JORNAL "DIZ" EDIÇÃO 258. SEGUNDA QUINZENA DE ABRIL DE 2021. EDITOR GERAL EDGARD FONSECA.
GRAVAÇÃO DO PROJETO MOSTRA SUA CARA COM BETI ROZEN, ENTREVISTADA ESCRITORA ANA MARIA TOURINHO.
EM 28 DE ABRIL DE 2021.
CLICAR NO LINK: https://youtu.be/3HuX-2KnhV0
POESIA PROTESTO DE NEIDE BARROS RÊGO,
VOZ SYLLA CHAVES.
CLICAR AQUI: https://youtu.be/58Fk8OmCF1o
PROTESTO
Neide Barros Rêgo
Enquanto houver fome e frio
nos lares pobres, nas ruas
- e tantos nem casa têm -,
eu não vou comemorar.
Enquanto a guerra matar
por fanatismo, ambição
- irmão destruindo irmão-,
eu não vou comemorar.
Enquanto houver desemprego,
faltar saúde, lazer,
segurança, educação
Eu não vou comemorar.
Enquanto houver preconceito
de cor, de crença e de raça,
inveja, ódio, vaidade,
eu não vou comemorar.
Enquanto houver desperdício,
egoísmo, indiferença,
sequestros, crime e vício,
eu não vou comemorar.
Enquanto houver abandono
de crianças, de idosos,
medo, angústia, sofrimento,
eu não vou comemorar.
Enquanto houver miseráveis,
desprezo ao deficiente
e mendigos nas sarjetas,
eu não vou comemorar.
Mas não perdi a Esperança
-Sonho louco? Utopia? -
de que chegará o dia
em que tudo vai mudar.
E eu irei comemorar.
O SÁBIO SABER DE SÁVIO SOARES DE SOUSA
POESIA DE ALBERTO ARAÚJO.
Ao SÁVIO, HOMEM SÁBIO.
Que Sabe o Saber dos frutos da Antiga
Grécia e do universo literário do nosso Castro Alves.
Sávio, tu tens o sabor do saber da
Grécia clássica, e meu ser sabe de tua verdade, Verdadeira!
As paredes e o solo fecundo da
sabedoria sabem do teu saber a pastorear imagens antigas.
És um mentor de beleza que conhece o
vento e o sol da inteligência.
E como uma borboleta tu adentras na
minha alma.
Eis aqui!
Fotografias escritas
da tua história de vida...
Tens a aura do poeta circunspecto
imortal e do mistério das sibilas!
És brisa a espalhar cultura e
resplendor na palavra iluminada.
Com o coração ungido de contentamento,
teu olhar contempla a grande luz das esferas transcendentes da nossa humana
condição.
És sábio, Sávio... Astuto e simples.
Acalentas a modéstia e a essência
da ampla aragem dos antigos gregos.
És chama vibrante dos arcaicos tempos!
Quando sentimental te tornas, preferes
a linguagem dos poetas da antiga Grécia que se banham nas águas do sagrado rio
de Hipocrene.
Voas, então, no cavalo Pégaso rumo ao
infinito das estrelas da Poesia!
Festeja os anos que tu revelas!
E que a harpa do tempo te resguarde!
Enquanto o teu doce viver peregrinar
pela Terra, teus ideais e pensamentos
estarão conosco na carruagem estelar...
E todos nós, por certo, seguiremos
teus fecundos passos, guiados pelos mares da tua vida e inspiração rumo ao
benfazejo Céu da Poesia, onde habita Apolo com seu filho Orfeu.
By © Alberto Araújo
25 de abril de 2021
UM POUCO DE SÁVIO SOARES DE SOUSA
SÁVIO SOARES DE SOUSA Poeta, prosador,
crítico de cinema, exerceu o jornalismo por mais de trinta anos, principalmente
em “O Fluminense”. Nasceu em Niterói no bairro do Fonseca em 18 de setembro de
1924, filho de Oswaldo Soares de Sousa e Vespertina Reis Soares de Sousa.
