Neste artigo “Choveu em mim...” a escritora e acadêmica Márcia Pessanha, na coluna no jornal “Santa Rosa" nos convida a uma reflexão sensível sobre a chuva, explorando suas múltiplas facetas e a forma como ela ressoa em nossas memórias e na poesia.
A autora inicia a sua exploração a partir de uma perspectiva pessoal e nostálgica. Observando a chuva pela janela, ela evoca lembranças da infância e da juventude, momentos de liberdade e alegria associados ao contato direto com a água que cai. Essa abertura estabelece uma conexão emocional com o leitor, convidando-o a revisitar suas próprias experiências com a chuva.
Em seguida, Pessanha expande a sua análise para uma visão mais ampla, reconhecendo a dualidade da chuva. Ela a descreve como essencial para a renovação da vida, contrapondo essa necessidade vital aos efeitos destrutivos das tempestades. Essa dualidade é metaforicamente ligada às figuras gregas de Eros (vida, amor) e Thanatos (morte), enriquecendo a discussão com uma camada filosófica.
O texto se aprofunda na influência da chuva na
poesia, citando diversos autores renomados como Carlos Drummond de Andrade,
Augusto dos Anjos e Cecília Meireles. Ao apresentar trechos de seus poemas, a
autora ilustra como diferentes poetas abordaram o tema, expressando uma gama de
sentimentos que vão da irritação à melancolia e à celebração da vida. Essa
seleção demonstra a riqueza simbólica da chuva como fonte de inspiração
artística.
Um destaque especial é dado a Fernando Pessoa, descrito como autor de diversos poemas sobre a chuva. A análise de versos do poema "Ilumina-se a igreja por dentro da chuva" revela a complexa relação do poeta com o fenômeno natural, onde a chuva exterior se contrapõe a um estado interior de conflito e silêncio, mesmo em meio à tormenta. Essa exploração da obra pessoana aprofunda a compreensão da capacidade da chuva de evocar estados emocionais profundos e contrastantes.
Ao concluir, Márcia Pessanha ressalta o legado da chuva, não apenas na natureza, mas também na criação poética. Ela compara os textos inspirados pela chuva a "sementes lançadas ao vento", que chegam até nós carregadas de uma atmosfera terrosa e evocativa.
Por fim, a autora nos transmite uma visão
multifacetada da chuva, que vai além do fenômeno meteorológico. Ela nos mostra
como a chuva pode ser um gatilho para a memória afetiva, um símbolo de vida e
morte, e uma poderosa fonte de inspiração para a arte. Ao costurar suas
reflexões pessoais, algo que lhe é peculiar, com referências literárias, Márcia
Pessanha nos oferece uma leitura sensível e enriquecedora sobre a presença
constante e significativa da chuva em nossas vidas e na nossa cultura.
© Alberto Araújo.
12 de abril de 2025
CHOVEU EM MIM...
Da minha janela observe a chuva que cai como lágrimas do céu escorrendo pela vidraça. E boas lembranças chegam molhadas de gotículas de saudades... Chuva batendo no meu rosto, vento soprando em meus cabelos... e nós, crianças, correndo descalços, tomando banho de chuva, pulando nas poças d'água... e até na juventude, "dançando na chuva."
O tempo chuvoso, na medida certa, é necessário à renovação da vida de todos os seres vivos de nosso planeta. Ao contrário das fortes tempestades que causam prejuízos e mortes. Nesse sentido a chuva tem dupla face: a de Eros (impulso vital, amor) e a de Thanatos (morte).
Vários poetas abordaram o tema da chuva em diversas situações, expressando seus sentimentos. Dentre eles citamos Carlos Drummond de Andrade em Caso pluvioso, que descreve a relação do poeta com a mulher: "A chuva me irritava. Até que um dia descobri que Maria é que chovia. A chuva era Maria: "e Augusto dos Anjos com o poema Noturno descrevendo liricamente a chuva como uma lágrima da noite que cai sobre a terra; Cecília Meireles com o poema Acontecimento em que celebra a beleza e a alegria da "chuva que renova a vida. Chuvas que orvalham folhas caídas que secam"... Destacamos Fernando Pessoa autor de diversos poemas sobre o assunto: Chove? Nenhuma chuva cai, que contrapõe a chuva exterior à secura interior do poeta; Chove. Há silêncio, às vezes entre a tormenta, onde também expressa seu estado anímico em constante conflito. E para melhor ilustrar os reflexos dessa ambiência chuvosa na obra pessoana, seguem versos do poema "Ilumina-se a igreja por dentro da chuva": "Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia, / E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça/Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso, e as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro (...) E apagam-se as luzes da igreja na chuva que passa
E assim, a chuva deixa vestígios de sua passagem, não só na natureza, mas também na criação de textos poéticos, sementes lançadas ao vento, que chegam até nós, com cheiro de terra molhada...

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