Era uma vez, numa casinha singela, feita de taipa e sonhos, uma baratinha. Mas não era uma baratinha qualquer, dessas que correm apressadas pelos cantos escuros. Não, esta era diferente. Tinha o brilho do sol nas costas, um dourado que faiscava a cada passinho miúdo. Por isso, a chamavam, com carinho, Baratinha Dourada.
Um dia, enquanto varria a sua morada com uma vassourinha de capim, encontrou algo que lhe fez o coração palpitar mais forte que o bater de suas pequenas antenas. Era um anel. Um anel minúsculo, feito de um metal que cintilava como orvalho ao amanhecer. Parecia feito sob medida para um dedo invisível, de tão delicado.
A Baratinha Dourada pegou o anel com suas patinhas finas e o admirou. Que beleza! Que brilho! Era a coisa mais linda que seus olhinhos já tinham visto. E logo pensou: "Com um anel tão bonito, eu devo ser muito rica! Uma baratinha rica merece um marido rico!"
E assim, vestiu sua mais elegante saia de chita florida e pôs-se à janela, a exibir seu tesouro. Cantarolava uma melodia antiga, que sua avó barata lhe ensinara, sobre a beleza do mundo e a alegria de um bom casamento.
Não demorou muito para que um boi forte e imponente passasse por ali. Viu o brilho do anel e a Baratinha Dourada a cantar. Curioso, perguntou com sua voz grave: "Oh, Baratinha Dourada, que belo anel! Queres casar comigo?"
A baratinha, um pouco assustada com a voz tão forte, perguntou com sua voz fininha: "E como fazes à noite, meu senhor?"
O boi
respondeu com um mugido poderoso: "MUUUUUUUUUUUU!"
A Baratinha Dourada estremeceu. "Oh, não! Um marido que faz tanto barulho vai me acordar a noite inteira! Não, não pode ser!"
E o boi
seguiu seu caminho, pastando pelos campos verdejantes. Logo depois, passou um
cavalo elegante, com a crina ao vento e os cascos a trotar suavemente. Viu o
anel a brilhar e a baratinha a cantarolar. Aproximou-se com um relincho
melodioso: "Olá, Baratinha Dourada! Que anel tão encantador! Aceitarias
ser minha esposa?"
A
baratinha, achando o cavalo muito charmoso, perguntou com sua voz delicada:
"E
como fazes à noite, meu senhor?"
O cavalo
respondeu com um relincho alto e vibrante: "HIIIIIIIIIIIIIIII!"
A Baratinha Dourada tapou os ouvidos com as
patinhas. "Ai, não! Um marido tão barulhento vai espantar meus sonhos!
Não, não pode ser!" E o cavalo se foi, trotando pela estrada poeirenta.
Muitos outros pretendentes passaram: um cão com seu
latido alegre, um gato com seu miado manhoso, um carneiro com seu berro macio.
Mas nenhum agradava à Baratinha Dourada. Ou faziam muito barulho, ou eram muito
grandes, ou seus olhos não brilhavam com a mesma doçura do seu anel.
Já estava quase anoitecendo quando um pequeno rato,
de bigodes finos e olhos brilhantes como jabuticabas, se aproximou timidamente.
Viu o anel dourado e ouviu a canção suave da baratinha. Com uma voz quase
inaudível, perguntou:
"Com licença, Baratinha Dourada. Que anel tão
lindo! Gostarias de casar comigo?"
A baratinha olhou para o rato. Ele era pequeno,
sim, mas seus olhos tinham um brilho gentil. E sua voz era suave como um
sussurro na relva. Curiosa, perguntou:
"E como fazes à noite, meu senhor?"
O rato respondeu com um squeak delicado:
"Squi, squi..."
A Baratinha Dourada sorriu. Era um som tão suave,
tão calmo. "Ah, sim! Um marido com uma voz tão doce não vai perturbar meus
sonhos! Sim, meu caro rato, eu aceito!"
E assim, a Baratinha Dourada, com seu anel
brilhante, casou-se com o rato de olhos gentis. Viveram felizes em sua casinha
singela, com o brilho do anel a iluminar seus dias e o "squi, squi"
suave a embalar suas noites. Porque a verdadeira riqueza, a Baratinha Dourada
aprendeu, não estava no brilho de um anel, mas na doçura de um coração. E às
vezes, os corações mais doces vêm nos embrulhos mais delicados.
© Alberto Araújo
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