Descende do Visconde do Uruguai. Estudos: alfabetizado em casa, com a tia
Nelsina; depois: frequentou o Colégio Brasil, Colégio Universitário da Praia
Vermelha, Liceu Nilo Peçanha, Faculdade de Direito de Niterói e Sociedade Dante
Alighieri do Rio de Janeiro.
VIDA PROFISSIONAL: Bancário (Banco
Mercantil de Niterói); Taquígrafo Parlamentar (Assembleia Legislativa do Estado/RJ (1947/1960);
Advogado, Membro do Ministério Público-RJ (Promotor e Procurador de Justiça
-1960/1991).
VIDA CULTURAL; Cofundador do Grêmio
Literário Humberto de Campos (1944); do Clube de Poesia de Niterói (1956); do
Clube Fluminense de Cinema (1956); da Associação Niteroiense de Cultura
Latino-Americana / ANCLA e do Instituto Latino-Americano de Cultura/ILAC.
Colaborador nos jornais: O Estado, Diário do Povo e Letras Fluminenses (de Luís
Magalhães). Redator literário de O Fluminense, responsável pelo suplemento
“Prosa & Verso” (1962/1972), juntamente, com Marcos Almir Madeira.
PARTICIPAÇÃO EM ACADEMIAS: Membro
efetivo das Academias Fluminense, Niteroiense, Valenciana, Itaboraiense e
Gonçalense de Letras. Membro da União Brasileira de Trovadores/UBT, atual
presidente. Orador oficial do centenário do poeta Alberto de Oliveira, em
Saquarema, RJ (1957). Fundador do Clube de Poesia de Itaboraí, RJ (1966).
Cofundador e primeiro orador oficial do Grupo dos Amigos do Livro, atual Grupo
Mônaco de Cultura (Livraria Ideal, Niterói/RJ). Colaborador da revista Bali, da
Academia de Letras, com a seção “Nozes e Vozes” há doze anos. Foi crítico de
cinema no Diário do Povo (1955).
Integrante do movimento “Escritores ao
Ar Livro”, instituído pelo poeta e publicitário Paulo Roberto Cecchetti, e o
idealizador do folheto “Resenha da Tenda”.
Livros publicados: “Mundo número
dois”, “O salto e o paraquedas”, “Signo do sapo”, “O canibal arrependido e
outros discursos” e “Rapsódia para sanfona”(trovas). Verbete da “Nova
Enciclopédia Delta-Larousse” e da “Enciclopédia de Niterói”, de Luís Antônio
Pimentel. Noé ou a máquina antediluviana.
CONEXÃO
SEM FRONTEIRAS é citado em mídia impressa, com credibilidade de 80 anos, no
Estado do Ceará — Nordeste do Brasil. O Programa de entrevistas Conexão Sem
Fronteiras, da Rede Sem Fronteiras, no Instagram, foi tema de matéria, na
coluna “Sociedade”. Escreve-a o jornalista Flavio Torres, no jornal impresso
cearense, “O Estado”. Agradecemos a deferência e celebramos esse sucesso com
nossos escritores parceiros.
REDE SEM FRONTEIRAS! Nós somos uma organização cultural que promove, fomenta e divulga a cultura brasileira e lusófona em mais de 20 países pelo mundo.
APOIO NA DIVULGAÇÃO
"NOMADLAND"
foi o grande vencedor do Oscar 2021, domingo, 25 de abril de 2021, com três
prêmios. Drama americano sobre nômades da terceira idade sem emprego ou
aposentadoria, venceu o principal prêmio da noite: Melhor filme. A 93ª
cerimônia dos melhores do cinema aconteceu em dois lugares, devido à pandemia
de Covid-19: no Dolby Theatre e no Union Station, em Los Angeles.
