Nesta data 22 de novembro em que celebramos os 451 anos de Niterói, essa revista faz uma postagem especial. Homenagem ao escritor Gomes Filho, o intelectual que cognominou Niterói como “Cidade Sorriso”.
Eduardo Luiz Gomes Filho. Rememorando um ícone atemporal do universo cultural brasileiro. Nosso tributo é polir o legado deixado pelo escritor carioca.
Celebrando os 120 anos do nascimento do escritor e acadêmico Gomes Filho, Patrono da Cadeira nº 36, da Academia Niteroiense de Letras. Cadeira antes ocupada pela acadêmica Maria da Conceição Pires de Mello, Manita e atualmente, ocupada pela acadêmica Liane de Souza Arêas, empossada em 28 de agosto de 2013.
Há 120 anos nascia o escritor jornalista brasileiro Gomes Filho. Intelectual de produção intensa e gloriosa. Viveu, completamente, para a arte, prosperou e se tornou um líder. Quando partiu nos deixou, um legado imensurável, o qual continua a influenciar, alargar o horizonte de autores que incorporam em suas veias a literocultura brasileira. Na culminância, junto, ao seu legado cultural, conseguiu exibir a sua brasilidade, quando alcunhou a nossa metrópole de “Cidade Sorriso”, com a letra e a música de “Niterói, cidade sorriso”.
Gomes Filho foi compositor popular com mais de cem canções editadas e gravadas. Cunhou para Niterói o epíteto
Escritores e poetas continuam a se inspirar em sua arte literária e jornalística, assim recriando raízes culturais. Para sabermos sobre sua vida e obra, postamos as informações da acadêmica Liane Arêas, que escreveu em seu discurso acadêmico.
Eduardo Luiz Gomes Filho nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Vila Isabel, no dia 14 de janeiro de 1904. Foram seus pais, Eduardo Luiz Gomes e Zephyr Coutinho Gomes. Seu pai, homem de singular perfil empreendedor, aos 40 anos líder consagrado no comércio fluminense, fundador de várias Instituições importantes como o SESC e o SENAC, dedicou-se também à cultura, teve livro de poesia publicado, fundou a Casa Verdi, primeira casa de música em Niterói e trouxe para a cidade, sob sua inteira responsabilidade a 1ª Companhia de Óperas. Recebeu da Câmara Municipal o Título de Cidadão Niteroiense por seus inúmeros empreendimentos em prol desta cidade. Sua mãe, Srª Zephyr, foi a grande baluarte da família, o porto seguro, a coragem.
A exemplo de seu pai, Gomes Filho iniciou a vida profissional bem cedo. No matutino “O DIA”, aos 15 anos, ingressou no jornalismo do Rio de Janeiro. Cursou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro de 1920 a 1924.
Trabalhou interno no Hospital de São João Baptista e na Maternidade de Niterói. Apesar dos estudos e da vivência como interno em hospitais, a medicina não seria o caminho profissional escolhido. E, deixando-se levar por um chamamento interior, foi seguindo as pegadas de seu pai. Gomes Filho foi um homem de Comunicação, de negócios e de arte. Tinha um quê quixotesco, de levantar bandeiras, dar asas ao sentimento, comunicar-se, realizar. Marcou expressiva passagem pelo jornalismo. Aos 20 anos, tornou-se fundador-proprietário, Diretor e Redator-Chefe do jornal “Diário do Estado”, com oficinas próprias e redação à Rua da Conceição, 181. Era um jornal politizado, simpatizante da Revolução de 30, que teve oficina e redação danificadas, pelos reacionários do governo de Manoel Duarte.
Gomes Filho não se intimidou, continuou sua profissional jornada no “A Capital”, como Diretor-Secretário. Em Niterói, foi Redator dos periódicos “Diário da Manhã”, “A Tribuna” e “O Estado”; no “O Fluminense” e “Correio Fluminense”; das Revistas “Atualidade” e “Gaivota”. No Rio de Janeiro, nos jornais: “A Gazeta de Notícias” e no “Imparcial”; na Revista “Fon-Fon”, e “O Dia”.
