segunda-feira, 14 de abril de 2025

O AUTO DA COMPADECIDA 1 E 2 UMA ANÁLISE COMPARATIVA POR ALBERTO ARAÚJO


O AUTO DA COMPADECIDA: UM LEGADO EM DUAS JORNADAS CINEMATOGRÁFICAS 

Vinte e quatro anos separam duas obras que ecoam a alma do Brasil: O Auto da Compadecida (2000) e O Auto da Compadecida 2 (2024). 

O primeiro, um marco indelével do cinema nacional, transportou para as telas a genialidade de Ariano Suassuna, tecendo com maestria o humor ácido, o drama pungente e a crítica social visceral ambientada no árido, porém rico, sertão nordestino. A direção de Guel Arraes consagrou personagens inesquecíveis como o astuto João Grilo (Matheus Nachtergaele) e o medroso, mas leal, Chicó (Selton Mello), imortalizando seus dilemas e espertezas em meio a um cenário de desigualdade e fé. 

A tão aguardada sequência, O Auto da Compadecida 2, ressurge em 2024, novamente sob a batuta de Arraes, trazendo de volta a química inigualável entre Nachtergaele e Mello. A dupla, em performances que continuam a cativar e emocionar, embarca em novas aventuras, preservando a essência da obra original, mas vestindo-se com a modernidade do cinema contemporâneo. A riqueza da linguagem suassuniana permanece intacta, com seus diálogos afiados e repletos de um humor que ora diverte, ora faz refletir.

Ambos os filmes mergulham em temas cruciais como a desigualdade social, a religião e o poder, lançando um olhar crítico e perspicaz sobre as mazelas e as esperanças do povo brasileiro. As paisagens áridas e imponentes do sertão são retratadas com uma beleza crua e realista, conferindo uma atmosfera única e autêntica às narrativas. A presença de um elenco estelar, reunindo alguns dos maiores talentos do cinema nacional, eleva ainda mais a qualidade das produções.

Contudo, as duas obras também apresentam distinções notáveis. Enquanto o primeiro filme se ancora fielmente na peça teatral original, o segundo desbrava um território inédito, apresentando novas tramas, personagens e desafios para os icônicos João Grilo e Chicó. O tom também se diferencia: o clássico de 2000 carrega um peso dramático mais acentuado, enquanto a sequência de 2024 parece inclinar-se mais para a leveza do humor e da aventura, sem perder a profundidade das questões sociais. 

A evolução tecnológica também deixa sua marca na sequência, com efeitos especiais mais sofisticados e uma fotografia mais elaborada, enriquecendo a experiência visual. Além disso, O Auto da Compadecida 2 dialoga com a cultura pop e a atualidade, incorporando elementos como memes e referências a filmes e séries, buscando uma conexão com o público contemporâneo.

O Auto da Compadecida (2000) é um clássico atemporal, uma obra-prima que cravou seu nome na história do cinema brasileiro, influenciando gerações e permanecendo relevante pela sua crítica social e pela força de seus personagens. O Auto da Compadecida 2 (2024) é uma sequência vibrante e emocionante, que não apenas honra o legado do original, mas também expande seu universo com frescor e inventividade.

Ambos os filmes transcendem o mero entretenimento, configurando-se como obras primas do cinema nacional que merecem ser vistas e revisitadas. O primeiro, pela sua importância histórica e profundidade dramática; o segundo, pela sua capacidade de revisitar um universo amado com inteligência e sensibilidade, provando que a saga de João Grilo e Chicó continua viva e pulsante no imaginário brasileiro. A adaptação de 2000 bebeu diretamente da peça teatral homônima de Ariano Suassuna, mas a genialidade do autor reside na sua capacidade de amalgamar diversas influências da rica cultura popular nordestina, desde a literatura de cordel, com seus personagens malandros e narrativas envolventes (com destaque para os folhetos de Leandro Gomes de Barros), até o teatro popular medieval, com sua estrutura de autos e farsas e a marcante figura da Compadecida, uma representação da devoção mariana. Suassuna também teceu em sua obra elementos de causos, cantorias e histórias de valentia típicas do Nordeste, criando um universo singular e atemporal.

Enquanto a Taperoá fictícia da Paraíba serviu de cenário para as desventuras de João Grilo e Chicó no primeiro filme, gravado na emblemática Cabaceiras, conhecida como a "Roliúde Nordestina", a sequência de 2024 encontrou seus sets de filmagem nos estúdios do Rio de Janeiro, demonstrando uma nova abordagem na produção, sem perder a essência da história. 

Os elencos de ambas as produções são um desfile de talentos, com nomes que marcaram a história do cinema brasileiro. A permanência de Matheus Nachtergaele e Selton Mello nos papéis principais é um dos grandes trunfos da sequência, assim como o retorno de Virginia Cavendish. A adição de novos nomes como Taís Araújo, Eduardo Sterblitch e Fabiula Nascimento promete enriquecer ainda mais o universo de "O Auto da Compadecida", garantindo que a sua mensagem e o seu humor continuem a ecoar por muitas gerações.

 


O Auto da Compadecida (2000), dirigido por Guel Arraes, é um marco do cinema brasileiro, adaptando a peça teatral homônima de Ariano Suassuna. O filme conquistou o público e a crítica com sua mistura de humor, drama e crítica social, ambientada no sertão nordestino. 

