Ele se ergue solitário, um bastião de
pedra fincado no leito do Tejo. O Castelo de Almourol não é apenas uma
construção; é um suspiro da história, um elo palpável com a mística Ordem dos
Templários que o moldou no século XII, após a reconquista daquele território
outrora mouro. Suas origens, porém, mergulham em tempos ainda mais remotos,
acenando para a presença de povos lusitanos e pré-romanos, como se a própria
ilha carregasse em suas entranhas ecos de civilizações perdidas.
Quando os cavaleiros templários ergueram suas muralhas quadrangulares e a imponente torre de menagem, Almourol tornou-se mais do que uma defesa; transformou-se em um símbolo de poder e fé, guardião estratégico da então capital, Coimbra. A pedra, erguida com propósito em 1171, viu o declínio da Ordem e a sua passagem para as mãos da Ordem de Cristo, testemunhando a dança incessante do tempo e do poder.
O abandono o cobriu com o manto do esquecimento, agravado pelo tremor de 1755 que lhe infligiu cicatrizes. Mas o Romantismo, com sua reverência ao passado medieval, resgatou-o das sombras, conferindo-lhe nova vida, ainda que suavizando sua robustez militar original. No século XX, ele ascendeu ao patamar de Monumento Nacional, chegando a ser adaptado como palco para eventos do Estado Novo, ironicamente contrastando com sua aura medieval.
No entanto, a verdadeira essência de Almourol reside em suas lendas, nos contos sussurrados pelo vento que varre o rio. Histórias de paixão e perfídia, de encontros e desencontros que ecoam através dos séculos, envolvendo a ilha em um véu de mistério. A narrativa da princesa moura, cujo amor por um cavaleiro cristão selou a queda de seu povo, lançando-se ambos das muralhas em um último ato de desafio, alimenta a aura fantástica que o cerca.
Assim, a visita a Almourol transcende a mera contemplação de ruínas. É uma imersão em um espaço onde a história e a lenda se entrelaçam, onde a beleza da paisagem fluvial se funde com a solidez da pedra secular. Ao partir, a memória da ilha e de seu castelo permanece vívida, um chamado silencioso a retornar, a desvendar mais uma vez os segredos que ele guarda em seu coração de pedra, único e eterno em terras portuguesas.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
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