Era mais um dia comum de
correria. A mesma rotina de sempre: casa, trabalho, filhos, cachorro etc. etc.
etc. Piloto ligado no automático. Já era final de tarde, e eu estava cansada,
mas aliviada por ter cumprido quase todas as tarefas estabelecidas. Faltava
ainda participar de uma LIVE no início da noite, mas antes de ir para casa
precisava passar rapidamente no supermercado, pois no dia seguinte iria viajar
e precisava deixar a geladeira e a dispensa abastecidas para as crianças (nem
tão crianças assim).
O supermercado, como eu
suspeitava, estava cheio, então teria que correr com as compras para dar tempo.
Peguei o carrinho e incorporei o espírito do Airton Senna: acelerei o máximo e
só freava nas curvas perigosas ou para fazer um pit stop nas prateleiras onde
estavam os produtos que queria. Fiz tudo em tempo recorde. Ufa! Vai dar tempo
tranquilo. Ao chegar no caixa, a decepção: todos ocupados com um ou dois
carrinhos. Fazer o quê?! O jeito era esperar.
Enquanto a fila não andava,
entrei em contato com a pessoa que iria fazer a live comigo, para preveni-la
que talvez pudesse atrasar uns minutinhos. Não gosto de descumprir o combinado,
mas a outra opção seria deixar as compras no supermercado e sair correndo. Mas,
e as “crianças”? Meu lado mãe culpada falou mais alto e permaneci
“pacientemente” na fila.
Quando chegou a minha fez, aconteceu a grande surpresa que transformou o meu dia, que me fez sair do piloto automático e acreditar que a espécie humana não está completamente perdida. Eu explico: uma senhora que estava atrás de mim, talvez percebendo a minha inquietação, se ofereceu para ajudar a tirar as compras do carrinho e colocar no caixa. Agradeci, é claro, meio sem jeito e meio aliviada com a gentileza. Quando terminei o pagamento, me aproximei da senhora e agradeci novamente, falando que um dia eu gostaria de retribuí-la de alguma maneira. Foi então que ela tirou uma flor de um buquê que estava em seu carrinho e me deu de presente. Nossa, arrepiei! Que gesto lindo e inesperado! Fiquei genuinamente comovida.
Tive curiosidade em saber quem era aquela senhora tão deliberadamente gentil, mas estava tão atônita que sequer perguntei seu nome. Aquele gesto mudou a rotação do meu dia. Ao invés da correria desenfreada que estava me tirando o fôlego e me vendando os olhos para as delicadezas da vida, passei a funcionar em câmera lenta. Esqueci-me da hora, da live, da correria. Degustei cada segundo daquele momento. Nunca irei me esquecer da senhora que me deu uma flor no supermercado e que me fez voltar a ter fé e esperança na humanidade.
PUBLICADO EM SUA COLUNA NO SITE
DIÁRIO DO SUL. EM 21 DE SETEMBRO DE 2022
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