Geraldo França de Lima nasceu em Araguari,
em 24 de abril de 1914 e faleceu no Rio de Janeiro, em 22 de março de 2003, aos
89 anos, foi um escritor e professor brasileiro. Ocupou a Cadeira 31 da
Academia Brasileira de Letras, sucedendo a José Cândido de Carvalho.
Sexto ocupante da Cadeira 31, eleito
em 30 de novembro de 1989 na sucessão de José Cândido de Carvalho e recebido em
19 de julho de 1990 pelo Acadêmico Lêdo Ivo. Recepcionado pelo Acadêmico
Antônio Olinto.
Era filho de Alfredo Simões de Lima e
Corina França de Lima. Com a mãe, aprendeu a ler e a escrever, terminando o
curso primário, em 1926, na primeira turma que se matriculou no então
recém-fundado Colégio Regina Pacis, dos padres holandeses.
"Inocência", de Visconde de
Taunay, recomendado por seu pai, foi o primeiro livro que leu antes de
completar 11 anos. Em 1929, seguiu para Barbacena, matriculando-se no internato
do Ginásio Mineiro.
Onde permaneceu por cinco anos,
distinguindo-se no aprendizado de línguas e sendo um dos mais assíduos
frequentadores da biblioteca. O seu primeiro escrito, descrevendo a viagem, que
demandou cinco dias, pela antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas, de Uberaba a
Belo Horizonte, foi publicado no jornal Araguari. Em 1932, os estudantes do
último ano do ginásio, levados pela efervescência cultural de Barbacena,
transformaram o grêmio literário no grupo literário Arcádia Ginasiana de Letras.
Geraldo França de Lima foi eleito seu presidente e diretor do jornal O Kepi,
seminário de idéias em Barbacena. Nesse jornal, apareceram suas primeiras
poesias.
Em Barbacena, na Quarta-feira santa de
1933, conheceu por acaso João Guimarães Rosa, capitão-médico do 9º BCM da Força
Pública Mineira, e uma fraterna amizade logo os uniu. Em 1934, no Rio de
Janeiro, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil e obteve o
primeiro emprego, como revisor do jornal A Batalha, de Júlio Barata, estreando
também como articulista.
Em 1935, Bastos Tigre publica suas
poesias na revista Fon-Fon. Longe, ainda, de se tornar escritor, Geraldo França
de Lima continuava sendo inveterado frequentador de bibliotecas e livrarias.
Em 09 de dezembro de 1938 colou grau de
bacharel em Ciências Jurídicas. Depois de rápida passagem por Araguari, voltou
para Barbacena, como professor do Ginásio Mineiro, nomeado pelo governador
Benedito Valadares. Em Barbacena, nos dias incertos da Segunda Guerra Mundial,
conheceu o escritor francês Georges Bernanos, de quem se tornou amigo e
confidente.
Em 1951, acompanhando o Ministro da
Justiça Bias Fortes, retornou definitivamente ao Rio de Janeiro, sendo nomeado
advogado da Estrada de Ferro Central do Brasil, de onde passou para a
Procuradoria Geral da República e daí para a Consultoria Geral da República.
Reapareceu no Diário de Notícias, com
o poema "Saudades sugeridas". Em 1960, Paulo Rónai abriu-lhe as
colunas de Comentário, publicando o artigo "Com Bernanos no Brasil",
de larga repercussão no exterior, considerado importante depoimento sobre o
escritor francês.
Em 1958, tendo prestado provas
públicas, foi nomeado professor do Colégio Pedro II, e posteriormente, admitido
como professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da UFRJ. Foi
assessor do Presidente Juscelino Kubitschek e do presidente do Conselho de
Ministros, Tancredo Neves.
O ano de 1961 foi o ano do ingresso de
Geraldo França de Lima em definitivo na vida literária. Guimarães Rosa,
almoçando em casa do amigo, encontrou na escrivaninha os originais do romance
"Uma cidade na província". Levou-os consigo e, entusiasmado, leu-os
no mesmo dia. Pela madrugada, ao terminar a leitura, telefonou para Lygia, esposa
do romancista, e emocionado transmitiu-lhe sua impressão: "Ou muito me
engano ou estou na frente de um grande romancista."
Mudou o nome para "Serras
azuis", providenciou a publicação, indo, pessoalmente, procurar o editor
Gumercindo Rocha Dórea. Na tarde do lançamento, na Livraria Leonardo da Vinci,
em 02 de junho de 1961, Guimarães Rosa pediu a palavra e em discurso relatou
sua amizade com Geraldo França de Lima, terminando com a apologia do romance.
O sucesso alcançado valeu ao livro o
Prêmio Paula Brito Revelação Literária 1961, da Biblioteca Pública do Estado da
Guanabara. Em 1969, a União Brasileira de Escritores, sob a presidência de
Peregrino Júnior, conferia o Prêmio Fernando Chinaglia a "Jazigo dos
vivos", considerado o melhor romance de 1968. Em 1972, recebeu a grande
láurea do Conselho Estadual de Cultura do Estado da Guanabara, o Prêmio Paula
Brito Ficção, destinado a conjunto de obra. Em 1991, recebeu o Prêmio Nacional
de Literatura Luísa Cláudio de Sousa, conferido pelo PEN Clube do Brasil ao
romance Rio da vida. Em 1994, o Troféu Guimarães Rosa foi concedido a Folhas ao
léu como conjunto de melhores contos.
Em 1988 formou com o senador Afonso
Arinos de Melo Franco, Otto Lara Resende e Osvaldo França Júnior Comissão
contra a emancipação do Triângulo Mineiro.
Pertenceu às seguintes instituições
literárias e artísticas: Academia de Letras do Triângulo Mineiro, União
Brasileira de Escritores, Academia Brasileira de Arte e PEN Clube do Brasil.
Foi casado com Lygia Bias Fortes da
Rocha Lagoa França de Lima, que faleceu em 2002. Sofrendo a perda da visão, o
acadêmico ditava seus livros à companheira. Seu último romance, "O sino e
o som" foi lançado em 2002.
“Morria a bela tarde serrazulense, num
poente de ouro e de sangue. Gutemberg tomou Lígia das Graças pela mão: olharam
pela janela, contemplaram Serras Azuis: os serros encavalados, ligando o céu à
terra, banhavam-se numa chuva de ouro, e sumiam aos poucos, apagados pela noite
que caía. Um mundo de recordações lhes invadia a alma: desde a noite em que se
acharam, até a madrugada de 4 de outubro. Reviveram os lances, as curvas, os
degraus daquela séria estória de amor, que culminou com a Capelinha do Cachimbo
em festas. Gutemberg ficou abstrato, longínquo...”
— (Serras azuis, 1961)
OBRAS
Serras azuis, romance, 1961
(transformado em telenovela pela TV Bandeirantes;
Brejo alegre, romance, 1964;
Branca Bela, romance, 1965;
Jazigo dos vivos, romance, 1969;
O nó cego, romance, 1973;
A pedra e a pluma, romance, 1979;
A herança de Adão, romance, 1983;
A janela e o morro, romance, 1988;
Naquele Natal, romance histórico, 1988;
Rio da vida, romance, 1991;
Folhas ao léu, contos, 1994;
Sob a curva do sol, romance, 1997.
Os pássaros e outras histórias, 1999;
O sino e o som, 2002.