As moiras ou mouras encantadas ou "mouriscas" são espíritos, seres fantásticos com poderes sobrenaturais dos folclores português e galego. Segundo antigos relatos populares, são as almas de donzelas que foram deixadas a guardar os tesouros que os mouros encantados esconderam antes de partirem para a mourama. São "seres obrigados por oculta força sobrenatural a viverem em certo estado de sítio como que entorpecidos ou adormecidos, enquanto determinada circunstância lhes não quebrar o encanto". As Moiras tecem a vida de cada indivíduo dentro de uma caverna e ninguém poderia intervir em seu trabalho. Além disso, assim como a mãe, elas eram domadoras de homens e deuses.
Podem assumir diversas formas e existe um grande número de lendas, e versões da mesma lenda, como resultado de séculos de tradição oral. Surgem como guardiãs dos locais de passagem para o interior da terra, os locais "limite", onde se acreditava que o sobrenatural podia manifestar-se. Aparecem junto de nascentes, fontes, pontes, rios, poços, cavernas, antigas construções, velhos castelos ou tesouros escondidos.
As lendas descrevem as mouras encantadas como jovens donzelas de grande beleza ou encantadoras princesas e "perigosamente sedutoras". Aparecem frequentemente cantando e penteando os seus longos cabelos, louros como o ouro ou negros como a noite, com um pente de ouro, e prometem tesouros a quem as libertar do encanto.
ORIGEM
Julga-se que a lenda das mouras tem a sua origem em tempos pré-romanos. As mouras encantadas apresentam várias características presentes na Banshee das lendas Irlandesas. Também na mitologia Basca, os Mairu (mouros) são os gigantes que construíram dólmens e os cromeleques. Na Sardenha podemos encontrar os domus das Janas (casa das fadas). Leite de Vasconcelos levantou a hipótese de as mouras encantadas poderem ter assimilado as características de divindades locais, como ninfas e espíritos da natureza. O mesmo juízo fazia Consiglieri Pedroso ao considerar as mouras "gênios femininos das águas".
Na Península Ibérica, as lendas de mouras encantadas encontram-se também na mitologia Galega e Asturiana. Na tradição oral portuguesa, as Janas são uma outra variante de donzelas encantadas. Na mitologia polaca, a Mora é o espírito que deixa o corpo dos humanos à noite durante o sono. Na mitologia da Letónia, Māra é a deusa suprema. Na mitologia escandinava, Mara ou Mare é o espírito errante que deixa o corpo das mulheres durante a noite e causa pesadelos.
A Princesa Moura é uma muçulmana encantada que habita um castelo e apaixona-se por um cavaleiro cristão do tempo da Reconquista. A Lenda da Moura Salúquia é outra variante: em vez de um cristão, o amor da Princesa Moura é um mouro. Muitas destas lendas tentam explicar a origem de uma cidade e evocam personagens históricas, outras lendas apresentam um caráter religioso como acontece na lenda de Oureana. No contexto histórico, os lugares, as pessoas e acontecimentos situam-se num mundo real, e existe uma localização temporal bem definida. No entanto, é possível que fatos reais se tenham simplesmente fundido com antigas narrativas lendárias.
A Moura-fiandeira transporta pedras sobre a cabeça
e fia com uma roca à cintura. A tradição popular atribui a estas mouras a
construção de castros, citânias, e outros monumentos megalíticos. As moedas
antigas encontradas nas citânias e castros eram chamadas de “medalha das
mouras”. A Pedra Formosa encontrada na Citânia de Briteiros terá sido, segundo
narrativas populares, levada à cabeça para este local por uma moura que fiava
uma roca.
Quem se sentasse em uma Pedra-Moura ficaria encantado, ou se alguma pedra encantada fosse levada para casa, os animais poderiam morrer. As "Pedras-moura" guardavam riquezas encantadas. Existem várias lendas em que a moura, em vez de ser uma pedra, vive dentro de uma pedra. "A moura, porém, na nossa tradição como que vive dentro da pequena pedra que é arrojada no rio. Mas as fairy irlandesas também vivem no interior das pedras." Na tradição popular diz-se que no penedo «entra-se para dentro» e «sai-se de dentro», dizer possivelmente relacionado com as lendas das mouras. A moura é também descrita a viajar para a mourama, sentada numa pedra que pode flutuar no ar ou na água. Dentro de grutas e debaixo das pedras, muitas lendas falam que existem palácios com tesouros.
A MOURA-MÃE toma a forma de uma jovem encantada que está grávida, e a narrativa centra-se na busca de uma parteira que ajude no nascimento e na recompensa que lhe é dada.