O Auto da Compadecida 2 (2024), também dirigido por Guel Arraes, chega 24 anos depois, trazendo de volta os icônicos personagens João Grilo, Matheus Nachtergaele e Chicó, Selton Mello. A sequência mantém a essência do original, mas com uma roupagem moderna e novas aventuras.

A química entre Matheus Nachtergaele e Selton Mello continua impecável, com atuações que cativam e emocionam. 

A riqueza da linguagem de Ariano Suassuna é preservada, com seus diálogos inteligentes e bem-humorados. 

Ambos os filmes abordam temas como desigualdade social, religião e poder, com um olhar crítico e perspicaz. 

As paisagens do sertão nordestino são retratadas com beleza e realismo, criando uma atmosfera única. Os dois filmes possuem um elenco de peso, com grandes nomes do cinema brasileiro. 

DIFERENÇAS 

O primeiro filme adapta a peça original, enquanto o segundo apresenta uma história inédita, com novos personagens e situações. Tem um tom mais dramático, enquanto o segundo aposta mais no humor e na aventura. 

O segundo filme se beneficia dos avanços tecnológicos, com efeitos especiais e uma fotografia mais elaborada. Incorpora elementos da cultura pop e da atualidade, como memes e referências a filmes e séries.

O Auto da Compadecida 1 é um clássico atemporal, que marcou a história do cinema brasileiro. O Auto da Compadecida 2 é uma sequência divertida e emocionante, que honra o legado do original. 

Ambos os filmes são obras primas do cinema nacional, e merecem ser vistos. O primeiro é um clássico atemporal, enquanto o segundo é uma sequência divertida e emocionante, que honra o legado do original.

A adaptação cinematográfica de  O Auto da Compadecida" (2000) foi baseada principalmente na peça teatral homônima de Ariano Suassuna. 

No entanto, a obra de Suassuna é rica em referências e inspirações, e alguns elementos podem ter sido extraídos de outras fontes, como: A peça "O Auto da Compadecida": Esta é a principal fonte de inspiração para o filme. A peça combina elementos da literatura de cordel, do teatro popular e da tradição religiosa, criando uma narrativa única e envolvente. Ariano Suassuna era um grande admirador da literatura de cordel, e muitas de suas obras, incluindo "O Auto da Compadecida", incorporam elementos desse gênero. Personagens como João Grilo têm suas raízes na tradição do cordel. 

É importante ressaltar que a obra de Ariano Suassuna é um mosaico de referências, e sua genialidade reside na forma como ele combina diferentes tradições e linguagens para criar obras originais e atemporais. 

Ariano Suassuna era um profundo conhecedor da cultura popular nordestina, e suas obras são repletas de referências a diversas fontes. No caso de "O Auto da Compadecida", algumas das principais influências são: Suassuna se inspirou em diversos folhetos de cordel, especialmente aqueles que contavam histórias de personagens espertos e malandros, como João Grilo. 

Especificamente, foram citados dois folhetos de Leandro Gomes de Barros (1865-1918), "O Dinheiro", também chamado de "O testamento do cachorro" e "O cavalo que defecava dinheiro".

TEATRO POPULAR

A estrutura da peça, com seus autos e farsas, remete ao teatro popular medieval, que também era marcado pela mistura de elementos religiosos e profanos. A figura da Compadecida, que intercede pelos pecadores, é uma referência à devoção mariana, presente na cultura católica brasileira.

Suassuna também incorporou elementos da cultura popular nordestina, como as histórias de valentia, as cantorias e os causos. 

Portanto, "O Auto da Compadecida" é uma obra que sintetiza diversas manifestações culturais, criando um universo rico e original. 

A história de "O Auto da Compadecida" se passa no sertão nordestino, mais especificamente na cidade fictícia de Taperoá, que fica na Paraíba. 

O Auto da Compadecida (2000): O filme foi gravado em Cabaceiras, na Paraíba, cidade que ficou conhecida como "Roliúde Nordestina" devido à quantidade de filmes gravados lá. 

ELENCO

Matheus Nachtergaele como João Grilo

Selton Mello como Chicó

Marco Nanini como Capitão Severino de Aracaju

Denise Fraga como Dora

Diogo Vilela como Eurico

Rogério Cardoso como Padre João

Lima Duarte como o Bispo

Fernanda Montenegro como Nossa Senhora ("Compadecida")

Maurício Gonçalves como Jesus Cristo / Emanuel

Luís Melo como o Diabo

Virginia Cavendish como Maria Rosa Noronha de Brito Morais (Rosinha)

Paulo Goulart como Major Antônio Noronha de Brito Morais

Enrique Diaz como Cangaceiro ("Cabra")

Bruno Garcia como Vicentão

Aramis Trindade como o Cabo Setenta

 

O AUTO DA COMPADECIDA 2 (2024): Apesar da cidade fictícia continuar sendo Taperoá, as gravações ocorreram em um estúdio no Rio de Janeiro. 

ELENCO 

Matheus Nachtergaele como João Grilo (João Tinoque Serra Negra Júnior), Jesus e Diabo

Selton Mello como Chicó

Virginia Cavendish como Maria Rosa Noronha de Brito Morais (Rosinha)

Taís Araújo como Nossa Senhora da Conceição Aparecida

Eduardo Sterblitch como Arlindo

Humberto Martins como Coronel Ernani

Luís Miranda como Antônio do Amor

Fabiula Nascimento como Clarabela Catacão

Enrique Díaz como Joaquim Brejeiro (Cabra)

 








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