Caro leitor foculista, você encontrará nesta primeira publicação do projeto mensal “LITERATURA & POESIA”. Um mapeamento da literatura e da poesia, produzida em Niterói, a partir da apresentação de seus escritores e de seus títulos, ou seja, os seus livros ora editados.
A intenção é
viabilizar por meio deste projeto. A
produção literária dos escritores, poetas,
compositores, ilustradores e seus livros.
Um vídeo com
imagens do homenageado o acompanhará.
Todas as postagens que serão feitas, serão coordenadas e editadas pelo o
editor desta revista eletrônica o escritor e jornalista Alberto Araújo.
O que inicialmente
se constitui como APRESENTAÇÃO, e serviu para dar o “pontapé inicial” deste
projeto. Seguem os estruturados textos,
todos pesquisados por mim, da grande
escritora e jornalista conceituada em nossa cidade a roteirista de cinema
Belvedere Bruno.
Desse modo as
informações recolhidas ao longo do mapeamento, apresentar-se-ão com vídeo, e-mail e o link do site do escritor
pesquisado mensalmente.
O projeto, em
sua dimensão mais ampla, leva em conta para a seleção dos escritores aqueles
que têm a cidade de Niterói como berço, bem como aqueles que escolheram Niterói
como berço de constância.
As biografias
serão construídas a partir de pesquisa em várias fontes, entre elas, livros de
referências, blogs, sites, e, muitas vezes, contarão com a colaboração do
próprio escritor.
Fiquem
atentos e bom entretenimento.
CLICAR NA IMAGEM DE BELVEDERE
PARA ASSISTIR AO VÍDEO PARTE INTEGRANTE
DESTA POSTAGEM
OU ASSISTA NO CANAL YOU TUBE DO FOCUS PORTAL CULTURAL
CLICAR AQUI NO LINK
http://www.youtube.com/watch?v=5-lQO3OZ1NY&feature=c4-overview&list=UUdkyrA41n8jTYILRGoMWOfQ
TRÊS NARRATIVAS ARGENTÁRIAS DE BELVEDERE BRUNO
Você estar servido uma taça de vinho branco?... Brindemos!
Pois o banquete começa agora!
Pois o banquete começa agora!
O ESCRITOR
Havia um quê na história, que nunca
consegui decifrar. Um tanto de lenda, um tanto de mito, aquela mania de misturar
o real e o imaginário...
Diante de suas narrativas, sentia-me
vazia de vida. Enriqueceria o seu dia-a-dia com a força da imaginação de escritor? Assim pensando, conseguia me
conformar com aquela
eterna sensação de viver em câmera lenta. Como tudo podia ser tão
efervescente na vida daquele homem?
Por
vezes, os fatos soavam até inverossímeis, mas sentia que, para ele,
era vital aquela dose extra de adrenalina que o processo de criação lhe
proporcionava. Narrando, ele acreditava,
e aí estava a força dos fatos. Sentia
que não havia mentira, ao menos da forma convencional. Criando, roteirizava
a vida, o que o tornava um
ser incomum.
Fazia-me sentir novos
sabores, ver matizes
inimaginados, aspirar aromas inebriantes. Mas onde estaria a realidade naquele mundo
que parecia delirante e, nem por isso, menos encantador?
Subitamente, me vi fora de
prumo. Na mente, um emaranhado de ideias
desconexas. Tateando, busquei bússolas...
O
ponto final foi inserido no contexto por conta da minha total
falta de habilidade em separar o mundo real daquele mundo colorido de faz de conta. Não tinha, como o
escritor, o dom de viver em universos paralelos. Disse-lhe adeus.
Um adeus sem cores e fantasias.
Voltei, então,
a viver em câmera lenta.
O HOMEM E O VAZIO
Quando nasceu, Lindolfo não chorou.