'NOMADLAND'
foi o grande vencedor, com os prêmios de melhor filme, direção e atriz. Longa
sobre nômades fez de Chloé Zhao a segunda mulher a ganhar categoria de direção.
Anthony Hopkins, Frances McDormand, Daniel Kaluuya e Youn Yuh-jung venceram.
FRANCES
MCDORMAND (Melhor atriz) é uma das produtoras de "Nomadland" e também
ganhou prêmio com a vitória na categoria principal. "Por favor, assistam
nosso filme na maior tela que vocês puderem", pediu. Depois, ela ofereceu
o Oscar para "os nossos lobos" e terminou o discurso uivando no
microfone.
Em
seu discurso como Melhor Atriz, ela disse que sua voz é "sua espada".
"Nossa espada é nosso trabalho. Eu gosto de trabalhar. Muito obrigada por
reconhecerem isso".
As
apresentações musicais do Oscar foram gravadas e exibidas antes da premiação.
Assim, sobrou tempo para os vencedores fazerem seus discursos sem interrupção.
Um
dos mais emocionantes da noite foi do diretor Thomas Vinterberg, que levou o
prêmio de Melhor Filme Internacional por "Druk - Mais uma rodada". O
dinamarquês se emocionou ao homenagear a filha, que morreu logo antes das
filmagens em um acidente de carro.
As
duas vitórias de atuação coadjuvantes foram para atores não brancos,
confirmando um olhar da Academia para mais representatividade na premiação.
Daniel
Kaluuya venceu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por “Judas e o Messias
Negro” e sua interpretação do jovem ativista Fred Hampton. Em seu discurso, ele
fez uma homenagem a Hampton e ao partido dos Panteras Negras.
"Que
homem. Quão abençoados nós somos por termos vivido uma vida onde ele existiu.
Obrigado por sua luz. Ele esteve nesta terra por 21 anos e encontrou uma
maneira de dar café da manhã às crianças, educar as crianças, dar assistência
médica gratuita, contra todas as probabilidades. Ele me mostrou, ele me
ensinou, ele, Huey P. Newton, Bobby Seale, os Panteras Negras, eles me
mostraram como me amar, e com esse amor, eles transbordaram para a comunidade
negra e outras comunidades."
A
edição de 2021 foi marcada por alguns recordes e feitos inéditos. Dois deles
foram conseguidos pela equipe de "A voz suprema do blues". Ann Roth,
de 89 anos, se tornou a mulher mais velha a ganhar um Oscar após vencer como
Melhor Figurino.
E
Mia Neal, Sergio Lopez-Rivera e Jamika Wilson foram os primeiros vencedores
negros na categoria de Maquiagem e Cabelo.
Veja,
abaixo, os vencedores do Oscar 2021
MELHOR
FILME
Nomadland
(vencedor)
MELHOR ATRIZ
Frances
McDormand - "Nomadland" (vencedora)
MELHOR
ATOR
Anthony
Hopkins - "Meu pai" (vencedor)
MELHOR
DIREÇÃO
Chloé
Zhao - "Nomadland" (vencedora)
MELHOR
ATRIZ COADJUVANTE
Youn
Yuh-jung - "Minari" (vencedora)
MELHOR
ATOR COADJUVANTE
Daniel
Kaluuya - "Judas e o messias negro" (vencedor)
MELHOR
FILME INTERNACIONAL
Druk
- Mais uma rodada (Dinamarca) (vencedor)
MELHOR
ROTEIRO ADAPTADO
Meu
pai (vencedor)
MELHOR
ROTEIRO ORIGINAL
Bela
vingança (vencedor)
MELHOR
FIGURINO
A
voz suprema do blues (vencedor)
MELHOR
TRILHA SONORA
Soul
(vencedor)
MELHOR
ANIMAÇÃO
Soul
(vencedor)
MELHOR
CURTA DE ANIMAÇÃO
If
anything happens I love you (vencedor)
MELHOR
CURTA-METRAGEM EM LIVE ACTION
Two
distant strangers" (vencedor)
MELHOR
DOCUMENTÁRIO
My
octopus teacher (vencedor)
MELHOR
DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM
Colette
(vencedor)
MELHOR
SOM
O
som do silêncio(vencedor)
CANÇÃO
ORIGINAL
Fight
for you - Judas e o messias negro (vencedor)
MAQUIAGEM
E CABELO
A
voz suprema do blues (vencedor)
EFEITOS
VISUAIS
Tenet
(vencedor)
MELHOR
FOTOGRAFIA
Mank
(vencedor)
MELHOR
EDIÇÃO
O
som do silêncio (vencedor)
MELHOR
DESIGN DE PRODUÇÃO
Mank
(vencedor)
MELHOR DIREÇÃO
Chloé Zhao - "Nomadland" (vencedora)
MELHOR ATOR
Anthony Hopkins - "Meu pai" (vencedor)
AOS AMIGOS CINÉFILOS. LINK PARA ASSISTIR A LIVE DA ENTREGA DO OSCAR 2021. TNT NO YOU TUBE.
