domingo, 13 de julho de 2025

ENTRE BRUXELAS E O TEMPO - UM PRELÚDIO DE HÄNDEL HOMENAGEM AO MAESTRO MARCELO MORAES CAETANO PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO


O Focus Portal Cultural se rende mais uma vez ao encantamento da arte e presta homenagem ao maestro Marcelo Moraes Caetano, que, direto de Bruxelas, Bélgica, nos presenteia, por intermédio da sua página no Facebook, com um vídeo raro e delicado: Handel – Praeludium – Suite n. 1. 

Ali, entre teclas e silêncios, ressuscita-se a elegante retórica do Barroco. Georg Friedrich Händel, nascido em Halle, na Alemanha, em 1685, foi um artista que transcendeu fronteiras: de jovem rebelde, que contrariou o desejo do pai de vê-lo advogado, até se tornar mestre nas cortes da Europa. Sua música, vibrante e grandiosa, não se limitava a palácios: fluía dos salões aristocráticos para as ruas de Londres, conquistando nobres e plebeus, reis e súditos, com a mesma força. Compositor prolífico, escreveu mais de seiscentas obras, entre óperas, oratórios e peças instrumentais, sempre permeadas por uma melodia rica, dramaticidade intensa e uma harmonia luminosa, ora solar, ora quase “aquática”, como na célebre Water Music. 

Naturalizado britânico em 1726, Händel transformou-se em George Frideric Handel, abraçando a Inglaterra como pátria criativa. Foi chamado por muitos de “novo Orfeu” e admirado não apenas como compositor, mas como excepcional improvisador ao cravo e ao órgão, capaz de emocionar auditórios inteiros com sua genialidade quase intuitiva. 

Neste Praeludium da Suite n. 1 em Lá Maior, HWV 426, composto por volta de 1720, encontramos um prelúdio breve, quase improvisado, que abre caminho para danças que compõem o restante da suíte. É uma peça escrita para teclado — cravo, principalmente — onde o toque das cordas parece evocar o som diáfano de uma harpa, sussurrando ecos do passado. 

É essa sensibilidade que o maestro Marcelo Moraes Caetano, hoje 13 de julho de 2025, na histórica cidade de Bruxelas, capital da Bélgica, tão plural quanto sua arte — nos faz reviver. Seu toque, que transita entre o rigor técnico e a emoção contida, constrói uma ponte invisível entre continentes e séculos: de Händel ao presente, de Londres barroca a Bruxelas contemporânea, alcançando corações distantes que se permitem pausar, ouvir e sentir. 

E assim, em meio ao correr dos dias, recordamos que a arte, como a água, sempre encontra um caminho para tocar cada alma, transformando um instante fugaz em eternidade sonora. 

© Alberto Araújo

 


Sobre Handel Georg Friedrich Händel ou Haendel nasceu em Halle an der Saale, 23 de fevereiro de 1685/ 5 de março de 1685 no calendário gregoriano e faleceu em Londres, 14 de abril de 1759) foi um compositor alemão, naturalizado cidadão britânico em 1726. 

Desde cedo mostrou notável talento musical, e a despeito da oposição de seu pai, que o queria um advogado, conseguiu receber um treinamento qualificado na arte da música. A primeira parte de sua carreira foi passada em Hamburgo, como violinista e maestro da orquestra da casa de ópera local. Depois dirigiu-se para a Itália, onde conheceu a fama pela primeira vez, estreando várias obras com grande sucesso e entrando em contato com músicos importantes. Em seguida foi indicado mestre de capela do Eleitor de Hanôver, mas pouco trabalhou para ele, e esteve na maior parte do tempo ausente, em Londres. Seu patrão mais tarde tornou-se rei da Grã-Bretanha como Jorge I, para quem continuou compondo. Fixou-se definitivamente em Londres, e ali desenvolveu a parte mais importante de sua carreira, como empresário operístico e autor de óperas, oratórios e música instrumental. Quando adquiriu a cidadania britânica adotou o nome George Frideric Handel.

Recebeu as bases de sua arte da escola barroca germânica, mas depois incorporou um amplo repertório de formas e estilos italianos, franceses e ingleses, construindo um estilo pessoal variado, original e cosmopolita. Tinha grande facilidade para compor, como prova sua vasta produção, que compreende mais de 600 obras, muitas delas de grandes proporções, entre elas dezenas de óperas e oratórios em vários movimentos. Suas grandes obras vocais foram especialmente apreciadas por sua riqueza melódica, sua penetração psicológica, sua impactante dramaticidade, e pela suntuosidade, originalidade e clareza de sua harmonia. Era um exímio contrapontista e polifonista nos moldes flexíveis da escola italiana, e introduziu novidades formais e estéticas na tradição idealista e cristalizada da ópera barroca e no seu gênero gêmeo do oratório, que prenunciam a reforma naturalista da ópera empreendida por Gluck. Suas cantatas e sua música instrumental também se caracterizam pelo experimentalismo, pela inventividade e liberdade formal. 

