Luís Antônio Pimentel aos 101
anos,
Local: Praça Getúlio Vargas -
Icaraí -
Escritores ao Ar Livro - maio de
2013.
Luís Antônio Pimentel foi
uma das pessoas mais encantadoras que eu já conheci. Não apenas por ser um
escritor e poeta marcante. Mas por ser,
na essência, um homem de extraordinárias
virtudes.
Apreciava-lhe a cativante
maneira amigável de conviver,
o enorme coração dadivoso sempre
pronto a
acolher amigos e quem o procurasse.
Assim que eu cheguei a Niterói, logo recebi de Pimentel o generoso apoio necessário. Com o passar
do tempo, nossos encontros se transformaram numa fraterna amizade de
propósitos e de coração. Ele sempre tinha um caso engraçado para contar, um verso, um haicai para
recitar, uma lembrança do Japão para rememorar. E alegre, espirituoso, lançava
sorrisos e não se queixava das dores da
vida.
Aprendi a admirá-lo e respeitá-lo em sua complexidade e
diversidade intelectual. Pimentel vivia
em prol da cultura e do intercâmbio social.
Dotado de caráter fidedigno, foi um marco relevante da cidade. Deixará, sem dúvida, muitas saudades.
Eu, que o conheci faz pouco tempo,
sentirei a falta de jeitinho ameno, da sua conversa, dos seus poemas sempre
prontos a serem recitados. Imagino só os que com ele sempre conviveram durante
anos seguidos.
Parte em paz, caro Pimentel! Aqui ficam
nosso carinho e amizade, a tua lembrança, sempre!
O Parnaso dos poetas gregos e o Céu dos cristãos já o acolheram com o coração
aberto. Certamente do mesmo jeito que tu fizeste comigo, ao chegar do Nordeste à terra de Niterói.
Alberto Araújo.
editor
Como forma de homenagear o
nosso querido amigo e escritor Luís Antônio Pimentel, que nos deixou
recentemente ao Parnaso (06) de maio. Esta revista eletrônica resolveu
republicar na SESSÃO ESPECIAL o texto “PIMENTEL: O ARCONTE DA MEMÓRIA
FLUMINENSE”, de autoria da escritora e doutora em Literatura Comparada Dalma
Nascimento, o referido escrito está publicado no livro literato Memórias em
Jornais, Tempo Brasileiro – RJ, páginas 39-40.
Um erudito texto que para
nós que fazemos parte da cultura e da educação, torna-se-a um registro
histórico e servirá para recorrermos a ele quando precisarmos fazer alguma
consulta sobre o Pimentel. Confira.
PIMENTEL: O ARCONTE DA
MEMÓRIA FLUMINENSE*
Luís Antônio Pimentel,
escritor fluminense, desmente a etimologia da palavra “aposentado”, aquele que
“fica no aposento”, recluso do mundo. Nunca se acomodou na cadeira de balanço,
de chinelos e pijama, a olhar pela janela, igual à Carolina da música, nem fica
vendo a banda passar. Sorrindo à vida no alto de seus noventa anos, está
continuamente aberto à beleza do amor, aos signos modernos e jamais abandona a
sua máquina fotográfica Nikon, ou o seu pequeno gravador, aliado à eterna
inspiração de versejar. E muito bem!
Com seu lúcido olhar de
Poeta dos maiores tons em muitos livros de vários temas e estilos publicados,
Pimentel integrou-se à paisagem cultural de Niterói. Sempre no fluxo dos
acontecimentos memoráveis lá está ele, capturando, com as lentes da sua
objetiva, flashes do cotidiano, e relatando episódios verídicos e pitorescos
“causos”, a que não faltam a fantasia criadora e o conhecimento linguístico armazenado em sua longa e frutífera
existência.
Jornalista, membro do
Instituto Histórico e de várias Academias de Letras, estudioso de provérbios
populares e dos topônimos tupis, dos quais fez até um dicionário, ele é também
biógrafo de pessoas e lugares em sua coluna semanal de A Tribuna. Niterói.
Porém, um dos títulos talvez de que mais ele se orgulhe é o de ser Membro do
Calçadão da Cultura do Grupo Mônaco, do Carlos Mônaco da Livraria, além de
possuir a carteira nº 1 da Sociedade Fluminense de Fotografia.
