sexta-feira, 18 de abril de 2025

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO: UM RASTRO DE LUZ E SOMBRA PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO


Jesus na Cruz entre os dois ladrões - 1619-1620. Por Peter Paul Rubens, 
atualmente no Museu Real de Belas Artes de Antuérpia, na Bélgica.

O sino silencia, um eco distante de bronze em luto. O ar se veste de uma quietude densa, como se a própria natureza prendesse a respiração, contemplando a dor que atravessou a história. Em cada esquina, a sombra da cruz se alonga, um espectro que nos lembra do peso de um amor infinito, carregado em ombros humanos. 

Ah, Jesus, o rosto sereno em meio à tormenta, os olhos que outrora brilhavam com a mansidão dos campos da Galileia agora velados por uma tristeza profunda. Sente-se o áspero da madeira em suas costas flageladas, o grito mudo de cada ferida, a gota rubra que tinge a poeira do caminho. 

A multidão, outrora ávida por seus milagres, agora vocifera, cega pela incompreensão, pela fragilidade humana que se assusta com a pureza. E Ele caminha, passo a passo, sob o peso de um madeiro que se torna, paradoxalmente, o símbolo da nossa redenção. 

Imagino o coração de Maria, um relicário de ternura trespassado por lancinante agonia. Cada passo de seu Filho é uma punhalada em sua alma, um espelho da dor que Ele suporta. O céu se fecha em um manto cinzento, e as lágrimas silenciosas da Mãe parecem se confundir com a iminente tempestade. 

No alto do Gólgota, o grito lancinante rasga o véu do templo, estremece a terra, e o sol se esconde, envergonhado diante de tamanha entrega. O silêncio que se segue é ensurdecedor, um vazio que ecoa a dimensão do sacrifício. 

Mas nesse silêncio reside a semente da esperança. A morte, outrora um muro intransponível, é vencida pelo amor que se doa até a última gota. A Sexta-Feira Santa não é apenas a lembrança da dor, mas a promessa silenciosa da ressurreição, a certeza de que a luz sempre vence a sombra, mesmo que demore a romper a noite.

É como se essa atmosfera carregada de mistério e fé fosse bordada em versos livres. Capta-se a melancolia do vento, o sussurro das preces, a beleza austera da renúncia. Os versos seriam fios de prata tecendo a tapeçaria da Paixão, revelando a profundidade do amor que se manifesta na mais extrema dor. Uma poesia feita de silêncios eloquentes e imagens que tocam a alma, assim como a Sexta-Feira Santa toca o coração da humanidade.

Prosa Poética de © Alberto Araújo



SOBRE O PINTOR 

Peter Paul Rubens (1577-1640) foi um pintor flamengo do estilo barroco, amplamente considerado um dos artistas mais influentes da história da arte europeia. Ele nasceu em Siegen, na Alemanha, mas sua família retornou a Antuérpia quando ele ainda era criança. 

Rubens recebeu uma educação humanista e iniciou seus estudos de arte aos 14 anos. Ele teve como mestres Tobias Verhaecht, Adam van Noort e Otto van Veen, que o introduziu à arte do Renascimento italiano. Em 1600, Rubens viajou para a Itália, onde passou oito anos estudando as obras de mestres como Ticiano, Michelangelo e Rafael. Essa experiência teve um impacto profundo em seu estilo, que se tornou conhecido por sua energia, cor e sensualidade. 

Ao retornar a Antuérpia em 1608, Rubens rapidamente se estabeleceu como um dos pintores mais importantes da região. Ele recebeu inúmeras encomendas de igrejas, nobres e governantes, criando obras monumentais que frequentemente abordavam temas religiosos, mitológicos e alegóricos. Seu estúdio tornou-se um dos maiores e mais influentes da Europa, com muitos aprendizes e colaboradores trabalhando sob sua direção. 

Além de sua prolífica carreira como pintor, Rubens também foi um diplomata talentoso. Ele serviu como embaixador da Espanha e desempenhou um papel importante em negociações de paz entre a Espanha e a Inglaterra, sendo inclusive nomeado cavaleiro por Carlos I da Inglaterra por seus serviços. 

A vida pessoal de Rubens também foi marcada por dois casamentos. Sua primeira esposa, Isabella Brant, morreu em 1626. Em 1630, ele se casou com Hélène Fourment, com quem teve cinco filhos. 

Peter Paul Rubens morreu em Antuérpia em 30 de maio de 1640, deixando um vasto legado artístico que continua a inspirar e influenciar artistas até hoje. Suas obras são encontradas em importantes museus ao redor do mundo, e ele é lembrado como um dos maiores mestres do Barroco.



quinta-feira, 17 de abril de 2025

A ALMA BRASILEIRA EM TECLAS DE MARFIM: A MAESTRIA DE LICIA LUCAS SERRANO NA FANTASIA TRIUNFAL DE GOTTSCHALK - ENSAIO DE ALBERTO ARAÚJO


Licia Lucas Serrano é uma personalidade proeminente no cenário pianístico brasileiro, uma artista cuja sensibilidade e virtuosismo a consagraram como intérprete de referência. Sua trajetória musical é marcada por uma profunda conexão com o repertório nacional, e é nesse contexto que sua interpretação da Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Louis Moreau Gottschalk, resplandece com particular brilho. 

