sábado, 1 de março de 2014

UNS MINUTOS COM BELVEDERE BRUNO... VOCÊ ESTAR SERVIDO UMA TAÇA DE VINHO BRANCO?... BRINDEMOS! POIS O BANQUETE COMEÇA AGORA!.




Caro leitor foculista, você encontrará nesta primeira publicação do projeto mensal “LITERATURA & POESIA”.  Um mapeamento da literatura e da poesia, produzida em Niterói, a partir da apresentação de seus escritores e de seus títulos, ou seja, os seus livros ora editados.

A intenção é viabilizar  por meio deste projeto. A produção literária  dos escritores, poetas, compositores, ilustradores e seus livros. 

Um vídeo com imagens do homenageado o acompanhará.  Todas as postagens que serão feitas, serão coordenadas e editadas pelo o editor desta revista eletrônica o escritor e jornalista Alberto Araújo.

O que inicialmente se constitui como APRESENTAÇÃO, e serviu para dar o “pontapé inicial” deste projeto.   Seguem os estruturados textos, todos pesquisados por mim,  da grande escritora e jornalista conceituada em nossa cidade a roteirista de cinema Belvedere Bruno.

Desse modo as informações recolhidas ao longo do mapeamento, apresentar-se-ão  com vídeo, e-mail e o link do site do escritor pesquisado mensalmente.

O projeto, em sua dimensão mais ampla, leva em conta para a seleção dos escritores aqueles que têm a cidade de Niterói como berço, bem como aqueles que escolheram Niterói como berço de constância.

As biografias serão construídas a partir de pesquisa em várias fontes, entre elas, livros de referências, blogs, sites, e, muitas vezes, contarão com a colaboração do próprio escritor.


Fiquem atentos e bom entretenimento.

 
CLICAR NA IMAGEM DE BELVEDERE
PARA ASSISTIR AO VÍDEO PARTE INTEGRANTE 
DESTA POSTAGEM




OU ASSISTA NO CANAL YOU TUBE DO FOCUS PORTAL CULTURAL

CLICAR AQUI NO LINK


http://www.youtube.com/watch?v=5-lQO3OZ1NY&feature=c4-overview&list=UUdkyrA41n8jTYILRGoMWOfQ  

 


TRÊS NARRATIVAS ARGENTÁRIAS DE BELVEDERE BRUNO



Você estar servido uma taça de vinho branco?...  Brindemos!
Pois o banquete começa agora!
 

 
O ESCRITOR



Havia um quê na história, que nunca consegui decifrar. Um tanto de lenda, um tanto de mito, aquela mania de misturar o real e o imaginário...
 
Diante de suas narrativas, sentia-me vazia de vida.  Enriqueceria  o seu dia-a-dia com a força da   imaginação de escritor?  Assim pensando,  conseguia me  conformar  com   aquela  eterna sensação de viver em câmera lenta. Como tudo podia ser tão efervescente na vida daquele homem?
 
Por  vezes, os fatos  soavam  até inverossímeis, mas sentia que, para ele, era vital aquela dose extra de adrenalina que o processo de criação lhe proporcionava. Narrando,  ele acreditava, e aí estava a força dos fatos.  Sentia que não havia mentira, ao menos da forma convencional. Criando,   roteirizava  a vida, o   que o  tornava um   ser incomum.   
 
Fazia-me  sentir novos  sabores, ver   matizes inimaginados,  aspirar aromas  inebriantes.     Mas onde estaria a realidade naquele mundo que  parecia delirante e,  nem por isso, menos encantador? 
 
Subitamente, me vi fora de prumo.  Na   mente, um emaranhado de ideias desconexas.  Tateando, busquei   bússolas...
 
O  ponto final foi inserido no contexto por conta da  minha total  falta de habilidade em separar o mundo real daquele mundo  colorido de faz de conta. Não tinha, como o escritor, o dom de viver em universos paralelos. Disse-lhe  adeus.  Um adeus sem cores e  fantasias.
 
 Voltei, então,  a viver em câmera lenta.

