Há professores que não apenas ensinam, mas que se tornam fanais em meio à névoa da vida contemporânea. Mateus Salvadori, doutor em Filosofia e professor universitário, é desses raros guias que transformam a informação em experiência estética, e a leitura em um ato de resistência contra a banalidade. Seus vídeos, que circulam como pequenas epifanias digitais, não são apenas aulas: são convites a mergulhar no abismo do pensamento, a caminhar pelas veredas da dúvida e a reencontrar, no silêncio das páginas, a música secreta da existência.
Vivemos em um tempo em que a informação se multiplica como enxame, mas a sabedoria se esconde como fonte subterrânea. Nesse cenário, Salvadori ergue uma ponte entre a voragem do presente e a tradição filosófica que nos sustenta. Ele não oferece respostas fáceis, mas indica livros que são como espelhos incômodos, capazes de devolver ao leitor não a imagem que deseja, mas a que precisa enfrentar.
Se a vida parece um labirinto de complicações, Salvadori aponta para Memórias do Subsolo, de Dostoiévski, onde o homem subterrâneo revela a crueza da consciência que se volta contra si mesma. Se a dúvida corrói até os próprios pensamentos, ele nos conduz às Meditações de Descartes, onde a razão se ergue sobre o abismo da incerteza. Quando o mundo se mostra cada vez mais estranho, surge O Estrangeiro, de Camus, com sua lucidez cortante diante da indiferença do universo. Se tudo parece perder o rumo, Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago, nos lembra da fragilidade da civilização e da força da solidariedade. E quando o caos ameaça sufocar, Cartas a Lucílio, de Sêneca, oferecem serenidade estoica, como um bálsamo contra a vertigem.
Mas Salvadori não se contenta com a superfície. Ele convoca seus alunos e leitores a encarar o abismo de frente, sem medo. Para isso, apresenta cinco obras que são verdadeiros precipícios do espírito: O Mundo como Vontade e Representação, de Schopenhauer, onde a vida se revela como impulso cego; A Queda, de Camus, que desnuda a hipocrisia e a culpa; O Anticristo, de Nietzsche, que explode como dinamite contra valores fossilizados; A Náusea, de Sartre, que expõe a vertigem da liberdade; e novamente Memórias do Subsolo, porque Dostoiévski é o eco que retorna sempre, lembrando-nos de que o homem é, antes de tudo, contradição.
Há livros que nos marcam tanto que gostaríamos de esquecê-los apenas para ter o privilégio de lê-los como se fosse a primeira vez. Salvadori lista cinco desses tesouros: Germinal, de Émile Zola, com sua força épica sobre a luta dos trabalhadores; O Banquete, de Platão, onde o amor se eleva a ideia eterna; Crepúsculo dos Ídolos, de Nietzsche, que dança entre marteladas e ironias; Confissões, de Santo Agostinho, que transforma a vida em oração e memória; e Angústia, de Graciliano Ramos, onde a literatura brasileira atinge o nervo exposto da existência.
O que impressiona em Salvadori não é apenas a erudição, mas a forma como ele a compartilha. Seus vídeos não são tratados acadêmicos frios, mas conversas que iluminam. Ele fala de Dostoiévski como quem fala de um vizinho atormentado, de Nietzsche como quem apresenta um amigo intempestivo, de Sêneca como quem oferece um conselho íntimo. Há lirismo em sua pedagogia, mas também rigor; há cultura, mas também humanidade.
Mais de 13.000 alunos já se inscreveram em seus cursos online, um número que não é apenas estatística, mas sinal de que a filosofia, quando bem apresentada, ainda pulsa no coração das pessoas. Em um mundo que parece cada vez mais entregue à pressa e à distração, esse número é um testemunho de que a sede de sentido não morreu.
Informação, por si só, é apenas ruído. Mas quando filtrada pela lente da filosofia, torna-se claridade. Salvadori nos mostra que ler não é acumular dados, mas atravessar experiências. Cada livro indicado é uma chave para abrir portas internas, um convite a olhar para dentro e para fora com mais profundidade.
Assim, sua obra como professor e divulgador cultural é um elogio à própria ideia de educação: não a educação utilitária, que serve apenas ao mercado, mas a educação que liberta, que inquieta, que transforma. Ele nos lembra que a filosofia não é luxo, mas necessidade; não é ornamento, mas alimento.
Ao final, a crônica que se escreve sobre Mateus Salvadori é também uma crônica sobre nós mesmos. Porque ao seguir suas indicações, não apenas lemos livros: lemos a nós mesmos através deles. E talvez seja esse o maior elogio que se pode fazer a um professor, o de que sua voz não termina em suas palavras, mas ressoa na vida de quem o escuta.
Em tempos de excesso de dados e carência de sabedoria, Salvadori nos oferece não apenas informações, mas caminhos. E cada caminho leva a um livro, e cada livro a uma nova forma de existir.
Site do curso dele onde já se inscreveram mais de 13.000 alunos.
https://mateusalvadori.com.br/meuscursos
© Alberto Araújo
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