Há momentos em que a poesia não é apenas dita, ela é sentida, vivida, e entregue como oferenda ao coração do mundo. Assim foi a maravilhosa declamação do poema-canción “Gracias a la Vida”, de Violeta Parra, feita pela professora e declamadora Gracinha Rêgo.
Em sua voz, cada verso ganhou alma, cada palavra floresceu em emoção, e a gratidão à vida foi tocada com uma ternura que comove e eleva. Gracinha não apenas declamou, ela atravessou a essência do poema com sua presença serena, sua expressão encantadora e sua entrega visceral.
Foi uma interpretação profundamente humana, carregada de verdade e beleza. Uma celebração poética da existência, do amor, da dor e da luz que há em cada detalhe da vida.
Parabéns, Gracinha Rêgo, por nos lembrar, com sua arte e sensibilidade, que a poesia é um dom e um ato de generosidade. Gracias a você, que nos fez ouvir a vida com o coração.
Assista ao vídeo e permita-se emocionar – clicar na imagem ou no link:
https://www.youtube.com/watch?v=L-195-m3B9s
"Gracias a la Vida" é uma canção icônica escrita e interpretada originalmente pela cantora e compositora chilena Violeta Parra. É considerada um hino humanista e uma das peças mais importantes da música em língua espanhola internacionalmente. A canção expressa gratidão pelas experiências da vida, tanto positivas quanto negativas, reconhecendo a dualidade da existência e a importância de valorizar cada momento.
A canção foi composta em 1966 em La Paz, Bolívia, e posteriormente incluída em seu último álbum, "Las últimas comedias". "Gracias a la Vida" tornou-se mundialmente famosa com a versão de Mercedes Sosa, de 1971.
A música consiste em sete versos, cada um expressando gratidão por diferentes aspectos da vida, como os sentidos (visão, audição), a linguagem, a capacidade de caminhar, o coração, a voz de um ente querido e a experiência da vida como um todo.
O tema central é a gratidão pela vida, reconhecendo tanto os momentos de alegria quanto os de tristeza, as "estrelas" e as "lágrimas".
A música nos convida a valorizar cada experiência e reconhecer que tanto os momentos felizes quanto os difíceis fazem parte da riqueza da vida.
"Gracias
a la Vida" foi regravada por diversos artistas de diversos gêneros e se
tornou um hino de gratidão e reflexão sobre a experiência humana.
Em suma, "Gracias a la Vida" é uma música que celebra a vida em todas as suas facetas, reconhecendo a importância da gratidão e apreciando cada momento.
VIOLETA PARRA — A ALMA CANTORA DO CHILE PROFUNDO
Violeta del Carmen Parra Sandoval não nasceu apenas em San Carlos, Chile, em 1917. Ela nasceu da terra, do vento e da memória cantada de um povo que resistia com seus próprios versos. Era filha do barro e da esperança, do som dos violões e do silêncio das injustiças. Sua história não começa com datas, mas com o sussurro das cordas que ela afinou com a dor e a alegria de ser mulher, artista e povo.
Violeta não se limitou a cantar: ela escutou. Escutou o campo, os lamentos da montanha, os cânticos esquecidos de velhas rezadeiras, os batuques de festas populares e os sorrisos camponeses que dançam mesmo quando falta o pão. Com mãos de colhedora, recolheu o Chile em pedaços, cantigas, danças, rezas, sofrimentos, e costurou tudo em canções que falam com o coração de todos os tempos.
Foi cantora, sim, mas também ceramista, bordadeira, pintora e escultora de arames — como se precisasse multiplicar os caminhos para expressar o que transbordava em sua alma. Seu corpo criador não obedecia fronteiras: sua arte era um grito ancestral e um sussurro futuro, uma arma contra a opressão e um gesto de ternura. Ela transformou a arpilleria, bordado rústico e intuitivo, em crônica visual da vida simples, da mulher guerreira, da infância pobre e das cicatrizes da alma.
Violeta amou intensamente e sofreu com igual fervor. O amor, em sua vida, foi uma canção incompleta, que inspirou algumas das composições mais pungentes do cancioneiro latino-americano. “¿Qué he sacado con quererte?”, “Run Run se fue pa’l norte” e “Maldigo del alto cielo” não são apenas músicas: são cartas abertas de uma mulher ferida, mas viva, sempre viva.
Com
"Gracias a la vida", Violeta tocou o coração do mundo. Compôs não
para si, mas para todos, e nesse hino de gratidão misturada com dor, entregou
sua última oferenda à vida que tanto a fez sentir. Morreu como viveu: com
intensidade. Despediu-se com as mãos cheias de arte e o coração explodindo de
humanidade, em fevereiro de 1967, na tenda que ela mesma criou para dar voz aos
silenciados.
Mas Violeta
não partiu. Ela plantou-se nas cordas dos violões, nas vozes de Isabel e Ángel,
em Víctor Jara, em Mercedes Sosa, em cada trovador que canta para transformar.
Ela segue viva nos povos que lutam, nas mulheres que criam, nos artistas que
ousam dizer o indizível.
Violeta
Parra não foi apenas a mãe da Nova Canção Chilena. Foi e é a memória cantada da
América Latina. Um eco profundo que ainda ressoa nos Andes, nas praças, nas
rádios de interior, nas escolas populares e nos olhos de quem ousa sonhar com
um mundo mais justo.
Violeta é
eternidade bordada em versos.
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