Emitiu um grito como se fosse um não interminável. Os familiares ficaram com os
olhos arregalados. Cresceu revoltado, demonstrando profunda irritação sempre
que contrariado, a ponto de os pais terem que amordaçá-lo e prender- lhe os pés
para que não escoiceasse. Mordia as próprias mãos. Durante a infância,
demonstrava profunda frieza em relação a pessoas e fatos. Nada o comovia e, se
pudesse, rodaria, por dia, cem gatos pelo rabo, atirando-os ao rio. Um manco,
um cego, ou mesmo um doente mental era motivo de chacota para Lindolfo; e a
própria avó, por ter um defeito na perna, era chamada de vó “coxinha”, entre
risos e deboches.
Cresceu com o obsessivo desejo de ganhar. Tirando sempre vantagem
em tudo, não poupava amigos nem parentes. Aliás, não se podia dizer que Lindolfo
tivesse amigos. As pessoas faziam de conta que o aceitavam. O tempo passava e
ele a ninguém se ligava e não cogitava em constituir família. Mas o avô sempre
insistiu, lhe apresentando as mais interessantes moças da cidade. Em vão.
Nenhuma despertava o interesse de Lindolfo, até que, apresentado à única filha
do dono da rede de farmácia do lugar analisou que, tendo se formado em
contabilidade, poderia ser uma excelente aquisição para o comércio do futuro sogro.
E então, de olho no futuro, disse sim.
Casado e com dois filhos, vivia da mesma
forma, sem demonstrar carinho pela família, sempre distante, nutrindo apenas o
insaciável desejo de enriquecer. Da esposa e filhos, cansados de tanta
indiferença, passou a receber a mesma frieza. Era um estranho. Entrava e saía
de casa sempre alheio a tudo que não lhe trouxesse vantagens. Acabou sendo um
homem bem-sucedido, trabalhando com afinco junto às lojas do sogro. Sovina,
tinha por norma nunca ajudar. Se alguém estivesse passando fome, atribuía ao
carma e, para se safar, argumentava que, se ajudasse, prejudicaria a vida da
pessoa. Um tipo de desculpa que o livrava de muitas situações. Expressão sempre
impassível, tal qual uma estátua, observava a morte de amigos e membros da
família sem nenhum pesar. Nunca o viram derramar uma lágrima.
Quando faleceu a esposa,
disse a todos que Deus havia sido generoso deixando que (a falecida) vivesse 30
anos com ele. Ao perder os filhos, murmurou em ambas as ocasiões: “Que Deus o
tenha!”. Aos 75 anos, já afastado do trabalho, isolou-se numa casa de cidade do
interior do estado para cultivar orquídeas, no intuito de mais tarde vender o
orquidário a bom preço. Vivia o seu dia a dia entregue a elas, embora nunca
tivesse demonstrado interesse por flores. Ali, não fez amizades.
Seu passatempo
era um rádio e uma pinga de vez em quando. Concretizou a venda do orquidário aos
78 anos, quando também vendeu todas as farmácias, em comum acordo com os outros
herdeiros. Aos 83, decidiu se internar num asilo, escolhendo entre os mais
baratos. Não pensava em ninguém, sequer nos netos, que iam visitá-lo de vez em
quando. Ao recebê-los, só sabia dizer que não tinha dinheiro para lhes dar. Com
o tempo, os netos cansaram do gênio de Lindolfo e cessaram as visitas. Aí ele
começou, de fato, a ser feliz, pois já não tinha elos.
No asilo, iniciou os
carteados em troca de centavos. Com grande excitação, ia guardando o que
ganhava dentro de um pequeno cofre, mesmo que fossem centavos. Certa noite,
enquanto contava dinheiro num bingo próximo ao asilo do qual fugia todas as
noites para jogar, caiu ao chão. Infarto agudo do miocárdio. Os netos foram
avisados e providenciaram seu sepultamento no mais simples cemitério da cidade.
Escolheram, também, o caixão mais barato, para que Lindolfo partisse sem
resmungos nem xingações.
Em sua conta bancária, havia uma fortuna, que agora
seria dividida entre os únicos herdeiros. No funeral, uma coroa de flores com
os dizeres: “Enfim, em boa companhia. Carinho – Seus netos”.
