Localizado dentro da
Quinta da Boa Vista, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o Museu Nacional sempre
teve um perfil popular e atraía centenas de famílias nos fins de semana. A
presença de múmias egípcias e esqueletos de dinossauros no acervo exposto à
visitação despertava especial fascínio entre o público infantil.
Ainda levará algum
tempo para que as novas gerações possam visitar o palácio, que também foi
residência da família real, tendo abrigado a corte portuguesa recém-chegada ao
Rio, em fuga da invasão napoleônica.
Reabertura parcial
em 2022
O museu tem
reabertura parcial prevista para setembro de 2022, no bicentenário da
independência do Brasil. A instituição é vinculada à Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), que estima em cinco anos o prazo de reconstrução total,
orçada em R$ 250 milhões.
As obras estão
atrasadas, e não somente em razão da pandemia. De acordo com a própria direção
do museu, a demora se deve a problemas por parte da empresa de construção que
venceu a licitação para reerguer a fachada e os telhados do palácio.
Semanas após o
incêndio, a Unesco estimou em dez anos o prazo de recuperação completa do
museu, considerando o acervo. Apesar dos problemas no andamento da obra, a
organização elogia o desempenho do trabalho conduzido até aqui.
A coordenadora de
Cultura da Unesco no Brasil, Isabel de Paula, ressalta que, mesmo no contexto
da pandemia, avanços importantes foram divulgados, como a aprovação pelo IPHAN
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) do projeto de restauro
das fachadas e telhados do bloco histórico do Paço de São Cristóvão. As obras
devem ser iniciadas até princípios de 2021.
“O prédio
administrativo do novo campus acadêmico será concluído em novembro, e a obra de
reforma e ampliação da Biblioteca Central deverá ser contratada já no próximo
mês de outubro. Boas notícias, portanto, que animam nossa caminhada”, avalia
Isabel de Paula.
Apelo por doações
Segundo a direção do
museu, o valor total arrecadado até agora permite o custeio de 50% da
restauração completa. No dia 19 de agosto, a Assembleia Legislativa do Rio
oficializou uma doação de R$ 20 milhões do Fundo Especial do Parlamento
Fluminense para as obras de restauração do palácio.
Já nos três
primeiros meses após o incêndio, a instituição conseguiu arrecadar R$ 90
milhões. Mais de metade do valor —R$ 43 milhões— veio de uma emenda parlamentar
da bancada do Rio de Janeiro. O restante dos recursos foi aportado por bancos
de fomento, como o BNDES, e instituições de apoio à ciência.
Um ano após a
tragédia, a Fundação Vale fez uma doação de R$ 50 milhões e se juntou ao comitê
gestor de governança responsável por conduzir o projeto de recuperação do museu
e atrair mais investimentos privados, com representantes da UFRJ, Unesco e
BNDES.
“O Museu Nacional é
um projeto vencedor, não é de ‘vamo ver’. Ninguém imaginava que a Alerj
entraria com R$ 20 milhões”, afirma Alexander Kellner, diretor do Museu
Nacional. Ele apela para que as fundações, sobretudo internacionais, apoiem o
processo de reconstrução, com aportes financeiros e doações de acervos.
“Temos a
oportunidade de reconstruir um museu de História Natural e Antropologia que
sirva de modelo para toda a América Latina. Se perdermos essa chance, teremos
todos nossa parcela de culpa. A cultura aproxima povos, e é o que a gente mais
precisa vendo a imagem do país no exterior. A reconstrução do museu custa um
quarto da recuperação de uma igreja, com influência bem maior”, diz.
Na última 3ª feira
(01.set), Kellner frisou a importância da participação do governo alemão no
processo desenvolvido até aqui. “A Alemanha auxiliou muito no trabalho de
resgate do acervo com doação de luvas, máscaras e em questões delicadas de
eletricidade. Não foi exigida nenhuma pré-condição, perguntaram as necessidades
e trouxeram apoio”, relata.
Apenas quatro dias
após o incêndio que destruiu o Museu Nacional, o governo alemão anunciou a
doação de 1 milhão de euros para a reconstrução do Museu Nacional. A verba tem
sido entregue de forma escalonada, a pedido da direção, para que seja utilizada
racionalmente. Até setembro do ano passado, já haviam sido transferidos 326.179
euros.
