Em Sol Maior da alma, canto a poesia como quem pousa a essência das borboletas sobre o ombro do tempo. Não há pressa no que vibra dentro de mim, só um voo leve, como quem atravessa jardins de silêncio com as asas do sentir.
Sou feito de música que não se escuta com os ouvidos, mas com o peito descalço. Minha canção não tem pauta, mas se desenha nos rios secretos da fé. E quando abro a boca, não sou eu, são as cascatas da natureza divina que derramam sua água invisível em forma de verso.
Lá no alto, a cotovia costura o céu com agulhas de som. Cada nota sua é uma linha de esperança bordada na pele do dia. O rouxinol, mais próximo do chão, recolhe os cacos líricos das calçadas e constrói com eles sua catedral de canto.
"A poesia é quando o coração fala na língua do vento e o mundo entende em silêncio."
Guardo essa frase como quem carrega uma chave de luz. E ao usá-la, descubro que até o ocaso tem voz. O sol que se deita sobre a Baía da Guanabara não está apenas se despedindo, está declamando. As luzes bruxuleantes que nascem com a noite são acentos doces na frase do horizonte.
Ah, que noite saborosa...
Que beleza vê-la pousar em mim, como quem aceita um convite para o mais íntimo dos bailes: aquele em que a alma dança com o mistério.
E então, não sou mais um homem, sou verbo, sou perfume de flor que se lembra do orvalho, sou poesia que canta sem querer ser entendida, porque ser sentida já basta.
©Alberto Araújo
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