Em
celebração aos 165 anos do nascimento do Bernardino da Costa Lopes, o B. Lopes,
trazemos para homenagear o escritor, três sonetos da obra B. Lopes – O Poeta
Fidalgo, organização e apresentação Liane Arêas, a obra contém 150 páginas, é o
terceiro volume da Coleção Introdução aos Clássicos Fluminenses da Editora
Nitpress, sob a direção do editor Luiz Augusto Erthal.
BERÇO
Recordo:
um largo verde e uma igrejinha,
Um
sino, um rio, um pontilhão e um carro
De
três juntas bovinas, que ia e vinha
Rinchando
alegre, carregando barro.
Havia
a escola, que era azul e tinha
Um
mestre mau, de assustador pigarro
(Meu
Deus! que é isto, que emoção a minha
Quando
estas cousas tão singelas narro?)...
"Seu"
Alexandre, um bom velhinho rico,
Que
hospedara a Princesa; o tico-tico
Que
me acordava de manhã, e a serra...
Com
o seu nome de amor Boa-Esperança,
Eis
tudo quanto guardo na lembrança
Da
minha pobre e pequenina terra!
Páginas
31/32
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NAMORADOS
Nessas
manhãs alegres, perfumadas,
De
éter sadio e claro firmamento,
Acariciando
o mesmo pensamento
Percorremos
o parque, de mãos dadas.
Aves
trinando em cima das ramadas,
Alvos
patos e um cisne a nado lento
Sobre
as águas do lago, num momento
Pela
brasa do sol ensanguentadas...
Brilha
o sereno trêmulo nas pontas
Do
vistoso gramal, como se fosse
Solto
rosário de opalinas contas...
Enquanto
uns casos rústicos de aldeia
Eu
vou narrando-lhe, em linguagem doce,
Escuto
a queixa de seus pés na areia!
Páginas
44/45
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SINHÁ
FLOR
Desde
que te amo (e é desde que eu conheço
A
mais formosa por meus olhos vista)
Tenho
a incendiar-me a ideia fantasista
O
grande sol de um rútilo adereço.
De
uma ourivesaria celinista
—
Gemas de tiara e cetro, e ouro — careço,
Para
que suba de esplendor e apreço
A
vitória do Sonho de um artista.
Possuído,
esmero e acaricio a Obra,
Vendo
que ela, fulgindo, se desdobra
Era
lavor sideral e íris facetos...
Para
laurear-te o Soberano Estilo
De
aclamada Cleópatra — burilo
Uma
regia corda de sonetos.
Páginas
55,56
SOBRE
B. LOPES
Bernardino
da Costa Lopes nasceu no arraial da Boa Esperança, município de Rio Bonito, no
Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 1859. Poeta mulato nascido então antes do
fim da escravidão, mas filho de pais livres e de classe média baixa, o pai,
Antônio da Costa Lopes, escrivão; a mãe, Mariana, costureira e bordadeira,
conseguiu ser aceito pela sociedade da época.
Residiu
em Santa Ana de Japuíba sob a condição de caixeirinho e, neste mesmo lugar
iniciou seus estudos. Mais tarde, mediante concurso, mudou-se para o Rio de
Janeiro com a finalidade de exercer cargo no funcionalismo fiscal.
Casou-se
com Cleta Vitória de Macedo e teve com ela cinco filhos, todos criados apenas
pela esposa, pois o poeta havia encontrado a “mulher de sua vida”. Era “Sinhá
Flor”, cujo nome real era Adelaide Uchoa Cavalcante, divorciada e já tendo
filhos e netos, com a qual teve um relacionamento extremamente conturbado. Foi
para ela que B. Lopes escreveu o livro homônimo.
No
que diz respeito a sua obra, segundo Andrade Muricy, foi no ano de 1881, quando
o Parnasianismo ainda não tinha se afirmado e o Simbolismo esperaria
aproximadamente doze anos para seu tímido florescimento, que surge seu livro
Cromos. Para Muricy, B. Lopes conseguiu dar à linguagem poética uma feição
naturalista e mais familiar, já sem a idealização e a ebriedade românticas,
distanciando-se assim de Ezequiel Freire, este um dos poetas de grande
influência em sua obra, além dos parnasianos Teófilo Dias e Gonçalves Crespo.
B.
