sábado, 5 de setembro de 2020

MUSEU NACIONAL PREVISÃO PARA A REABERTURA EM 2022



Localizado dentro da Quinta da Boa Vista, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o Museu Nacional sempre teve um perfil popular e atraía centenas de famílias nos fins de semana. A presença de múmias egípcias e esqueletos de dinossauros no acervo exposto à visitação despertava especial fascínio entre o público infantil.

Ainda levará algum tempo para que as novas gerações possam visitar o palácio, que também foi residência da família real, tendo abrigado a corte portuguesa recém-chegada ao Rio, em fuga da invasão napoleônica.

Reabertura parcial em 2022

O museu tem reabertura parcial prevista para setembro de 2022, no bicentenário da independência do Brasil. A instituição é vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que estima em cinco anos o prazo de reconstrução total, orçada em R$ 250 milhões.

As obras estão atrasadas, e não somente em razão da pandemia. De acordo com a própria direção do museu, a demora se deve a problemas por parte da empresa de construção que venceu a licitação para reerguer a fachada e os telhados do palácio.

Semanas após o incêndio, a Unesco estimou em dez anos o prazo de recuperação completa do museu, considerando o acervo. Apesar dos problemas no andamento da obra, a organização elogia o desempenho do trabalho conduzido até aqui.

A coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, Isabel de Paula, ressalta que, mesmo no contexto da pandemia, avanços importantes foram divulgados, como a aprovação pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) do projeto de restauro das fachadas e telhados do bloco histórico do Paço de São Cristóvão. As obras devem ser iniciadas até princípios de 2021.

“O prédio administrativo do novo campus acadêmico será concluído em novembro, e a obra de reforma e ampliação da Biblioteca Central deverá ser contratada já no próximo mês de outubro. Boas notícias, portanto, que animam nossa caminhada”, avalia Isabel de Paula.

Apelo por doações

Segundo a direção do museu, o valor total arrecadado até agora permite o custeio de 50% da restauração completa. No dia 19 de agosto, a Assembleia Legislativa do Rio oficializou uma doação de R$ 20 milhões do Fundo Especial do Parlamento Fluminense para as obras de restauração do palácio.

Já nos três primeiros meses após o incêndio, a instituição conseguiu arrecadar R$ 90 milhões. Mais de metade do valor —R$ 43 milhões— veio de uma emenda parlamentar da bancada do Rio de Janeiro. O restante dos recursos foi aportado por bancos de fomento, como o BNDES, e instituições de apoio à ciência.

Um ano após a tragédia, a Fundação Vale fez uma doação de R$ 50 milhões e se juntou ao comitê gestor de governança responsável por conduzir o projeto de recuperação do museu e atrair mais investimentos privados, com representantes da UFRJ, Unesco e BNDES.

“O Museu Nacional é um projeto vencedor, não é de ‘vamo ver’. Ninguém imaginava que a Alerj entraria com R$ 20 milhões”, afirma Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional. Ele apela para que as fundações, sobretudo internacionais, apoiem o processo de reconstrução, com aportes financeiros e doações de acervos.

“Temos a oportunidade de reconstruir um museu de História Natural e Antropologia que sirva de modelo para toda a América Latina. Se perdermos essa chance, teremos todos nossa parcela de culpa. A cultura aproxima povos, e é o que a gente mais precisa vendo a imagem do país no exterior. A reconstrução do museu custa um quarto da recuperação de uma igreja, com influência bem maior”, diz.

Na última 3ª feira (01.set), Kellner frisou a importância da participação do governo alemão no processo desenvolvido até aqui. “A Alemanha auxiliou muito no trabalho de resgate do acervo com doação de luvas, máscaras e em questões delicadas de eletricidade. Não foi exigida nenhuma pré-condição, perguntaram as necessidades e trouxeram apoio”, relata.

Apenas quatro dias após o incêndio que destruiu o Museu Nacional, o governo alemão anunciou a doação de 1 milhão de euros para a reconstrução do Museu Nacional. A verba tem sido entregue de forma escalonada, a pedido da direção, para que seja utilizada racionalmente. Até setembro do ano passado, já haviam sido transferidos 326.179 euros.

