamado Mário Viegas, em 2001.
O
Centro Cultural Regional de Santarém instituiu em 2003, o Prêmio Nacional de
Poesia Ator Mário Viegas em sua homenagem.
OBRA
Gravações áudio
1972
- Palavras Ditas, LP Orfeu
1975
- O Operário em Construção e 3 Poemas de Brecht, EP Orfeu
1974
- País de Abril, poemas de Manuel Alegre, LP, Estúdios Polysom, Lisboa, Edição
Orfeu
1976
- 3 Poemas de Amor, Ódio e Alguma Amargura, Edição Arnaldo Trindade Lda., Orfeu
1978
- Pretextos para Dizer..., LP Orfeu
1980
- Humores, 2 LP Orfeu STAT 100
1973
- O Guardador de Rebanhos, Alberto Caeiro - Fernando Pessoa, 2 Vinyl Sassetti
1990
- Poemas de Bibe: Grande Poesia Portuguesa Escolhida para os Mais Pequenos, com
Manuela de Freitas, UPAV
1993
- No Centenário de Almada Negreiros: Manifesto Anti-Dantas, CD Orfeu
FILMOGRAFIA
Entre os seus filmes encontram-se:
1975,
O Funeral do Patrão
1977,
A Santa Aliança
1978,
O Rei das Berlengas (D. Lucas Telmo de Midões)
1980,
Kilas, o Mau da Fita (Rui Tadeu - aliás Kilas)
1980,
A Culpa (Adriano)
1983,
Sem Sombra de Pecado (Aspirante Henrique Sousa Andrade)
1985,
A Boa Pessoa de Setzuan (Telefilme)
1986,
2002 Odisseia no Terreiro do Paço (Telefilme)
1986,
Filmezinhos de Sam (Telefilmes)
1986,
Azul, Azul (Mário)
1987,
Repórter X (Sete Línguas)
1987,
Balada da Praia dos Cães (Voz do Capitão Dantas)
1988,
A Mulher do Próximo (Henrique)
1990,
Segno di Fuoco (usurário)
1991,
O Suicidário (Telefilme)
1991,
Os Cornos de Cronos (Professor Álvaro)
1991,
A Divina Comédia (Filósofo)
1992,
Rosa Negra (Barriga d'Água)
1994,
Fado Lusitano (Narrador)
1995,
Afirma Pereira (Editor)
1996,
O Judeu (D. João VI) (Telefilme)
Televisão
1979,
D. João VI (Série televisiva)
1984,
Palavras Ditas
1989,
Um Filmezinho de Sam
1989,
Rua Sésamo (Série televisiva)
1991,
Palavras Vivas
1991,
Napoléon et l'Europe (Série televisiva)
1992,
Contradições (Série televisiva)
TEATRO
1973,
Oh papá, pobre papá, a mamã pendurou-te no armário e eu estou tão triste, de
Arthur Kopit, Casa da Comédia
BIBLIOGRAFIA
Mário
Viegas (coord.), (1990-1995), Companhia Teatral do Chiado, 13 Programas de Sala
Mário
Viegas, (coord.) Rita Azevedo Gomes, Francisco Grave, Lisboa, Cinemateca
Portuguesa, 1997, ISBN 972-619-115-7
Mário
Viegas: Ator (1948-1996), [org.] Comissão Municipal de Toponímia; textos Paula
Machado; coord. António Trindade, Álvaro Albuquerque, Lisboa, 1999
Um
rapaz chamado Mário Viegas, Museu Nacional do Teatro; coord. José Carlos
Alvarez; textos e depoimentos Raquel Henriques da Silva, fotografia J. Marques,
Lisboa, 2001. ISBN 972-776-096-1.
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