 



O HOMEM E O VAZIO


Quando nasceu, Lindolfo não chorou. Emitiu um grito como se fosse um não interminável. Os familiares ficaram com os olhos arregalados. Cresceu revoltado, demonstrando profunda irritação sempre que contrariado, a ponto de os pais terem que amordaçá-lo e prender- lhe os pés para que não escoiceasse. Mordia as próprias mãos. Durante a infância, demonstrava profunda frieza em relação a pessoas e fatos. Nada o comovia e, se pudesse, rodaria, por dia, cem gatos pelo rabo, atirando-os ao rio. Um manco, um cego, ou mesmo um doente mental era motivo de chacota para Lindolfo; e a própria avó, por ter um defeito na perna, era chamada de vó “coxinha”, entre risos e deboches. 
 
Cresceu com o obsessivo desejo de ganhar. Tirando sempre vantagem em tudo, não poupava amigos nem parentes. Aliás, não se podia dizer que Lindolfo tivesse amigos. As pessoas faziam de conta que o aceitavam. O tempo passava e ele a ninguém se ligava e não cogitava em constituir família. Mas o avô sempre insistiu, lhe apresentando as mais interessantes moças da cidade. Em vão. Nenhuma despertava o interesse de Lindolfo, até que, apresentado à única filha do dono da rede de farmácia do lugar analisou que, tendo se formado em contabilidade, poderia ser uma excelente aquisição para o comércio do futuro sogro. E então, de olho no futuro, disse sim. 
 
Casado e com dois filhos, vivia da mesma forma, sem demonstrar carinho pela família, sempre distante, nutrindo apenas o insaciável desejo de enriquecer. Da esposa e filhos, cansados de tanta indiferença, passou a receber a mesma frieza. Era um estranho. Entrava e saía de casa sempre alheio a tudo que não lhe trouxesse vantagens. Acabou sendo um homem bem-sucedido, trabalhando com afinco junto às lojas do sogro. Sovina, tinha por norma nunca ajudar. Se alguém estivesse passando fome, atribuía ao carma e, para se safar, argumentava que, se ajudasse, prejudicaria a vida da pessoa. Um tipo de desculpa que o livrava de muitas situações. Expressão sempre impassível, tal qual uma estátua, observava a morte de amigos e membros da família sem nenhum pesar. Nunca o viram derramar uma lágrima. 
 
Quando faleceu a esposa, disse a todos que Deus havia sido generoso deixando que (a falecida) vivesse 30 anos com ele. Ao perder os filhos, murmurou em ambas as ocasiões: “Que Deus o tenha!”. Aos 75 anos, já afastado do trabalho, isolou-se numa casa de cidade do interior do estado para cultivar orquídeas, no intuito de mais tarde vender o orquidário a bom preço. Vivia o seu dia a dia entregue a elas, embora nunca tivesse demonstrado interesse por flores. Ali, não fez amizades. 
 
Seu passatempo era um rádio e uma pinga de vez em quando. Concretizou a venda do orquidário aos 78 anos, quando também vendeu todas as farmácias, em comum acordo com os outros herdeiros. Aos 83, decidiu se internar num asilo, escolhendo entre os mais baratos. Não pensava em ninguém, sequer nos netos, que iam visitá-lo de vez em quando. Ao recebê-los, só sabia dizer que não tinha dinheiro para lhes dar. Com o tempo, os netos cansaram do gênio de Lindolfo e cessaram as visitas. Aí ele começou, de fato, a ser feliz, pois já não tinha elos. 
 
No asilo, iniciou os carteados em troca de centavos. Com grande excitação, ia guardando o que ganhava dentro de um pequeno cofre, mesmo que fossem centavos. Certa noite, enquanto contava dinheiro num bingo próximo ao asilo do qual fugia todas as noites para jogar, caiu ao chão. Infarto agudo do miocárdio. Os netos foram avisados e providenciaram seu sepultamento no mais simples cemitério da cidade. Escolheram, também, o caixão mais barato, para que Lindolfo partisse sem resmungos nem xingações. 
 
Em sua conta bancária, havia uma fortuna, que agora seria dividida entre os únicos herdeiros. No funeral, uma coroa de flores com os dizeres: “Enfim, em boa companhia. Carinho – Seus netos”.


