No quadro EFEMÉRIDES do Focus Portal
Cultural, sob a curadoria do jornalista e editor Alberto Araújo, celebramos
hoje, 17 de junho, o nascimento de um dos grandes mestres da música francesa:
Charles Gounod nascido em Paris, 1818 e
falecido em Saint-Cloud, 1893. Compositor de profunda sensibilidade, Gounod
elevou a alma da música ao equilibrar emoção e fé, lirismo e espiritualidade.
Filho de um pintor e de uma pianista, cresceu imerso nas artes. Seu talento precoce levou-o a conquistar, em 1839, o prestigioso Grande Prêmio de Roma, que lhe permitiu estudar na Itália e conhecer a obra de Palestrina — uma influência decisiva em sua linguagem musical sacra. Durante um período da juventude, quase se tornou padre. Estudou teologia e filosofia, e chegou a viver em seminário. A vocação sacerdotal não se consolidou, mas moldou toda a sua obra com um caráter contemplativo e espiritual.
Sua estreia operística se deu com Sapho (1851), mas foi em Fausto (1859) que Gounod eternizou seu nome. A adaptação do clássico de Goethe trouxe uma das obras mais notáveis do repertório lírico mundial. Na sequência vieram Mireille (1864) e Roméo et Juliette (1867), óperas que combinam lirismo, drama humano e leveza melódica.
Gounod tornou-se, ao lado de Bizet e Massenet, um dos pilares da ópera romântica francesa, valorizando a melodia como expressão pura da emoção — um compositor que escreveu não apenas para vozes, mas para corações.
Entre suas criações mais universais, destaca-se a belíssima “Ave Maria”, escrita por volta de 1859. Gounod compôs uma melodia suave e devocional sobre o Prelúdio nº 1 em Dó maior de Johann Sebastian Bach, criando uma fusão entre o barroco e o romantismo. A peça tornou-se um hino da música sacra, executada em casamentos, cerimônias e liturgias pelo mundo inteiro — um raro exemplo de colaboração póstuma entre dois gênios separados por mais de um século. Essa “Ave Maria” não apenas emociona pela harmonia celestial, mas carrega consigo a simplicidade da oração e a grandeza da música eterna.
Em 1852, Gounod tornou-se regente do Orphéon Choral Society, em Paris, para o qual compôs diversas peças corais e duas missas de notável beleza. Nos últimos anos de vida, afastou-se dos palcos e dedicou-se quase exclusivamente à música religiosa, compondo os oratórios "La Rédemption" (1882) e "Mors et Vita" (1885) — monumentos sonoros de sua visão espiritual.
Gounod também deixou sua marca na literatura musical com o livro Mémoires d’un artiste (Memórias de um artista), onde registrou reflexões sobre arte, fé e os desafios entre o mundo interior e a modernidade crescente.
Respeitado por contemporâneos como Berlioz e Saint-Saëns, Charles Gounod é lembrado como um compositor da beleza, da fé e da emoção. Sua música atravessa o tempo com a mesma delicadeza que imprimiu nas partituras. Faleceu em Saint-Cloud, em 18 de outubro de 1893, deixando um legado que ainda hoje ecoa em cada nota sagrada, em cada frase cantada, em cada oração musicada.
Gounod influenciou diretamente compositores como Massenet, Fauré e César Franck. Seu estilo melódico, límpido e expressivo se tornou referência para gerações posteriores.
Durante a Guerra Franco-Prussiana (1870–1871), Gounod refugiou-se em Londres. Ali compôs obras sacras em inglês e foi amplamente celebrado. Fundou uma sociedade coral e escreveu peças como Gallia, mesclando o latim com a língua inglesa.
Apesar de viver na mesma época, Gounod rejeitava a estética wagneriana, que considerava densa e teatral demais. Defendia uma música mais clara, comunicativa e voltada à emoção pura — crença que o isolou dos movimentos modernistas, mas preservou sua identidade lírica.
Além das óperas, Gounod escreveu cerca de 140 canções para voz e piano — conhecidas como mélodies —, que encantam até hoje por sua delicadeza e expressão poética.
Inicialmente sepultado no Cemitério de Auteuil, Gounod foi transferido para o Cemitério de Montparnasse, em Paris — onde repousam os grandes nomes da cultura francesa.
Muitas pessoas acreditam que a “Ave Maria” seja de Bach. Na verdade, é uma obra colaborativa involuntária: a base é de Bach, mas a melodia e estrutura vocal são de Gounod. É uma das composições mais gravadas de todos os tempos.
Nesta efeméride, o Focus Portal
Cultural reverencia Charles Gounod, o mestre que fez da música uma ponte entre
o altar e o palco, entre a emoção e o sagrado — entre o silêncio e o sublime.
© Alberto Araújo
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