Convidado para a
sessão de abertura da Festa Literária Internacional de Paraty, ao lado da
historiadora Lilia Moritz Schwarcz, com direção de cena de Felipe Hirsch, o
ator baiano lança "Na Minha Pele". No livro de memórias, reflete
sobre ser negro no Brasil.
Esta história
começa em uma ilhazinha cercada de águas verdes na Baía de Todos os Santos.
Como quase todo
mundo descendia de negros ou índios no lugar, conta o ator, ele não precisou
pensar na cor de sua pele - pelo menos não tão cedo. Nem ouvia a palavra negro
dentro da casa. A família dizia apenas "a gente, que é 'assim', tem que
andar mais arrumadinho."
Lázaro só foi se
dar conta de que havia racismo no mundo ao ir morar em Salvador -fosse ao se
sentir excluído na escola particular, que a família fazia esforço para pagar,
ou quando encontrava a patroa da mãe, que trabalhava como empregada doméstica.
"Quero um
diálogo com o jovem negro que não teve ninguém para conversar sobre o assunto,
mas também com quem nunca pensou sobre ele", diz Lázaro.
É curioso quando
o ator lembra de comportamentos automáticos que são fruto da infância. Para
ele, feijoada só podia ter uma calabresa - uma rodinha para cada um. Mesmo mais
velho, com a carreira bem-sucedida, demorou para se dar conta que isso não
fazia sentido.
"Comida na
geladeira também é militância", ri.
A formação
política mais sólida, contudo, só veio quando ele entrou para o Bando de Teatro
Olodum, grupo formado por atores negros. A Companhia se dedicava a escrever
peças sobre o racismo, a escravidão, Zumbi dos Palmares e temas afins.
Passou a prestar
atenção em sutilezas. Um exemplo: diz ter percebido que, no noticiário, a
diferença entre "criança" e "menor" costumava ser a cor da
pele.
"Não escrevo
por talento, mas por necessidade. Identifiquei na minha história elementos que
não vi em outros livros. É a voz desse menino que morou em um bairro popular de
Salvador e entrou num grupo de atores negros que queria escrever sua própria
história", afirma.
Envolvido na
militância, portanto, desde os anos 1990, Lázaro tenta se atualizar acompanhando
os debates na internet. Na sua época, lembra, não se falava de feminismo negro.
Os símbolos estéticos eram apenas o black-power e as trancinhas.
Como a maior
parte dos militantes contra o racismo, Lázaro traz um discurso que se alinha à
esquerda do espectro político. O repórter o questiona sobre o que acha de
Fernando Holiday (DEM -SP), vereador negro que costuma se opor às ações
afirmativas.
O clima pesa.
"Você acha
mesmo que eu vou dar espaço para o Fernando Holiday na minha entrevista?",
afirma Lázaro, acrescentando que não vai responder à pergunta (e, a seu modo,
respondendo).
Mas, em termos
genéricos, um negro pode ser de direita? "Claro que é possível. Há dores e
delícias que nos aproximam, mas cada negro é um indivíduo. Não posso fazer uma
análise acusatória de quem não conheço, é isso que defendo o tempo todo."
A reação se
repete em um questionamento sobre a ideia de apropriação cultural -segundo a
qual seria errado brancos se usarem de símbolos da cultura afro-brasileira- e a
controvérsia do turbante.
"Você adora
uma frase feita, né? Você quer que eu diga 'adoro branco usando turbante' ou
'branco não devia usar turbante'? É um dilema importante, não vou reduzir numa
frase para você", afirma.
Mesmo assim, o
ator aponta algo que chama de "apropriação econômica". Diz ver, por
exemplo, em manifestações culturais de origem negra, como o samba, o dinheiro
circular por mãos brancas.
"Quando você
pensa a apropriação nesse âmbito, você vê que tem algo esquisito. É bacana
admirar objetos de outra etnia, mas vamos pensar nas oportunidades e direitos
que essa outra etnia tem."
Lázaro não se
esquiva, no livro, de falar da TV Globo, onde trabalha e estreará um programa
em dezembro. Ele lembra uma pesquisa apontando que só 4% das protagonistas em
novelas no canal foram interpretadas por mulheres não brancas. E só três
atrizes se revezaram nesse papel.
O ator também
conta que tem por regra recusar papéis em que aparecerá com uma arma de fogo.
Até fez alguns, confessa, mas sempre quando há alguma inadequação entre
personagem e objeto.
O ator conta
também calcular os momentos de falar sobre o racismo:
"Seleciono
tudo. Não podem roubar sua humanidade. Você é um ser mais complexo, que não é
descrito apenas pela cor da sua pele."
NA MINHA PELE
AUTOR Lázaro Ramos
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 34,90 (152 págs.)
LANÇAMENTO 6/7, às 19h,
AUTOR Lázaro Ramos
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 34,90 (152 págs.)
LANÇAMENTO 6/7, às 19h,
na Livraria Cultura do Conjunto Nacional -
av.
Paulista, 2073, São Paulo, SP, Brasil.
tel. (11) 3170-4033
APOIO CULTURAL
FONTE: Livraria Cultura.
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