UM NÃO SEI QUÊ QUE NASCE NÃO SEI ONDE
A Peça de Maria Jacintha,
com adaptação e direção de Leonardo Simões,
estreia em Niterói.
A partir de hoje, 7 de novembro de 2014, às 20h, estreia no Teatro Municipal de Niterói o espetáculo teatral “Um Não Sei Quê Que Nasce Não Sei Onde”.
Esta será a primeira encenação da peça de Maria Jacintha, publicada em 1968, que tem como tema principal o disparate universal da repressão à liberdade.
O texto traz reminiscências do período em que a própria autora foi presa, em 1964, junto com outras seis mulheres, quase um mês após o golpe militar.
Essa referência nunca foi reforçada por Maria Jacintha, que era contra revanchismos, mas a crítica à ditadura militar é evidente na história e no clima presente em toda a peça.
Como recurso para driblar a censura vigente à época em que a peça foi publicada, a autora desloca a ação para um país hipotético, o “Estado Livre de Tucháua”, e também não especifica à época dos acontecimentos retratados na trama.
A encenação, entretanto, busca resgatar essas relações com o período recente da ditadura militar em nosso país.
Esta montagem do Núcleo de Ensino e Pesquisa de Artes Cênicas, dirigida por Leonardo Simões, marca os cinquenta anos de triste memória daquele golpe de estado, além dos vinte anos da morte de Maria Jacintha, falecida em dezembro de 1994.
No elenco: Aldo Perrotta, Andrea Terra, Fraya Hippertt, Daniela Erthal, Danielle Fritzen, Dico Pantaleão, Edson Amaro, Flávio Trolly, Henrique Rocha, Jean Bodin, Juliano Antunes, Marcelo Mattos, Miguel Nader, Rafael Fiuzza, Raquel Penner, Ricardo Silva, Solange Electo e Thiago di Muniz.
A peça estará em cartaz nos dias: 7, 8, 9, 14, 15 e 16, de sexta a domingo, às 20 horas. Teatro Municipal de Niterói - Rua Quinze de Novembro - Centro, ao lado da Sala de Cultura Carlos Couto e próximo ao Plaza Shopping.
Um pouco sobre Maria Jacintha.
Capa do livro Maria Jacintha - Ressonâncias & Memórias
Professora e Doutora Marise Rodrigues
Biografia
Maria Jacintha Trovão da Costa Campos (Cantagalo, Estado do Rio, 27 de setembro de 1906 - Niterói, 20 de dezembro de 1994), também conhecida como Maria Jacintha, foi uma ensaísta, tradutora, autora, crítica e diretora teatral brasileira.
Seu primeiro texto teatral, “O gosto da vida”, foi montado pela Companhia Jaime Costa, em 1938.
As peças “Conflito”, “Já é manhã no mar” e “Convite à vida”, foram encenadas por Dulcina de Moraes. “A Doutora Magda” foi encenada pela Companhia Iracema de Alencar. Em “Já é Manhã no Mar” estiveram em cena Ribeiro Fortes, Jardel Filho, Dulcina de Moraes e Odilon Azevedo.
A peça “Convite à Vida” tinha uma vertente paficista e foi encenada no momento da partida da FEB (Força Expedicionária Brasileira) rumo à Itália.
A última peça de Maria Jacintha, “Um não sei quê que nasce não sei onde” (1968), foi inspirada nas situações dramáticas do país sob a ditadura instaurada em 1964.
Maria Jacintha, durante esse período da história brasileira, chegou a ser presa durante aquele regime militar.
Maria Jacintha traduziu escritores russos, como Tchekhov, cuja vida foi anterior à revolução de 1917 (Tchekhov morreu em 1904). Sua peça “Intermezzo da imortal esperança” foi publicada pelo Serviço Nacional de Teatro (MEC), Rio de Janeiro, em 1973.
Tendo recebido o apoio do teatrólogo Benjamin Lima, fundador e diretor do CPT (Curso Prático de Teatro, do MEC), por muitos anos, Maria Jacintha foi a diretora artística do TEB (Teatro do Estudante do Brasil), tendo contribuído para a atualização do repertório do grupo. Organizou as temporadas de Arte de Dulcina de Morais.
Participou do período de modernização, na primeira metade do século XX, do teatro brasileiro, tendo sido uma das fundadoras do Teatro de Arte do Rio de Janeiro e do Teatro Fluminense de Arte. Conhecida por seu vasto conhecimento histórico e literário, lecionou no Conservatório Brasileiro de Teatro, que funcionava na Praia do Flamengo, Rio, no prédio da UNE (União Nacional dos Estudantes), edificação que depois foi incendiada, durante o regime militar.