Lopes, juntamente com Emiliano Pernetta, Oscar Rosas, Cruz e Souza, Gonzaga
Duque, J. H. de Santa Rita, Virgílio Várzea, Lima Campos, Artur de Miranda
Ribeiro, Mário Pederneiras e Azevedo Cruz, formam o primeiro grupo de
simbolistas, dentre os quais nosso poeta é quem, à época, seguramente tem mais
prestígio. Mas ressalte-se que sua poesia não é clara nem resolutamente
simbolista. Várias influências se misturam nela de maneira surpreendentemente
harmoniosa. Em outras palavras, B. Lopes trabalhou as vertentes parnasiana e
simbolista ao mesmo tempo, ou seja, o que impossibilitou os críticos de o
classificarem como simbolista ou parnasiano. E foi dentro de toda essa
atmosfera, biográfica e intelectual, profissional e literária, que o poeta escreveu
sua obra poética. Mas toda essa produção, se granjeou a admiração de vários
jovens que então se iniciavam nas letras, não resultou em prestígio nem
respeito por parte da crítica estabelecida. Consta o poeta, no prefácio do
livro Ânforas, do poeta piauiense Jonas da Silva, queixou-se dos críticos, que
lhe negavam sinceridade e espontaneidade. Entre os intelectuais das famosas
rodas boêmias do Rio de Janeiro de fin-de-siècle, B. Lopes até mesmo
ridicularizado, sobretudo pelo implacável Emílio de Menezes.
Em
1916, Bernardino da Costa Lopes foi internado no Hospício Nacional de Alienados
para uma desintoxicação alcoólica. Logo depois voltou à sua casa onde teve uma
crise epilética, ou talvez, segundo Muricy, “um assomo de delírio”. Morreu em
18 de setembro de 1916.
OBRA
POÉTICA: Cromos, 1881; Pizzicatos, 1886; Dona Carmen, 1890; Brasões, 1895; Sinhá
Flor, 1899; Val de lírios, 1900; Helenos, 1901;
Patrício, 1904 e Plumário, 1905.
SOBRE
LIANE ARÊAS
Liane
de Souza Arêas, natural do Rio de Janeiro. Professora, alfabetizadora,
pedagoga, poetisa, escritora e fotógrafa expositora da Sociedade Fluminense de
Fotografia. Cursos de extensão curricular: Literatura, Língua e Cultura Espanhola
na Universidade de Salamanca - Espanha, Orientação Educacional na Empresa - RH
e Psicopedagogia na Empresa pela UFRJ, Filosofia da Educação Infantil/Pedagogo
Lauro de Oliveira Lima, dentre outros cursos de alfabetização infantil no
Colégio Brasil e na UPE-União dos Professores Estaduais e, para adultos, no
antigo Mobral. Manteve durante quatro
anos o Curso Pré-escolar e Alfabetização Nosso Cantinho, onde preparava os
alunos para o ingresso no Instituto Abel, São Vicente de Paulo, Centrinho... Lecionou
aula particular de Espanhol. Integra as
Diretorias do Cenáculo Fluminense de História e Letras, da Associação
Niteroiense de Escritores, do Elos Clube de Niterói e do Centro da Comunidade
Luso-Brasileira do Estado do Rio de Janeiro. É do Grupo Mônaco de
Cultura/Livraria Ideal, do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, da
Associação dos Diplomados da Academia Brasileira de Letras, da Academia
Guanabarina de Letras, do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro,
da Sociedade de Cultura Latina do Rio de Janeiro e da Academia de Letras Rio
Cidade-Maravilhosa.
Participa
de antologias, revistas e periódicos em Niterói, no Rio de Janeiro e em outros
estados. Possui vários Certificados: Jurada e Presidente de Júri em Concursos
de Poesia, fotografia, e artes plásticas. Diplomas de Honra ao Mérito e
Troféus, dentre estes: Prêmio Niterói
Cultura da ANE - Associação Niteroiense de Escritores; Troféu e Diploma 1º lugar
Concurso Ensaio Literário - Aspectos Formadores da Cultura Brasileira/Academia
Carioca de Letras/2001; Menção Honrosa XIX Salão de Arte Fotográfica AABB
Niterói; Ao Mérito Cultural Elos Clube e Comunidade Luso-Brasileira; UBT - Niterói
- XXXV Jogos Florais - Escultura de Bronze;
X Prêmio de Poesia da ANE - Medalha de Bronze Florbela Espanca Edição
Especial... Recebeu Moção Honrosa da Câmara Municipal do Rio de Janeiro
(Vereador José Carlos de Carvalho), da Câmara Municipal de Niterói
(Vice-Presidente Dr. Fernando Nery de Sá) e da Câmara Municipal do Rio de
Janeiro, Vereadora Teresa Bergher.
Homenagem
do Focus Portal Cultural
Alberto
Araújo - editor