terça-feira, 17 de setembro de 2024

JORGE LORETTI: UM ÍCONE FLUMINENSE POR ERTHAL ROCHA


“A magistratura não é uma profissão que se escolhe. É uma predestinação que se aceita.” Rildo Albuquerque de Brito, magistrado paraibano.

 O 25 de agosto marcou o centenário de nascimento de um notável fluminense: Jorge Fernando Loretti. Celebrando a data, foi inaugurada no dia 29, no Palácio da Justiça em Niterói, uma biblioteca com o nome do ilustre magistrado, em tocante cerimônia presidida pelo desembargador Ricardo Cardozo, presidente do Tribunal de Justiça / RJ, e pelo desembargador Marco Aurélio Bezerra de Mello, diretorgeral da Escola da Magistratura / RJ (EMERJ), que promoveu a homenagem. Participaram váriosfamiliares do homenageado, inclusive sua dedicada esposa Clea Tavares Loretti, companheira de todas as horas, que doou a coleção de livros para o acervo 

Nascido no Rio, mas radicado em Niterói desde a infância, Loretti se despediu da vida terrena em 13 de maio de 2016, aos 91 anos. Seu talento multifacetado reluziu em diversos campos de atuação.

Começou a carreira como advogado junto ao Tribunal Regional Eleitoral em Niterói, ainda capital. Mais tarde, como magistrado, foi alçado à presidência do TRE, já no novo Estado do Rio. Desembargador pelo quinto constitucional, em 1989 foi designado para compor a emblemática 5ª Câmara Cível. Sua judiciosa

atuação o levou à presidência da Câmara e em seguida à chefia do Poder Judiciário, em 1991, com reconhecidas realizações – entre elas, a implantação, em diversos municípios, dos juizados de pequenas causas. 

Relembro fato anterior à sua brilhante carreira jurídica, quando participou em acontecimento relevante da política fluminense. Em 1958, quando Amaral Peixoto presidia o antigo PSD, não atendeu ao desejo de Roberto Silveira de formar uma coligação entre o PSD e seu partido, o PTB, para concorrer ao governo do Estado, preferindo lançar como candidato o deputado federal Getúlio Moura. Roberto, ex-deputado estadual e vice-governador de Miguel Couto, embora popular, via dificuldade em vencer o candidato oficial, bafejado pelo prestígio e poder de Amaral Peixoto; procurou, então, a UDN, partido de oposição liderado por Paulo Araújo, Alberto Torres, Mário Guimarães, Saramago Pinheiro, Luiz Botelho, Jorge Loretti, Nilo Neves e este colunista, que já aspirava ser deputado estadual (o que viria a acontecer em 1965). 

O acordo foi sacramentado. A aliança foi combatida acirradamente pelos líderes udenistas da Guanabara, que tiveram seu intuito repelido com veemência pelos udenistas fluminenses em memorável convenção partidária. Roberto Silveira venceu o pleito. Infelizmente, seu mandato foi interrompido por fatal acidente de helicóptero em Petrópolis, em 20/02/1961. 

Em depoimento ao CPDOC no projeto “Conversando sobre Política” (2001), Loretti parafraseou Lupicínio Rodrigues: “Como ele, tenho consciência de que morri algumas vezes. Minha primeira morte foi com a morte de Roberto Silveira. Morreu o sonho acalentado em nossa juventude (...) Após a vitória de Badger, nosso grupo começou a sair das cinzas, e eu experimentei uma ressurreição (...) Mas aí veio a Revolução de 1964, e veio também a minha segunda morte, mais trágica, porque todos os que acompanhamos Roberto perdemos 20 anos de vida pública”. Foi nessa época que Loretti optou pela vida acadêmica, exercendo o magistério na Universidade Federal Fluminense, onde foi professor titular de Direito Público, integrou o Conselho Universitário e dirigiu o Centro de Estudos Sociais.

Aposentado pelo Tribunal de Justiça, foi convidado pelo governador Marcelo Alencar, em 1985, para assumir a Secretaria Estadual de Justiça: “Eu estava saindo do TJ. Foi uma experiência muito pesada para mim, pois enfrentar o insolúvel problema do sistema penitenciário era tarefa dura. Felizmente, durante os quatro anos de minha gestão não teve uma só rebelião de presos, graças às providências que tomei no sentido de aliviar a sobrecarga penitenciária”.

 

Loretti integrou o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o Instituto dos Advogados Brasileiros / RJ, a Associação dos Magistrados / RJ e a Academia Niteroiense de Letras – tendo presidido as duas últimas instituições. Intelectual respeitado, era primoroso orador, conhecido pela memória prodigiosa e pelo profundo conhecimento da história fluminense, que ajudou a engrandecer. 

COMENTÁRIOS DOS LEITORES:

Sobre “Meu Pai” – Da professora e escritora Lucia Romeu: “Que belo e inspirado testemunho sobre a vida de seu pai! Palavras de orgulho filial que retratam o herói do seu coração. Vida honrada e abençoada por Deus!”; 

Do ex-deputado estadual Sílvio Lessa: “Parabéns pelo artigo. Lembrei-me do meu pai, que como o seu, deixou para os filhos exemplos de dedicação à família e aos amigos. A vitória em sua trajetória tem muito dos exemplos do seu pai”;

Da advogada e escritora Matilde Slaibi Conti, presidente do Elos Internacional e do Cenáculo Fluminense de História e Letras: “Muito belo o texto acerca de sua família e de seu pai. Através destas palavras, podemos até mesmo sentir o tanto de carinho e do grande enternecimento que cobre a sua alma. Quanto orgulho todos nós sentimos de você!”.

 

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Matéria do jornalista Erthal Rocha, publicada no jornal Atual, edição 158, editor Edmar Brito, página 3, setembro de 2024.

 

ERTHAL ROCHA

Jornalista e defensor público aposentado

Membro da Academia Fluminense de Letras

Autor dos livros Jornalismo, Política e Outras Paragens e Um Olhar sobre o

Ministério Público Fluminense, 2ª edição, cujas versões digitalizadas encontram-se disponíveis gratuitamente no site ISSUU e no Portal da AMPERJ. Contato: E-mail: erthalrocha@gmail.com

 

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LITERÁRIA COM JORGE LORETTI NA ANL)






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