Notabilizou-se pelo apoio que dava aos novos talentosos atores, entre eles, por exemplo, Nicette Bruno, Fernanda Montenegro, Kléber Machado, Mauro Mendonça e outros. Segundo Maria Jacintha, uma erudita da tradição intelectual dos escritores brasileiros da primeira metade do século XX, - à qual o termo renovação não era estranho -, "teatro", fundamentalmente, "é texto e interpretação".
Desde que sofreu um acidente automobilístico, Maria Jacintha usava uma bengala, que dela se tornou amiga inseparável, mas já se deslocava em cadeira rodas. Quando, perto do fim de sua vida, no Teatro Municipal de Niterói, foi homenageada pelo conjunto de sua obra e pela coerência e firmeza de suas ideias e práticas como educadora, dramaturga, crítica e tradutora.
Nessa ocasião, com o local lotado, Nicette Bruno, já internacionalmente célebre como atriz de telenovelas, expressou, entre depoimentos outros de amigos e estudiosos da obra de Maria Jacintha, a gratidão pelo auxílio que Maria Jacintha lhe deu no início da carreira.
Quando Arlete Pinheiro Esteves da Silva - a Fernanda Montenegro - tornou-se a primeira atriz latino americana a receber uma indicação, pela Academia de Hollywood, para o Oscar de melhor atriz, Maria Jacintha já havia falecido.
Maria Jacintha, que dominava também o idioma russo, traduziu da língua francesa peças dos seguintes autores: Jean Girandoux, Jean Anouilh, Paul Claudel, Albert Camus etc.
Sobre Maria Jacintha escreveu Mário de Andrade: "(...) autora [que] faz questão de manifestar durante todo o texto uma imparcialidade absoluta, permitindo que as personagens exponham seus pontos de vista e se revelem".
A Universidade Federal Fluminense, onde se estuda em profundidade a obra de Maria Jacintha em 2006, Marise Rodrigues defendeu uma tese de doutorado concernente (RODRIGUES, 2006), tem em seu principal auditório uma placa que a homenageia. No teatro onde funcionou o antigo Cassino da Praia de Icaraí, são levadas peças teatrais, podem ser ouvidos concertos música clássica ou popular e, também servindo como cinemas, ali são exibidos filmes de excelência estética ao público niteroiense e carioca que para lá se desloca em busca de arte e sensibilidade.
Outros dados:
Formação (Niterói-RJ), 1923:
Escola Normal de Niterói;
Radioteatro (Rio de Janeiro-RJ, peças apresentadas pela Rádio Nacional)
A Confidente;
Uma História para uma Canção;
Travessia;
O Vampiro;
História de Todos os Tempo.
Principais Trabalhos como Tradutora:
As Três Irmãs, de Tchecov;
Anfitrião 38, de Jean Giraudoux;
Jezebel, de Jean Anouilh;
O Sapato de Cetim, de Paul Claudel;
Estado de Sítio, de Albert Camus;
Homenagens/Prêmios:
1939 - Rio de Janeiro RJ - 1º Prêmio de Teatro da Academia Brasileira de Letras, ABL - por sua peça O Gosto da Vida;
1953 - Rio de Janeiro RJ - Medalha do Serviço Nacional de Teatro, SNT - melhor tradução por As Três Irmãs, de Anton Tchekhov.
Peças de teatro
Conflito. Porto Alegre: Edições Meridiano, 1942. (Coleção Tucano)
Já é manhã no mar. Petrópolis: Vozes, 1968. (Coleção Diálogo da Ribalta)
Um não sei quê que nasce não sei onde. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1968. (Teatro Brasileiro)
Convite à vida. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1969. (Teatro Brasileiro)
Intermezzo da imortal esperança. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, MEC, 1973.
Clicar no link para assistir a palestra de Marise Rodrigues
sobre Maria Jacintha.
Uma grande mulher. Merece todas as honrarias.
ResponderExcluirMaria Jacintha foi uma Antígona da Modernidade, conforme consignei no meu livro da Editora Tempo Brasileiro sobre grandes mulheres que marcaram a história nacional. Notável professora, desvelou-me horizontes e o interesse pela arte.
ResponderExcluirMarise Rodrigues, com sua tese de doutorado sobre a obra de Maria Jacintha, tem divulgado cada vez mais o valor desta extraordinária defensora da Liberdade.
Dalma Nascimento
Escritora, Mestra e Doutora em Literatura Comparada
da Universidade de Letras da UFRJ.