Em torno da saudade
a Artur da Távola –
in memoriam
Naquele estado entre a vigília e o
sono, entrevi seu sorriso, e senti-me envolvida por um suave estremecer. Pensei
que seria bom enviar-lhe meu último conto, O homem e as flores. Não havia, não
sei por que motivo, partilhado com ele a emoção daquele texto curto e um tanto
inusitado. Sabia, no entanto, que ele teria gostado. Saindo daquele estranho
torpor, despertei. Vi-me, então, frente à realidade, e uma tristeza
indescritível tomou conta de mim. Nunca mais ele voltaria a ler, a comentar
meus textos, a fazer sugestões e a trocar ideias sobre eles; e esse era um
hábito ao qual me acostumara nos últimos anos. Era uma amizade sincera, que
sempre prescindira de comentários e alaridos em torno dela.
Não fui pega de surpresa com sua
partida. Nos últimos tempos, havia silêncio. Mensagens monossilábicas me soavam
como ritos de despedida.
É difícil preparar-se para um
desfecho triste. Dói. Mas nada se compara à dor da certeza de que tudo
realmente acabou.
Deixei que o tempo passasse, e
agora, aquietada, posso falar sobre a falta que ele me faz.
Dizem que ninguém é insubstituível.
Discordo, já que todos são diferentes, têm as suas particularidades: uns, quase
perfeitos, e outros, adoráveis por seus defeitos.
Tive a grata oportunidade de
entrevistar Artur da Távola no ano de 2005, e marcou-me, de forma indelével, a
resposta que dera em relação à grande lição obtida através de seu exílio.
Transcrevo suas palavras:
“Aprofundar o meu conceito de
democracia, que me fez sair de um socialismo um tanto ingênuo e penetrar na
socialdemocracia. O outro sentido foi o de verificar o quanto amo este país. E
o terceiro, foi aprender o significado real da palavra saudade…”.
Nunca haverá quem preencha o vazio
que ele deixou em minha vida. Guardarei na memória seu constante incentivo às
minhas letras, sua generosidade e suas ponderações, que sempre me serviram como
verdadeiras diretrizes de segurança.
Que sons sublimes acompanhem seu
voo, juntando-se às amorosas vibrações de todos os que mereceram a amizade, a
atenção e a confiança desse ser humano ímpar.
Quisera poder, como o personagem
Marcos, do conto O homem e as flores, derramar lágrimas perfumadas para o meu
querido amigo que se foi.
Complemento
do coquetel
Um poema simples
Amanhece. Debruçada
à janela, vejo o movimento
dos pescadores.
Há contagiante energia.
A monotonia se passa,
não encontra onde estacionar.
Por alguns minutos,
sonho pertencer
a tão vibrante universo.
Integro-me, desatando os nós
que me prendiam
à opacidade dos meus dias.
Belvedere Bruno - Niterói-RJ
Belvedere Bruno - escritora, jornalista e roteirista.
PEQUENO
PERFIL LITERÁRIO
Belvedere Bruno - nasceu em Niterói/RJ, onde reside. Escritora,
contista, jornalista e roteirista de cinema. Cedo
despertou para as letras, graças ao incentivo do pai, que sempre presenteou os
filhos com livros. Atualmente, dedica-se às prosas, gênero onde mais se
identifica. Tem várias antologias publicadas, como diVersos - Scortecci,
@teneu.poesi@ - Scortecci, Com licença da palavra - Scortecci, O Conto
Brasileiro hoje - Volumes VIII, Volume X e Volume XII - RG Editores. Tem
publicações em diversos jornais da cidade, assim como em outros estados, e mesmo no exterior. Vinho
Branco, safra especial de contos e crônicas, seu voo solo, lançado em maio de
2010.
Visite o site da escritora
Que belo e oportuno projeto, meu caro Alberto! Estes "minutos com Belvedere Bruno" se ampliarão pra sempre! Grato, amigo.
ResponderExcluirUm abraço!
Hilário.
Obrigada, querido Alberto. Que lindo presente!!!!!!
ResponderExcluirBjs
Belvedere
Grato pelo envio. Bel é D+!!! Bjs
ResponderExcluirPRC