PREZADOS FOCULISTAS, TRAZEMOS HOJE PARA NOSSO
COSTUMEIRO ENCONTRO INTELECTUAL A INDICAÇÃO DO LIVRO SELECIONADO
PARA PERMANECER DURANTE ESTE MÊS DE FEVEREIRO NA VITRINE
NO FOCUS PORTAL CULTURAL.
Trata-se da obra LEMBRANÇAS DE ESCRITAS, do médico-escritor NORBERTO
SERÓDIO BOECHAT. São vinte e um contos
e mais uma pequena peça teatral, em que
o autor, extraordinário memorialista, narra fragmentos de sua vida com
sensibilidade e emoção.
Publicado pela Editora Parthenon Centro de Arte e Cultura, o livro tem
na capa uma paisagem com um expressivo casarão pintado por Veronica Debellian
Accetta, já anunciando o conteúdo
memorialista do livro. O prefácio é de Dalma Nascimento, a parte de trás traz
palavras de Eliana Bueno-Ribeiro e as "orelhas, comentários de Olívia Barradas. Todas as três são doutoras-professoras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialistas na área literária.
O título LEMBRANÇAS DE
ESCRITAS é bem sugestivo, segundo
explica Dalma Nascimento. Ele se abre à
possibilidade de duas interpretações num belo jogo poético e imaginativo do autor. São mesmo "lembranças de escritas descritas" na
pena literária do Dr. Boechat, ao recordar, em grande parte,
momentos da sua infância passada em
Pirapetinga, vilarejo do noroeste fluminense
do município de Bom Jesus de Itabapoana.
Os leitores de nosso BLOG já
tiveram oportunidade de ter uma prévia desta obra extraordinária de Norberto Seródio Boechat,
através do conto "A eterna
ausente", publicado neste nosso veículo eletrônico em 07 de novembro de 2014, no blog ALBERTO
ARAÚJO & AMIGOS – siga o link:
Quem não se lembra deste sentimental relato?
Aí, o autor sente saudade de uma
garotinha, sua primeira namorada nunca
tocada e perdida no seu distante passado de menino.
Foi um texto muito comentado e elogiado pelos amigos deste Blog.
Existem no livro mensagens sentimentais como a acima citada, porém, outras
brincalhonas, reflexivas e psicológicas. Narram fatos mais leves e até
folclóricos do dia a dia de
indivíduos da roça, que Dr. Boechat
descreve com segurança e
naturalidade, que a todos encanta. Um deles é o "O espírito e o soco inglês"; outro, é a
confusão de "A
mudança". Há ainda o "Oi, Seu
Outeiro", além de "O lacre e a noite", crítica aos problemas da
civilização.
Agora, o leitor poderá apreciar outros momentos relevantes destas LEMBRANÇAS DE ESCRITAS, compostas por
este médico-escritor, que antes publicou três obras que são: ME DÊ A MÃO,
crônicas sobre envelhecimento, idosos e asilos, narrando sua vivência de
geriatra; MEMÓRIAS NATALINAS: o espírito
do Natal em oito contos, e o romance
ESTRADAS, uma empolgante estória
ficcionalizada sobre um estranho assassinato em sua região.
Mais uma vez, nosso Blog aplaude a narrativa esplêndida do Dr. Boechat, transcreve
parte das explicações de Dalma Nascimento sobre LEMBRANÇAS DE ESCRITAS,
obra que enfeita a vitrine do FOCUS PORTAL CULTURAL que há 4 anos vem reconhecidamente sendo um
difusor dos empreendimentos intelectuais de personalidades fluminenses.
Alberto Araújo,
editor do Focus.
Eis agora fragmentos de alguns trechos do prefácio de Dalma
Nascimento de LEMBRANÇAS DE
ESCRITAS, em que o tema de cada
capítulo é sintetizado para o leitor perceber detalhes significativos do livro:
"Abre-se a obra com "A eterna
ausente", intertextualizando-se com o soneto de Baudelaire "À une passante"[...] Com ecos e
ressonâncias baudelairianos,[...] Boechat construiu um quadro de vigorosa
singeleza sobre a menina da infância, eternizada nas curvas do caminho. No
mesmo tom de lembranças, tem-se "A grandeza da velha árvore", cujos
galhos ainda agasalham românticas saudades do menino de outrora, no homem de
agora.