Apesar de haver se radicado em Niterói, sua vida profissional foi rica e atuante em vários jornais e revistas cariocas. Ainda no Rio, trabalhou como locutor, produtor e diretor de programas na Rádio Mayrink Veiga; na Rádio Educadora do Brasil, com o “Jornal das Escolas” e, em muitas outras...
Pioneiro, em Niterói, fundou e dirigiu em 1935 a PRE6, Rádio Sociedade Fluminense, que marcou época por seu espírito de renovação da técnica de programação.
Eduardo Luiz Gomes Filho foi compositor popular com mais de cem canções editadas e gravadas. Cunhou para Niterói o epíteto “Cidade Sorriso”, com a letra e a música de “Niterói, cidade sorriso”.
Como escritor e poeta, publicou: “Ciclo do Sol Nascente”, aos 22 anos, lançado em 1926, em tiragem de 3.000 exemplares. Depois veio: Espírito do Brasil Novo, estudo de Sociologia e Política-1932. A seguir, “A Alegria dos que não veem”, Capa ilustrada pelo amigo Luís Antônio Pimentel, em 1934.
Gomes Filho escreveu ensaios, dentre eles: Cartilha do Amor-Humano disciplina da solidariedade; O sentido social da Educação; Panorama Fluminense. Proferiu Conferências e Discursos acadêmicos, a exemplo, “O irmão eterno de Endymião”, elogio a Olavo Bastos, no Cenáculo Fluminense de História e Letras, em 1933.
Sua obra se diversifica entre poesias, ensaios, novelas, teatro, crônicas, artigos, composições musicais, editadas e gravadas com sucesso, na voz dos famosos de seu tempo.
Poeta integrou à lendária Roda do Café Paris com Lili Leitão, Lourenço de Araújo, Brasil dos Reis e outros companheiros sempre lembrados em seus escritos. Elaborou textos sobre sua experiência na medicina e, a tese de doutorado: “Da Physio-pathologia da Emoção”. Registram-se três livros de poesia no prelo: “Rosário de Mãe-Vida”, “Imitação de Cristo” e “O poeta menino”. Entre tantos, é importante registrar o poema “Mascarada” que mereceu prefácio antológico de Menotti Del Picchia, disse o poeta paulistano:
“Vou oficiar minha missa de réquiem neste altar parnasiano. Gomes Filho – moço, grande poeta do velho rito ornamentou com rara pompa, cegante luzes, seu altar lírico. Poucos poetas passadistas escreveriam a “Mascarada”. Obra magistral de Artista e de artífice, ...” e segue analisando poema e poeta, com o entusiasmo e a eloquência de quem encontrou algo realmente original, criativo, inteligente. Assinando, datou: São Paulo, Dezembro de 1925.
Em “Dança das Cadeiras”, Wanderlino Teixeira Leite Netto registra: “Gomes Filho, que estivera em São Paulo e de lá trouxera o seu livro Mascarada, prefaciado por Menotti Del Picchia, reuniu o grupo no Café e Restaurante Suíço, na Rua da Conceição,... e então desfraldou a bandeira do modernismo em nossos meios literários”.
Pode-se dizer que Gomes Filho soube explorar cada possibilidade de seu intelecto, cultivou múltiplos valores... Fez jornalismo, medicina, literatura, música, comércio, lecionou em vários Colégios Secundários de Niterói e do Rio, ocupou cargos públicos... Em 1932, fundou e dirigiu, em Niterói, o “Instituto de Humanidades”, mais tarde “Ginásio José Clemente”, hoje, Instituto Gay Lussac.