Tendo vivido muito tempo no
Japão, trabalhou na rádio de Tóquio e publicou, em 1940, o primeiro livro de um
poeta brasileiro no idioma nipônico. Com saberes, tão múltiplos e profundos, é
verbete da Enciclopédia Delta-Larousse. Colecionador de lembranças, revela em livros, artigos, fotos e entrevistas até
na televisão, a memória nacional e do Estado do Rio de Janeiro. Quem quiser
saber algo do passado, logo procura o grande mestre Pimentel.
Por ser dono deste dom,
Pimentel lembra um Arconte, aquele dignitário da antiga Grécia, respeitado pela
comunidade, preservador e intérprete dos documentos e das leis da pólis.
Arconte tem a mesma raiz de “arqueologia”, de “arquivo”, de “arcano” e de
“arqueiro”. De fato, Luís Antônio Pimentel, o verdadeiro Arconte de Niterói, é
o arquivo vivo da cidade.
Na efervescência das coisas,
lá está ele na arkhé, ou seja, nos fundamentos dos fatos, para reconstituir os
laços esfiapados da memória coletiva. Submerge nos arcanos da tradição e de lá
retorna iluminado. E, com a mestria de um arqueiro, o Arconte Pimentel lança o arco da aliança do passado cultural
às gerações futuras.
*Texto de autoria da
escritora e doutora Dalma Nascimento. Publicado em O Correio, edição
“Aposentadoria, em 15 de setembro de 2002, na qual o Poeta-Arconte Luís Antônio
Pimentel figurou na capa do jornal, com sua máquina Nikon e seu sorriso, sempre
jovem e brejeiro, clicando certamente uma cena cultural de Niterói. Este texto
foi republicado e distribuído na festa comemorativa dos 90 anos do emérito
poeta.
Igualmente foi
reproduzido no Blog Literatura-Vivência, do filósofo e professor Roberto
Kahlmeyer-Mertens em edição de janeiro de 2012, quando grandes homenagens já
estavam sendo tributadas aos 100 anos do Arconte da nossa Polis.
Agora, o Focus Portal
Cultural o reproduz em homenagem ao poeta Luís Antônio Pimentel na Sessão
Especial desta revista eletrônica, na
data de seu falecimento em 06 de maio de 2015.
Para ciência dos foculistas.
Este Portal abriu o espaço especialmente para o poeta e fotógrafo que nos
deixou há pouco e partiu rumo ao
Parnaso.
Sendo Luís Antônio Pimentel,
o mestre dos haicaístas, o Focus Portal Cultural pediu à professora Dalma Nascimento uma definição do haicai. Ela
respondeu:
Dalma: Há anos, fiz o
prefácio do livro de haicais (ou haikais)
da escritora Olga Savary,
intitulado Retratos. Permita-me que eu transcreva apenas o
primeiro parágrafo lá impresso, onde defino, o haicai a meu jeito:
"Na estética miniatural do haicai, Olga
Savary monta Retratos, fragmentos de existência literária "sombra-iluminando instantes do
ser, em pureza radical.
Haicais são gotas de vida a abrigarem
o mundo. Sumo de imagens em esvoaçantes flashes. Jorros da fonte divina se
fazendo em canto". Acredito que
defini conforme eu penso.
Focus Portal Cultural-
Prossiga.
Dalma- O texto é longo,
possui várias páginas onde comento a floração "haicaística" de Olga Savary.
Eis a indicação para quem
quiser adquiri-lo: NASCIMENTO, Dalma.
"Olga Savary: na ancestralidade da memória do haikai'. In:Retratos, 17
haikais. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1989.
Recentemente, Mauro Carreiro
Nolasco, o editor do Parthenon, publicou um excelente livro com muitos haikais do Pimentel. Foi um trabalho seletivo, auxiliado por a
Graça Porto. A orelha foi escrita pela artista plástica Verônica Debellian Acetta.
Capa
Contracapa
TEXTO DA ORELHA:
Pimentel
pode ser chamado de “globe-trotter”.
Como
jornalista, absorveu impressões do mundo e construiu uma memória crítica sobre
cada povo com que conviveu. Aprendeu suas línguas e costumes, andou como eles,
comeu suas comidas e 'sugou' suas culturas.
Essa
Babel de conhecimento apurou-lhe o olhar. Como fotógrafo registrou o que outros
não viam: a vida passando em rostos e lugares. Ilustrou com poesias e textos as
vivências de diferentes pessoas por diversos lugares onde andou.