Nos textos "Galáxias" e
"Sísifo da superação" surgem cenas de dois trabalhadores da fazenda
familiar, transformados em letras poéticas. Sem a fidalguia do mundo, eles
lembram heroicos sísifos a carregarem a pedra das dificuldades do dia a dia à
montanha da vida.
No conto "Na serra", o narrador
penetra nos momentos finais do pensamento de um rústico personagem em direção à
Serra, alegoria ascensional ao céu.
Já em "O denso segredo da cozinha",
Boechat disseca a inveja e o ciúme da sogra diante do fulgor da nora
recém-casada.
Porém, em "O menino dos moinhos",
relata o triunfo da invenção de um garoto interiorano, graças ao talento e a tenacidade nos estudos. Nas
reflexões de "Surpresa",
iluminam-se situações fazendeiras e, na escrita de "Retratos",
aflora o agudo olhar do médico, a "ler" também a "fala" dos moradores da casa nas fotografias das
paredes.
Outras reminiscências perpassam nos
transtornos de "A mudança", trazendo, contudo seu inesperado
final. No miniconto "Gessi", a
morte chega, na dança do amor, ao arfar a vida. E o que dizer da grotesca confusão bem primitiva do relato
de "O soco inglês"? No
pitoresco conto "OI, seu Outeiro", relativo ao velho consertador de
telefones, a inteligente visão do autor já se insinua na perspicaz montagem do
título da crônica.
No relato "surreal" de "O
lacre e a noite", Boechat, também leitor de obras universais, compara o
amor da sua Pirapetinga natal a cidades ficcionais: à Macondo de Garcia
Márques, à Comala de Juan Rulfo, à Manarairema de José J. Veiga, à Pasárgada de
Bandeira, à Itabira de Drummond, à Ilha do Nanja do conto de Cecília.
Pirapetinga é a caldeira efervescente de suas lembranças e fantasias, tanto que
ele até eterniza na escrita da crônica
"Imortal", a velha cozinheira que o alimentou no casarão.
Em "Palmatórias e Beethoven", o
Belo Musical fora apresentado ao menino Norberto nas ondas sonoras do
compositor, em meio ao medo da
palmatória da professora, que, contudo, lhe abriu os caminhos da grande Música.
Na escrita de "A cotia e o paradoxo", o já agora adulto pensador.
Dr. Boechat medita sobre questões ecológicas e denuncia os tentáculos
da civilização, destruindo os seres da natureza. Em "A grande dádiva" o olhar
psicológico do geriatra focaliza os
cuidadores dos velhos enfermos, nas
noites solitárias.
No texto "As águas", Hercílio, o
personagem que viera morar na cidade grande, às vésperas do Natal de um
anoitecer chuvoso de Copacabana, contempla uma poça d'água no asfalto. No fluxo das águas externas da natureza e
interiorana da memória – águas profundas, águas do inconsciente –, ele imerge
no passado e recorda quadros afetivos da sua infância na roça.
A filosófica peça teatral "De repente
vozes", com que LEMBRANÇAS DE
ESCRITAS se fecha, mereceu, pelas
qualidades expressionais e metafísicas, comentários especiais no
posfácio. Mas ainda, neste prefácio,
reafirmamos que estes minicontos e
crônicas de Norberto Seródio Boechat relatam recordações e questionamentos
humanos, "demasiadamente humanos".
As composições vão fluindo no rodamoinho do tempo do cântaro de Mnemósine, a deusa grega das recordações. E daí, o médico-escritor foi recolhendo memórias para compor estas LEMBRANÇAS DE ESCRITAS, onde pulsa a vida, mas também lateja o coração".