Recebeu inúmeras condecorações de Órgãos Oficias do Governo e de Instituições Culturais, registradas em jornais e periódicos de Niterói e do Rio, por sua dinâmica intelectual e realizadora,... Esbanjou vida, disse Lyad de Almeida. Foi Diretor-Geral do SENAC; Superintendente-Geral da Federação do Comércio Varejista do Estado do Rio de Janeiro, fundada por seu pai e onde juntos, trabalharam; Secretário do Conselho Regional do SESC e integrou o Conselho de Cultura do antigo estado do Rio de Janeiro.
Pertenceu à Associação Fluminense de Jornalistas, Associação Brasileira de Escritores, Academia Campista de Letras, além da Academia Niteroiense de Letras. Exercia o cargo de Cobrador da Dívida Ativa do Estado do Rio de Janeiro, ao falecer em Niterói, no dia 23 de julho de 1970.
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Em página solta da Revista da Sociedade Brasileira de Autores Compositores e Escritores de Música, lê-se: Registramos, com enorme pesar, o falecimento de nosso estimado companheiro e sócio efetivo, Eduardo Luiz Gomes Filho, ocorrido às 3 horas da madrugada de 23 de julho deste ano. Horas antes do seu desenlace, esteve em casa do amigo Agripino Grieco, conversando animadamente. Nosso saudoso companheiro desaparece aos 66 anos de idade e deixa viúva a Sra. Alaíde Gomes Filho e mais os filhos Maria Andyara, Maria Jussara, Jorge Ubirajara, Maria Clara e Maria de Lourdes. A Entidade fez-se representar, no funeral, pelo Secretário da Diretoria Executiva, compositor e grande amigo, Walfrido Silva. Registrou-se expressiva presença de admiradores, compositores, jornalistas, companheiros da “responsável boemia literária”, autoridades e também, gente do povo, que conhecia suas canções.
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Os meios de comunicação anunciaram com pesar o falecimento do seu poeta-cantor, o Poeta do Povo que, nas letras de suas canções pontuava as desigualdades sociais, “Favela do Canindé”, por exemplo, sucesso gravado por Canarinho, na Chanteclér, foi letra baseada no livro Quarto de despejo, de Carolina de Jesus.
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A Tribuna registrou nota da sessão especial da Câmara Municipal de Niterói no dia 31 de agosto de 1970. Na ocasião, a Srª. Alaíde Gomes, viúva de Gomes Filho, recebeu do Presidente da Câmara o “Título de Cidadão Niteroiense”, conferido, há tempos, ao inolvidável poeta-menino, por proposta do vereador Nobel Gavazzôni, que foi o orador oficial. O jornalista e poeta José Naegele compôs e declamou versos a Gomes Filho. Outras pessoas se pronunciaram. A matéria foi publicada com o título de Prêmio Nobel, em honra do homenageado.
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O Cenáculo Fluminense de História e Letras promoveu Painel da Saudade, ao, também, Patrono do seu Quadro acadêmico. Foi orador principal, o poeta e companheiro Walfrido Faria. A sessão teve divulgação no Programa de Dona Hecilda Clark. A poetisa Mariomar lançou campanha com o objetivo de erguer uma herma a Gomes Filho, o poeta da “Cidade Sorriso”. A iniciativa foi levada ao Conselho Estadual de Cultura. O Conselho decidiu solicitar ao Prefeito Emílio Abunahma dar o nome do poeta, a uma via pública. Muitas homenagens foram solicitadas ao Governo da cidade, por seus admiradores, divulgadas em jornais.
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Em 1971, Eduardo Luiz Gomes Filho teve Antologia Poética editada e publicada pelo Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural, órgão da Prefeitura Municipal, sob a direção do poeta Lyad de Almeida. Reunindo um grupo de admiradores do poeta, Lyad organizou a Antologia, perenizando assim a obra de quem tanto amou e cantou as belezas da Cidade.