 


Em torno da saudade


a Artur da Távola – in memoriam



Naquele estado entre a vigília e o sono, entrevi seu sorriso, e senti-me envolvida por um suave estremecer. Pensei que seria bom enviar-lhe meu último conto, O homem e as flores. Não havia, não sei por que motivo, partilhado com ele a emoção daquele texto curto e um tanto inusitado. Sabia, no entanto, que ele teria gostado. Saindo daquele estranho torpor, despertei. Vi-me, então, frente à realidade, e uma tristeza indescritível tomou conta de mim. Nunca mais ele voltaria a ler, a comentar meus textos, a fazer sugestões e a trocar ideias sobre eles; e esse era um hábito ao qual me acostumara nos últimos anos. Era uma amizade sincera, que sempre prescindira de comentários e alaridos em torno dela.

Não fui pega de surpresa com sua partida. Nos últimos tempos, havia silêncio. Mensagens monossilábicas me soavam como ritos de despedida.

É difícil preparar-se para um desfecho triste. Dói. Mas nada se compara à dor da certeza de que tudo realmente acabou.

Deixei que o tempo passasse, e agora, aquietada, posso falar sobre a falta que ele me faz.

Dizem que ninguém é insubstituível. Discordo, já que todos são diferentes, têm as suas particularidades: uns, quase perfeitos, e outros, adoráveis por seus defeitos.

Tive a grata oportunidade de entrevistar Artur da Távola no ano de 2005, e marcou-me, de forma indelével, a resposta que dera em relação à grande lição obtida através de seu exílio. Transcrevo suas palavras:
“Aprofundar o meu conceito de democracia, que me fez sair de um socialismo um tanto ingênuo e penetrar na socialdemocracia. O outro sentido foi o de verificar o quanto amo este país. E o terceiro, foi aprender o significado real da palavra saudade…”.

Nunca haverá quem preencha o vazio que ele deixou em minha vida. Guardarei na memória seu constante incentivo às minhas letras, sua generosidade e suas ponderações, que sempre me serviram como verdadeiras diretrizes de segurança.

Que sons sublimes acompanhem seu voo, juntando-se às amorosas vibrações de todos os que mereceram a amizade, a atenção e a confiança desse ser humano ímpar.

Quisera poder, como o personagem Marcos, do conto O homem e as flores, derramar lágrimas perfumadas para o meu querido amigo que se foi.

 
 


Complemento do coquetel


Um poema simples


 Amanhece. Debruçada
 à janela, vejo o movimento
 dos pescadores.
 
 Há contagiante energia.
 A monotonia se passa,
 não encontra onde estacionar.
 
 Por alguns minutos,
 sonho pertencer
 a tão vibrante universo.
 
 Integro-me, desatando os nós
 que me prendiam
 à opacidade dos meus dias.
 

 Belvedere Bruno - Niterói-RJ

Belvedere Bruno - escritora, jornalista e roteirista.


PEQUENO PERFIL LITERÁRIO



Belvedere Bruno - nasceu  em Niterói/RJ, onde reside. Escritora, contista, jornalista e roteirista de cinema.  Cedo despertou  para as letras, graças  ao incentivo do pai, que sempre presenteou os filhos com livros. Atualmente, dedica-se às prosas, gênero onde mais se identifica. Tem várias antologias publicadas, como diVersos - Scortecci, @teneu.poesi@ - Scortecci, Com licença da palavra - Scortecci, O Conto Brasileiro hoje - Volumes VIII, Volume X e Volume XII - RG Editores. Tem publicações em diversos jornais da cidade, assim como em  outros estados, e mesmo no exterior. Vinho Branco, safra especial de contos e crônicas, seu voo solo, lançado em maio de 2010.



Visite o site da escritora




 

3 comentários:

  1. Hilário Francisconi - escritor1 de março de 2014 às 09:51

    Que belo e oportuno projeto, meu caro Alberto! Estes "minutos com Belvedere Bruno" se ampliarão pra sempre! Grato, amigo.

    Um abraço!

    Hilário.

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  2. Obrigada, querido Alberto. Que lindo presente!!!!!!

    Bjs

    Belvedere

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  3. Paulo Roberto Cecchetti2 de março de 2014 às 09:27

    Grato pelo envio. Bel é D+!!! Bjs

    PRC

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