Gottschalk, um pianista e compositor americano do século XIX, nutriu uma intensa admiração pelo Brasil, país onde viveu e compôs algumas de suas obras mais emblemáticas. A Fantasia Triunfal é um testemunho desse fascínio, uma peça que transcende a mera transcrição do hino pátrio para se tornar uma vibrante e elaborada homenagem à nação. É nessa complexa tapeçaria sonora que a maestria de Licia Lucas Serrano se manifesta plenamente.

A interpretação de Licia não se limita à execução impecável das intrincadas passagens técnicas que a obra exige. Ela mergulha na essência da composição, capturando a dualidade presente na Fantasia. Há, por um lado, o reconhecimento solene e patriótico do hino, apresentado em sua forma original com a dignidade que lhe é inerente. Por outro, Gottschalk tece em torno desse tema central uma série de variações e ornamentações que exploram a riqueza rítmica e melódica da música brasileira, incorporando elementos de danças e melodias populares da época.

É na forma como a artista equilibra esses dois polos que reside sua genialidade. Suas mãos deslizam pelo teclado com uma precisão cirúrgica, dominando as escalas vertiginosas, os acordes densos e os arpejos brilhantes com uma naturalidade que oculta a imensa dificuldade da partitura. No entanto, essa destreza técnica jamais se sobrepõe à expressividade. Cada nota é carregada de intenção, cada frase musical respira com uma vitalidade que evoca a alma brasileira.

Licia compreende a profundidade emocional da obra de Gottschalk. Ela percebe a nostalgia do compositor estrangeiro pela beleza e pela energia do Brasil, e traduz essa percepção em nuances sutis de dinâmica e articulação. 

Os momentos de exaltação patriótica soam grandiosos e imponentes, enquanto as passagens mais líricas revelam uma delicadeza e um lirismo tocantes. Sua leitura da Fantasia não é apenas uma performance, mas uma narrativa sonora que nos transporta para o Brasil do século XIX, imbuído de um fervor nacionalista e de uma exuberância cultural. 

A pianista demonstra uma notável capacidade de construir a peça em sua totalidade, conduzindo o ouvinte através de suas diversas seções com um senso de direção claro e convincente. Ela sabe quando acelerar o ritmo para criar tensão e excitação, e quando desacelerar para permitir que a beleza melódica ressoe plenamente. Sua interpretação é marcada por um profundo respeito pela partitura original, mas também pela liberdade interpretativa de uma artista que compreende a linguagem musical em sua essência. 

A maestria de Licia Lucas Serrano ao interpretar a Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro de Gottschalk é um testemunho de seu talento excepcional e de sua profunda conexão com a música brasileira. Ela não apenas executa as notas com perfeição, mas infunde a obra com alma, paixão e uma compreensão intuitiva do espírito nacional que Gottschalk tão, eloquentemente, capturou. Sua interpretação é uma celebração da identidade brasileira através das teclas de marfim, um presente precioso para a nossa cultura musical.

SOBRE A FANTASIA TRIUNFAL SOBRE O HINO NACIONAL BRASILEIRO DE GOTTSCHALK: 

A peça foi dedicada a Sua Alteza Imperial a Condessa d'Eu, o que reforça a conexão da obra com a monarquia brasileira da época. A obra era bastante popular no Brasil do século XIX, refletindo o apreço de Gottschalk pela cultura e pelo patriotismo brasileiro. 

A Fantasia Triunfal é considerada uma peça de grande dificuldade técnica para o piano, o que ressalta ainda mais o virtuosismo necessário para uma interpretação bem-sucedida, como a de Licia Lucas Serrano. 

A peça não é uma simples transcrição do hino, mas sim uma elaborada fantasia que utiliza o tema do hino como base para uma série de variações brilhantes e expressivas, incorporando ritmos e melodias que remetem à música popular brasileira da época. 

Há um movimento de redescoberta da música de Gottschalk, com pianistas modernos explorando suas composições, incluindo a Fantasia Triunfal. 

Além da gravação de Licia Lucas Serrano, outros pianistas renomados como Nelson Freire e Clélia Iruzun também gravaram a Fantasia Triunfal, atestando a importância da obra no repertório pianístico brasileiro. 

SOBRE LICIA LUCAS SERRANO

Licia Lucas Serrano é uma pianista com uma destacada carreira internacional. Ela se apresentou em importantes centros musicais como Lisboa, Berlim, Paris, Roma, Washington, Moscou e São Petersburgo. Ela já atuou como solista com mais de 50 orquestras sinfônicas na Europa, Estados Unidos e América Latina, incluindo a Orquestra Filarmônica de Moscou, onde foi aclamada na lendária Sala Tchaikovsky. Licia Lucas recebeu comendas e ordens do mérito cultural de diversos países e organismos estrangeiros, atestando seu impacto no cenário musical. 

Em parceria com Marne Serrano seu esposo e empresário, publicou o livro "A Genealogia do Piano", que foi bem recebido no Brasil e no exterior.

Além de sua carreira solo, Licia também se dedica à música de câmara. Em fevereiro de 2011, por ocasião de um concerto na prestigiosa Fazioli Concert Hall na Itália, Licia Lucas Serrano lançou um CD intitulado "Licia Lucas in Italy" que incluía a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro de Gottschalk. Isso demonstra a importância da obra em seu repertório. 

Embora seu talento para a música brasileira seja notável, seu repertório inclui obras de compositores como Schubert, Brahms, Liszt e Chopin, evidenciando sua versatilidade. 