 

UM POUCO SOBRE O MUSEU NACIONAL

 

 

O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a mais antiga instituição científica do Brasil que, até setembro de 2018, figurou como um dos maiores museus de história natural e de antropologia das Américas. Localiza-se no interior do parque da Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, estando instalado no Palácio de São Cristóvão. O palácio serviu de residência à família real portuguesa de 1808 a 1821, abrigou a família imperial brasileira de 1822 a 1889 e sediou a primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1938. Fundado por Dom João VI em 6 de junho de 1818 sob a denominação de Museu Real, o museu foi inicialmente instalado no Campo de Santana, reunindo o acervo legado da antiga Casa de História Natural, popularmente chamada "Casa dos Pássaros", criada em 1784 pelo Vice-Rei Dom Luís de Vasconcelos e Sousa, além de outras coleções de mineralogia e zoologia. A criação do museu visava atender aos interesses de promoção do progresso socioeconômico do país através da difusão da educação, da cultura e da ciência. Ainda no século XIX, notabilizou-se como o mais importante museu do seu gênero na América do Sul. Foi incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1946.

 

O Museu Nacional abrigava um vasto acervo com mais de 20 milhões de itens, englobando alguns dos mais relevantes registros da memória brasileira no campo das ciências naturais e antropológicas, bem como amplos e diversificados conjuntos de itens provenientes de diversas regiões do planeta, ou produzidos por povos e civilizações antigas. Formado ao longo de mais de dois séculos por meio de coletas, escavações, permutas, aquisições e doações, o acervo era subdividido em coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica (incluindo-se neste núcleo os remanescentes do esqueleto de Luzia, o mais antigo fóssil humano das Américas), arqueologia e etnologia. Foi a principal base para as pesquisas realizada pelos departamentos acadêmicos do museu que desenvolve atividades em todas as regiões do país e em outras partes do mundo, incluindo o continente antártico. Possui uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470 000 volumes e 2 400 obras raras.

 

No campo do ensino, o museu oferece cursos de extensão, especialização e pós-graduação em diversas áreas do conhecimento, além de realizar exposições temporárias e atividades educacionais voltadas ao público em geral. Administra o Horto Botânico, ao lado do Palácio de São Cristóvão, além do campus avançado na cidade de Santa Teresa, no Espírito Santo a Estação Biológica de Santa Lúcia, mantida em conjunto com o Museu de Biologia Professor Mello Leitão. Um terceiro espaço no município de Saquarema é utilizado como centro de apoio às pesquisas de campo. Dedica-se, por fim, à produção editorial, destacando-se nessa vertente a edição dos Arquivos do Museu Nacional, o mais antigo periódico científico brasileiro especializado em ciências naturais, publicado desde 1876.

 

Na noite de 2 de setembro de 2018, um incêndio de grandes proporções atingiu a sede do Museu Nacional, destruindo a quase totalidade do acervo em exposição, uma perda inestimável e incalculável para formação histórica e cultural não só do país mas do mundo. Foram perdidos registros de dialetos e cantos indígenas de comunidades que já se extinguiram, afirmou o historiador Daniel Tutushamum Puri. O edifício que abriga o museu também resultou extremamente danificado, com rachaduras, desabamento de sua cobertura, além da queda de lajes internas.

 

Em 17 de janeiro de 2019 o Museu Nacional inaugurou sua primeira exposição após o incêndio que destruiu seu acervo. O acervo das pesquisas sobre fósseis de animais marinhos, elaborado por funcionários da instituição, foi exposto no prédio da Casa da Moeda. O público pôde encontrar fósseis de 80 milhões de anos.

 

Em 2019 o Museu Nacional teve disponível uma verba de 85,4 milhões de reais para uso nas obras de recuperação do acervo e infraestrutura. Essa verba foi recebida após a repercussão do incidente, que provocou manifestações denunciando o descaso do governo, e debates acalorados em redes sociais em torno da manutenção da instituição histórica. Dos R$ 85,4 milhões de reais destinados ao Museu Nacional, R$ 55 milhões virão do Orçamento da União para 2019 que foi aprovado pelo Congresso Nacional em 19 de dezembro de 2018. A verba foi indicada por deputados da bancada do Rio de Janeiro e apresentada como emenda impositiva, aprovada pela Comissão Mista de Orçamento.












 

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