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Carmina Burana é o nome dado a um manuscrito
de 254 poemas e textos dramáticos dos século XI e XII, a maioria, embora alguns
sejam do século XIII.
As peças são em sua maioria picantes,
irreverentes e satíricas e foram escritas principalmente em latim medieval,
algumas partes em médio-alto-alemão e alguns com traços de Francês antigo ou
provençal. Há também partes macarrônicas, uma mistura de latim vernáculo,
alemão ou francês.
Os manuscritos refletem um movimento europeu
"internacional", com canções originária de Occitânia, França,
Inglaterra, Escócia, Aragão, Castela e do Sacro Império.
Vinte e quatro poemas dos Carmina Burana foram
musicalizados por Carl Orff em 1936; a composição de Orff rapidamente se tornou
popular, o movimento de abertura e de fecho "O Fortuna", tem sido
utilizada em filmes e eventos se tornando a peça clássica mais ouvida desde que
foi gravada.
Entre dezenas de gravações, uma das mais
recentes é da London Symphony Orchestra, dirigida por Richard Hickox, com solos
de Laura Claycomb e Barry Banks, e lançada pela Chandos em outubro de 2008.
A CANTATA DE ORFF - 1936
O compositor alemão Carl Orff musicou alguns
dos Carmina Burana, compondo uma cantata homônima. Com o subtítulo
"Cantiones profanae cantoribus et choris cantandae", a obra, por suas
características, pode ser definida também como uma "cantata cênica".
Estreou em junho de 1937, em Frankfurt e faz parte da trilogia
"Trionfi" que Orff compôs em diferentes períodos, e que compreende os
"Catulli carmina" (1943) e o "Trionfo di Afrodite" (1952).
A cantata é emoldurada por um símbolo da
Antiguidade — a roda da fortuna, eternamente girando, trazendo alternadamente
boa e má sorte. É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança, mas
não apresenta uma trama precisa.
Orff optou por compor uma música inteiramente
nova, embora no manuscrito original existissem alguns traços musicais para
alguns trechos. Requer três solistas (uma soprano, um tenor e um barítono),
dois coros (um dos quais de vozes brancas), pantomimos, bailarinos e uma grande
orquestra (Orff compôs também uma segunda versão, na qual a orquestra é substituída
por dois pianos e percussão).
A obra é estruturada em prólogo e duas partes.
No prólogo há uma invocação à deusa Fortuna na qual desfilam vários personagens
emblemáticos dos vários destinos individuais. Na primeira parte se celebra o
encontro do Homem com a Natureza, particularmente o despertar da primavera -
"Veris laeta facies" ou a
alegria da primavera. Na segunda, "In
taberna", preponderam os cantos goliardescos que celebram as
maravilhas do vinho e do amor(“Amor volat
undique”), culminando com o coro de glorificação da bela jovem ("Ave, formosissima"). No final,
repete-se o coro de invocação à Fortuna ("O Fortuna, velut luna”).
O códice encontrado em Benediktbeuern continha
poemas dos monges e eruditos errantes — os goliardos —, quase todos escritos em
latim medieval, exceto 47 versos, escritos em médio-alto-alemão vernacular e
vestígios de frâncico. Um estudioso de dialetos, Johann Andreas Schmeller,
publicou a coleção em 1847, dando-lhe o título de “Carmina Burana”, que, em latim, significa “Canções de Benediktbeuern”.
Acredita-se que todos os poemas fossem
destinados ao canto mas os copistas responsáveis pelo manuscrito, nele não
indicaram a música de todos os carmes, de modo que só foi possível reconstruir
o andamento melódico de 47 deles. O códex é subdividido em seis partes:
-Carmina
moralia et satirica (1-55), de caráter satírico e moral;
-Carmina
veris et amoris (56-186), cantos primaveris e de amor;
-Carmina
lusorum et potatorum (187-228), cantos orgiásticos e festivos;
-Carmina
divina, de conteúdo moralístico-sacro (parte que provavelmente foi
adicionada já no início do século XIV).