Ainda
bem que um dia pousou em Niterói, com sua mente arrebatada, e aqui se deixou
ficar, dando-nos a honra de ser nosso longevo guardião da história, personagens
e fatos; de mudanças, coloridos e rimas.
Em
seu compasso, nas suas crônicas, nos sentimos mais vivos e partilhamos sua
energia.
Resquícios
da cultura japonesa, com que conviveu, aliados à mestria com que sintetiza
emoções, resultam haicais – uma parte deles neste livro. Com Pimentel, viajamos
por intrincados mundos, por sentimentos que só ele decodifica.
Nessa
linguagem desenhada, versos são grafismos nas paredes de uma folha branca. São
a prova de que Pimentel preenche as folhas de sua vida com o belo e a emoção de
cada dia, a cada linha que compõe.
Veronica
Debellian Accetta.
PREFÁCIO I
Quando
Mauro Carreiro Nolasco, do Parthenon Centro de Arte e Cultura, me convidou para
organizar um livro de bolso com haicais do nosso querido Luís Antônio Pimentel,
senti o peso da responsabilidade e, ao mesmo tempo, grande honra ao prestar
esta homenagem a meu grande mestre.
Como
Pimentel sempre diz: “Haicai é uma pequena poesia de origem japonesa, composta
de três linhas com 5-7-5 sílabas cada”.
Organizei
o livro por temas: Homenagem a Niterói,
Praias de Niterói, Haicais de A – Z, Cidades do Estado do Rio de Janeiro,
Mulheres Bíblicas e Haicais diversos, totalizando 176 haicais dos tantos
escritos por Pimentel.
Encontrei algumas frases soltas e selecionei oito delas.
Nesta edição também achei interessante inserir três poemas inéditos,
apresentados na seção intitulada “Sem a tua companhia”.
Ao
adentrar o universo poético de Pimentel, podemos perceber que, ao morar no
Japão e conhecer o haicai, apaixonado, ele começa a brincar com afinação,
harmonia e perspicácia.
Agradeço
a esse homem maravilhoso que dedicou sua vida a nossa cidade. Pimentel teceu e
revelou o seu amor por Niterói e pelo Japão. Com paciência e dedicação, ensinou
futuros jornalistas, educadores, pesquisadores e escritores, a arte do haicai.
Hoje,
aos 103 anos, Pimentel recita seus haicais com vivacidade.
Viva,
Pimentel! Viva!
Graça
Porto
Tal
como Pimentel, cheguei a Niterói, proveniente do norte fluminense, e também com
dois anos de idade.
Uma
das diferenças entre nós é que não sei se atingirei os 103 anos que, no
momento, ele já tem!
Apesar
de não empatarmos no tempo, temos o mesmo carinho pela cidade que adotamos como
nossa.
Se
existe alguma dívida da cidade, com certeza, é com Pimentel, que lhe deu
memória e consistência ao seu passado, que esmiuçou sua história, fazendo-a
chegar a todos. É um fenômeno “pop” que atravessa gerações, sempre atualizado
com a leveza dos jovens, talvez pela convivência com eles, na qualidade de
professor.
O
Parthenon contribui para a perenidade do ser humano Pimentel, e da obra que ele
próprio é, colaborando com a coordenação e a produção deste pequeno livro –
pequeno como são os haicais, palavras geometrizadas num mosaico literário. São
texturas invisíveis que levam o imaginário a paragens e sentimentos diversos.
Leio
e escuto os haicais como se fossem arautos do porvir, ainda tão distante. Dos
meus olhos brotam figuras ritmadas, que em meus ouvidos soam como música.
Dissonante e velada, a linguagem não tem início nem fim, mas um retinir de
ideias se desencadeia a cada poema.
É
sublime conviver com um ser capaz de por a alma em linhas que se cruzam,
formatando a vida em palavras. E como é rico ler os haicais de Pimentel!
É
gratificante poder editá-los e eternizá-los neste trabalho, organizado por
ocasião de seus 103 anos de vida plena.
Mauro
Carreiro Nolasco.
**********************************
Um registro muito importante para futuras gerações pesquisadoras. O
lançamento desse livro do Pimentel foi a última aparição em público que ele
fez. O último evento de que ele participou e que fez questão de autografar
todos os livros para quem no lançamento compareceu. O evento aconteceu no Salão
de Cultura da Editora Parthenon. Veja o convite abaixo:
Nesta
quarta-feira, dia 15 de abril, será lançado o livro "Luís Antônio Pimentel
em 176 haicais", organizado por Graça Porto. A obra reúne textos de um dos
ícones do jornalismo e da literatura fluminense, o centenário Luís Antônio
Pimentel.