CLICAR AQUI:
https://www.youtube.com/watch?v=JbtzNWbGzRM
"O MIO BABBINO CARO" (INSTRUMENTAL) DA ÓPERA GIANNI SCHICCHI DE GIACOMO PUCCINI. Do álbum "Puccini Without Words." Executado por Andre Kostelanetz e sua orquestra e a Columbia Symphony Orchestra.
O MIO BABBINO CARO
O mio babbino caro
Mi piace è bello, bello
Vo'andare in porta rossa
A comperar l'anello!
Sì, sì, ci voglio andare!
E se l'amassi indarno
Andrei sul ponte Vecchio
Ma per buttarmi in arno!
Mi struggo e mi tormento!
O, Dio, vorrei morir!
Babbo, pietà, pietà!
Ó Meu Querido Pai
Ó meu querido paizinho
Amo-te, és tão belo
Quero ir até Porta vermelha
Para comprar um anel!
Sim, sim, quero ir!
E, se meu amor for em vão,
Irei até ponte velha
E me jogar ao rio Arno!
Caio em prantos e sofro tormentas!
Oh, Deus, preferiria morrer!
Pai, tende piedade, tende piedade!
Giacomo Puccini nasceu em Lucca, 22 de
dezembro de 1858 e faleceu em Bruxelas,
29 de novembro de 1924) foi um compositor de óperas italiano. Suas óperas estão
entre as mais interpretadas atualmente, entre essas estão La bohème, Tosca, Madama
Butterfly e Turandot. Algumas das árias das suas óperas, como "O Mio
Babbino Caro" de Gianni Schicchi, "Che gelida manina" de La
Bohème e "Nessun dorma" de Turandot tornaram-se parte da cultura
popular.
Descrito pela Encyclopædia Britannica
como "um dos maiores expoentes das óperas realistas", ele é lembrado
como um dos últimos maiores compositores operísticos italianos.Seu repertório é
essencialmente feito pelo verismo, ou pela tradição operística e estilo
literário pós-românticos. Enquanto seu trabalho é essencialmente baseado nas
óperas italianas tradicionais do fim do século XIX, sua música mostra algumas
influências dos compositores contemporâneos e do movimento impressionista e de
Igor Stravinsky. Os temas mais comuns em suas óperas incluem um fim trágico,
heroínas e o amor.
TROVA DIA 25 DE ABRIL DE 2021. PROJETO TROVAS NA VOZ DO TROVADOR ANTONIO SOARES-ASO, O CONDOREIRO DO AMOR.
CLICAR AQUI: https://youtu.be/gtdkVjmwDs4
Estás no auge da beleza,
cintilante, a vicejar!
Nem reparas, com certeza,
nestes meus cantos de amar...
POEMA O NAVIO NEGREIRO COMPLETO
I
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que
horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!