As composições vão fluindo no rodamoinho do tempo do cântaro de Mnemósine, a deusa grega das recordações. E daí, o médico-escritor foi recolhendo memórias para compor estas LEMBRANÇAS DE ESCRITAS, onde pulsa a vida, mas também lateja o coração".
Dalma Nascimento.
Prezado leitor, diante dos tópicos temáticos dos vinte e um
capítulos acima resumidos pela
professora Dalma Nascimento, vale
procurar esta primorosa obra e nela mergulhar.
Terá momentos de encantamento
e distração em meio à folia carnavalesca que já nos bate à porta.
Se o leitor já tiver lido em nosso Blog a crônica "A eterna ausente", delicie-se, relendo-a. Caso contrário, leia-a logo. Ela tocará seu coração.
Se o leitor já tiver lido em nosso Blog a crônica "A eterna ausente", delicie-se, relendo-a. Caso contrário, leia-a logo. Ela tocará seu coração.
A ETERNA AUSENTE
Norberto
Seródio Boechat
Década de 50.
Oito anos.
Estrada Bom Jesus-Vargem Alegre.
Ao
voltarmos da cidade, lá estava a menina na cerca de sua casa, à espera.
Diminuíamos a velocidade para vê-la, infalível, pendurada no cercado do
quintal. Segurava-se com a mão direita e acenava a esquerda.
Loura e branquinha. Muito bonita. Impossível saber de onde vieram as
marcas arianas na garota pobre do barraco beirando a estrada. Não entendo,
também, por que em nenhum momento paramos, por que não correspondemos num gesto
o amor transmitido ao acenar. Creio que em seu reduzido universo, a busca do
momento a impregnava, tornando-a parte de outras vidas, das outras pessoas, do mundo que, então, se
desfilava na via solitária. Ansiava, talvez, por um afeto, um toque junto ao
coração.
É
provável que fosse filha única. Nunca vimos outra criança ao redor. O que teria
sido sua vida entre adultos? Que mundo encerraria o interior da cabana? Como os
pais estariam contribuindo para o crescimento do ser que fazia daquele instante
breve de nossa passagem a eleição de um acontecimento? Ao respondermos com as
mãos, ela sorria feliz. Passávamos e, ao olharmos para trás, ainda a víamos
acenando no meio da poeira deixada pelo jipe.
Hoje, passada tanta vida – e tão rapidamente −, pergunto-me, onde
estará? Casou-se? Teve filhos? Foi feliz? Tem um quintal cheio de netos?
Morreu? Indagações que no vácuo desse tempo consumido apertam a garganta,
deixam aberta a inútil expectativa de um vir a saber que não acontecerá... É a resposta que se espera, mas que jamais
virá...
Há muito a casa não existe mais. A estrada, asfaltada e, por isso mesmo,
inexpressiva de lembranças, é uma reta que matou velhas curvas do caminho. A
menina foi-se tal qual o pó, tal qual aquela nuvem de poeira que termina por
sobrepor-se às cercas, cobrindo-as de amarelão pálido, triste, aguardando que a
chuva venha e lave tudo.
Não
tenho dúvida: a garotinha foi a primeira mulher de minha vida. Tão absoluta que
decididamente inesquecível. Definitiva. Jamais a tive. Nunca paramos para que
eu me permitisse o contato de gente.
Assim, porque não a tive, sempre será indelével imagem, a eterna
ausente: mão movendo-se avidamente como a dizer, por que não parou? Passou e
não ficou para pacificar-me a vida.
Esta imagem simboliza a peça teatral
A PONTE e o RIO de Norberto Boechat,
alegorizando situações humanas.
Esta imagem simboliza o texto
IMORTAL,
de Norberto Boechat.
Esta imagem simboliza o texto
AS ÁGUAS,
de Norberto Boechat.
Esta imagem simboliza o texto
A GRANDEZA DA VELHA ÁRVORE,
de Norberto Boechat.
Esta imagem simboliza o texto
GESSI,
de Norberto Boechat.
Esta imagem simboliza o texto,
A GRANDE DÁDIVA de Norberto Boechat,
para Lucinha.