O
Haicai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do século
20 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão, e na
maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku.
O
lançamento irá acontecer no Parthenon, na Rua General Andrade Neves, 40, no
Centro de Niterói, a partir das 16h. O evento é aberto ao público. Mais
informações pelo telefone (21) 2722 2256.
CLICAR NA IMAGEM PARA ASSISTIR AO FILME
COM IMAGENS DO 101º ANIVERSÁRIO DO PIMENTEL.
OU CLICAR NO LINK DO YOU TUBE.
Alberto Araújo e Luís Antônio Pimentel.
Esta fotografia foi tirada na noite festiva
do dia 09 de agosto de 2014.
Solenidade em que eu Aberto Araújo, recebi a medalha
José Cândido de Carvalho na Câmara Municipal.
Foi muito gratificante a presença do amigo Luís Pimentel.
Obrigado! mestre Pimentel,
por ter compartilhado comigo,
esse momento especial em minha vida.
Esta fotografia foi tirada na noite festiva
do dia 09 de agosto de 2014.
Solenidade em que eu Aberto Araújo, recebi a medalha
José Cândido de Carvalho na Câmara Municipal.
Foi muito gratificante a presença do amigo Luís Pimentel.
Obrigado! mestre Pimentel,
por ter compartilhado comigo,
esse momento especial em minha vida.
Luís Antônio Pimentel - poeta, escritor e fotógrafo.
29 de março de 1912
06 de maio de 2015.
Luís
Antônio Pimentel tomou gosto pelo jornalismo ainda estudante, ao editar o
jornal "O Calouro", da Escola Profissional Washington Luiz (atual ETE
Henrique Lage), na qual foi trabalhar como professor depois de formado.
Em
1930, aos 18 anos, pisou pela primeira vez em uma redação profissional, como
revisor no então recém-lançado Diário de Notícias. Ali conviveu, entre outros,
com a poeta Cecília Meirelles e os ilustradores Álvaro (Álvarus) Cotrim,
Fernando Correa Dias e Cornélio Penna, este último também romancista.
Incentivado
pelos colegas, chegou a publicar alguns contos próprios no suplemento literário
do DN e ingressou na Escola Nacional de Bellas Artes, onde teve aulas com Edgar
Parreiras, sobrinho do paisagista Antônio Parreiras.
Em
1932, aceitou o convite para trabalhar na Gazeta Fluminense e no periódico
veiculou suas primeiras caricaturas. No ano seguinte, publicou o livro de
estreia, Ciranda, cirandinha, e passou a fazer parte da equipe do jornal A
Nação.
Em
1934, promovido a repórter, transferiu-se para a Gazeta de Notícias, onde
contribuiu com caricaturas, charges, contos e poesias no suplemento literário e
assumiu a coluna ?DIZ QUE DIZ?, sobre os bastidores do rádio. Por conta da
profissão, passou a frequentar os círculos musicais cariocas e acabou por
compor músicas, depois gravadas por Carmem Miranda e Odete Amaral.
Preso
pela polícia de Vargas
Membro
da Juventude Comunista, em 1936 foi preso pela polícia política de Getúlio
Vargas. Solto, conseguiu uma bolsa de estudos e, em 1937, viajou para o Japão,
onde permaneceu até 1942.
Do
outro lado do mundo, em plena guerra, trabalhou na Rádio de Tóquio em língua
portuguesa e lançou o segundo livro, Namida no Kitô (Prece em lágrimas), de
1940, mesmo ano da edição de Contos do velho Nipon, sobre o folclore daquele
país, publicado no Brasil.
De
volta, ajudou a divulgar o haicai em terras tupiniquins e colaborou com os
jornais Última Hora (sucursal Niterói), Praia Grande em Revista, Letras
Fluminenses (coluna ?Folclore?), O Estado, Diário da Manhã, Correio Fluminense
e Diário Fluminense, entre outros.
Diplomou-se
em Jornalismo pela antiga Faculdade Nacional de Filosofia, em 1952, e ajudou a
fundar a Sociedade Fluminense de Fotografia. Com diversos livros publicados, pertencia a várias academias literárias e era presidente de honra
do Grupo Mônaco de Cultura.
APOIO CULTURAL
Bela homenagem, Confrade Alberto! Abç,
ResponderExcluirPRC