sábado, 12 de abril de 2025

A CHUVA: ENTRE A MELANCOLIA E A RENOVAÇÃO UMA PERSPECTIVA POÉTICA ANÁLISE/COMENTÁRIO DE ALBERTO ARAÚJO SOBRE O TEXTO: CHOVEU EM MIM... DE MÁRCIA PESSANHA, NO JORNAL SANTA ROSA



Neste artigo “Choveu em mim...” a escritora e acadêmica Márcia Pessanha, na coluna no jornal “Santa Rosa" nos convida a uma reflexão sensível sobre a chuva, explorando suas múltiplas facetas e a forma como ela ressoa em nossas memórias e na poesia. 

A autora inicia a sua exploração a partir de uma perspectiva pessoal e nostálgica. Observando a chuva pela janela, ela evoca lembranças da infância e da juventude, momentos de liberdade e alegria associados ao contato direto com a água que cai. Essa abertura estabelece uma conexão emocional com o leitor, convidando-o a revisitar suas próprias experiências com a chuva. 

Em seguida, Pessanha expande a sua análise para uma visão mais ampla, reconhecendo a dualidade da chuva. Ela a descreve como essencial para a renovação da vida, contrapondo essa necessidade vital aos efeitos destrutivos das tempestades. Essa dualidade é metaforicamente ligada às figuras gregas de Eros (vida, amor) e Thanatos (morte), enriquecendo a discussão com uma camada filosófica.

O texto se aprofunda na influência da chuva na poesia, citando diversos autores renomados como Carlos Drummond de Andrade, Augusto dos Anjos e Cecília Meireles. Ao apresentar trechos de seus poemas, a autora ilustra como diferentes poetas abordaram o tema, expressando uma gama de sentimentos que vão da irritação à melancolia e à celebração da vida. Essa seleção demonstra a riqueza simbólica da chuva como fonte de inspiração artística.

Um destaque especial é dado a Fernando Pessoa, descrito como autor de diversos poemas sobre a chuva. A análise de versos do poema "Ilumina-se a igreja por dentro da chuva" revela a complexa relação do poeta com o fenômeno natural, onde a chuva exterior se contrapõe a um estado interior de conflito e silêncio, mesmo em meio à tormenta. Essa exploração da obra pessoana aprofunda a compreensão da capacidade da chuva de evocar estados emocionais profundos e contrastantes. 

Ao concluir, Márcia Pessanha ressalta o legado da chuva, não apenas na natureza, mas também na criação poética. Ela compara os textos inspirados pela chuva a "sementes lançadas ao vento", que chegam até nós carregadas de uma atmosfera terrosa e evocativa.

Por fim, a autora nos transmite uma visão multifacetada da chuva, que vai além do fenômeno meteorológico. Ela nos mostra como a chuva pode ser um gatilho para a memória afetiva, um símbolo de vida e morte, e uma poderosa fonte de inspiração para a arte. Ao costurar suas reflexões pessoais, algo que lhe é peculiar, com referências literárias, Márcia Pessanha nos oferece uma leitura sensível e enriquecedora sobre a presença constante e significativa da chuva em nossas vidas e na nossa cultura.

 

© Alberto Araújo.

12 de abril de 2025




CHOVEU EM MIM...

Da minha janela observe a chuva que cai como lágrimas do céu escorrendo pela vidraça. E boas lembranças chegam molhadas de gotículas de saudades... Chuva batendo no meu rosto, vento soprando em meus cabelos... e nós, crianças, correndo descalços, tomando banho de chuva, pulando nas poças d'água... e até na juventude, "dançando na chuva."

O tempo chuvoso, na medida certa, é necessário à renovação da vida de todos os seres vivos de nosso planeta. Ao contrário das fortes tempestades que causam prejuízos e mortes. Nesse sentido a chuva tem dupla face: a de Eros (impulso vital, amor) e a de Thanatos (morte).

Vários poetas abordaram o tema da chuva em diversas situações, expressando seus sentimentos. Dentre eles citamos Carlos Drummond de Andrade em Caso pluvioso, que descreve a relação do poeta com a mulher: "A chuva me irritava. Até que um dia descobri que Maria é que chovia. A chuva era Maria: "e Augusto dos Anjos com o poema Noturno descrevendo liricamente a chuva como uma lágrima da noite que cai sobre a terra; Cecília Meireles com o poema Acontecimento em que celebra a beleza e a alegria da "chuva que renova a vida. Chuvas que orvalham folhas caídas que secam"... Destacamos Fernando Pessoa autor de diversos poemas sobre o assunto: Chove? Nenhuma chuva cai, que contrapõe a chuva exterior à secura interior do poeta; Chove. Há silêncio, às vezes entre a tormenta, onde também expressa seu estado anímico em constante conflito. E para melhor ilustrar os reflexos dessa ambiência chuvosa na obra pessoana, seguem versos do poema "Ilumina-se a igreja por dentro da chuva": "Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia, / E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça/Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso, e as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro (...) E apagam-se as luzes da igreja na chuva que passa 

E assim, a chuva deixa vestígios de sua passagem, não só na natureza, mas também na criação de textos poéticos, sementes lançadas ao vento, que chegam até nós, com cheiro de terra molhada... 

Márcia Pessanha é professora, escritora e presidente da Academia Fluminense de Letras.







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