Assim como tantas mulheres na história do Brasil, Ana Preta poderia ter sua trajetória invisibilizada se não fosse o trabalho do escritor e jornalista J. Londe.
“Todos a olham com assombro e
admiração. Muitas mulheres lhe dizem para abandonar o Tenente à própria sorte.
— Por que se preocupa com esse branco que vai morrer?
Ana responde simplesmente:
— O que seria do soldado sem o seu comandante?
— Larga os dois, mulher, trate de se salvar!
Ana ignora, é uma missão. Vai buscar água para
aplacar a febre do doente. Implora comida para o tenente, que é oficial e ainda
está vivo.” Ana Preta, pg. 123 e 124.
No livro homônimo, ele revive a
atuação da mulher pobre e negra de Minas Gerais, que lutou corajosamente
durante a Guerra do Paraguai, 1864-1870, conflito responsável por ceifar a vida
de aproximadamente 130 mil brasileiros.
O romance histórico Ana Preta retrata a determinação, coragem e ousadia da protagonista em acompanhar o marido Zé Mulato junto com o Exército de Caxias, numa época em que crianças e mulheres não eram aceitas no contingente. Mas, para ela ficar em Uberaba, seria uma condenação à prostituição ou até mesmo à morte. Nestas condições, Ana partiu para um futuro incerto, sem dinheiro, roupas ou comida.
Em campo, era conhecida pelo desprendimento, pois nunca abandonava os soldados feridos, nem mesmo quando as forças inimigas armaram uma emboscada contra o exército brasileiro. Ela enfrentou varíola, cólera, fome e sede, mas nada se comparou com a dor da morte do amado durante uma batalha. Como forma de reivindicar a humanidade que lhes foi negada ao longo da vida, Ana caminhou a pé de volta para o Brasil, com o corpo do marido nos próprios braços, para enterrá-lo em terra natal.
Neste meio tempo, encontrou um tenente ferido. Não conseguiu deixá-lo para trás e também o carregou-nos próprios braços. Assim andava por volta de quatrocentos metros com o corpo do companheiro morto, colocava-o no solo e voltava para buscar o outro homem. Quando não tinha mais tantas forças, conseguiu enterrar o marido em solo brasileiro. Já o tenente se salvou graças a seus esforços. Ana morreu colérica e sozinha no Brasil.
A partir de uma pesquisa minuciosa com
uma prosa rica em detalhes, J. Londe apresenta outros personagens que não são
lembrados pela "história oficial", como Tião Arlindo, um minerador de
diamantes fugitivo por assassinato; Pedro Barroso, peão jurado de morte; e
Magaref, um açougueiro filho de escrava. Juntos da protagonista, eles são
envolvidos nas dificuldades e sacrifícios da guerra, conduzindo o leitor a uma
profunda reflexão sobre a condição humana em tempos de adversidade.
Ao abordar temas como racismo,
pobreza, misoginia, analfabetismo, promessas do Estado não cumpridas e
empobrecimento da população no pós-guerra, Ana Preta demonstra a importância de
preservar a memória e compreender o passado como fator essencial para resgatar
a identidade de uma comunidade brasileira marginalizada há séculos.
FICHA TÉCNICA
Título: Ana Preta
Subtítulo: Histórias de Minas
Autor: J. Londe
Preço: R$ 57,14 (livro físico) e R$
34,92 (e-book)
Onde comprar: Clube de Autores |
Amazon | Estante Virtual
Sobre o autor: O mineiro João Batista
Londe é jornalista, orquidólogo, especialista em Biologia pela Universidade
Federal de Lavras (MG) e licenciado em matemática e em ciências biológicas.
Escritor permanente das revistas literárias: “Poetas Brasileiros” e “Arte
Literária”; ele é membro Imortal da Academia Internacional de Literatura
Brasileira com sede em Nova Iorque (EUA) e possui o título de Imortal da
Academia Interamericana de Escritores, com sede em Fortaleza (CE). Em 2024, a
obra Ana Preta, que possui imagem de capa gerada por inteligência artificial e
associada à arte de Alexandre Monteiro Londe, recebeu o Prêmio de Melhor Capa
de Livro pela Academia Interamericana de Escritores. Instagram do autor:
@jlondeescritor
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