sábado, 13 de setembro de 2025

04 – ECOS DO PARNASO – VOZES QUE NÃO SE APAGAM - MANOEL DA PAIXÃO COUTINHO DA FONSECA — O ETERNO “FONSEQUINHA”

Na imagem, Fonsequinha assinando o contrato de venda de seu acervo, observado por Jacy Pacheco, Ismênia de Lima Martins (então presidente da FAC) e Eliana Pessanha.

Há nomes que não se apagam com o tempo. Pelo contrário: ecoam, atravessam décadas e se instalam na memória coletiva como se fossem parte da própria paisagem. Hoje, no Quadro Ecos do Parnaso do Focus Portal Cultural, a voz que resgatamos é a de um homem que fez da fotografia não apenas um ofício, mas um ato de amor à cidade e à sua gente. 

Manoel da Paixão Coutinho da Fonseca, o inesquecível Fonsequinha, não foi apenas um repórter fotográfico; foi um cronista silencioso, que escreveu a história de Niterói com luz e sombra. Sua presença era tão constante que parecia onipresente — nas ruas, nas festas, nos eventos oficiais e nos momentos íntimos das famílias. 

Mesmo quem não o conheceu pessoalmente, como este editor, sente-se próximo dele. É que falar de Niterói sem falar de Fonsequinha é como tentar contar uma história sem suas imagens. E, de tanto ouvir seu nome, de tanto cruzar com suas fotografias espalhadas por lares, arquivos e exposições, nasce a certeza de que ele permanece vivo — não apenas nas lembranças, mas no olhar de cada um que reconhece, em suas fotos, um pedaço de si e da cidade. 

Hoje, nossa homenagem é também um agradecimento: por ter nos deixado um acervo que é mais do que registro histórico — é um espelho da alma niteroiense. 

MANOEL DA PAIXÃO COUTINHO DA FONSECA — O ETERNO “FONSEQUINHA” 

Manoel da Paixão Coutinho da Fonseca (1899–1979), carinhosamente conhecido como Fonsequinha, foi um dos mais importantes fotógrafos de Niterói e figura incontornável da memória visual da cidade. Nascido em Campos, chegou à então capital fluminense em 1916, ainda adolescente, e logo se integrou ao cotidiano urbano, que passaria a registrar com olhar atento e presença constante.

Durante mais de meio século, Fonsequinha dedicou-se à fotografia com uma energia incansável. Atuou como repórter fotográfico para jornais e revistas, cobrindo desde acontecimentos políticos e sociais até eventos culturais e esportivos. Mas seu trabalho não se limitava à imprensa: também realizava serviços particulares, eternizando casamentos, festas, inaugurações e momentos familiares. Sua câmera estava sempre pronta, fosse para captar a vibração das ruas ou a intimidade de um retrato.

O jornalista Carlos Wehrs descreveu-o como alguém “conhecido nos quatro cantos da cidade, que parecia ter o dom da ubiquidade. Tanto de dia como à noite, lá estava o Fonseca, com sua máquina fotográfica, colhendo material para publicação ou em missão particular”. Essa presença constante fez dele uma figura popular, reconhecida e querida por todos. Para Niterói, Fonsequinha representou o que Augusto Malta foi para o Rio de Janeiro: um cronista visual, capaz de transformar imagens em documentos históricos. 

Seu acervo, composto por milhares de fotografias, é um retrato vivo de uma Niterói que já não existe, mas que permanece preservada graças ao seu trabalho. Ele registrou a cidade em um período em que era conhecida como a “Cidade Sorriso”, captando não apenas suas paisagens e construções, mas também o espírito alegre e acolhedor de seus habitantes. Cada clique era mais do que um registro técnico: era um gesto de afeto pela cidade e por sua gente.

Ao final de sua trajetória, Fonsequinha tomou uma decisão que garantiria a perpetuação de sua obra. Em um ato de generosidade e consciência histórica, vendeu e destinou todo o seu acervo à Fundação de Atividades Culturais de Niterói — hoje Fundação de Arte de Niterói. Na imagem que marca esse momento, ele aparece assinando o contrato, observado por Jacy Pacheco, Ismênia de Lima Martins (então presidente da FAC) e Eliana Pessanha. Esse gesto selou para sempre a ligação entre sua vida e a memória cultural da cidade.

Fonsequinha faleceu em 1979, mas deixou um legado que transcende o tempo. Suas fotografias continuam a inspirar pesquisadores, artistas e cidadãos comuns, servindo como fonte de estudo, nostalgia e identidade. Ao folhear seu acervo, é possível revisitar ruas, praças, festas e rostos que moldaram a história de Niterói. Mais do que um fotógrafo, ele foi um guardião da memória coletiva, alguém que compreendeu, antes de muitos, que preservar imagens é também preservar a alma de uma cidade. 

Hoje, ao lembrar de Manoel da Paixão Coutinho da Fonseca, não se recorda apenas de um profissional talentoso, mas de um homem que viveu para registrar e compartilhar a beleza e a vida de Niterói. Sua obra permanece como um convite para que olhemos para o passado com gratidão e para o futuro com a certeza de que a memória, quando bem cuidada, é um dos maiores patrimônios que uma comunidade pode ter. 

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© Alberto Araújo 

 
(VÍDEO COM FOTOS DO FONSEQUINHA)

Sequencial de Fotos do Fonsequinha
Bairro Icaraí - Niterói
Implosão do Trampolim - 1964




Icaraí- 1953






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