sexta-feira, 9 de julho de 2021

IVAN JUNQUEIRA (IN MEMORIAM) É HOMENAGEADO PELO FOCUS PORTAL CULTURAL ATRAVÉS DE SUA POESIA PRÓLOGO

 




 

IVAN JUNQUEIRA (IN MEMORIAM) É HOMENAGEADO PELO FOCUS PORTAL CULTURAL ATRAVÉS DE SUA POESIA PRÓLOGO. Ensaísta de nossa admiração, acabamos de reler o seu livro "O FIO DE DÉDALO". Magnífica obra que cada vez nos encanta. Indico a todos os leitores o suntuoso livro.

 

IVAN JUNQUEIRA – PRÓLOGO

 

 

Eu sou apenas um poeta

a quem Deus deu voz e verso.

Na infância, quando fui relva,

sentia os pés dos efebos

a calcar-me as frágeis vértebras

e colhia das donzelas

o frêmito que, venéreo,

era um augúrio da queda.

Depois, quando fui cipreste,

vi como o vento, em seus dédalos,

cingia-me a áspera testa

e tangia-me as ideias

que nos ramos, vãs quimeras,

pousavam como uma névoa,

úmidas ainda das trevas

e do abismo de que vieram.

Quando fui córrego, as pedras

me ensinaram que o critério

do que em tudo permanece

nunca está nelas, inertes,

mas nas águas que se mexem

com vário e distinto aspecto,

de modo que não repetem

o que antes foi (e era breve).

Quando enfim galguei o vértice

de alguém que eu mesmo não era,

compreendi que esse processo

de sermos outros (e até

termos em nós outro sexo)

nada em si tinha de inédito:

já se lia no evangelho

de um deus ambíguo e pretérito.

E assim fui sendo esse leque

de coisas fluidas e inquietas,

jamais levianas, bem certo,

mas antes, em seu trajeto,

vertentes as mais diversas

de uma só e única célula:

a da matriz que não é

senão seu próprio reverso.

Espelho de meus espectros,

urna de engodo e miséria,

alma sôfrega e sem tréguas,

osso escasso no deserto

onde jejua um profeta,

solidão, infâmia e tédio

— eu sou apenas um poeta

a quem Deus deu voz e verso.

 

Ivan Junqueira, O outro lado.

 

 

UM POUCO SOBRE IVAN JUNQUEIRA

 

Sexto ocupante da Cadeira nº 37, eleito em 30 de março de 2000, na sucessão de João Cabral de Melo Neto e recebido em 7 de julho de 2000 pelo Acadêmico Eduardo Portella. Recebeu o Acadêmico Antonio Carlos Secchin. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2004 e 2005. Faleceu no dia 3 de julho de 2014, no Rio de Janeiro, aos 79 anos.

 

Ivan Junqueira nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 3 de novembro de 1934. Aqui realizou seus primeiros estudos, ingressando em seguida nas faculdades de Medicina e de Filosofia da Universidade do Brasil, cujos cursos, porém, não chegou a concluir. Iniciou-se no jornalismo em 1963, como redator da Tribuna da Imprensa, tendo atuado depois no Correio da Manhã, Jornal do Brasil e O Globo, nos quais foi redator e subeditor até 1987. Assessor de imprensa e depois diretor do Centro de Informações das Nações Unidas no Rio de Janeiro entre 1970 e 1977, tornou-se mais tarde supervisor editorial da Editora Expressão e Cultura e diretor do Núcleo Editorial da UERJ, além de colaborador da Enciclopédia Barsa, Encyclopaedia Britannica, Enciclopédia Delta Larousse, Enciclopédia do Século XX, Enciclopédia Mirador Internacional e Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, este último editado pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas. Foi também assessor de Rubem Fonseca na Fundação Rio.

 

Como crítico literário e ensaísta colaborou em todos os grandes jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, bem como em publicações especializadas nacionais e estrangeiras, entre elas Colóquio Letras, Revista do Brasil, Senhor, Leitura e Iberomania. Em 1984 foi escolhido como a “Personalidade do Ano” pela UBE. Assessor da Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen) de 1987 a 1990, no ano seguinte transferiu-se para a Fundação Nacional de Arte (Funarte), onde foi editor da revista Piracema e chefe da Divisão de Texto da Coordenação de Edições, tendo se aposentado do serviço público em 1997. Foi ainda editor adjunto e depois editor executivo da revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional (1993-2002).

