quarta-feira, 9 de abril de 2025

A TELA QUE GRITA EM MEIO À TEMPESTADE REFLEXÃO DE ALBERTO ARAÚJO SOBRE A "TEMPESTADE NO MAR DA GALILEIA" DE REMBRANDT

 


A "Tempestade no Mar da Galileia" de Rembrandt transcende a moldura e o tempo. Não é tinta sobre tela, mas sim um grito silencioso ecoando através dos séculos, um espelho implacável que nos confronta com a fragilidade da nossa própria existência. As ondas turbulentas não são apenas pinceladas selvagens; representam o caos que irrompe em nossas vidas, as crises que nos lançam ao mar revolto da incerteza e do medo. 

Observemos o terror estampado nos rostos dos apóstolos. Ali, em cada expressão de pavor e desespero, reconhecemos nossas próprias reações diante do inesperado, da dor lancinante, da sensação avassaladora de perda de controle. Eles são nós, agarrados precariamente à embarcação da esperança, enquanto as forças da adversidade ameaçam nos engolir. 

E no centro da turbulência, a figura serena de Jesus. Sua presença, em contraste gritante com o pandemônio ao redor, não é um mero elemento pictórico. É a âncora que nos questiona: em meio ao naufrágio iminente, onde depositamos nossa fé? A quem recorremos quando as ondas da vida se tornam implacáveis? 

A tela de Rembrandt não é um mero registro histórico de um milagre bíblico. É uma metáfora visceral da nossa jornada humana. Cada pincelada carrega a urgência de uma mensagem atemporal: as tempestades virão, inevitavelmente. A questão crucial não é se elas nos alcançarão, mas sim quem está no nosso barco.

Essa obra icônica, tragicamente roubada, permanece viva em nossa memória e imaginação, não apenas como um tesouro perdido da arte, mas como um lembrete poderoso e inquietante. Ela nos intima a olhar para além da superfície das nossas provações e a buscar a força que reside na fé, na esperança e na convicção de que, mesmo nas piores tormentas, se a presença divina nos acompanha, nosso barco, por mais sacudido que seja, jamais afundará. É um chamado à introspecção, um convite a encontrar a calmaria no epicentro da tempestade, ancorados em uma certeza que transcende a fúria das ondas.


SOBRE A TELA
 

“Tempestade no mar da Galileia” é uma pintura a óleo sobre tela de 1633, do artista da era de ouro dos Países Baixos, Rembrandt Harmenszoon van Rijn. 

A pintura foi roubada em 1990 do Museu Isabella Stewart Gardner e, desde então, permanece desaparecida. A pintura retrata o relato bíblico onde Jesus, durante a travessia do mar da Galileia, acalma a tempestade que ameaçava afundar o barco, como é especificado no evangelho de Marcos, no capítulo 4. É a única pintura de Rembrandt que tem o mar como tema. 

A pintura, em formato vertical, mostra os discípulos lutando, freneticamente, contra a força da tempestade para retomar o controle do barco pesqueiro onde estavam. Uma grande onda bate na proa e rompe a vela. Um dos discípulos é visto vomitando na parte de baixo do barco. Ao seu lado, olhando diretamente para quem olha a pintura, está um auto retrato do artista. Apenas Jesus, à direita, permanece calmo.





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