segunda-feira, 30 de junho de 2025

RELICÁRIO CELESTE DO AMOR PROSA POÉTICA POR ALBERTO ARAÚJO


Há um lugar invisível onde tudo repousa com delicadeza. Um relicário antigo, não feito de ouro nem pedra, mas de essência. Nele, o amor é guardado como quem segura um sopro sem deixá-lo escapar.

As estrelas o conhecem bem. Para elas, o amor não é desejo nem urgência. É constância. Um brilho que atravessa séculos, que não precisa ser visto para existir. O amor, para as estrelas, é presença mesmo na ausência. É continuar acesa mesmo quando ninguém olha para o céu. 

O mar, em sua linguagem profunda, entende o amor como vastidão. Não é o que prende, é o que acolhe. O amor do mar tem correntezas, sim, mas nunca se esquece de voltar à margem. Ele não tem forma definida, mas molda todas as margens por onde passa.

As flores vivem o amor como instante. Não o explicam, apenas florescem. Elas sabem que amar é se abrir ao sol, mesmo sabendo que a tarde vai cair. É perfumar o tempo que se tem, sem exigir eternidade. 

E o céu, tão alto, tão inteiro, observa tudo com a paciência de Deus. O amor, para o céu, é o espaço entre todas as coisas. O intervalo sagrado onde a vida respira. O amor, ali, não precisa de nome. É silêncio azul, abrigo do invisível, promessa que não se desfaz. 

Esse relicário é invisível aos olhos distraídos. Mas quem já amou de verdade sabe onde ele se encontra. Não está em lugar algum e, ao mesmo tempo, está em tudo: num olhar que permanece, num gesto que não se desfaz, numa lembrança que aquieta.

O relicário do amor não é feito para ser aberto. Ele é feito para ser sentido, como as estrelas, como o mar, como as flores, como o céu.

 

© Alberto Araújo

Junho 2025


 

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