Visando a uma nova forma de divulgar a arte da escrita dos valores fluminenses, o Focus Portal Cultural abre hoje mais um espaço em suas páginas para criar a seção "FRISSON LITERÁRIO - O que é belo é para ser mostrado".
Esta
seção servirá para difundir, apregoar ainda mais, os trabalhos realizados pelos
escritores e poetas fluminenses. Serão textos já publicados em outros sítios, jornais e
revistas, e que serão reproduzidos aqui.
Mas, claro, com a autorização do autor.
Se
já o nome do novo setor, frisson, em
francês, indica "palpitação" e,
ainda mais, ligado à palavra
"literário" imaginem o
que será este cantinho intelectual do FOCUS. Ele fará seu coração palpitar de encantamento,
beleza e cultura. E, neste número, há um bom exemplo!
Desvelando
o novo espaço, que desejamos fecundo, esta revista propaga, hoje, um texto da
jornalista e escritora Rita Magnago, recém-publicado no site da Academia
Niteroiense de Letras. A ilustrada
autora escreveu-o a convite do acadêmico
Carlos Rosa Moreira, colaborador de uma expressiva seção no site da entidade.
Neste número, nosso Focus Portal Cultural está fazendo um intercâmbio com a
excelente revista A Cadeira, organizada pelo confrade Wanderlino Teixeira Leite
Neto.
Agora,
curtam este reflexivo escrito da jornalista Rita Magnago. Ela mergulha em questões da língua, com
sapiência de mestra. E de um jeito leve, sem cansar, ensina, "frissionando" literariamente o
leitor com uma "Provocação" muito atual.
Para
acessá-lo basta clicar no link da Academia Niteroiense de Letras. Vocês vão
gostar e conhecer também A Cadeira! E vão torná-la cativa!
Para acessá-lo basta clicar no link da Academia Niteroiense de Letras.
Ou leia a íntegra do texto abaixo.
De outros cantos
Seção destinada à publicação de textos
de autores não residentes em Niterói.
Rita Magnago
Reside em Maricá (RJ). Jornalista, formada em Comunicação Social pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicitária. Pós-graduada em
Propaganda e Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Publicou, em 2012, Travessia do verso e, em 2014, Porque a vida pulsa, ambos de
poesia. É autora de crônica e conto classificados na antologia do “Prêmio UFF
de Literatura”, em 2012 e 2013, respectivamente. Em 2014, foi terceira colocada
no mesmo concurso, com a crônica “As cores da copa”.
Provocação
No começo de uma aula de português sobre concordância nominal, o
professor afirmou: a língua é machista, então, em regra, havendo na frase um
homem e dez mulheres, o adjetivo concorda com o masculino: homem e mulheres
belos. Imediatamente me veio à cabeça um trecho do livro do colombiano Héctor
Abad, em “A ausência que seremos”, onde relata que, em sua casa, eram ele, pai,
mãe, empregada, uma freira e cinco irmãs. A mãe, à revelia das normas
gramaticais, quando tinha que chamar os filhos, gritava ‘meninas’, porque eram
maioria, e assim seguiam as frases com a concordância sempre no gênero que
prevalecia em sua residência.
A revelação que a outros olhos poderia parecer banal, para mim foi, de
cara, o que me encantou no livro, especialmente a atitude da mãe do autor. E
quando o assunto, sobre o qual em geral não paramos para pensar, reapareceu em
uma aula, não pude resistir à ideia de escrever este texto: é preciso uma
reforma em nossa gramática.
Não, não se trata de uma blague, verdadeiramente acredito que parte do
sexismo que enfrentamos hoje em nossa sociedade brasileira, ainda com severas
disparidades econômicas entre os salários de homens e mulheres para a mesma
função, para ficar em um exemplo do dia a dia, poderia ser substancialmente
reduzida com uma revisão nas regras de concordância. Afinal, a história se
reescreve continuamente, de acordo com o contexto e o ponto de vista de quem a
conta, e nós, humanos, podemos nos reinventar. Ou não?
A concordância tem um papel importante na compreensão da linguagem,
mormente em línguas de morfologia rica como a nossa, e a preponderância do
masculino sobre o feminino exerce uma inegável função de reafirmar a soberania
do macho alfa em nosso cotidiano. É uma visão arcaica e retrógrada, não
condizente com o século XXI. A língua que você usa 24 horas por dia não pode
massificar uma situação de servilismo e submissão como esta, mesmo que
escamoteada pelo que se chama tradição, origem, raízes do idioma.
Há um preconceito linguístico implícito, ou melhor, explícito mesmo,
quando priorizamos o masculino nas concordâncias. E não é o único. Casos de
silepse de pessoa, por exemplo, são considerados elegantes em frases como “Os
leitores somos cada vez mais críticos”, mas não aceitos por muitos em
construções do tipo “A gente somos da comunidade”. Ora, a ideia não é a mesma,
a de uma concordância ideológica? Mas neste segundo caso diz-se que ‘a gente’ é
modelo de representação da primeira pessoa, que há o caráter pronominal da
expressão, ou seja, fórmulas gramaticalmente consagradas para refutar uma
construção popular e específica de um grupo que a sociedade culta faz questão
de manter alijado de seu cerne.
Fico pensando na reforma ortográfica em curso – cuja implantação foi
adiada novamente para 2016 –, claramente voltada para o exterior, prevendo a
unificação das regras do português escrito em todos os países que o têm como
idioma oficial: Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São
Tomé e Príncipe, Timor Leste e Angola. Fico pensando no machismo reinante em
cada uma dessas nações. Comparo com o inglês, idioma no qual, além de inexistir a distinção por gênero, há também
outras formas que acabam por ajudar a sociedade a não perpetuar relações de
subordinação, como o pronome ‘you’ ser usado indistintamente para pessoas
comuns e autoridades, por exemplo. São nuances, mas que colaboram para que a
sociedade tenha uma compreensão mais ou menos hierarquizada sobre si mesma.
Acho que uma reforma deste nível em nossa língua poderia, a médio e
longo prazo, trazer efeitos surpreendentes, contribuir para formar uma
sociedade mais igualitária, como, aliás, prevê um dos objetivos de nossa Carta
Magna.
Nós, mulheres, pudemos votar em nosso país somente a partir de 1932,
embora o direito tenha sido defendido por grandes nomes, como Machado de Assis,
já em 1877. Às vezes, demora muito para que as ideias transformem-se em ações,
em fatos, mas há que se ter um começo. Por que não agora?
É pena não poder abordar o tema com mais profundidade, porque me faltam
instrumentos, não sou linguista, mas gostaria que o assunto ficasse para
reflexão e servisse de provocação ao meio acadêmico. Quem sabe possa ser
defendido com mais propriedade por especialistas que reconheçam algum mérito na
questão.
*******************************
Esta revista eletrônica registra os sinceros agradecimentos à autora do texto acima, a escritora e jornalista Rita Magnago, a cordial gentileza em permitir-nos a publicação do mesmo aqui neste Portal Cultural.
APOIO CULTURAL
É um ótimo texto esse da jornalista Rita Magnago. Sem dúvida, a cargo dos linguistas a luta e a conscientização em nome de uma gramática coerente com o falar do brasileiro. Sim, Língua Portuguesa, mas que manifeste e represente, com realismo, a cultura vibrante de um povo que forjou o espírito para além dos muros da Academia. Os meus parabéns a Rita e um abraço, Alberto.
ResponderExcluirHilário Francisconi