UM PASSEIO DE AFETOS, ENTRE PALAVRAS E CORES - UM DIA FELIZ - CRÔNICA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO

Naquela tarde aveludada que Niterói vestia, como um manto de brisa e luz, eu e minha Shirley nos entregamos à sinfonia suave do dia, deixando que nos guiasse, feito folhas ao vento, até o coração pulsante do Plaza Shopping. 

Há tardes que despontam singelas, quase invisíveis, mas que se metamorfoseiam em versos de amor ao calor do olhar amado, ao toque sutil da presença que acalma a alma. Foi assim, num sábado sereno, que nossos passos se harmonizaram com o ritmo calmo do Plaza. Entre os corredores onde o tempo parecia desacelerar, vislumbramos rostos apressados, vitrines como constelações de desejos e o segredo sussurro da cultura que aninha-se nas livrarias. Ali, naquele santuário de palavras adormecidas nas estantes, sentimos que a beleza reside também nos mais delicados arabescos do cotidiano. 

Nossos olhares dançavam entre o brilho das vitrines e a paleta vibrante das cores, até que, como imãs invisíveis, nossos pés nos conduziram ao oásis de silêncio da Livraria Leitura. Ali, naquele reino de papel e sonhos, encontramos o anseio secreto do coração dela: uma tela alva, como a promessa de um novo amanhecer, tintas a óleo opulentas, prenhes de infinitas possibilidades, e pincéis que, mais que meros instrumentos, eram varinhas mágicas, capazes de transmutar o sentir em cores vibrantes. 

Aquele instante superou a simples compra; foi a consagração de um momento raro, onde o humilde ato de escolher um material artístico se elevou à condição de um gesto de amor puro, de um cuidado que acalenta e de uma cumplicidade que une as almas. Depois, nossas mãos unidas seguiram adiante, desvendando outras maravilhas, nossos lábios esboçando sorrisos diante de pequenas descobertas, colhendo memórias leves, efêmeras como o perfume das flores. 

Deixamos aquele lugar com sacolas entrelaçadas em nossos dedos, mas, acima de tudo, com o coração transbordante, mais pleno do que na chegada. Porque a felicidade, por vezes, revela-se assim: na arte de pintar o dia com a aquarela da delicadeza, no compartilhar de silêncios que dizem tudo, e na certeza de que, lado a lado, somos um universo infinito. 

Saímos do shopping adornados não apenas por compras, mas por histórias que o coração guardará como joias raras. Uma tela imaculada, tintas vibrantes e pincéis delicados tornaram-se os emblemas de um instante feliz, singelo em sua beleza, profundo em seu significado. Pois, no final das contas, a verdadeira arte reside nisto: em trilhar o caminho juntos, em contemplar o mundo através dos olhos um do outro e em colorir cada jornada com as tonalidades cálidas do afeto. E assim prosseguimos, em cadência suave, celebrando a leveza sublime de estarmos vivos, enquanto a cidade, como um livro aberto sob o céu estrelado, nos convida a escrever, a cada passo, novas e encantadoras páginas de nossa história. 

© Alberto Araújo