sexta-feira, 11 de abril de 2025

GOTA DE ORVALHO - CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO


O dia amanhecia com aquela lentidão preguiçosa dos trópicos, o sol ainda hesitante em romper o véu da madrugada. No entanto, antes que o ouro da manhã tingisse as folhas, ela estava ali: uma gota de orvalho. Minúscula esfera de água suspensa na ponta de uma folha verde, um diamante efêmero tecido pela noite.

Olhei-a com a atenção que se dedica a um mistério breve. Em sua transparência límpida, o mundo se refletia em miniatura: o céu ainda indeciso entre o cinza e o azul, a silhueta escura de um galho vizinho, e até mesmo, diminuto e fugaz, o contorno do meu próprio rosto inclinado. Era um universo condensado, uma joia frágil e perfeita.

Pensei na sua origem silenciosa, no lento acumular da umidade noturna, no delicado equilíbrio que a mantinha suspensa, desafiando a gravidade. Era a paciência da noite recompensada em beleza pura, uma lição muda sobre a persistência e a sutileza das forças da natureza. 

Mas a beleza, tantas vezes, reside na sua transitoriedade. Lentamente, o sol ganhou força, e a gota começou a tremer, agitada por um brilho crescente. Sua perfeição começou a se deformar, a luz a atravessar com mais intensidade, anunciando o seu fim iminente. 

Senti uma ponta de melancolia, aquela mesma que nos assalta diante da beleza que se esvai. Como tantas coisas belas na vida, sua existência era fugaz, destinada a desaparecer sem deixar vestígios aparentes.

E então, aconteceu. Sem ruído, sem alarde, a gota desprendeu-se da folha. Por um instante ínfimo, brilhou ainda mais intensamente ao cair, antes de se fundir com a umidade da folha, desaparecendo por completo. Assim também a vida, essa breve suspensão entre o nada e o tudo. Quando menos se espera, um sopro, um instante, um pluf silencioso, e ela se esvai. 

Olhei o lugar onde ela estivera. Nada. A folha verde seguia ali, imperturbável, como se jamais tivesse ostentado aquela joia líquida. Mas eu sabia. Eu tinha visto. E essa breve contemplação, esse encontro fugaz com a perfeição efêmera, carregava consigo uma beleza silenciosa que permaneceria, como uma lembrança suave e persistente.

© Alberto Araújo

 

 

 

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