A Vitrine do Focus Portal Cultural recomenda o livro Mulher no espelho
da escritora Helena Parente Cunha, obra em sua 10º edição/2013. A 1ª edição foi publicada em 1985 e conquistou o importante Prêmio Cruz e Souza pela Fundação Catarinense
de Cultura.
E vou começar a minha
estória. Agora,
na superposição de meus
rostos,
em convergência de datas.
Aqui no cruzamento de meu
corpo com
o espaço de minhas imagens.
Tenho o que dizer, pois vou
dizer-me a mim mesma,
mas, como qualquer pessoa
que se põe diante
da memória ou dos espelhos.
Mulher no espelho,
Helena Parente Cunha,
página 31
Editora Mulheres, 10º
edição/2013.
Capa do livro Mulher no espelho
10ª edição/2013
da escritora Helena Parente Cunha
Mulher no espelho, de forma instigante, traduz o mundo interno de uma mulher que se
autocontempla no espelho e dialoga com a outra faceta de seu próprio eu. É uma interlocução entre o discurso do Eu e a da Outra (parte dela mesma, já que a Outra é o seu duplo). Ela se olha no
espelho e conversa com esta outra face de si mesma. Olhar-se no espelho
consistiu para ela em executar uma viagem introspectiva, na tentativa de
encontrar, nesta mirada, um sentido para sua própria vida.
A personagem recorre à memória e,
neste processo interiorizado, o livro corporifica um enfoque
psicanalítico. Ainda que exista a especificação do espaço físico (cidade de
Salvador, especialmente bairros do Rio Vermelho e da Vitória), a preponderância
é o do ambiente psicológico. E, por
isso,o texto ganha caráter universal.
Todas as mulheres também se veem
nas descrições daquela mulher em
frente do espelho. À medida que a
história vai-se desenrolando, a personagem demonstra a sua
submissão ao masculino, e o romance desvela as frustrações, desejos
sopitados, mas também as sutilezas da alma da mulher. Por fim, o espelho se quebra e a mulher se
liberta das pressões sociais, sendo o final
do livro apoteótico. Inesperado!!! pelo
desenvolvimento da ficção de Helena, dotada de grande inventividade e força
poética.
Porém, prezado leitor deste blog,
não vou contar o desfecho da
trama. Deixo a você o impacto da surpresa.
Vale a pena ler o livro que escolhi para ser o
homenageado do mês de dezembro pelo
nosso Blog Cultural. Assim, você,
se ainda não conhece a produção
literária da autora, descobrirá a grande força da sua escrita, uma vez que Helena Parente Cunha
é, sem qualquer dúvida, uma das vozes mais expressivas da literatura brasileira
da atualidade.
Alberto Araújo,
jornalista,
diretor deste Blog
***
Mulher no espelho, pág. 301.
Eu.
EU. Convergência esmagadora. Os espelhos reluzem insuportáveis. Gelados. Olho mais do que olho. Olho no olho. Fundamento. Eu escrevo o que escrevo. EU.
Lá fora, os relâmpagos descarregam seus clarões. Os trovões repentinos reagem ensurdecedores. Os espelhos se desenvolvem. A tempestade. Os espelhos abertos. A janela aberta. Um raio rápido e súbito risca o céu escuro. Os espelhos caem estilhaçados. No chão, pedaços d espelho molhados de sangue. Molhados de água da chuva. Uma breve chama se alteia. Olho um rosto inteiro num pedaço de espelho. Um rosto só. Não identifico o cheiro que o vento traz. Meu rosto. Inteiro. Sou EU. O vento vem da tempestade muita. O vento. E se faz brando.
...
Nota: A professora Dalma Nascimento, no livro Antígonas da Modernidade (Performances femininas na vida real ou
ficção literária), Tempo Brasileiro, 2013, da pág. 53 à 70, escreveu um
longo capítulo sobre Mulher no espelho, de Helena Parente Cunha.
Helena Parente Cunha - escritora
Helena Parente Cunha nasceu em Salvador (BA), poeta, ficcionista,
tradutora, professora universitária, pesquisadora, ensaísta e crítica
literária.
A primeira infância, vivida no bairro do Rio Vermelho, deixou marcas
que influenciaram a personalidade e a obra da escritora. Os estudos, iniciados
em Salvador, prosseguiram no Ginásio Mineiro de Barbacena e no Colégio
Bittencourt Silva, em Niterói. Uma vez mais acompanhando a família, retornou a
Salvador, onde fez o curso de Letras Neolatinas na antiga Faculdade de
Filosofia da Universidade Federal da Bahia, concluído em 1952.
Obteve em 1954 uma Bolsa de Estudos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior) para se especializar em Língua, Literatura e Cultura Italiana em Perúgia, Itália, tendo aí recebido seu primeiro prêmio literário, entre concorrentes de mais de vinte países.
Obteve em 1954 uma Bolsa de Estudos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior) para se especializar em Língua, Literatura e Cultura Italiana em Perúgia, Itália, tendo aí recebido seu primeiro prêmio literário, entre concorrentes de mais de vinte países.
Iniciou a vida profissional no magistério, ensinando italiano na
Faculdade onde se graduou, e francês no Colégio Estadual da Bahia.
Ao se casar, em 1958, mudou-se para o Rio de Janeiro e aí fixou
residência. Nos anos 60 dedicou-se à tradução de livros, ganhou o 1º lugar em
concurso de poesia da Secretaria de Educação e Cultura do Estado e fez as
primeiras publicações de poesia e ensaio em antologia e suplementos literários.
Em 1968, ingressou para a recém--fundada
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a convite do
Professor Eduardo Portella, a fim de participar da sua equipe de estudos e
trabalho.
Hoje é Professora Titular de Teoria da Literatura e, na sua
Universidade, alcançou os títulos de Mestrado, Doutorado, Livre-Docência,
Pós-Doutorado. Entre os cargos administrativos que ocupou, destaca-se o de
Diretora da Faculdade de Letras, além de Diretora Adjunta de Pós-Graduação.
Livros publicados:
APOIO CULTURAL
CLICAR NA IMAGEM
PARA OUVIR O FUNDO MUSICAL
Confesso não conhecer a obra da Helena. Vou adquirir o livro o mais breve possível.
ResponderExcluirUm abraço.
Belvedere