Um pouco sobre o autor
Norberto Seródio Boechat, além de escritor e homenageado, é também
médico geriatra e gerontólogo. Com
vários livros editados, todos seus textos têm conteúdos de emocionantes lições
de vida, memórias autobiográficas. São várias experiências profissionais
vivenciadas em mais de 30 anos no exercício da clínica.
Seus textos também transfiguram histórias
reais. Intelectual renomado em nossa
cidade, todos seus livros têm visões claras e compreensivas.
Para conhecer melhor seu trabalho literário, adquira
as obras do renomado escritor nas melhores livrarias da cidade. Veja a relação abaixo de alguns de seus
livros:
Me dê a mão (crônicas sobre envelhecimento,
idosos e asilos);
Memórias Natalinas ( O espírito do Natal
em oitos contos);
Estradas (romance);
Lembranças de Escritas (contos) (Editora
Parthenon).
FUNDO MUSICAL PARA ACOMPANHAR OS TEXTOS.
(CLICAR NA SETA NA IMAGEM).
LINK PARA ACESSAR AO CANAL YOU TUBE
EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Elenco: Christopher Reeve & Jane Seymour e outros.
Música: Somewhere in Time.
por Roger Williams (Google Play • iTunes).
por Roger Williams (Google Play • iTunes).
Artista - Roger Williams
Categoria
Ainda não li o livro do Sr. Norberto Seródio, mas o tom e o ritmo da "Eterna Ausente", a memória tão delicada, a escrita bem feita e o espaço de emoção subliminar deixado gentilmente para o leitor, são qualidades que me farão procurá-lo. O texto é amigo do leitor, talvez instintivamente, o que não diminui a qualidade do escritor, chama o leitor para um fato banal, mas faz isso com beleza, tornando a banalidade poesia, oferecendo uma bela visão e um bom pensamento. Isso é um bom texto. E o prefácio da Profª. Dalma é recomendação boa e certa.
ResponderExcluirParabéns ao escritor.
Carlos Rosa.
Obrigado! Prezado amigo Carlos Rosa.
ResponderExcluirPela sua brilhante participação.
Valeu muito amigo.
Abraços.
ALBERTO ARAÚJO
Editor
Grato pelo envio. Abç,
ResponderExcluirPRC
Ótimo blog e postagens..Que Deus e Nossa Senhora abençoem o seu trabalho, e que a cada dia possa ficar mais conhecido. Parabéns!Abraços
ResponderExcluirPrezado Alberto,
ResponderExcluirO vento da praça de Pirapetinga o inundará, e, como vem do espaço sideral,
erguerá ainda mais sua grande capacidade de mostrar o seu intelecto. Que seu coração seja tocado pela folha imortal que cai ao rio.
Muito me sensibilizou sua percepção e o entendimento de meus textos. Você conjugou as três artes: a palavra, a ilustração pictural e a música numa extraordinária montagem.
Grande abraço, Norberto.
Norberto Seródio Boechat.
Médico geriatra e escritor.
Prezado Alberto,
ResponderExcluirO vento da praça de Pirapetinga o inundará, e, como vem do espaço sideral,
erguerá ainda mais sua grande capacidade de mostrar o seu intelecto. Que seu coração seja tocado pela folha imortal que cai ao rio.
Muito me sensibilizou sua percepção e o entendimento de meus textos. Você conjugou as três artes: a palavra, a ilustração pictural e a música numa extraordinária montagem.
Grande abraço,
Norberto.
Norberto Seródio Boechat.
Médico geriatra e escritor.
Caro Alberto Araújo,
ResponderExcluircumpre-me cumprimentá-lo pela belíssima produção, em seu blog Focus Portal Cultural, do livro Lembranças de escritas, do Dr. Norberto Seródio Boechat.
Conforme vem demonstrando, seu trabalho ganha cada vez mais espaço no conceito dos que amam literatura.
Seu generoso coração nordestino divulga "Niterói para o mundo" nas páginas
on line das suas periódicas postagens.
Dalma Nascimento
Dalma Nascimento.
escritora e doutora em Literatura Comparada/UFRJ.
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