Luiz Simões Jesus
(professor e escritor)
CENTENÁRIO — Para comemorar o centenário
de nascimento do professor e escritor Luiz Simões Jesus, familiares, ex-alunos
e amigos, poderão ter acesso à atemporalidade de sua obra literária completa, porém,
digitalizada e disponível na internet para leitura, num belo projeto visual de Leonardo
Barbosa.
Vale conferir:
Matéria publicada na Página Cultura do jornalista Alberto Araújo no Jornal Santa Rosa - edição 1.469 - 2ª Quinzena de outubro de 2016.)
Luiz Simões Jesus
(professor e escritor)
O escritor Luiz Simões Jesus nasceu em Guarapari (ES), em 16 de maio de 1916. Portanto esse ano comemora-se o centenário de nascimento desse importante intelectual que deixou um indelével legado nas páginas da literatura, educação do Brasil. Luiz Simões Jesus sem dúvida alguma deixou o seu nome na memória nacional.
Filho de Umbellino de Jesus Ferreira e Maria Simões de Jesus, ambos lavradores. Casou-se com Itagilca Ferreira Jesus em 15 de janeiro de 1944. Tiveram 4 filhas e 7 netos. Em 2016, são 10 os bisnetos do casal.
Decidido a estudar, formou-se em Direito, namorou idiomas e teve a língua portuguesa como companheira de toda a vida: escreveu livros didáticos e lecionou para várias gerações de estudantes, primeiro na cidade de Vitória (ES) e depois na do Rio de Janeiro (RJ).
Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Espírito Santo, em 4 de dezembro de 1943. Mas foi ao magistério que dedicou toda sua vida, no ensino de Língua Portuguesa. Em Vitória, lecionou no antigo Ginásio do Espírito Santo, na Academia de Comércio de Vitória, na Escola Técnica de Comércio de Vitória, da qual foi um dos fundadores, e no Ginásio São Vicente de Paulo.
A partir de 1951, radicou-se na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Lecionou na Escola de Serviço Público (DASP) e em cursos de treinamento de funcionários, em ministérios, institutos e instituições particulares. Publicou, pelo Curso U.N.T., as seguintes obras didáticas: Textos e testes comentados; Redação oficial; Português objetivo; Verbos e topologia pronominal. Aposentou-se pelo Colégio Comercial Professor Clóvis Salgado, extinta unidade experimental de ensino do Ministério de Educação e Cultura, no Rio de Janeiro.
Dedicou-se também à literatura. Publicou o livro de poesias Ritmos e sombras (Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1963) e, em prosa, Eu e o rochedo (Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1965), Por um fio de sol (Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1965) e Meu oásis querido (Rio de Janeiro: edição do autor, 1980).
Além disso, participou de coletâneas de trovas, a exemplo de A trova no Brasil é história e antologia, organizada por Aparício Fernandes (Rio de Janeiro: Editora Artenova, 1972).
Deixou, ainda, os seguintes textos inéditos em prosa: Sertão caboclo; Onde a Lua faz clarão; Muro-murinho; De como ser feliz, adquirir supercultura e marcar 13 pontos na esportiva; e A cadelinha Faísca. O intelectual faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 3 de agosto de 1993.
Alguns textos do autor: Soneto:
Os extremos se tocam
Se da vida eu percebo a realidade a fundo,
Dentre os sopros da glória ou da desgraça em meio,
Um traço de união eu sinto bem profundo,
Unindo o que eu adoro àquilo que eu odeio.
Não posso conceber os extremos no mundo,
Mas somente a unidade a vibrar no seu seio,
Palpitando ante mim, num mistério profundo,
A dizer que o seu fim é o ponto de onde veio.
E vendo o ódio, e o amor, e o bem, e o mal unidos,
O prazer se integrando a um mundo de gemidos,
Repúdios que, por fim, não são mais do que abraços,
Eu percebo que a estrela e o réptil se harmonizam,
Porque se o réptil beija o pó que os homens pisam,
Também oscula a estrela o pó lá dos espaços.
(in: JESUS, Luiz Simões. Ritmos e sombras. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1963) Poema de versos livres:
Guarapari Pedaço de terra,
porção de mim mesmo,
um sonho azul!...
A esmo vagando,
vagando perdido,
nos idos dos tempos,
nos perdidos de minha meninice,
na neblina afastada do tempo...
Ah!... não te quero como és,
mas como foste...
Imersa na tranquilidade dos teus dias,
envolvidos de sonhos,
com os teus banhos em simplicidade...
Não te quero assim...
Quero-te no passado...
Quero me sentir menino,
em peraltices a despertar cuidado...
Quero-te distante...
Na distância azulada dos dias,
com as tuas casas de palha,
quase beijando o chão...
Com velhinhas rendeiras à porta...
Quero sentir o ritmo dos bilros,
batendo e cantando,
dos bilros trançando
da linha tecendo
as rendas branquinhas,
pra serem vendidas
por alguns tostões...
Quero que o meu mar me traga
as tuas areias antigas...
