Há um lugar invisível onde tudo repousa com delicadeza. Um relicário antigo, não feito de ouro nem pedra, mas de essência. Nele, o amor é guardado como quem segura um sopro sem deixá-lo escapar.
As estrelas o conhecem bem. Para elas, o amor não é desejo nem urgência. É constância. Um brilho que atravessa séculos, que não precisa ser visto para existir. O amor, para as estrelas, é presença mesmo na ausência. É continuar acesa mesmo quando ninguém olha para o céu.
O mar, em sua linguagem profunda, entende o amor como vastidão. Não é o que prende, é o que acolhe. O amor do mar tem correntezas, sim, mas nunca se esquece de voltar à margem. Ele não tem forma definida, mas molda todas as margens por onde passa.
As flores vivem o amor como instante. Não o explicam, apenas florescem. Elas sabem que amar é se abrir ao sol, mesmo sabendo que a tarde vai cair. É perfumar o tempo que se tem, sem exigir eternidade.
E o céu, tão alto, tão inteiro, observa tudo com a paciência de Deus. O amor, para o céu, é o espaço entre todas as coisas. O intervalo sagrado onde a vida respira. O amor, ali, não precisa de nome. É silêncio azul, abrigo do invisível, promessa que não se desfaz.
Esse relicário é invisível aos olhos distraídos. Mas quem já amou de verdade sabe onde ele se encontra. Não está em lugar algum e, ao mesmo tempo, está em tudo: num olhar que permanece, num gesto que não se desfaz, numa lembrança que aquieta.
O relicário do amor não é feito para ser aberto. Ele é feito para ser sentido, como as estrelas, como o mar, como as flores, como o céu.
© Alberto
Araújo
Junho 2025
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