Em outubro de 2019, apresentou-se em Brasília no projeto Sextas Musicais, demonstrando sua contínua atividade no cenário musical brasileiro. Atualmente é a Diretora do Teatro São Judas Tadeu – Instituição criada pela Paróquia e Santuário São Judas Tadeu – Icaraí – Niterói.

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LOUIS MOREAU GOTTSCHALK: UM ROMÂNTICO AMERICANO NO CORAÇÃO DO BRASIL 

Louis Moreau Gottschalk nasceu em Nova Orleans, no dia 08 de maio de 1829 e faleceu na Tijuca, Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1869, foi um pianista e compositor americano cuja vida vibrante e obra singular o consagraram como uma figura fascinante do período romântico. Sua intensa admiração pelo Brasil e pela América Latina deixou um legado musical rico e expressivo, culminando em obras como a emblemática Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro.

Nascido em uma família de ascendência diversa, pai judeu alemão e mãe crioula de origem francesa, Gottschalk demonstrou um talento musical precoce. Ainda jovem, encantou a sociedade de Nova Orleans com seu virtuosismo ao piano. Sua educação musical inicial foi moldada por influências europeias, mas sua sensibilidade artística logo se abriu para os ritmos e melodias do Novo Mundo. 

Aos 13 anos, viajou para a Europa, onde aperfeiçoou seus estudos musicais em Paris, sob a orientação de renomados mestres como Camille Stamaty. Sua estreia parisiense em 1845 foi um sucesso retumbante, e rapidamente conquistou a admiração do público e da crítica, incluindo figuras como Frédéric Chopin, que reconheceu seu talento excepcional. Sua carreira europeia floresceu, com apresentações em importantes centros musicais e a publicação de suas primeiras composições, que já evidenciavam um estilo pessoal e cativante, muitas vezes imbuído de um toque exótico e sentimental. 

Em 1853, Gottschalk retornou aos Estados Unidos, onde continuou sua carreira como pianista concertista, atraindo grandes audiências com seu carisma e virtuosismo. No entanto, foi a partir de 1857 que sua vida tomou um rumo significativo em direção à América Latina. Ele realizou extensas turnês pelo Caribe, América do Sul e, crucialmente, pelo Brasil, onde viveu por um período considerável e desenvolveu uma profunda conexão cultural e musical. 

O Brasil exerceu um fascínio irresistível sobre Gottschalk. Em suas próprias palavras, registradas em sua autobiografia inacabada, "Gottschalk, Notes of a Pianist", ele descreve com entusiasmo a beleza natural, a musicalidade inerente ao povo brasileiro, os ritmos contagiantes das danças populares e a atmosfera vibrante do país. Essa imersão cultural se refletiu de maneira marcante em sua obra. Composições como A Noite dos Trópicos, Souvenir du Brésil e, especialmente, a Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, são testemunhos desse apreço. 

A Fantasia Triunfal, dedicada à Sua Alteza Imperial a Condessa d'Eu, transcende a mera transcrição do hino pátrio. Gottschalk tece em torno do tema central uma série de variações brilhantes e expressivas, incorporando elementos rítmicos e melódicos que evocam a música popular brasileira da época. A peça demonstra não apenas seu virtuosismo pianístico, mas também sua sensibilidade em capturar o espírito nacional brasileiro, equilibrando o reconhecimento solene do hino com uma exuberância romântica e um toque de nostalgia. 

A vida de Gottschalk foi marcada por um ritmo intenso de viagens e concertos, o que eventualmente cobrou seu preço. Em 1869, durante uma apresentação no Rio de Janeiro, ele adoeceu e faleceu na Tijuca, deixando um legado musical único que funde o virtuosismo pianístico europeu com as cores e os ritmos da América Latina. 

Embora sua carreira tenha sido interrompida precocemente, Louis Moreau Gottschalk deixou uma obra significativa que continua a encantar e a despertar o interesse de músicos e apreciadores da música clássica. Sua Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro permanece como um testemunho vibrante de seu talento e de seu profundo apreço pelo Brasil, um país que ele abraçou com paixão e que imortalizou em suas teclas de marfim. Sua biografia, especialmente através de suas próprias palavras, revela um artista aventureiro, sensível e um verdadeiro embaixador musical entre o Velho e o Novo Mundo. 

© Alberto Araújo

Jornalista e Escritor



CLICAR NA IMAGEM OU NO LINK PARA ASSISTIR AO VÍDEO

LICIA LUCAS -GOTTSCHALK GRANDE FANTASIA TRIUNFAL SOBRE O HINO NACIONAL BRASILEIRO.

Clicar aqui: 

https://www.youtube.com/watch?v=PLjfeBkgG6s

  

Licia Lucas interpretando Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro de Gottschalk, durante o seu Recital Pianístico no Teatro São Judas Tadeu - Icaraí.
28 de junho de 2017

Licia Lucas e Alberto Araújo
No Palco do Teatro São Judas Tadeu
28 de junho de 2017




O CORAÇÃO EM CADA NOTA CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO DEDICADA AO PIANISTA JULIO GOMEZ


O fim de tarde emoldurava o teclado com uma luz dourada e suave, enquanto as melodias familiares de Schubert e Gounod flutuavam no ar. Não eram apenas notas musicais preenchendo o espaço, mas sim uma aura de reverência e beleza que emanava daquele piano. E ali estava ele, Júlio Gomez, um pianista sênior cujos dedos dançavam pelas teclas com a sabedoria de incontáveis horas dedicadas à música. 

Seu post ecoou em minha mente enquanto o ouvia tocar e me reportei ao seu comentário íntegro, postado em 17 de abril de 2024: “MÚSICO não é quem toca um instrumento, mas aquele que através de um instrumento toca o CORAÇÃO das pessoas caríssimos amigos.” Que verdade profunda contida nessas palavras! Porque naquela tarde, não era apenas a técnica impecável que nos cativava, mas a emoção que transbordava de cada acorde, de cada pausa. Era a história de uma vida dedicada à música, a paixão incrustada em cada nuance, que alcançava nossos corações de maneira única. 

As "Ave Marias", ambas tão distintas em sua melodia e ainda assim carregadas de uma mesma essência espiritual, ganhavam uma nova dimensão sob as mãos de Júlio. A melancolia doce de Schubert se misturava à súplica fervorosa de Gounod, criando uma tapeçaria sonora que nos transportava para um lugar de paz e contemplação. Era mais do que uma apresentação; era uma partilha da alma do músico, um presente generoso oferecido naquele crepúsculo. 

Observava as rugas finas ao redor de seus olhos, marcas de incontáveis sorrisos e talvez algumas tristezas, todas agora vertidas naquela música. Cada toque parecia carregar uma memória, uma experiência, uma compreensão profunda da fragilidade e da beleza da vida. Não era apenas um pianista tocando; era um contador de histórias sem palavras, um artesão de emoções moldando o ar com a linguagem universal da música. 

Naquele instante, compreendi plenamente o significado das palavras de Júlio. Ele não estava apenas executando peças clássicas; ele estava tecendo fios invisíveis que conectavam sua alma à nossa. Ele estava tocando nossos corações, despertando sentimentos adormecidos, elevando nosso espírito. E essa, meus caros amigos, é a verdadeira essência de um músico: a capacidade de transcender a mera execução técnica e alcançar a profundidade da experiência humana através de um instrumento. 

Aquela tarde, de 17 de abril de 2025, embalada pelas “Ave-Marias" tocadas com a maestria e a sensibilidade de Júlio Gomez, foi uma prova viva dessa verdade. Uma relíquia preciosa para guardar na memória. 

© Alberto Araújo

17 de abril de 2025, data em que o pianista postou as clássicas Ave-Marias. E eu apreciei e apreciarei para sempre.




CRÔNICA E ANÁLISE DE ALBERTO ARAÚJO SOBRE "O PENSADOR" DE AUGUSTE RODIN


A CRÔNICA: O PESO DO BRONZE E O OLHAR INESPERADO


O bronze, outrora maleável sob as mãos inquietas de Rodin, agora repousava em sua monumentalidade pensativa. "O Pensador". Um homem em plena imersão, corpo tenso na quietude da reflexão, a mão a sustentar o peso de ideias invisíveis. Nascido de um contexto específico, parte de um projeto grandioso, ele escapou de suas origens para pairar como um ícone universal. 

Séculos depois, em uma imagem ficcional enlaça o criador diante de sua criatura. Auguste Rodin, barba vasta como a história que sua obra atravessaria, fixa o olhar no bronze. Que leitura podemos fazer dessa imagem? Um mestre contemplando sua obra-prima? Talvez. Mas há também uma sugestão sutil, quase melancólica, no ângulo de sua cabeça, na profundidade de seu olhar.

Seria possível que Rodin, ao encarar aquela figura que se tornou sinônimo de filosofia e introspecção para a humanidade, sentisse uma distância? Teria ele, ao moldar os músculos concentrados e a postura absorta, imaginado que aquele homem nu sobre uma rocha transcenderia a alegoria dantesca para se instalar no imaginário coletivo como o próprio ato de pensar?

Talvez o olhar de Rodin não seja de orgulho puro, mas de uma espécie de espanto silencioso. Como uma semente plantada que germina em uma árvore de proporções inesperadas. Ele viu o esforço físico, a busca pela forma expressiva, a tentativa de capturar um instante de contemplação. Mas teria previsto a ressonância profunda, a capacidade de sua criação de ecoar em mentes tão diversas ao longo do tempo?

"O Pensador" ganhou uma vida própria, desvinculando-se talvez das intenções iniciais de seu criador. Tornou-se um símbolo maleável, interpretado em miríades de contextos. Aquele homem em bronze, concebido para um portal infernal, ascendeu a um patamar quase celestial na cultura humana.

E Rodin, na fotografia, parece ponderar esse fenômeno. Há um quê de incredulidade em seu semblante, como se questionasse a magnitude do impacto de sua obra. "Foi apenas um homem que moldei", seu olhar parece dizer, "e agora ele carrega o peso do pensamento do mundo." 

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Observação: A imagem é uma fotomontagem minha, Alberto Araújo, que artisticamente imaginei esse encontro de Rodin com sua criação icônica. Agora ofereço uma interpretação visual da possível perplexidade do artista diante do alcance inesperado de "O Pensador" na história da humanidade. O olhar de Rodin, capturado na montagem, torna-se uma janela para a reflexão sobre a imprevisibilidade do legado artístico.



A ANÁLISE

"O Pensador" de Auguste Rodin é, sem dúvida, uma das esculturas mais icônicas e reconhecidas da história da arte ocidental. Criada originalmente em 1880 em tamanho reduzido e posteriormente em uma versão monumental em 1902, a obra transcendeu seu propósito inicial para se tornar um símbolo universal da filosofia, da introspecção e da condição humana. 

"O Pensador" é uma obra multifacetada que vai além de uma simples representação de um homem pensando. É uma exploração profunda da condição humana, da intensidade do processo mental e um marco na história da escultura moderna, cujo impacto e significado continuam a ser relevantes e poderosos até hoje. 

Inicialmente intitulada "O Poeta", a escultura foi concebida como parte de uma obra monumental inacabada chamada "As Portas do Inferno", encomendada para um museu de artes decorativas em Paris que nunca foi construído. "As Portas do Inferno" foram inspiradas na "Divina Comédia" de Dante Alighieri, e "O Pensador" deveria representar o próprio Dante, contemplando as almas atormentadas no inferno.

No entanto, à medida que Rodin desenvolvia a figura, ela evoluiu para representar uma figura mais universal, um homem imerso em profunda reflexão. A decisão de isolar "O Pensador" e apresentá-lo como uma obra independente consolidou seu status como uma representação arquetípica do pensamento. 

A escultura em bronze retrata um homem nu, sentado sobre uma rocha, com o corpo ligeiramente curvado para frente. Seu cotovelo direito está apoiado no joelho esquerdo, e a mão direita sustenta o queixo, enquanto seus lábios estão cerrados e sua testa franzida. A musculatura do corpo é bem definida, sugerindo força física, em contraste com a intensa atividade intelectual que a pose transmite.

Rodin acreditava que o ato de pensar envolvia todo o corpo. Ele afirmou: "O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, com as sobrancelhas tensas, as narinas dilatadas e os lábios comprimidos, mas com cada músculo de seus braços, costas e pernas, com o punho cerrado e os dedos dos pés contraídos." Essa descrição enfatiza a tensão física que acompanha o esforço mental.

A pose de "O Pensador" é carregada de significado. O ato de apoiar o queixo na mão é um gesto clássico de contemplação profunda. A nudez da figura a despoja de qualquer contexto social ou temporal específico, elevando-a a um plano universal. A combinação de um corpo forte e musculoso com uma postura de intensa reflexão sugere a dualidade entre o pensamento e a ação, a capacidade humana de contemplar antes de agir. 

Embora originalmente concebido como Dante, "O Pensador" rapidamente adquiriu interpretações mais amplas. Ele passou a simbolizar o ideal do homem racional, a busca pelo conhecimento e o esforço intelectual para compreender a si mesmo e o mundo. A escultura captura a essência da introspecção, a solidão do pensamento e a luta humana por respostas para questões existenciais.

Alguns estudiosos também sugerem que "O Pensador" pode ser uma representação do próprio Rodin, um artista imerso em seu processo criativo, ou até mesmo uma figura arquetípica da humanidade em sua jornada de autoconhecimento. 

A obra de Rodin foi influenciada pela escultura renascentista italiana, particularmente por Michelangelo, cuja expressividade e anatomia detalhada podem ser observadas em "O Pensador". Rodin rompeu com as convenções acadêmicas de sua época, buscando uma representação mais realista e emocionalmente carregada do corpo humano.

"O Pensador" teve um impacto imenso na arte moderna e contemporânea, influenciando gerações de escultores e artistas. Sua imagem icônica transcendeu o mundo da arte, tornando-se um símbolo cultural amplamente reconhecido e utilizado em diversas representações da filosofia e do pensamento. 

"O Pensador" de Auguste Rodin é muito mais do que uma simples escultura. É uma poderosa representação da capacidade humana de reflexão, um símbolo da busca pelo conhecimento e uma exploração da complexa relação entre a mente e o corpo. Sua pose eloquente e sua presença imponente continuam a intrigar e inspirar espectadores em todo o mundo, garantindo seu lugar como uma das maiores obras da história da arte. Sua universalidade permite múltiplas interpretações, mantendo sua relevância e poder de comunicação através do tempo.

Como mencionado, a primeira versão de "O Pensador" era menor (cerca de 70 cm de altura) e fazia parte do conjunto "As Portas do Inferno", onde era intitulado "O Poeta". Sua posição era ligeiramente diferente, e ele estava localizado no tímpano da porta, contemplando a cena caótica abaixo. Acredita-se que representava Dante Alighieri, o autor da "Divina Comédia", meditando sobre sua obra. 

A versão mais famosa e amplamente reconhecida, fundida em bronze em 1902 e exibida pela primeira vez separadamente em 1904, possui dimensões monumentais, cerca de 1,83 metros de altura, pesando aproximadamente 800 kg. Essa ampliação permitiu que a força e a intensidade da figura fossem ainda mais impactantes. 

Ao longo de sua vida e após sua morte, várias fundições em bronze de "O Pensador" foram realizadas, tornando-o uma das esculturas mais reproduzidas da história. Estima-se que existam mais de 20 cópias em museus e coleções ao redor do mundo. Uma fundição em bronze de "O Pensador" foi colocada sobre o túmulo de Auguste Rodin em Meudon, na França, simbolizando sua própria contemplação e legado artístico. Além das versões em bronze, existem estudos e modelos em gesso da escultura, que oferecem insights sobre o processo criativo de Rodin e as diferentes etapas de desenvolvimento da obra.

ANÁLISE DA FORMA E DA EXPRESSÃO 

A musculatura bem definida do corpo do Pensador não é apenas uma demonstração da habilidade anatômica de Rodin, mas também contribui para a sensação de esforço intelectual. Os músculos tensos sugerem a concentração intensa e a energia mental despendida no ato de pensar. 

O gesto icônico da mão apoiando o queixo é um símbolo universal de contemplação. A maneira como o punho cerrado pressiona os lábios pode indicar uma luta interna, um processo de questionamento e busca por respostas difíceis.

A ligeira inclinação do corpo para frente e a cabeça baixa reforçam a ideia de imersão no pensamento, de um mundo interior profundo e isolado.

A nudez da figura despoja-a de qualquer atributo social, temporal ou específico, elevando-a a um plano universal da condição humana. O ato de pensar é apresentado como uma experiência fundamental e inerente ao ser humano, independentemente de sua origem ou época. 

A superfície da escultura não é perfeitamente lisa, mas apresenta marcas e irregularidades que conferem uma sensação de vitalidade e inacabamento, características marcantes do estilo de Rodin. Essa textura contribui para a expressividade da obra, sugerindo a intensidade do processo mental.

A influência de Michelangelo é evidente na anatomia poderosa e na expressividade melancólica da figura. A pose do Pensador pode ser comparada à de "Il Pensieroso", O Pensativo, na Capela Medici, embora Rodin tenha conferido sua própria interpretação e intensidade emocional. 

INTERPRETAÇÕES ADICIONAIS 

Além de representar o pensador filosófico ou o poeta, alguns interpretam a figura como um autorretrato de Rodin, imerso em seu próprio processo criativo, lutando com ideias e formas. 

Outra interpretação sugere que a figura poderia representar Adão após a expulsão do Paraíso, contemplando as consequências de seus atos e a complexidade da existência humana. 

Em sua essência, "O Pensador" transcende qualquer representação específica e se torna um símbolo poderoso da capacidade humana de introspecção, de questionamento e da busca por significado na vida. Ele personifica a solidão do pensamento e o peso da consciência. 

"O Pensador" se tornou um ícone cultural global, representando a filosofia, a inteligência, a contemplação e até mesmo a melancolia. Sua imagem é frequentemente utilizada em livros, filmes, logotipos e diversas outras representações da atividade intelectual. 

Rodin rompeu com as convenções da escultura clássica, e "O Pensador" é um exemplo de sua abordagem inovadora, que valorizava a expressividade, a emoção e a representação mais realista do corpo humano. Sua obra abriu caminho para as vanguardas da escultura moderna.

Ao longo do tempo, "O Pensador" continuou a gerar debates e diferentes interpretações, o que demonstra a riqueza e a profundidade da obra. Sua capacidade de ressoar com diferentes públicos e em diferentes contextos culturais atesta seu poder duradouro.




AUGUSTE RODIN: UMA BIOGRAFIA 

François Auguste René Rodin (1840-1917) não foi apenas um escultor; ele foi um terremoto no mundo da arte do século XIX, um visionário que ousou moldar a alma humana em bronze e mármore com uma intensidade visceral que escandalizou e, eventualmente, revolucionou a escultura moderna. Sua vida foi uma saga de paixão ardente, rejeição brutal e triunfo final, marcada por uma busca incessante pela verdade e pela expressão da emoção crua.

Nascido em uma família humilde em Paris, Rodin demonstrou desde cedo uma aptidão inegável para o desenho e a modelagem. No entanto, sua jornada artística não foi pavimentada com facilidades. Rejeitado repetidamente pela prestigiosa École des Beaux-Arts, ele foi forçado a trilhar um caminho árduo, aprendendo sua arte nas oficinas de artesãos e decoradores. Essa exclusão precoce, em vez de o deter, parece ter acendido uma chama de independência e uma determinação feroz em provar seu valor. 

Seu relacionamento tumultuado e duradouro com Rose Beuret, uma costureira simples que se tornou sua companheira por mais de cinquenta anos e mãe de seu filho, foi um pilar em sua vida, embora marcado por suas infidelidades e pela intensidade de suas paixões. Mais tarde, seu intenso e trágico caso com a talentosa escultora Camille Claudel, sua aluna e colaboradora, adicionou uma camada de complexidade e dor à sua história pessoal e artística. A genialidade de Claudel foi inegável, mas seu relacionamento com Rodin, marcado por admiração, colaboração e eventual abandono, culminou em sua internação em um asilo por décadas, um destino sombrio que ecoa a intensidade emocional de suas obras.

A década de 1870 marcou um ponto de inflexão com sua viagem à Itália, onde a grandiosidade da escultura renascentista de Michelangelo o impactou profundamente. Essa influência se manifestou em sua busca por uma representação mais expressiva e realista do corpo humano, capturando não apenas a forma física, mas também as emoções e os estados psicológicos.

Sua primeira grande obra a causar impacto, "A Idade do Bronze" (1877), foi tão realista que Rodin foi acusado de moldar a escultura diretamente sobre um modelo vivo. Essa controvérsia, em vez de o destruir, catapultou-o para o centro do debate artístico, expondo a rigidez das convenções acadêmicas e a necessidade de uma nova abordagem na escultura. 

A encomenda monumental de "As Portas do Inferno" (1880), uma obra inspirada na "Divina Comédia" de Dante, consumiu grande parte de sua vida e permaneceu inacabada em sua totalidade. No entanto, dessa colossal empreitada emergiram algumas de suas obras mais icônicas, como "O Pensador", originalmente concebido como Dante contemplando o inferno, e "O Beijo", uma celebração da paixão e do erotismo que, em sua época, desafiou os limites da moralidade burguesa.

Rodin não se contentou com a representação idealizada e polida do corpo humano, tão valorizada pela tradição. Ele explorou a fragmentação, a textura bruta, e a expressão visceral da emoção. Suas figuras muitas vezes pareciam inacabadas, emergindo da pedra ou do bronze com uma força primitiva, capturando momentos de intensa angústia, êxtase ou contemplação. O inacabado, para Rodin, não era uma falha, mas uma maneira de sugerir o processo contínuo da vida e da emoção.

Sua ousadia e sua recusa em se conformar aos padrões estabelecidos encontraram resistência e crítica feroz ao longo de sua carreira. No entanto, sua genialidade gradualmente foi reconhecida, e ele se tornou uma figura central na transição para a escultura moderna. Artistas como Brancusi e Picasso reconheceram sua dívida com a sua visão revolucionária. 

Nos seus últimos anos, Rodin finalmente experimentou o reconhecimento e a fama. Casou-se com Rose Beuret pouco antes de sua morte em 1917, selando uma união longa e complexa. Ao morrer, legou sua obra e sua propriedade ao Estado francês, resultando na criação do Musée Rodin em Paris, um testemunho duradouro de seu impacto indelével na história da arte.

A vida de Auguste Rodin foi uma luta apaixonada pela liberdade artística, uma busca incansável pela verdade da forma e da emoção. Sua biografia não é apenas a história de um escultor, mas a narrativa de um homem que ousou desafiar as convenções, abraçar a complexidade da experiência humana e moldar o futuro da escultura com a força de sua visão e a intensidade de sua alma. Ele nos deixou um legado de obras que continuam a nos confrontar com a beleza, a dor e a profundidade da condição humana, um impacto que ressoa poderosamente até os dias de hoje.

Crônica e Análise de © Alberto Araújo

Focus Portal Cultural


Alberto Araújo exibe a miniatura da Estátua de O Pensador de Rodin
A obra faz parte do seu acervo particular





quarta-feira, 16 de abril de 2025

 A PENA QUE COROA: NAGIB SLAIBI FILHO É O NOVO PRESIDENTE DA ACADEMIA NITEROIENSE DE LETRAS

Na atmosfera solene da Academia Niteroiense de Letras, um novo capítulo se escreve com a tinta da tradição e da renovação. 

Na quarta-feira, 16 de abril, o prestigiado acadêmico Nagib Slaibi Filho foi eleito presidente da insigne instituição, sucedendo o acadêmico e publicitário Paulo Roberto Cecchetti. 

O eco da votação, ressoando na sede da Rua Visconde do Uruguai, 456, no coração pulsante de Niterói, sela um momento de significativa importância para a cultura e o intelecto da cidade.

A sessão eleitoral, coordenada pelo então presidente Paulo Roberto Cecchetti, transcorreu com a participação fervorosa de inúmeros acadêmicos, garantindo o quórum estatutário que legitima a voz coletiva da Academia. 

A presença massiva não apenas atesta o respeito e a admiração pela instituição e pela liderança de Cecchetti durante seu mandato, mas também a expectativa e o entusiasmo em torno da nova gestão que agora se inicia.

A eleição de Nagib Slaibi Filho representa mais do que a simples sucessão de um cargo; simboliza a continuidade de um legado de amor às letras, ao saber e à promoção da cultura em Niterói. 

Sua trajetória acadêmica e intelectual, marcada pela profundidade do pensamento e pela eloquência da palavra, prenuncia um futuro promissor para a Academia, construindo sobre as bases sólidas estabelecidas pela gestão de Paulo Roberto Cecchetti.

Neste dia que entra para a história da instituição, a Academia Niteroiense de Letras reafirma seu compromisso inabalável com a preservação e a difusão do patrimônio literário e linguístico, sob a égide de um novo líder cuja paixão pelas letras certamente inspirará novas conquistas e fortalecerá os laços que unem os amantes da palavra em Niterói. 

A pena que coroa Nagib Slaibi Filho à presidência, em um momento de transição respeitosa com a gestão de Paulo Roberto Cecchetti, é, antes de tudo, um símbolo da vitalidade e da perenidade da literatura em nossa comunidade.

UM POUCO SOBRE NAGIB SLAIBI FILHO 

O Desembargador Nagib Slaibi Filho possui uma longa e notável trajetória no campo jurídico e cultural.

Ao longo de sua carreira, publicou mais de 130 artigos, além de livros como "Ação Popular Mandatória" e "Anotações à Constituição de 1988".

É conferencista, palestrante e debatedor com participação em mais de 800 eventos e cerca de 60 congressos e seminários.

Atua como orientador de monografias em diversas instituições, incluindo a Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, EMERJ e a Universidade Salgado de Oliveira.

Foi homenageado com a Medalha de Honra da Magistratura Fluminense por seus mais de 40 anos dedicados à justiça.

Em abril de 2025, foi homenageado pelo Órgão Especial do TJ-RJ por sua aposentadoria compulsória, após 43 anos de magistratura.

É membro da Academia Niteroiense de Letras (ANL), tendo tomado posse na Cadeira nº 4 em março de 2014. Instituto Histórico e Geográfico de Niterói. Elos Internacional e Elos Clube de Niterói. 

Também é membro da Academia Fluminense de Letras (AFL) e de outras instituições literárias e jurídicas.

É professor titular da Universidade Salgado de Oliveira (Universo).

Foi homenageado com o título de Intelectual do Ano 2024 pelo IFEC (Instituto de Formação Educacional e Cultural).

Teve um retrato incluído na Galeria de Conferencistas Eméritos da Emerj em reconhecimento à sua dedicação à instituição.

A eleição para a presidência da Academia Niteroiense de Letras representa mais um reconhecimento da sua vasta experiência e contribuições tanto para o campo jurídico quanto para a cultura de Niterói.


Crédito da foto: Compartilhada pela presidente Matilde Slaibi Conti. 


Editorial

@ Alberto Araújo

Focus Portal Cultural


BORBOLETAS EM REVOADA SERENA – POEMA DE ALBERTO ARAÚJO PARAFRASEANDO E ANALISANDO O POEMA “AS BORBOLETAS” DE VINICIUS DE MORAES


BORBOLETAS EM REVOADA SERENA


Asas macias,

Prata,

Celeste,

E um véu.

 

Flutuam,

Na brisa,

As calmas

Borboletas.

 

Borboletas prateadas,

Guardam sonhos em jornada.

 

Borboletas celestes,

Bebem orvalho em festas.

 

As de véu diáfano,

Trazem suspiros plácido!

 

E as sombreadas, então…

Um descanso na contemplação!

 


********************

 

 

AS BORBOLETAS 

DE VINICIUS DE MORAES

 

“Brancas

Azuis

Amarelas

E pretas

Brincam

Na luz

As belas

Borboletas.

Borboletas brancas

São alegres e francas.

Borboletas azuis

Gostam muito de luz.

As amarelinhas

São tão bonitinhas!

E as pretas, então…

Oh, que escuridão!”

 

ANÁLISE DO POEMA "AS BORBOLETAS" DE VINICIUS DE MORAES

O poema "As Borboletas" de Vinicius de Moraes é uma obra singela e encantadora, tipicamente voltada para o universo infantil, mas que ressoa com sensibilidade em leitores de todas as idades. 

Através de uma linguagem simples e musical, o poeta utiliza a imagem das borboletas para explorar conceitos como cor, alegria, beleza e até mesmo a efemeridade da existência. 

O poema é composto por quatro estrofes curtas, cada uma dedicada a uma cor específica de borboleta: branca, azul, amarela e preta. Essa estrutura repetitiva e organizada facilita a memorização e o acompanhamento da leitura, especialmente para crianças. A brevidade dos versos e a predominância de palavras monossílabas e dissílabas contribuem para a leveza e o ritmo ágil que remetem ao voo das borboletas.

A linguagem utilizada é direta e acessível, com adjetivos simples e expressivos ("belas", "alegres", "francas", "bonitinhas"). A sonoridade do poema é marcante, com rimas simples e assonâncias que criam uma melodia suave e agradável ao ouvido. 

A repetição do verso "As belas borboletas" no final da primeira estrofe reforça a centralidade da imagem e confere um tom quase de encantamento.

CADA COR DE BORBOLETA CARREGA CONSIGO UMA NUANCE SIMBÓLICA, EXPLORADA DE FORMA CONCISA PELO POETA: 

Brancas: Associadas à pureza, à leveza e à franqueza. A afirmação de que são "alegres e francas" sugere uma natureza aberta e despreocupada. 

Azuis: Ligadas à luz e, por extensão, à clareza, à serenidade e talvez a um certo idealismo, já que "gostam muito de luz". 

Amarelinhas: Evocam a delicadeza e a beleza singela. O diminutivo "bonitinhas" intensifica essa sensação de ternura. 

Pretas: Em contraste com as demais, representam a escuridão, o mistério e talvez até uma sombra ou um lado menos óbvio da beleza. A exclamação "Oh, que escuridão!" expressa um certo espanto ou curiosidade diante dessa cor.

A descrição das borboletas como "belas" e a ênfase em suas cores vibrantes celebram a estética da natureza em sua forma mais delicada. O verbo "brincam na luz" sugere a leveza e a liberdade do voo das borboletas, que se movem despreocupadamente pelo espaço iluminado.

Embora não explicitamente declarado, a própria natureza efêmera da vida das borboletas pode ser subentendida. Sua beleza transitória nos lembra da passagem do tempo e da importância de apreciar o presente. 

As borboletas brancas são diretamente associadas à alegria, reforçando a ideia de que a felicidade pode ser encontrada nas coisas mais simples da natureza.  A apresentação de borboletas de diferentes cores celebra a variedade e a riqueza do mundo natural. 

INTEGRAÇÃO COM "A ARCA DE NOÉ":

Ao ser musicado e integrado ao projeto "A Arca de Noé", o poema ganhou uma nova dimensão, potencializando sua expressividade e alcance, especialmente junto ao público infantil. A melodia certamente contribuiu para reforçar o ritmo e a leveza dos versos, tornando a experiência ainda mais lúdica e memorável.

"As Borboletas" é um poema que, em sua simplicidade, revela a maestria de Vinicius de Moraes em capturar a beleza do mundo natural e traduzi-la em versos acessíveis e encantadores. 

Através da imagem das borboletas e da exploração das cores, o poeta presenteia o leitor com uma reflexão delicada sobre a liberdade, a beleza e a fugacidade da vida, tudo isso embalado em uma musicalidade suave e envolvente. 

É um poema que convida à contemplação e ao encantamento com as pequenas maravilhas que nos cercam.

 

© Alberto Araújo

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