Sua fama em vida foi enorme, tanto como compositor, considerado um douto e um gênio original, quanto como instrumentista, um dos principais virtuoses do teclado de sua geração e excepcional improvisador, e mais de uma vez foi chamado de "divino" ou de "novo Orfeu" pelos seus contemporâneos. Sua música exerceu um impacto inovador e transformador de primeiro plano na música vocal inglesa de sua época, tornando-o por algum tempo uma verdadeira celebridade, embora sua carreira tenha sido cheia de altos e baixos. Influenciou outros nomes europeus destacados como Gluck, Haydn e Beethoven, foi de especial importância para a formação da cultura musical britânica moderna, tornou-se conhecido em muitas partes do mundo, e desde a metade do século XX sua obra tem sido recuperada com crescente interesse. Hoje Händel é considerado um dos maiores mestres do barroco musical europeu.

 

(clicar na imagem para assistir ao vídeo)


MENSAGEM DE MARCELO CAETANO:

Querido amigo Alberto, somente agora li as mensagens que você escreve aqui no WhatsApp. Peço perdão por esse lapso temporal, mas, embora meu pedido sincero de desculpas seja certamente insuficiente, posso lhe oferecer uma justificativa: eu leio pouco as redes sociais em geral, e, assim, as mensagens do WhatsApp, mesmo quando importantes e tocantes como as suas, ficam encimadas por outras mensagens.

 

Mais uma vez, sua homenagem me dignifica e enobrece para muito além da minha humilde arte. Sim, penso que todo artista é no fundo um humilde trovador, rapsodo ou aedo que vai de cidade em cidade, de vila em vila, em portentosos palácios ou em rudimentares choupanas, levar consigo sua arte, seu coração, sua alma. Você capta com uma tal beleza dourada o amor intrínseco que eu tenho, entranhado _ab imo pectorem_, pela música em geral e pelo piano em particular. Em suas palavras, sinto algo muitíssimo raro na profusão de palavras que hoje grassam nas mídias: sinto a Verdade, a geminação perfeita entre significante e significado, certamente _Veritas_, ou, mais, o _Logos_, socrático, platônico, aristotélico. Peço que a Virgem Maria continue cuidando desse dom maravilhoso que você possui, o de enxergar beleza na Verdade (a qual está, pondo por um instante a modéstia à parte), presente nas minhas artes), traduzindo-a com uma vocação única e com seu estilo afetuoso, informativo, enriquecedor e totalmente singular de ver e expressar, com generosidade, a transparência do espírito de um artista.

 

Aqui, tocarei em alguns dos palácios das famílias reais, pois sou muito próximo, há muitíssimos anos, da família real belga. Um de meus tios daqui da Bélgica, inclusive, é o professor de piano da princesa Astrid, da rainha Mathilde, do príncipe Joachim e da princesa Louise Marie. No sábado passado eu já me apresentei no castelo de Laeken. Todas as minhas apresentações, nesta turnê de agora, serão restritas e, por isso, até os registros ficarão privados até que, por tramitação burocrática, as assessorias dos palácios permitam a divulgação. Seguirei me apresentando na Dinamarca, Suécia, Noruega, Luxemburgo, Reino Unido, Holanda e Mônaco. Em dois recitais, me apresentarei a dois pianos com a Diana Zangberga. Se quiser publicar esta sua crônica Poética mais recente em meu Facebook, fique totalmente à vontade. Mais uma vez, muito obrigado, de coração, por seu beneplácito, sentido por mim como o vento do leste que degela a neve das montanhas em água pura e limpíssima. 

Deixo um grande abraço!

 Marcelo

 

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Querido Maestro Marcelo Moraes Caetano, recebo sua mensagem como quem recolhe uma pétala rara que desce do tempo, tingida da nobreza de sua sensibilidade e da generosidade de sua alma. As palavras que me dirige não são apenas um gesto de amizade; são um concerto íntimo de humanidade e delicadeza, que ecoa para além do espaço virtual. 

Compreendo perfeitamente a lida de quem habita as margens serenas da arte verdadeira, onde o recolhimento é tão essencial quanto o gesto. E saber que minhas palavras encontraram pouso em seu espírito é, para mim, como testemunhar o instante secreto em que o silêncio se faz música. 

Acompanhar, ainda que à distância, a sua caminhada de “rapsodo moderno”, levando o piano e o coração aos palácios e castelos da Europa, é uma honra que me faz acreditar, com renovada ternura, que a beleza continua sendo levada pelos justos aos recantos mais altos e aos mais recônditos do mundo.

Que a Virgem Santíssima continue a iluminar seus caminhos, aquecer suas mãos e inspirar seus prelúdios; e que essa mesma luz resplandeça sobre todos nós que, ao ouvirmos sua arte ou lermos suas palavras, nos sentimos lembrados da dignidade e da doçura que a verdadeira música carrega. 

Publicarei, sim, com alegria e gratidão, minha humilde crônica poética em seu espaço virtual, pois é como depositar uma pequena oferenda diante do altar da Arte maior que o senhor representa. 

Fico na esperança de um reencontro breve, quando o tempo e as estrelas assim permitirem. Até lá, receba meu abraço fraterno, grato e profundamente emocionado, 

Alberto Araújo







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