No mês de aniversário de
Vinicius de Moraes, a Editora Companhia das Letras, publicou uma nova edição de
"Roteiro lírico e sentimental da cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro, onde nasceu vive em trânsito e morre de amor o poeta Vinicius de
Moraes, com organização e apresentação de Daniel Gil e ilustrações de Juliana
Russo."
Organizado a partir das
indicações do autor, este livro inacabado é uma declaração de amor ao Rio de
Janeiro.
Logo depois da publicação da
célebre "Antologia poética (1954)", o "Roteiro lírico… seria
anunciado em praticamente, todos os lançamentos de Vinicius de Moraes. Era um
título “no prelo”, ao qual o poeta se dedicou com afinco por muitas décadas.
Apesar de tão aguardado, o volume inacabado só ganharia forma de livro
postumamente, com organização de José Castello, em 1992.
A presente edição, com
seleção e apresentação do poeta e pesquisador Daniel Gil, traz um Vinicius de
Moraes bem-humorado, curioso, encantado pela geografia da cidade e por seus
elementos de cultura popular, como as tradicionais cantigas e as modinhas.
Nesta verdadeira ode ao Rio de Janeiro e às suas transformações, Vinicius
recorda: “Havia a gruta de pedras no fundo do córrego, cheia de morcegos que
eram os reis do tirar fino. Namorava-se no bananeiral. Quando eu voltava para
casa à noite, minha rua me parecia mais misteriosa”.
Clique para ler três
poemas e conferir três ilustrações do livro:
Antes do Roteiro
lírico..., publicadas duas edições especiais de Vinicius: Pela luz dos olhos teus (2016) e Todo amor (2017). Publicada uma nova edição de
com
organização e apresentação de Daniel
Gil e ilustrações de Juliana
Russo.
Confira
três poemas e três ilustrações do livro:
Cidadão
da gávea
Na
Gávea nasci
Nela me criei
E a ela subi
Por seu mastro rei.
Nela me criei
E a ela subi
Por seu mastro rei.
No
topo da Gávea
Olhando ao redor
Vi uma paisagem
Que nunca melhor.
Olhando ao redor
Vi uma paisagem
Que nunca melhor.
Vi
torsos, vi seios
Vi coxas, vi nádegas
E era tudo cheio
De roxas dedadas.
Vi coxas, vi nádegas
E era tudo cheio
De roxas dedadas.
Eram
mulheres-pedra
De farta axila
Cobertas de esperma
Verde: clorofila.
De farta axila
Cobertas de esperma
Verde: clorofila.
Depois
me larguei
Por mares afora
Vi o sol morrer
Vi nascer a aurora.
Por mares afora
Vi o sol morrer
Vi nascer a aurora.
Na
velha Tunísia
Que olhos não vi!
E que lindos seios
Passeiam em Paris!
Que olhos não vi!
E que lindos seios
Passeiam em Paris!
Em
Londres vi moças
Fulvas, cor de fogo
Só que mais insossas
Que as de Botafogo.
Fulvas, cor de fogo
Só que mais insossas
Que as de Botafogo.
Quero
que me enforquem
Coberto de merda
Se batem New York
Em questão de pernas.
Coberto de merda
Se batem New York
Em questão de pernas.
Porém
sem intuito
De ofensa a ninguém
As bundas mais lindas
É a Gávea que tem!
De ofensa a ninguém
As bundas mais lindas
É a Gávea que tem!
Itapuã,
24/01/1973
Soneto
do Café Lamas
No
Largo do Machado a pedida era o “Lamas”
Para uma boa média e uma “canoa” torrada
E onde à noite cumpria ir tomar umas brahmas
E apanhar uma zinha ou entrar numa porrada.
Para uma boa média e uma “canoa” torrada
E onde à noite cumpria ir tomar umas brahmas
E apanhar uma zinha ou entrar numa porrada.
Bebendo,
na tenção de putas e madamas
Batidas de limão até de madrugada
Difícil era prever se o epílogo das tramas
Seria algum michê ou alguma garrafada.
Batidas de limão até de madrugada
Difícil era prever se o epílogo das tramas
Seria algum michê ou alguma garrafada.
E
em meio a cafetões concertando tramoias
Estudantes de porre e mulatas bonitas
Sem saber se ir dormir ou ir na Lili das Joias
Estudantes de porre e mulatas bonitas
Sem saber se ir dormir ou ir na Lili das Joias
Ordenar,
a cavalo, um bom filé com fritas
E ao romper da manhã, não tendo mais aonde
Morrer de solidão no reboque de um bonde.
E ao romper da manhã, não tendo mais aonde
Morrer de solidão no reboque de um bonde.
Itapuã,
1973
Redondilhas
a laranjeiras
Laranjeiras
pequenina
Carregadinha de flor
Eu também estou dando pássaros
Eu também estou dando flores
Eu também estou dando frutos
Eu também estou dando amor.
Carregadinha de flor
Eu também estou dando pássaros
Eu também estou dando flores
Eu também estou dando frutos
Eu também estou dando amor.
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