-Ludi,
jogos religiosos.
-Supplementum,
suplemento com diferentes versões dos carmina.
Os textos são muito diferentes
entre si e mostram a diversidade da produção goliardesca. Se, de um lado, há os
conhecidos hinos orgiásticos, as canções de amor de alto conteúdo erótico e as
paródias blasfemas da liturgia, de outro emergem a recusa moralística da
riqueza e a veemente condenação à Cúria Romana, por ser voltada apenas à busca
do poder. Assim diz o carme n°. 10:
A morte agora reina sobre os
prelados que não querem administrar os sacramentos sem obter recompensas (...)
São ladrões, não apóstolos, e destroem a lei do Senhor.
E o carme n°. 11:
Sobre a terra nestes tempos, o
dinheiro é rei absoluto (...) A venal cúria papal é cada vez mais ávida dele.
Ele impera nas celas dos abades e a multidão de priores, com as suas capas
negras, só a ele louva.
Os versos mostram que os
chamados clerici vagantes não se dedicavam somente ao vício, mas que se
inseriam entre os adversários do crescente mundanismo da Igreja e da
conformação monárquica do Papado, ao mesmo tempo que defendiam uma ideologia
progressista, distante da clausura da vida monástica.
Além disso, a variedade de
conteúdos do manuscrito é também indiscutivelmente atribuída ao fato de que os
vários carmina tenham autores diferentes, cada um com seu próprio caráter, as
próprias inclinações e provavelmente a própria ideologia, não se tratando de um
movimento cultural literário compacto e homogêneo no sentido moderno do termo.
Os textos originais são
entremeados por notas morais e didáticas, como se usava no primeiro Medievo, e
a variedade dos assuntos - especialmente de natureza religiosa e amorosa, mas
também profana e licenciosa - e de línguas adotadas, expressa o estilo de vida
e o pensamento dos autores, os clerici vagantes ou goliardos, que costumavam
deslocar-se pelas várias universidades europeias nascentes, assimilando-lhes o
espírito mais concreto e terreno.
O
FORTUNA, IMPERATRIX MUNDI
Em
latim
Em
português
O
Fortuna,
Ó
Sorte,
Velut Luna
És como
a Lua
Statu
variabilis,
Mutável,
Semper
crescis
Sempre
aumentas
Aut
decrescis;
Ou
diminuis;
Vita
detestabilis
A
detestável vida
Nunc
obdurat
Ora
oprime
Et tunc
curat
E ora
cura
Ludo
mentis aciem,
Para
brincar com a mente;
Egestatem,
Miséria,
Potestatem
Poder,
Dissolvit ut glaciem.
Ela os
funde como gelo.
Sors
immanis
Sorte
imensa
Et
inanis,
E
vazia,
Rota tu
volubilis
Tu,
roda volúvel
Status
malus,
És má,
Vana
salus
Vã é a
felicidade
Semper
dissolubilis,
Sempre
dissolúvel,
Obumbrata
Nebulosa
Et
velata
E
velada
Michi
quoque niteris;
Também
a mim contagias;
Nunc
per ludum
Agora
por brincadeira
Dorsum
nudum
O dorso
nu
Fero
tui sceleris.
Entrego
à tua perversidade.
Sors
salutis
A sorte
na saúde
Et
virtutis
E
virtude
Michi nunc contraria
Agora
me é contrária.
Est
affectus
Dá
Et
defectus
E tira
Semper in angaria.
Mantendo
sempre escravizado
Hac in
hora
Nesta
hora
Sine mora
Sem
demora
Corde
pulsum tangite;
Tange a
corda vibrante;
Quod
per sortem
Porque
a sorte
Sternit
fortem,
Abate o
forte,
Mecum omnes plangite!
Chorai
todos comigo!
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