UM POUCO SOBRE O
MUSEU NACIONAL
O Museu Nacional,
vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a mais antiga
instituição científica do Brasil que, até setembro de 2018, figurou como um dos
maiores museus de história natural e de antropologia das Américas. Localiza-se
no interior do parque da Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro,
estando instalado no Palácio de São Cristóvão. O palácio serviu de residência à
família real portuguesa de 1808 a 1821, abrigou a família imperial brasileira
de 1822 a 1889 e sediou a primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889
a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, em 1892. O edifício é tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1938.
Fundado por Dom João VI em 6 de junho de 1818 sob a denominação de Museu Real,
o museu foi inicialmente instalado no Campo de Santana, reunindo o acervo
legado da antiga Casa de História Natural, popularmente chamada "Casa dos
Pássaros", criada em 1784 pelo Vice-Rei Dom Luís de Vasconcelos e Sousa,
além de outras coleções de mineralogia e zoologia. A criação do museu visava
atender aos interesses de promoção do progresso socioeconômico do país através
da difusão da educação, da cultura e da ciência. Ainda no século XIX,
notabilizou-se como o mais importante museu do seu gênero na América do Sul.
Foi incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1946.
O Museu Nacional abrigava
um vasto acervo com mais de 20 milhões de itens, englobando alguns dos mais
relevantes registros da memória brasileira no campo das ciências naturais e
antropológicas, bem como amplos e diversificados conjuntos de itens
provenientes de diversas regiões do planeta, ou produzidos por povos e
civilizações antigas. Formado ao longo de mais de dois séculos por meio de
coletas, escavações, permutas, aquisições e doações, o acervo era subdividido
em coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia
biológica (incluindo-se neste núcleo os remanescentes do esqueleto de Luzia, o
mais antigo fóssil humano das Américas), arqueologia e etnologia. Foi a
principal base para as pesquisas realizada pelos departamentos acadêmicos do
museu que desenvolve atividades em todas as regiões do país e em outras partes
do mundo, incluindo o continente antártico. Possui uma das maiores bibliotecas
especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470 000 volumes e 2
400 obras raras.
No campo do ensino,
o museu oferece cursos de extensão, especialização e pós-graduação em diversas
áreas do conhecimento, além de realizar exposições temporárias e atividades
educacionais voltadas ao público em geral. Administra o Horto Botânico, ao lado
do Palácio de São Cristóvão, além do campus avançado na cidade de Santa Teresa,
no Espírito Santo a Estação Biológica de Santa Lúcia, mantida em conjunto com o
Museu de Biologia Professor Mello Leitão. Um terceiro espaço no município de
Saquarema é utilizado como centro de apoio às pesquisas de campo. Dedica-se,
por fim, à produção editorial, destacando-se nessa vertente a edição dos
Arquivos do Museu Nacional, o mais antigo periódico científico brasileiro
especializado em ciências naturais, publicado desde 1876.
Na noite de 2 de
setembro de 2018, um incêndio de grandes proporções atingiu a sede do Museu
Nacional, destruindo a quase totalidade do acervo em exposição, uma perda
inestimável e incalculável para formação histórica e cultural não só do país
mas do mundo. Foram perdidos registros de dialetos e cantos indígenas de
comunidades que já se extinguiram, afirmou o historiador Daniel Tutushamum
Puri. O edifício que abriga o museu também resultou extremamente danificado,
com rachaduras, desabamento de sua cobertura, além da queda de lajes internas.
Em 17 de janeiro de
2019 o Museu Nacional inaugurou sua primeira exposição após o incêndio que
destruiu seu acervo. O acervo das pesquisas sobre fósseis de animais marinhos,
elaborado por funcionários da instituição, foi exposto no prédio da Casa da
Moeda. O público pôde encontrar fósseis de 80 milhões de anos.
Em 2019 o Museu
Nacional teve disponível uma verba de 85,4 milhões de reais para uso nas obras
de recuperação do acervo e infraestrutura. Essa verba foi recebida após a
repercussão do incidente, que provocou manifestações denunciando o descaso do
governo, e debates acalorados em redes sociais em torno da manutenção da
instituição histórica. Dos R$ 85,4 milhões de reais destinados ao Museu
Nacional, R$ 55 milhões virão do Orçamento da União para 2019 que foi aprovado
pelo Congresso Nacional em 19 de dezembro de 2018. A verba foi indicada por
deputados da bancada do Rio de Janeiro e apresentada como emenda impositiva,
aprovada pela Comissão Mista de Orçamento.
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