sΓ‘bado, 10 de fevereiro de 2024

𝐎 π“π„π’π“π€πŒπ„ππ“πŽ π‹πˆπ“π„π‘π€́π‘πˆπŽ 𝐃𝐄 𝐍𝐄́π‹πˆπƒπ€ 𝐏𝐈𝐍̃𝐎𝐍 – ππŽπ‘ π…π„π‹πˆππ„ πŒπ€π‚π‡π€πƒπŽ. π‘π„π•πˆS𝐓𝐀 πˆπ’π“πŽ 𝐄́ πƒπˆπ€ 09 𝐃𝐄 π…π„π•π„π‘π„πˆπ‘πŽ 𝐃𝐄 πŸπŸŽπŸπŸ’, 𝐏𝐀́π†πˆππ€ πŸ”πŸ.

 


Ciente de seus problemas de saúde, a escritora se dedicou à redação de uma obra profunda, na qual reflete sobre a vida, as amizades e a criação artística.

 “O anΓΊncio da minha morte por parte do mΓ©dico nΓ£o me lanΓ§ou a um abismo confessional. Ou obrigou-me a passar em revista a existΓͺncia como uma espΓ©cie de purificação e esboΓ§ar um retrato favorΓ‘vel. Naturalmente nΓ£o estava preparada para uma sentenΓ§a que quebrava o tabu da minha imortalidade, e deslocava-me do epicentro da vida, onde estivera instalada com haveres e afetos. Para diluir-me no pΓ³ do tempo.”

Morte Anunciada Γ© um dos 147 brilhantes e reflexivos textos que compΓ΅em Os Rostos que Tenho, testamento literΓ‘rio de NΓ©lida PiΓ±on. Em 2020, aos 83 anos, a autora carioca de origem espanhola publicara Um Dia Chegarei a Sagres, um de seus melhores e mais premiados trabalhos.

Daí até o momento de sua morte, por complicaçáes na vesícula, em dezembro de 2022, aos 85 anos, dividiu o tempo, que sabia ser escasso, entre duas missáes.

• A primeira estava ligada aos eventos de lanΓ§amento do livro, sessΓ΅es na Academia Brasileira de Letras, onde foi a primeira mulher a ocupar a cadeira de presidente, e palestras mundo afora.

• A segunda missΓ£o foi cuidar da redação do que viria a ser sua ΓΊltima obra, bela coleção de crΓ΄nicas autobiogrΓ‘ficas que sai agora pela Record. 

Em meio Γ  mirΓ­ade de emoçáes que afloram ao se ter conhecimento de que a vida se esvai, NΓ©lida foi extremamente racional. Organizou seu acervo de fotografias e objetos pessoais, doando grande parte desses documentos ao Instituto Cervantes, em Madri. 

Seis meses antes de morrer, inaugurou, na sede da mesma instituição no Rio de Janeiro, a Biblioteca NΓ©lida PiΓ±on, com cerca de oito mil volumes. 

Legado aos leitores

Para um escritor, poder planejar uma despedida como Os Rostos que Tenho Γ© um privilΓ©gio. No auge de sua forma, NΓ©lida pode voltar aos temas que lhe eram caros: a famΓ­lia, o processo da criação literΓ‘ria, a convivΓͺncia com os colegas de ofΓ­cio. 

Lembrou de casos divertidos ao lado de Clarice Lispector, Rubem Fonseca e Gabriel GarcΓ­a MΓ‘rquez; da infΓ’ncia na casa dos avΓ³s; da admiração por LuΓ­s de CamΓ΅es e FiΓ³dor DostoiΓ©vski. 

Γ€s portas da morte, deixa a lição de que a vida vale a pena — e que, para um escritor, nΓ£o hΓ‘ legado maior nem mais profundo que as prΓ³prias palavras.


EDITORA3 - 09/02/2024 – 8H

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Nélida Piñon: despedida organizada (Crédito: Simone Marinho) Reprodução/divulgação.

Link postagem original: https://istoe.com.br/o-testamento-literario-de-nelida-pinon/  

 

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