terça-feira, 2 de dezembro de 2014

MULHER NO ESPELHO DA ESCRITORA HELENA PARENTE CUNHA É O LIVRO RECOMENDADO NO MÊS DE DEZEMBRO NA VITRINE DO FOCUS.

A Vitrine do Focus Portal Cultural recomenda o livro Mulher no espelho da escritora Helena Parente Cunha, obra em sua 10º edição/2013.  A 1ª edição foi publicada em 1985 e  conquistou o importante  Prêmio Cruz e Souza pela Fundação Catarinense de Cultura.






E vou começar a minha estória. Agora,
na superposição de meus rostos,
em convergência de datas.
Aqui no cruzamento de meu corpo com
o espaço de minhas imagens.
Tenho o que dizer, pois vou dizer-me a mim mesma,
mas, como qualquer pessoa que se põe diante
da memória ou dos espelhos.


   Mulher no espelho,
Helena Parente Cunha,
página 31 
                                                          Editora Mulheres, 10º edição/2013.





Capa do livro Mulher no espelho 
10ª edição/2013
da escritora Helena Parente Cunha


Mulher no espelho, de forma instigante, traduz  o mundo interno de uma mulher que se autocontempla no espelho e dialoga com a outra faceta de seu próprio eu.  É uma interlocução entre o discurso do Eu e a da Outra (parte dela mesma, já que a Outra é o seu duplo). Ela se olha no espelho e conversa com esta outra face de si mesma. Olhar-se no espelho consistiu para ela em executar uma viagem introspectiva, na tentativa de encontrar, nesta mirada, um sentido para sua própria vida.

A personagem recorre à memória e,  neste processo interiorizado, o livro corporifica um enfoque psicanalítico. Ainda que exista a especificação do espaço físico (cidade de Salvador, especialmente bairros do Rio Vermelho e da Vitória), a preponderância é o do ambiente psicológico.   E, por isso,o texto ganha caráter universal.

Todas as mulheres também se veem  nas  descrições daquela mulher em frente do espelho.  À medida que a história vai-se desenrolando, a personagem demonstra  a  sua submissão  ao masculino, e o  romance desvela as frustrações, desejos sopitados, mas também as sutilezas da alma da mulher.  Por fim, o espelho se quebra e a mulher se liberta das pressões sociais, sendo o final  do livro apoteótico. Inesperado!!! pelo desenvolvimento da ficção de Helena, dotada de grande inventividade e força poética.

Porém, prezado leitor deste blog,   não vou  contar o desfecho da trama. Deixo a você o impacto da surpresa.

Vale a pena  ler o livro que escolhi para ser o homenageado do mês de dezembro pelo  nosso  Blog Cultural. Assim, você, se ainda não conhece  a produção literária da autora,  descobrirá  a grande força da  sua escrita, uma vez que Helena Parente Cunha é, sem qualquer dúvida, uma das vozes mais expressivas da literatura brasileira da atualidade.


  Alberto Araújo,
      jornalista, 
diretor deste Blog      


***
Mulher no espelho, pág. 301.

Eu.
EU. Convergência esmagadora. Os espelhos reluzem insuportáveis. Gelados. Olho mais do que olho. Olho no olho. Fundamento. Eu escrevo o que escrevo. EU.

Lá fora, os relâmpagos descarregam seus clarões. Os trovões repentinos reagem ensurdecedores. Os espelhos se desenvolvem. A tempestade. Os espelhos abertos. A janela aberta. Um raio rápido e súbito risca o céu escuro. Os espelhos caem estilhaçados. No chão, pedaços d espelho molhados de sangue. Molhados de água da chuva. Uma breve chama se alteia. Olho um rosto inteiro num pedaço de espelho. Um rosto só. Não identifico o cheiro que o vento traz. Meu rosto. Inteiro. Sou EU. O vento vem da tempestade muita. O vento. E se faz brando.


...




Nota: A professora Dalma Nascimento, no livro Antígonas da Modernidade (Performances femininas na vida real ou ficção literária), Tempo Brasileiro, 2013, da pág. 53 à 70, escreveu um longo capítulo sobre Mulher no espelho, de Helena Parente Cunha.


Helena Parente Cunha - escritora



Helena Parente Cunha nasceu em Salvador (BA), poeta, ficcionista, tradutora, professora universitária, pesquisadora, ensaísta e crítica literária.

A primeira infância, vivida no bairro do Rio Vermelho, deixou marcas que influenciaram a personalidade e a obra da escritora. Os estudos, iniciados em Salvador, prosseguiram no Ginásio Mineiro de Barbacena e no Colégio Bittencourt Silva, em Niterói. Uma vez mais acompanhando a família, retornou a Salvador, onde fez o curso de Letras Neolatinas na antiga Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, concluído em 1952. 

Obteve em 1954 uma Bolsa de Estudos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior) para se especializar em Língua, Literatura e Cultura Italiana em Perúgia, Itália, tendo aí recebido seu primeiro prêmio literário, entre concorrentes de mais de vinte países.

Iniciou a vida profissional no magistério, ensinando italiano na Faculdade onde se graduou, e francês no Colégio Estadual da Bahia.

Ao se casar, em 1958, mudou-se para o Rio de Janeiro e aí fixou residência. Nos anos 60 dedicou-se à tradução de livros, ganhou o 1º lugar em concurso de poesia da Secretaria de Educação e Cultura do Estado e fez as primeiras publicações de poesia e ensaio em antologia e suplementos literários. Em 1968, ingressou para a   recém--fundada Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a convite do Professor Eduardo Portella, a fim de participar da sua equipe de estudos e trabalho.


Hoje é Professora Titular de Teoria da Literatura e, na sua Universidade, alcançou os títulos de Mestrado, Doutorado, Livre-Docência, Pós-Doutorado. Entre os cargos administrativos que ocupou, destaca-se o de Diretora da Faculdade de Letras, além de Diretora Adjunta de Pós-Graduação.

Livros publicados:














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Um comentário:

  1. Confesso não conhecer a obra da Helena. Vou adquirir o livro o mais breve possível.
    Um abraço.
    Belvedere

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