 

Conferencista, realizou palestras no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Manaus, São Luís, Brasília, Recife, Porto Alegre, Passo Fundo, Florianópolis, Petrópolis, Buenos Aires, Santiago do Chile, Santiago de Compostela, Madri Roma, Póvoa de Varzim e Lisboa, onde, em 1994, abriu o Projeto Camões, patrocinado pelo Instituto Camões e a Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, ocasião em que ministrou, na Biblioteca Nacional da capital portuguesa, o curso “A Rainha Arcaica: uma interpretação mítico-metafórica”, além de realizar recitais de poesia na Casa de Fernando Pessoa e no Palácio da Fronteira. No ano seguinte voltou a participar do Projeto Camões, tendo proferido conferências em Coimbra, Porto, Vila Real, Lisboa e Ponte de Sor. De 1995 a 1997 tomou parte no Projeto Ponte Poética Rio-São Paulo, de que constavam leituras comentadas de poemas de sua autoria e palestras. Ainda em 1995 recebeu da UFRJ, por unanimidade de votos, o diploma de “Notório Saber”, tendo ali participado também do ciclo de palestras “Os Poetas”. De 1996 a 1997 participou, como poeta e ensaísta, das “Rodas de Leitura” do CCBB e organizou, naquele último ano, com Moacyr Félix e Leonardo Fróes, as “Quintas de Poesia”, sob o patrocínio da Funarte. Em 1998 foi curador do Programa de Coedições da Fundação Biblioteca Nacional, que possibilitou a publicação de 35 títulos de autores das regiões Norte, Nordeste e Sudeste, onde, entre 2000 e 2003, realizou diversas conferências. Foi Tesoureiro (2001), Secretário-Geral (2002-2003 e 2008-2009) e Presidente da ABL (2004-2005).

 

Membro titular do PEN Club do Brasil e da Academia Brasileira de Filosofia. Foi sócio do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro e do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, além de sócio de honra da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, membro do Conselho Estadual de Cultura e Grande Benemérito do Real Gabinete Português de Leitura. Recebeu vários prêmios literários: Prêmio Nacional de Poesia, do INL (1981); Prêmio Assis Chateaubriand, da ABL (1985); Prêmio Nacional de Ensaísmo Literário, do INL (1985); Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (1991); Prêmio da Biblioteca Nacional (1992); Prêmio José Sarney de poesia inédita, do Memorial José Sarney (1994); Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1995, 2005, 2008 e 2010); Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do PEN Club do Brasil (1995); Prêmio Oliveira Lima, da UBE (1999); Prêmio Jorge de Lima, da UBE (2000); e Troféu Aimberê (Personalidade Intelectual do Ano), do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro (2004); Prêmio Categoria Internacional da UBE (2006).  Em 1998 recebeu a Medalha Cruz e Souza, da municipalidade de Florianópolis, e, em 1999, a Medalha Paul Claudel, da UBE. Em 2002 foi o patrono do IV Concurso Nacional de Poesia Viva, patrocinado pelo jornal Poesia Viva. Recebeu ainda, em 2005, a Medalha Manuel Bandeira, da UBE (Seção de Pernambuco). Menção Honrosa do Prêmio Alceu Amoroso Lima (2010).

 

Em 23 de junho de 2005 participou em Paris da sessão conjunta da Academia Brasileira de Letras e da Académie Française, ocasião em que lhe foi concedida a Medalha de Richelieu, a mais alta condecoração daquela instituição. Representou o Brasil no Festival Mundial de Poesia, realizado em Santiago do Chile entre 18 e 24 de outubro de 2005. Ainda neste último ano, foram-lhe outorgados a Medalha do Pacificador Sergio Vieira de Mello, do Parlamento Mundial para a Segurança e a Paz, e o Colar do Mérito Judiciário, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

 

Em 2006 e 2009 participou do Colóquio Internacional Correntes d’Escrita, em Póvoa de Varzim, Portugal. Em 2007 foi conferencista na Feira do Livro de Santiago do Chile e jurado do Prêmio Casa de Las Américas, em Havana, Cuba. Em 2010 participou do encontro anual entre a ABL e a Academia de Ciências de Lisboa, ocasião em que proferiu a conferência “Gilberto Freire e o colonizador português”.

 

Sua poesia já foi traduzida para o espanhol, alemão, francês, inglês, italiano, dinamarquês, russo e chinês.

 

 

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