Ainda era menino em Luzilândia, terra quente de céu largo e silêncio antigo, quando me encontrei pela primeira vez com as palavras do velho Bruxo do Cosme Velho. Foi com “Dom Casmurro” que tudo começou, e lembro como se ainda fosse aquele tempo de sol no quintal, de tarde comprida e barulho de cigarra. Bentinho e Capitu não eram apenas personagens: eram gente. Gente que me olhava pelos olhos das páginas, que falava coisas que pareciam sussurradas nas paredes da minha casa.
Depois veio Memórias Póstumas de Brás Cubas, e Machado, com sua pena ferina e elegante, me fez rir da morte, me fez pensar na vaidade das grandezas. Ali compreendi que a literatura podia ser espelho e faca, abraço e abismo.
Com o tempo, minha pequena biblioteca foi crescendo. Guardo com zelo “O Romance Dom Casmurro”, obra crítica e precisa do professor Maximiano de Carvalho e Silva, como se fosse relíquia de fé. O célebre romance na versão de 1899, revisada pelo próprio fundador da Academia Brasileira de Letras, e a compara a outras duas edições, de 1900 e 1969, esta última organizada pela Comissão Machado de Assis.
Maximiano propõe a leitura do romance como obra de ficção já na linha do realismo, procurando fazer ver que o texto, acima de tudo, retrata o ambiente e as concepções burguesas da sociedade brasileira no século XIX.
Na introdução e no registro filológico, o crítico explica minuciosamente o critério adotado na correção das falhas e erros tipográficos da edição princeps e na atualização gráfica do texto, com preservação das formas lexicais e construções sintáticas e da pontuação original.
Visando favorecer a boa leitura e a compreensão do romance, o livro traz ainda, em apêndice, uma série de informações complementares. Edição em capa dura. 480 páginas, Editora EdUFF, 2014.
Tenho também os quatro volumes da monumental biografia escrita por R. Magalhães Júnior — Vida e Obra de Machado de Assis: Aprendizado, Ascensão, Maturidade e Apogeu. Cada volume é como um tempo do Brasil, como se, ao abrir suas páginas, escutássemos o coração do século XIX batendo em palavras. Publicados pela Editora Record, cada volume contém: mais de 400 páginas. Machado de Assis: Vida e Obra – A mais importante e aclamada biografia do extraordinário escritor brasileiro, enriquecida com documentos valiosos, e relançada no ano em que se lembram os 100 anos de morte de Machado de Assis.
Em bela edição revista e ampliada, a Record relança os quatro volumes publicados, originalmente, em 1981 pelo jornalista, escritor e consagrado biógrafo de grandes nomes da nossa literatura R. Magalhães Junior. Quando publicou, em 1981, VIDA E OBRA DE MACHADO DE ASSIS, R. Magalhães Júnior deu nova direção aos estudos em torno da vida e da obra desse extraordinário escritor brasileiro. Revelou aspectos novos, destruindo a imagem de um homem frio e distante, desligado da realidade do país e desinteressados de seus problemas sociais e políticos.
Revista e ampliada, a obra ganha agora nova roupagem para as comemorações dos cem anos de morte de Machado. E continua como a mais importante biografia do Bruxo do Cosme Velho.
O livro traz tudo que se precisa para saber quem foi Machado de Assis, o que ele escreveu, como eram sua cidade, o Rio de Janeiro e sua época, seus amigos, os personagens mais importantes, o que ele leu, de que gostava, a família, os amores. Também estuda os desdobramentos
E em minha estante repousa também Quem é Capitu? Organizado por Alberto Schprejer, que escreveu na contracapa: Passado mais de um século da sua criação, a Capitu de Machado de Assis continua sendo o maior enigma da literatura brasileira. E, como mostram os ensaios, artigos e contos deste livro, continuará sendo. Reunidos nesta edição, 15 dos maiores escritores, ensaístas e personalidades aceitaram o desafio da pergunta: Quem é Capitu? Porque a nossa Capitu é da mesma família que legou à humanidade Quixote, Hamlet, Madame Bovary, Anna Karenina, Beatriz Viterbo e todos os demais favoritos da grande literatura.
Uma verdadeira ciranda de vozes brilhantes tentando decifrar aquele par de olhos oblíquos e dissimulados, ou talvez não. Quem é Capitu? São contos, crônicas e ensaios sobre a personagem mais enigmática da literatura brasileira: Luis Fernando Verissimo; Lya Luft; Millôr Fernandes; Luiz Fernando Carvalho; Lygia Fagundes Telles; Mary Del Priore; Fernanda Montenegro; Silviano Santiago; John Gledson; Roberto DaMatta; Gustavo Bernardo; Luiz Alberto P. de Freitas; Daniel Piza; Otto Lara Resende; Carla Rodrigues. A obra de 172 páginas, publicada pela Editora Novas Fronteira, 2008, Todos mergulhados na dúvida eterna que o mestre semeou com arte e ironia.
Machado me alcançou ainda jovem, quando eu mal sabia o tamanho das perguntas que ele fazia. Desde então, nunca mais li o mundo da mesma forma. Porque há autores que nos dizem o que pensamos, e há Machado, que nos revela o que não sabíamos ser.
Foi assim que o conheci. Não como quem lê, mas como quem é tocado. Como quem encontra, nas sombras do texto, a luz da própria consciência.
© Alberto Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário