terça-feira, 15 de abril de 2025

A COR DA ALMA EM ABRIL: SHIRLEY ARAÚJO, ARTISTA DO NOSSO TEMPO - CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO


A COR DA ALMA EM ABRIL: SHIRLEY ARAÚJO, ARTISTA DO NOSSO TEMPO. 

Abril veste a paisagem de Niterói com delicadeza e uma nuance incrível. A brisa que outrora beijou as telas de tantos mestres, hoje acaricia o ateliê de Shirley Araújo, um espaço onde a alquimia das cores se transmuta em poesia visual. Neste quinze de abril, Dia da Arte, volvemos o olhar para essa mulher que tece em cada pincelada um fragmento da sua alma, ofertando ao mundo a beleza singular do seu olhar. 

Shirley, como a própria arte, não se prende a rótulos fáceis. Sua jornada criativa é um rio sinuoso, ora calmo em paisagens que evocam a serenidade da Guanabara ao entardecer, ora impetuoso em abstrações vibrantes que ecoam a energia pulsante da cidade. Seus dedos, extensão de um coração sensível, dançam sobre a tela, guiados por uma intuição apurada, capturando a efemeridade de um instante, a profundidade de um sentimento. 

Há em sua obra uma honestidade visceral, uma entrega sem reservas ao diálogo entre a tinta e a superfície. Não busca o aplauso fácil, mas a ressonância genuína com aquele que se permite contemplar suas criações. Cada cor escolhida, cada textura explorada, revela uma camada da sua rica interioridade, um universo particular que generosamente compartilha conosco.

Como Clarice Lispector, que bordava palavras com a delicadeza de um fio de seda, Shirley Araújo esculpe a luz e a sombra com a maestria de quem compreende a linguagem secreta das cores. Há em seus trabalhos uma musicalidade silenciosa, um ritmo que convida à contemplação, um convite a desvendar as múltiplas camadas da existência.

E para além da artista talentosa, reside a mulher de fibra, a companheira leal, a alma generosa que ilumina os dias com sua presença. Sua sensibilidade transborda a tela, colorindo também as relações, os afetos, o cotidiano. Há em Shirley uma força serena, uma capacidade de amar e de se doar que nutre e inspira.

Neste dia dedicado à arte, celebro não apenas a pintora exímia que encanta nossos olhos, mas a mulher extraordinária que colore minha vida com a mais bela das paletas. Tenho o orgulho imenso de partilhar de sua cumplicidade, testemunha privilegiada da sua paixão, da sua dedicação, da sua constante busca pela beleza que reside no cerne de cada coisa. Shirley Araújo, sua arte é um farol, sua alma, a mais luminosa das cores. Que este dia seja um reconhecimento da sua luz, da sua entrega, do dom precioso que você divide com o mundo.

© Alberto Araújo

15 de abril de 2025. Dia Mundial da Arte

  

Shirley Araújo pintando uma tela em seu Ateliê.


OLHAR DA TINTA SOBRE A TELA

POEMA DE ALBERTO ARAÚJO

 

À Artista Plástica Shirley Araújo

 

Manhã na janela.

Luz sobre o ateliê.

A artista chega.

Tela vazia espera.

Tubos de tinta abertos.

Cheiro que preenche.

Escolha da paleta.

Um toque hesitante.

Depois firmeza.

Espátula desliza.

Textura na superfície.

Camadas se encontram.

Um diálogo visual.

Sem som.

Só o movimento da mão.

O olhar atento.

Busca incessante.

Por uma forma.

Por uma sombra.

Por um brilho.

A cor desliza.

Na tela.

Um mundo interno.

Tornando-se visível.

Finalizado o dia.

A tela observa.

Secando lenta.

Guardando a alma da artista.

 

 

A ESSÊNCIA DESVELADA

 

A tela em branco,

expectativa do olhar.

A cor que explode,

sentimento em pigmento.

 

Em cada traço incerto,

uma busca.

Na tela que pinta,

a imagem emergindo.

 

O som que vibra no ar,

antes silêncio, agora presença.

A dança, um corpo contando histórias

sem palavras, só movimento.

 

A palavra escrita,

janela para outros mundos.

O verso livre,

respiração da alma.

 

A arte reside

na ousadia de sentir,

na coragem de expressar

o que pulsa dentro.

 

Não busca a perfeição,

mas a verdade crua,

a beleza imperfeita

do instante capturado.

 

É a pergunta constante,

o diálogo sem fim

entre o criador e o mundo,

uma ponte invisível

tocando cada coração.

 

A arte é vasta,

selvagem,

essencial.

O eco da nossa humanidade.

 

© Alberto Araújo

15 de abril de 2025, Dia Mundial da Arte


 

A MONALISA: UM MERGULHO NA PROFUNDIDADE DE UM ÍCONE RENASCENTISTA - TEXTO E PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO


O PULSAR INCESSANTE DA ALMA HUMANA:

HOJE, 15 DE ABRIL CELEBRAMOS 

A ARTE EM SUA ESSÊNCIA

Prosa Poética

Epígrafe:

"Que a alma, enfim, 

encontre sua mais vibrante: expressão"

Alberto Araújo.

 

Em cada pincelada que desafia o vazio, em cada nota que ecoa no silêncio, em cada verso que tece a emoção, reside a força vital que nos define: a arte. Hoje, 15 de abril, o mundo pulsa em uníssono para celebrar essa linguagem universal, esse fio condutor que conecta as almas através do tempo e do espaço.

Mais do que estética ou técnica, a arte é a própria manifestação da nossa humanidade. É o grito silencioso da alegria e da dor, a materialização dos sonhos mais audaciosos e dos medos mais profundos. Ela questiona, provoca, inspira e transforma. É o espelho que reflete nossa complexidade, a janela que nos permite vislumbrar outras realidades, a ponte que nos une em nossa diversidade.

Das pinturas rupestres que narravam os primórdios da existência às instalações contemporâneas que desafiam nossas percepções, a arte evolui, se reinventa, mas sua essência permanece intacta: a necessidade intrínseca de expressar, de comunicar, de deixar uma marca no efêmero da vida.

Neste Dia Mundial da Arte, convidamos você a mergulhar nesse oceano de possibilidades. Permita-se ser tocado pela beleza de uma escultura, pela melodia envolvente de uma canção, pela força de um poema, pela narrativa cativante de um filme. Descubra a arte que reside em cada canto, em cada forma de expressão, e reconheça o seu poder transformador em nossas vidas e em nossa sociedade.

Que este dia seja um lembrete constante de que a arte não é um luxo, mas uma necessidade fundamental para a construção de um mundo mais sensível, mais crítico e, acima de tudo, mais humano. Celebremos a criatividade em todas as suas cores, sons e formas. Celebremos a arte, a pulsação incessante da alma humana.

 

© Alberto Araújo

 


A MONALISA: UM MERGULHO NA PROFUNDIDADE DE UM ÍCONE RENASCENTISTA


A "Monalisa" de Leonardo da Vinci transcende a mera representação pictórica; ela se estabeleceu como um enigma cultural, um portal para a mente de um dos maiores gênios da história e um espelho das nossas próprias percepções e anseios. Analisar profundamente esta obra-prima é desvendar camadas de técnica, história, psicologia e simbolismo que continuam a fascinar e intrigar séculos após sua criação.

Um dos pilares da análise da Monalisa reside na revolucionária técnica do sfumato empregada por Da Vinci. Essa palavra italiana, que significa "esfumaçado" ou "suave", descreve a aplicação de camadas translúcidas de tinta de maneira tão sutil que as linhas e os contornos se dissolvem, criando transições suaves entre luz e sombra. O resultado é uma atmosfera etérea, uma sensação de mistério e uma profundidade que desafia a bidimensionalidade da tela. 

O famoso sorriso da Monalisa é talvez o maior triunfo do sfumato. Ele não é fixo, mas sim uma sugestão, uma miragem de emoção que parece mudar dependendo do ângulo e da perspectiva do observador. Ora parece um leve contentamento, ora uma melancolia enigmática, ora quase desaparece na sombra. Essa ambiguidade proposital é o que cativa e convida à incessante interpretação. 

Outro aspecto notável é o olhar da retratada. Leonardo dominou a arte da perspectiva e da iluminação de tal forma que os olhos da Monalisa parecem seguir o espectador, independentemente de sua posição. Essa conexão visual direta cria uma sensação de intimidade e presença, como se a figura estivesse viva e consciente. Alguns estudiosos sugerem que essa característica reflete o conceito renascentista do "desígnio interior", onde a aparência externa revelaria a alma.

O fundo da pintura, com suas montanhas nebulosas, rios sinuosos e pontes distantes, não é um mero cenário. Ele contribui para a atmosfera onírica e para a sensação de profundidade da obra. A perspectiva atmosférica, com tons que se tornam mais pálida e menos definidos à distância, amplia essa sensação de infinito. A fluidez da paisagem, com suas formas orgânicas e a presença constante da água, rios e talvez lagos, ecoa as curvas suaves da figura em primeiro plano, sugerindo uma harmonia entre o ser humano e a natureza, um tema recorrente no Renascimento. 

A identidade da mulher retratada continua sendo um tema de debate, embora a teoria mais aceita seja que se trata de Lisa Gherardini, esposa do mercador florentino Francesco del Giocondo. No entanto, outras teorias sugerem que poderia ser um autorretrato disfarçado de Leonardo, uma amante de algum nobre da época ou até mesmo uma representação idealizada da feminilidade.

Essa incerteza em relação à identidade da modelo contribui para a aura de mistério da obra, permitindo diversas interpretações sobre seu significado. Alguns a veem como uma celebração da mulher e da maternidade, o possível véu de grávida, enquanto outros a interpretam como uma reflexão sobre a natureza da beleza, da identidade e da própria percepção.

A história da Monalisa, desde sua criação no início do século XVI, passando por sua permanência nas coleções reais francesas e sua eventual chegada ao Louvre, é parte de seu fascínio. O famoso roubo em 1911 catapultou a obra para um novo patamar de fama mundial, transformando-a em um ícone cultural instantaneamente reconhecível.

Ao longo dos séculos, a Monalisa foi apropriada e reinterpretada em inúmeras formas, da arte à publicidade, da literatura à cultura popular. Essa capacidade de ressoar em diferentes contextos e gerações demonstra o poder duradouro da obra e sua habilidade de se adaptar aos tempos, mantendo sua aura enigmática intacta.

A análise profunda da Monalisa revela que sua fama não se deve a um único fator, mas sim a uma complexa interação de maestria técnica, composição inovadora, atmosfera enigmática e uma história rica em eventos e interpretações. Ela permanece um testemunho da genialidade de Leonardo da Vinci e um espelho da própria alma humana, com suas emoções sutis, seus mistérios e sua busca incessante por significado. A Monalisa não é apenas uma pintura; é um fenômeno cultural que continua a nos desafiar, a nos intrigar e a nos inspirar.

 

Autorretrato de Leonardo Da Vinci 

LEONARDO DA VINCI: UMA BIOGRAFIA DE UM GÊNIO UNIVERSAL 

Leonardo di ser Piero da Vinci, simplesmente conhecido como Leonardo da Vinci, nasceu em 15 de abril de 1452, na pequena vila de Anchiano, perto de Vinci, na Toscana, Itália. Filho ilegítimo do notário florentino Ser Piero da Vinci e de Caterina, uma camponesa, sua infância foi marcada pela ausência paterna e pela criação inicial com sua mãe e, posteriormente, na casa de seu avô paterno, Antonio da Vinci. Essa origem, embora fora dos padrões sociais da época, não impediu o florescimento de um intelecto e uma curiosidade insaciáveis. 

Por volta de 1469, Leonardo foi levado para Florença, o epicentro do Renascimento italiano, onde seu pai reconheceu seu talento artístico promissor. Ele foi então aprendiz no prestigiado ateliê de Andrea del Verrocchio, um mestre multifacetado que o introduziu a uma vasta gama de técnicas e disciplinas, incluindo pintura, escultura, desenho, metalurgia e química. Nesse ambiente estimulante, Leonardo não apenas dominou as habilidades artísticas convencionais, mas também desenvolveu um olhar aguçado para a anatomia humana, a natureza e os princípios da engenharia. 

Sua genialidade logo se manifestou em suas primeiras obras, como a participação na pintura "Batismo de Cristo" de Verrocchio (c. 1472-1475), onde o anjo pintado por Leonardo já demonstrava uma delicadeza e um realismo inovadores. Em 1478, estabeleceu seu próprio ateliê em Florença, iniciando trabalhos importantes como a inacabada "Adoração dos Magos" (1481-1482), que revela sua complexa abordagem composicional e seu profundo estudo das expressões faciais e da psicologia humana.

Em 1482, Leonardo mudou-se para Milão, a serviço de Ludovico Sforza, o Duque de Milão. Essa mudança marcou um período prolífico e diversificado em sua carreira. Além de pintor da corte, ele atuou como engenheiro, arquiteto, cenógrafo e consultor militar. Durante seus anos milaneses, criou obras-primas como "A Última Ceia" (c. 1495-1498), um afresco revolucionário que explorou a profundidade emocional e a dramaticidade do momento bíblico com uma maestria sem precedentes, e "A Dama com Arminho" (c. 1489-1491), um retrato elegante e psicológico de Cecilia Gallerani, amante do duque.

Seu interesse pela ciência e pela engenharia floresceu em Milão. Ele realizou estudos detalhados de anatomia humana através de dissecações (uma prática incomum e até controversa na época), investigou os princípios da óptica, da hidrodinâmica, da aerodinâmica e da mecânica. Seus cadernos, repletos de desenhos intrincados e anotações em escrita espelhada, revelam projetos visionários para máquinas voadoras, pontes giratórias, armas e outras invenções muito à frente de seu tempo. 

Com a queda de Ludovico Sforza em 1499, Leonardo deixou Milão e viajou por várias cidades italianas, incluindo Mântua, Veneza e Florença, onde retomou trabalhos inacabados e iniciou novas empreitadas. Foi nesse período que provavelmente começou a trabalhar em sua obra mais icônica, a "Monalisa" (c. 1503-1519), um retrato que transcendeu a representação para se tornar um enigma cultural e um estudo da complexidade da emoção humana. 

Em 1513, Leonardo mudou-se para Roma, a convite do Papa Leão X, embora sua produção artística nesse período tenha sido relativamente menor, focando-se mais em estudos científicos e experimentações. Em 1516, aceitou o convite do rei Francisco I da França e passou seus últimos anos em Amboise, no Vale do Loire. Lá, desfrutou de grande prestígio e continuou seus estudos e projetos até sua morte em 02 de maio de 1519.

Leonardo da Vinci não foi apenas um pintor genial, mas um verdadeiro homem do Renascimento, um polímata cujo intelecto curioso e observador explorou os limites do conhecimento em diversas áreas. Sua abordagem científica da arte, sua maestria técnica inovadora e sua capacidade de capturar a essência da humanidade em suas obras o consagraram como uma das figuras mais importantes e influentes da história. Seus cadernos e suas obras de arte são um legado inestimável que continua a inspirar e a maravilhar o mundo, testemunhando a profundidade e a amplitude de um gênio verdadeiramente universal.

© Alberto Araújo

 



 

HOJE, 15 DE ABRIL DE 2025, É O DIA MUNDIAL DA ARTE! HOMENAGEM DO FOCUS PORTAL CULTURAL



Esta data foi proclamada pela UNESCO na sua 36ª Conferência Geral, em 2011, e a primeira celebração ocorreu em 2012. O objetivo é promover a conscientização sobre a importância da arte e da criatividade para o desenvolvimento, a liberdade de expressão e a diversidade cultural.

A data de 15 de abril foi escolhida em homenagem ao aniversário de Leonardo da Vinci, um dos maiores artistas da história, que simboliza a genialidade criativa, a inovação e a ligação entre as diversas formas de arte e ciência.

 


 

A COR DA ALMA EM FLOR - PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO

 


Ah, o Dia Mundial da Arte! Não um dia marcado no calendário com fria tinta, mas um sussurro colorido que percorre a alma, um despertar de pincéis adormecidos, um eco de canções silenciadas. Em cada coração, uma tela em branco palpita, ansiando pelas cores da vida, pelas sombras da emoção, pelas linhas que dançam entre o visível e o invisível.

Olho para o céu de Niterói, hoje mais límpido, como se lavado pela inspiração. As nuvens, esculturas efêmeras moldadas pelo vento, lembram-me a constante metamorfose da beleza, a impermanência que torna cada instante uma pincelada única. O sol, ouro derretido sobre as águas da baía, convida o olhar a demorar-se nos reflexos, a descobrir nos brilhos fugazes a assinatura de um mestre invisível.

Em cada esquina, a vida pulsa como um verso livre. O riso das crianças é aquarela vibrante, a melancolia do pescador que retorna é um traço sépia na tela do entardecer. O vento que agita as folhas das árvores compõe uma sinfonia sussurrante, uma melodia que embala os sonhos e as lembranças. Tudo é arte, em sua essência mais pura, esperando ser contemplado com a sensibilidade de um coração artista. 

Não se prenda a molduras douradas ou a galerias imponentes. A arte reside no barro que modela a mão do artesão, no bordado delicado da rendeira, no ritmo do tambor que ecoa nas vielas. Ela se manifesta no poema singelo que acalma a alma, na dança que liberta o corpo, no olhar que revela a beleza oculta nas coisas mais simples. 

Neste dia, celebremos a ousadia de criar, a coragem de expressar o que reside no mais profundo do ser. Deixe que a arte seja a ponte entre os corações, o elo que une as diferentes tonalidades da experiência humana. Que cada um de nós se permita ser pincel, tela e cor, tecendo juntos a grande obra da existência, com a delicadeza e a intensidade de uma aquarela que se revela a cada novo amanhecer. Que a beleza floresça em cada gesto, em cada olhar, e que a alma, enfim, encontre sua mais vibrante expressão. 

© Alberto Araújo

15 de abril, Dia Mundial da Arte

ANÁLISE DE "MEUS OITO ANOS": A NOSTALGIA DA INFÂNCIA EM CASIMIRO DE ABREU


O poema "Meus Oito Anos" de Casimiro de Abreu é uma das obras mais emblemáticas do romantismo brasileiro, evocando com singeleza e profunda emoção a pureza e a alegria da infância. Através de uma linguagem lírica e sentimental, o eu lírico revisita um tempo de despreocupação e intensa conexão com a natureza, contrapondo-o à melancolia da vida adulta. 

O título, por si só, já delimita o foco temporal do poema: os oito anos de idade, um período frequentemente associado à inocência e à liberdade. A repetição do verso inicial, "Oh! Que saudades que tenho / Da aurora da minha vida,", estabelece o tom nostálgico que permeia toda a composição. A exclamação e o uso da interjeição "Oh!" intensificam o sentimento de saudade, apresentando a infância como um paraíso perdido. 

A natureza surge como um cenário idílico para essa fase da vida. Elementos como "os campos", "o céu de anil", "a relva", "a fonte que corria" e "o riacho" compõem um quadro bucólico onde a criança se sente livre e integrada. A descrição sensorial é rica, apelando à visão (azul do céu, verde da relva), ao som (canto dos pássaros, murmúrio da fonte) e ao tato (frescor da relva), transportando o leitor para essa atmosfera de felicidade. 

A linguagem utilizada por Casimiro de Abreu é marcada pela simplicidade e pela musicalidade, características do romantismo. Versos como "Que auroras, que manhãs tão claras!" e "Que sol! que céu azulado!" expressam a admiração do eu lírico pela beleza singela do mundo ao seu redor, filtrada pelos olhos de uma criança. 

As atividades descritas remetem à espontaneidade e à despreocupação infantil: "viver contente", "correr nos campos", "ouvir os passarinhos", "apanhar as flores". Não há grandes feitos ou preocupações complexas; a felicidade reside nas pequenas coisas e na liberdade de explorar o mundo natural. 

A força do poema reside também no contraste implícito entre a felicidade da infância e a possível melancolia da vida adulta. A saudade expressa no primeiro verso ecoa ao longo da composição, sugerindo que essa pureza e alegria se perderam com o tempo. Embora o poema se concentre no passado, a intensidade da saudade revela uma insatisfação ou um vazio no presente do eu lírico. 

A ausência de detalhes específicos sobre a vida adulta intensifica o idealismo da infância retratada. O foco permanece na beleza e na liberdade daquele período, tornando a perda ainda mais sentida. 

"Meus Oito Anos" incorpora diversos elementos característicos do romantismo brasileiro:

 O ambiente natural é central e idealizado, servindo como refúgio e fonte de felicidade.

A emoção e a subjetividade do eu lírico são predominantes.

A infância é vista como um tempo de pureza e felicidade perdido.

A forma e o ritmo contribuem para a expressividade dos sentimentos.

 

"Meus Oito Anos" é um poema tocante que captura a essência da nostalgia da infância. Através de uma linguagem simples e emotiva, Casimiro de Abreu transporta o leitor para um tempo de liberdade e intensa conexão com a natureza, contrapondo essa pureza à melancolia implícita da vida adulta. A idealização da infância e a exaltação da natureza, elementos centrais do romantismo, conferem ao poema uma beleza atemporal e uma ressonância emocional que continua a encantar leitores de diferentes gerações. A saudade expressa nos versos transcende a experiência individual, tocando em um sentimento universal de anseio por um tempo de maior leveza e inocência.

 

MEUS OITO ANOS – CASIMIRO DE ABREU

 

Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

 

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

- Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é - lago sereno,

O céu - um manto azulado,

O mundo - um sonho dourado,

A vida - um hino d'amor!

 

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

 

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã.

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

 

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

De camisa aberto ao peito,

- Pés descalços, braços nus -

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

 

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

 

Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!


 


CASIMIRO DE ABREU: UMA BIOGRAFIA

Casimiro José Marques de Abreu (1839-1860) foi um dos mais importantes e representativos poetas da segunda geração do Romantismo no Brasil, também conhecida como Ultrarromantismo ou Byronismo. Sua vida breve, interrompida pela tuberculose aos 21 anos, não o impediu de deixar uma marca indelével na literatura brasileira, caracterizada por um lirismo sentimental, nostálgico e profundamente ligado à saudade da infância e da pátria. 

Casimiro nasceu em 04 de janeiro de 1839, na então freguesia de Barra de São João, hoje município que leva seu nome, no estado do Rio de Janeiro. Era filho do comerciante português José Joaquim Marques de Abreu e de Luísa Joaquina das Neves. Sua infância transcorreu na Fazenda da Prata, em Silva Jardim, onde desfrutou de um contato íntimo com a natureza exuberante, elemento que se tornaria central em sua poesia. 

Aos nove anos, foi enviado para estudar Humanidades no Colégio Freese, em Nova Friburgo. Essa experiência, longe do lar e da liberdade da fazenda, despertou nele um forte sentimento de saudade, tema recorrente em sua obra. Posteriormente, trabalhou no comércio do pai, no Rio de Janeiro, mas sua paixão pela escrita e pela literatura logo o afastou definitivamente da vida mercantil. 

Em 1857, Casimiro embarcou para Portugal com o pai. Essa viagem marcou um período crucial em sua formação literária. Em Lisboa, frequentou os círculos intelectuais da época e colaborou com diversos jornais e revistas, como a "Ilustração Luso-Brasileira". Foi em Portugal que escreveu a maior parte de sua obra poética e também o drama "Camões e o Jaú", encenado com sucesso em 1856, quando o poeta tinha apenas dezessete anos.

Sua poesia, imbuída de um lirismo espontâneo e melancólico, abordava temas como o amor idealizado, a saudade lancinante da infância, a beleza da natureza e a efemeridade da vida. Seus versos, geralmente em redondilha maior, caracterizavam-se pela musicalidade e pela simplicidade da linguagem, tocando profundamente a sensibilidade dos leitores. 

Em 1859, Casimiro de Abreu publicou em Lisboa sua única obra em livro, "As Primaveras". Essa coletânea de poemas consagrou o autor como um dos principais nomes do Ultrarromantismo brasileiro. O livro é um retrato fiel da alma romântica, com seus anseios, tristezas e a constante busca por um ideal perdido. 

Entre os poemas mais célebres de "As Primaveras", destacam-se:

 "Meus Oito Anos": Um dos poemas mais conhecidos e emocionantes da literatura brasileira, que expressa a profunda nostalgia da infância, idealizada como um tempo de felicidade e pureza.

"Canção do Exílio": Uma ode à pátria, repleta de saudade e amor pela terra natal, que dialoga com o famoso poema homônimo de Gonçalves Dias.

"Saudades": Um lamento melancólico sobre a passagem do tempo e a perda das ilusões da juventude.

"A Virgem Loura": Um poema que exalta a beleza feminina de forma idealizada e sentimental. 

Em 1857, Casimiro retornou ao Brasil, já com a saúde fragilizada pela tuberculose. Apesar da doença, continuou a colaborar com a imprensa carioca e manteve contato com outros intelectuais da época, como Machado de Assis. 

Em 1860, ficou noivo de Joaquina Alvarenga Silva Peixoto, mas seus planos de felicidade foram interrompidos pelo agravamento da doença. Buscando um clima mais ameno, retirou-se para a fazenda da família em Indaiaçu, onde faleceu precocemente em 18 de outubro de 1860, aos 21 anos de idade. 

Apesar de sua curta vida, Casimiro de Abreu deixou um legado poético significativo. Sua obra, marcada pela sinceridade dos sentimentos e pela musicalidade dos versos, conquistou o público e influenciou gerações de escritores. É considerado um dos poetas mais populares e queridos do Romantismo brasileiro. 

Em homenagem ao poeta, o município onde nasceu recebeu o nome de Casimiro de Abreu. Ele também é o Patrono da Cadeira número 06 da Academia Brasileira de Letras. Patrono da Cadeira 04 da Academia Niteroiense de Letras, atual ocupante: Nagib Slaibi Filho. 

A poesia de Casimiro de Abreu, com sua melancolia doce e sua exaltação da infância e da natureza, continua a emocionar e a encantar leitores de todas as idades, perpetuando a memória desse talento precoce da literatura brasileira. Sua obra é um testemunho da sensibilidade romântica e da força expressiva de um jovem poeta que soube traduzir em versos a beleza e a tristeza da existência humana. 

© Alberto Araújo


CASIMIRO DE ABREU - RJ

CASA MUSEU CASIMIRO DE ABREU

ALBERTO ARAÚJO POSA AO LADO
DA ESTÁTUA DE CASIMIRO DE ABREU


 

 

 

 

 

 



 

segunda-feira, 14 de abril de 2025

ANÁLISE SOBRE O POEMA “CANÇÃO DO AMOR SERENO” DE LYA LUFT POR ALBERTO ARAÚJO



Vem sem receio: eu te recebo

Como um dom dos deuses do deserto

Que decretaram minha trégua, e permitiram

Que o mel de teus olhos me invadisse.

 

Quero que o meu amor te faça livre,

Que meus dedos não te prendam

Mas contornem teu raro perfil

Como lábios tocam um anel sagrado.

 

Quero que o meu amor te seja enfeite

E conforto, porto de partida para a fundação

Do teu reino, em que a sombra

Seja abrigo e ilha.

 

Quero que o meu amor te seja leve

Como se dançasse numa praia uma menina.

 

O poema “Canção do Amor Sereno” de Lya Luft apresenta uma visão delicada e profunda do amor, distante de paixões avassaladoras e possessivas. Através de uma linguagem lírica e imagética, a poeta constrói uma atmosfera de tranquilidade e entrega, onde o amor se manifesta como um presente divino e uma força libertadora. 

O poema é composto por quatro estrofes de quatro versos cada, predominantemente decassílabos, conferindo um ritmo suave e cadenciado à leitura, que remete à serenidade expressa no título. A repetição da estrutura frasal iniciada por "Quero que o meu amor te..." nas três últimas estrofes enfatiza o desejo e a intenção da voz lírica em relação ao ser amado, construindo uma progressão de oferendas e votos. 

A linguagem utilizada é rica em metáforas e comparações que evocam sensações de leveza, liberdade e segurança. A chegada do amado é comparada a um "dom dos deuses do deserto", sugerindo raridade e providência, um alívio em meio à aridez da solidão. A imagem do "mel de teus olhos" que invade a voz lírica transmite uma sensação de doçura e profundidade do impacto desse encontro.

O tema central do poema reside na concepção de um amor que não aprisiona, mas liberta. A voz lírica expressa o desejo de que seus dedos "não te prendam / Mas contornem teu raro perfil", utilizando o toque como uma forma de apreciação e respeito pela individualidade do outro. A comparação com o toque em "um anel sagrado" eleva esse gesto a um nível de reverência e valorização.

O amor é apresentado como algo que embeleza ("enfeite") e oferece segurança ("conforto, porto de partida"). A metáfora do "porto de partida para a fundação / Do teu reino" sugere que o amor serve como base e impulso para o crescimento e a autonomia do ser amado, um lugar onde a "sombra / Seja abrigo e ilha", representando proteção e individualidade. 

A imagem da "menina" que dança "numa praia" evoca a leveza, a espontaneidade e a pureza do amor desejado. Essa comparação reforça a ideia de um sentimento desimpedido, livre de fardos e obrigações. 

A frase inicial "Vem sem / receio: eu te recebo" estabelece um tom de acolhimento e convite à confiança. O amor oferecido não impõe condições, mas se apresenta como um refúgio seguro.

A "Canção do Amor Sereno" é uma ode a um amor maduro e consciente, que prioriza a liberdade e o bem-estar do outro. Longe de idealizações românticas tradicionais, o poema celebra um sentimento que se manifesta na delicadeza dos gestos, na beleza da admiração e na segurança do apoio. É um amor que se doa sem expectativas de posse, que se oferece como um presente precioso capaz de transformar a vida do ser amado, tornando-a mais leve, bela e segura.

A "Canção do Amor Sereno" de Lya Luft ecoa como um sussurro de rio em leito de pedras, cada verso esculpindo a imagem de um amor que transcende o efêmero. A poeta nos convida a um mergulho nas profundezas de um sentimento que não aprisiona, mas liberta, que não sufoca, mas embeleza. 

A leveza do amor se revela na dança de uma menina na praia, um movimento puro e desimpedido, assim como o amor que Lya Luft deseja oferecer. Um amor que não impõe limites, mas que serve de porto seguro, um farol a guiar a alma em sua jornada. 

Em cada palavra, a poeta tece um manto de serenidade, onde o amor se torna refúgio e impulso, sombra e ilha, um reino particular onde a alma encontra paz e liberdade. É um amor que se doa sem reservas, que se oferece como um presente divino, um oásis no deserto da solidão. 

A "Canção do Amor Sereno" é um convite à entrega, à confiança, à permissão de ser amado sem amarras. É um amor que se manifesta na simplicidade de um toque, no contorno de um perfil, na beleza de um enfeite, na segurança de um porto. É um amor que se revela na leveza de uma dança, na liberdade de um voo, na serenidade de um rio. 

Em suma, o poema de Lya Luft é uma reflexão sensível sobre a natureza do amor em sua forma mais pura e libertadora, um convite a vivenciar relacionamentos baseados no respeito, na admiração e na entrega serena.

 

© Alberto Araújo