No centenário da morte de Gomes Filho, a Academia Niteroiense de Letras organizou, sob a presidência da Profª. Márcia Pessanha e sua Diretoria, homenagem ao memorável Patrono da Casa. A acadêmica Manita, oradora oficial do evento, fez emocionante pronunciamento em louvor do poeta encantado. Em nome dos familiares presentes falou o sobrinho-neto, Dr. Silvio Eduardo Gomes, Ex-Diretor da Faculdade de Medicina da UFF. Flores foram oferecidas às suas filhas Maria Jussara e Maria de Lourdes. A sessão foi expressivamente prestigiada com a presença de acadêmicos, amigos e parentes do poeta.
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O autor de Ciclo do Sol Nascente, exímio cultor de sonetos parnasianos, vivenciou o modernismo em Mascarada. Sua Poesia de coração aberto, espontânea como a natureza, expressava sensibilidades humanamente nossas... Dedicou versos ao pai, à mãe, à “querida tia Cotinha”, primeira mestra, à amada, à Choupana do Avô Chico, aos amigos, aos companheiros de geração, à vida... O consagrado escritor Graciliano Ramos, escreveu-lhe bilhete dizendo: “No seu poema O Poeta do Povo... senti o gosto do universal. Há em seus versos uma densidade admirável”. E compara o nosso poeta com Neruda e Rilke, dizendo: “Poema que se fosse traduzido nas línguas de maior curso, deveria marcar, por certo, um alto tento na literatura em todos os quadrantes...”
Um
boêmio incorrigível, no seu próprio dizer. Na publicação de O Jornal/Edição
Fluminense de 29 de setembro de 1968, um jornalista entrevista Gomes Filho. E
escreve: “Um homem procura sua biografia numa saleta do Edifício Borges, em
Niterói... e ouve o poeta: “Andei por aí, a vida toda, de Vila Isabel até
Niterói e, agora, a caminho dos setenta, não consigo encontrar minhas notas
para compor uma biografia. Eu não passo de um boêmio incorrigível que aos 64
anos ainda não conseguiu organizar-se”. E declarou: “Só o amor de D. Alaíde que
há 27 anos espera que um dia chegue cedo em casa.”
Liane Arêas disse:
A rica existência do nosso Patrono não cabe num discurso de posse acadêmica, merece uma biografia em seus detalhes. Na intenção de homenageá-lo prestigiei suas realizações, conquistas, experiências... Apesar de acadêmico, o meu discurso foi escrito com emoção pelo recorrente envolvimento com a sensibilidade desses dois personagens da nossa história: Eduardo Luiz Gomes e Eduardo Luiz Gomes Filho.
Pessoas que apesar dos títulos, das honrarias e das vitórias, continuaram fiéis às suas raízes, conscientes de suas identidades dentro do contexto social. Da incógnita realidade que é o mistério da vida neste planeta, do porque viemos e nos encontramos.
Porque estamos juntos neste momento e experimentamos esta passagem, este sopro, esta história e suas emoções... Porquê? Ficou para mim a impressão de que essas pessoas refletiam sobre tudo isso, procuravam compreender e aceitar as circunstâncias, o compromisso com o todo e seguiam e procuravam corresponder ao ciclo da vida...
Não consegui relatar tudo que li e ouvi dos amigos que conheceram Gomes Filho e que, Graças aos Céus que nos protege, alguns, estão aqui entre nós: Pimentel, o nosso patrimônio cultural; Sávio Soares de Sousa nosso reconhecido intelectual do ano; Carlos Mônaco, nosso livreiro-amigo, que na trilha de Gomes Filho anda lutando com papeis para escrever sua biografia... a todos agradeço. À Profª. Aydil Preis, agradeço a fraterna boa vontade ao promover meu encontro com seu amigo da ASPI/UFF, Silvio Eduardo, sobrinho-neto de Gomes Filho e, Lourdinha, a querida filha, que dispuseram seus registros familiares, corroborando o presente trabalho. Obrigada, estou honrada pela distinção com que receberam a notícia desse momento. À Presidente-amiga, Márcia Pessanha que trouxe-me à lembrança, momentos comemorativos na ANL pelos cem anos de Gomes Filho, nosso homenageado; igualmente agradeço.
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