A MOURA-VELHA é uma mulher idosa; as lendas em que aparecem mouras com figura de velha não são frequentes.
A MOURA-SERPENTE é uma moura encantada que pode tomar a forma de uma serpente. Algumas destas mouras serpentes, ou mouras-cobras, podem ter asas e podem aparecer como meio mulher meio animal, como na lenda da serpente de Noudar ou do Monte d'Assaia.
NA LITERATURA
Uma das referências literárias medievais às mouras encantadas encontra-se na peça teatral Cortes de Júpiter de Gil Vicente, representada em 1521.
As últimas décadas do século XIX foram marcadas por
alguns esforços para se criar um registro escrito das lendas das mouras
encantadas. Almeida Garrett, frequentemente citado como um dos pioneiros na
recolha de lendas, faz referência às mouras encantadas no poema D. Branca.
A moura encantada é descrita como: "É uma figura branca, toda branca, muito branca, co os cabelos, nem fios de ouro, soltos pelas costas; e aparece a bailar na água de um lado para o outro…"no livro Os tripeiros: romance-chronica do século XIV:
“E vós, formosas mouras encantadas,
Na noite de S. João ao pé da fonte,
Áureas tranças com pentes de ouro fino
Descuidadas penteando
enquanto o orvalho
Nas esparsas madeixas arrocia
E os lindos anéis de perlas touca.” — D. Branca, Almeida Garrett
Vários registros de lendas foram feitos nos séculos XIX e XX por Gentil Marques, Fernanda Frazão, Leite de Vasconcelos, Maria José Meireles (no livro Lendas de Mouras encantadas) e Alexandre Parafita (nos seus livros A Mitologia dos Mouros, O Maravilhoso Popular e Patrimônio Imaterial do Douro, 2 Vols.).
Na sua obra “A Mitologia dos Mouros”, publicada em 2006, Alexandre Parafita faz o registro de 263 lendas de mouros e respectivas variantes (com exclusão das lendas romanceadas), e, no estudo e interpretação que faz, estabelece uma assimetria entre “mouros históricos” e “mouros míticos”, cabendo nestes últimos o arquétipo da “moura encantada”. Segundo este estudioso, no lendário popular, a moura aparece, umas vezes como guardiã de tesouros e de refúgios inacessíveis, tecedeira, tendeira, padeira, dançarina e cantora, acautelando a beleza com pentes e fios de ouro, outras vezes transfigurada, por encanto, nas formas de serpentes, touros, sapos, cabras, vozes e ruídos estranhos, e quase sempre em grutas, penedos, fontes, rios, cisternas, antas, castros, torres ou poços.
No livro Bestiário Tradicional Português, de Nuno Matos Valente, editado pelas Edições Escafandro em 2016, as Moiras Encantadas surgem com um destaque especial, se as compararmos com criaturas com menor expressão na cultura portuguesa, sendo que, através da ilustração na mesma obra, a artista plástica Natacha Costa Pereira propõe para as Moiras um conjunto de criaturas com aspeto feminino, forte e ocioso, que ocupam espaços ermos e pedregosos.
LOCAIS DAS MOURAS
Vários são os locais associados às lendas das mouras encantadas, muitos dos quais são de interesse histórico:
Povoado fortificado: Penedo da Moura, Horta da
Moura
Necrópole: Cama da Moura, Necrópole da Moura da
Serra
Anta: Penedo da Moura, Casa da Moura, Vale de Moura
Arte rupestre: Cabeço da Moura, Toca da Moura
Sepultura: Sepultura da Cama da Moura
Dólmen: Dólmen da Lapa da Moura
Mamoa: Cova da Moura, Capela das Almas Mouras
Abrigo: Pala da Moura
Menir: A-de-Moura
Monumento megalítico: Casa da Moura (Orca do Gato)
Gruta: Cova da Moura, Buraca da Moura
Mina: Cova da Moura
Tesouro: Moura da Serra
Lagar: Fraga da Moura
Gruta artificial: Casa da Moura do Cabeço de
Turquel
Silo: Rua das Portas de Moura
Galeria coberta: Grêmio da Lavoura de Moura
Pode parecer que não, mas as Moiras tinham um papel importante nas guerras. Afinal, era responsabilidade de elas cortarem os fios da vida. Eram as irmãs do destino quem definia quem viveria ou não.
O ato de tecer e de enrolar o fio na roda da fortuna está intimamente ligado à vida de cada um. Quando o fio está na parte superior, a vida costuma ser boa e a sorte também. Diferente de quando está na parte interior, o que condiz muito com aqueles baixos da vida. E dessa forma, a vida segue com seus ciclos de altos e baixos.
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