Giotto.Pintor gótico italiano (1266-1337)
O ar de Niterói, neste sereno Domingo de Ramos, carrega consigo a brisa suave que precede a tempestade, a calma que antecede a paixão. Mais que um simples dia no calendário, este domingo marca o limiar da Semana Santa, um período de profunda introspecção e significado para milhões de cristãos ao redor do mundo. É a porta de entrada para os mistérios da fé, o prelúdio da jornada derradeira de Cristo, que culminará na glória da Páscoa.
Domingo de Ramos, ecoando também como Domingo da Paixão do Senhor, reverbera a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. A tradição nos conta de um rei humilde, montado em um jumento, símbolo ancestral da paz, sendo aclamado por uma multidão fervorosa. Seus mantos e ramos verdes, colhidos da natureza dadivosa, cobriam o caminho, tecendo uma tapeçaria viva de esperança e reconhecimento. O Salmo ressoava pelos ares: "Bendito seja aquele que vem em nome do Javé!".
Na liturgia rica e multissecular da Igreja Católica, este dia se veste de nuances singulares. "Páscoa Florida", um contraste poético com a "Páscoa Frutífera" que se seguirá, evoca a beleza efêmera da esperança que floresce antes do sacrifício. É também o tempo dos "que pedem" o Batismo, um rito de passagem, um renascimento espiritual que encontra ressonância na própria ressurreição vindoura.
A bênção e a distribuição dos ramos de palmeiras, oliveiras ou salgueiros – adaptados à generosidade da terra em cada canto do planeta – são gestos carregados de simbolismo. Eles nos conectam diretamente àquele momento histórico, àquela manifestação espontânea de fé e reconhecimento. Carregamos esses ramos como um elo tangível com a entrada de Jesus, um testemunho silencioso de nossa adesão ao seu caminho.
Contudo, a alegria da chegada é tingida pela sombra da Paixão. Lucas nos revela o olhar compassivo de Jesus sobre Jerusalém, suas lágrimas silenciosas prenunciando o sofrimento que a cidade e Ele próprio iriam enfrentar. A entrada triunfal carrega em si a semente da dor, a dualidade intrínseca da experiência humana e divina.
O gesto de cobrir o caminho de alguém com honras ecoa tradições antigas, um reconhecimento profundo de sua importância. Se nos evangelhos sinóticos vemos mantos e juncos, João nos apresenta os ramos de palmeira, símbolos de triunfo e vitória na cultura judaica. Essa imagem poderosa da multidão aclamando Jesus com palmas e vestes se torna um ícone da fé, um lembrete da recepção régia daquele que se apresentou não como um rei guerreiro montado em um cavalo, mas como o "Príncipe da Paz", cavalgando a humildade de um jumento.
Neste Domingo de Ramos, em Niterói e em cada rincão do mundo, somos convidados a reviver essa entrada, a sentir a esperança florida que precede a entrega. Que a beleza deste dia nos prepare para a profundidade da Semana Santa, para contemplarmos o sacrifício redentor e celebrarmos, com renovada fé, a promessa da ressurreição que se avizinha. Que os ramos que carregamos sejam não apenas um símbolo, mas um compromisso de seguir os passos daquele que, por amor, entregou-se por nós.
Editorial
Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
Blog Alberto Araújo & Amigos
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Créditos das imagens
Flevit super illam. 1892. Óleo sobre
tela por Enrique Simonet, Museu do Prado, Madrid, Espanha.
"Entrada em Jerusalém" -
Mosaico - Catedral de Palermo (Itália)
Giotto - Pintor gótico italiano (1266-1337)
Duccio - Pintor gótico italiano (1255-1319)
Pintor pré-renascentista italiano (c.1280-1348)
Flevit super illam. 1892. Óleo sobre
tela por Enrique Simonet, Museu do Prado, Madrid, Espanha.
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