Antigas areias...
que pisei, menino...
Quero os meus pescadores,
que se puseram ao mar...
Ao mar da distância,
dos dias longínquos
e não mais voltaram.
Eu sei
que tu me acenas,
que tens as saudades
que eu tenho de ti...
Que me queres ver,
teu filho cansado,
teu filho atirado
tão longe de ti...
Mas só te veria,
se ainda pudesse
falar às velhinhas
dos dias distantes,
ouvir as mentiras
dos meus pescadores...
Se eu pudesse beijar a face do passado...
(in: JESUS, Luiz Simões. Ritmos e sombras. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1963) Trova:
Tu me chamaste de louco,
mágoa nenhuma eu senti:
- de fato, o juízo é pouco
de quem tem paixão por ti.
(in: FERNANDES, Aparício [org.]. A trova no Brasil - história e antologia. Rio de Janeiro: Editora Artenova, 1972) Prosa (fragmentos):
O homem, na multidão, perde a centelha divina porque deixa de ser ele mesmo e só é divino quem está só.
(In: JESUS, Luiz Simões. Eu e o rochedo. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1965)
O que vive em plenitude não precisa saber o que faz... nem o que é... Basta ser...
(In: JESUS, Luiz Simões. Por um fio de sol. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1965)
Quando produzo algo novo, sinto que já não sou o que era. Somente a criação é capaz de renovar.
(In: JESUS, Luiz Simões. Meu oásis querido. Rio de Janeiro: edição do autor, 1980)
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[...] No centenário do seu nascimento, esposa, filhas, netos, bisnetos, ex-alunos e admiradores poderão ter acesso à atemporalidade de sua obra literária completa, esgotada, porém agora digitalizada e disponível na internet para leitura. Aos que não conviveram com Luiz Simões Jesus, é a oportunidade de serem apresentados a reflexões de interesse de qualquer mortal. Aos que privaram de sua intimidade, o material também permite matar um pouco da saudade do marido, pai, avô e mestre, bebendo um tanto mais de sua fonte.
Daniel Ferreira da Ponte.
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COMENTÁRIOS
Caro
Alberto Araújo,
agradeço
pela divulgação do trabalho de meu pai, Luiz Simões Jesus, neste ano em que a
família comemora o centenário do seu nascimento. Papai foi um dedicado e
amoroso professor de Português, tendo formado várias gerações de jovens e
adultos. Além disso, desenvolveu uma bonita obra literária, na qual se destacam
poemas e reflexões em prosa.
Seus livros, publicados de forma independente,
hoje estão esgotados. Por essa razão, resolvemos
digitalizá-los para que possam estar ao alcance de seus descendentes e do
público em geral.
Importante, hoje, o papel da internet na preservação da
memória daqueles que foram e continuam sendo exemplos de dignidade,
competência, sensibilidade.
Abraço,
Lena
Jesus Ponte
Lena Jesus Ponte
é Escritora e Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. É filha do homenageado Luiz Simões Jesus.
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Saudar o centenário de Luiz Simões Jesus é reverenciar um valor autêntico da cultura nacional, no século XX, precisamente no período em que se consolidou o edifício da arte brasileira. Nestes tempos, ocorreu a legítima 'nacionalização' da arte do Brasil e aconteceu sua explosão no cenário mundial.
Ressalte-se que os grandes autores brasileiro deste século - enfrentando a varredura globalizante da década de 80 - marcaram suas produções com a brasilidade indispensável à identidade de nosso povo.
Nosso homenageado, perfeitamente integrado ao espírito de sua época, adicionou ainda à sua obra, uma coletânea didática que ampliou nossa base teórica e contribuiu para a popularização da literatura no seio acadêmico e em algumas gerações do funcionalismo público, na antiga capital da República.
Valeu Alberto Araújo! Podemos "beber um pouco mais da fonte" de Luiz Simões.
Luiz Lemme
é Poeta, Ativista Cultural, Presidente do Instituto Esquina da Arte e da Pousada Dois Luiz em Niterói.
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APOIO CULTURAL
FONTE:
http://www.lenajesus.ponte.nom.br/luizsimoesjesus/
Saudar o centenário de Luiz Simões Jesus é reverenciar um valor autêntico da cultura nacional, no século XX, precisamente no período em que se consolidou o edifício da arte brasileira. Nestes tempos, ocorreu a legítima 'nacionalização' da arte do Brasil e aconteceu sua explosão no cenário mundial. Ressalte-se que os grandes autores brasileiro deste século - enfrentando a varredura globalizante da década de 80 - marcaram suas produções com a brasilidade indispensável à identidade de nosso povo. Nosso homenageado, perfeitamente integrado ao espírito de sua época, adicionou ainda à sua obra, uma coletânea didática que ampliou nossa base teórica e contribuiu para a popularização da literatura no seio acadêmico e em algumas gerações do funcionalismo público, na antiga capital da República. Valeu Alberto Araújo! Podemos "beber um pouco mais da fonte" de Luiz Simões.
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