terça-feira, 23 de janeiro de 2018

POEMAS DA MEIA-NOITE (E DO MEIO-DIA) WILLIAM SOARES DOS SANTOS.

 
 

 
 
 
 
 
POEMAS DA MEIA-NOITE (E DO MEIO-DIA) 
WILLIAM SOARES DOS SANTOS
 
 
Texto da revista Subversa
 
 
William Soares dos Santos publicou recentemente, seus “Poemas da meia-noite (e do meio dia)”, cuidadosamente editado pela Moinhos.
A circularidade da obra chega às mãos do leitor pela capa, pintada originalmente, em aquarela pelo próprio William: duas esferas levemente interseccionadas, articulando uma dimensão “cheia” e outra “vazia”, prontas a se eclipsar uma na outra, convidando para a entrada no livro.
 
Sete ilustrações dividem as sete partes em que os poemas são divididos. A primeira delas, “A dança das esferas”, abre passagem para um espaço literário todo marcado pelo círculo, fazendo uso da geometria em sua marcação rítmica, dosando a matemática neste ou naquele poema para afirmar uma estética do contínuo dos dias. O poeta vai se assentando em estrofes que exaltam o ritmo vital e a harmonização universal: Só há sol / em intervalos / de sistemas / que dançam.
 
Em outros momentos, o poeta está dessassossegado, contrapondo a geometria cósmica à irregularidade das sensações, ao inexplicável da poesia, como fica mais nítido em “Horizontes”: Em meio a / desassossegos / sem fim, / a terra se aquece / no silêncio. Num tom quase impotente, o último verso de “Big Bang” desespera-se um pouco mais: “Onde eu estava no Big Bang?”. Em “Mitocôndria”, o mesmo contraste aparece, entre o biológico e o mitológico, centro ao redor do qual o poeta orbita em artimanhas estéticas circulares.
 
 
 
 
 
Uma das ilustrações mais marcantes é a imagem “Apolo conduzindo a música das esferas”, que faz parte do tratado Practica Musicae, de Franchinus Gaffurius. Cabe lembrar que o teórico musical renascentista desenvolveu o que é comumente chamado de “filosofia da música”, em que trabalha a ideia ligada à tradição pitagórica na qual os sons são tratados em proporções matemáticas. Os números e equações estão presentes no poema Tesla, de William: quais mistérios / encontrarei / ao final / das equações. Curioso é lembrar que Nikola Tesla é considerado um “injustiçado” no mundo da física, apesar de suas contribuições extraordinárias, morreu falido e seu espólio foi entregue, parte do qual ainda é mantido em segredo vetado acesso público. O que faz com que muitos especulem o seu conteúdo, mistério que “não se revela / ao meu ignoto olhar”.
 
Tal como o Paradigma de Tales, há nos poemas de William um modelo a ser seguido; disperso e fluido como a água, mas ligado a um universo de sensibilidades, ou numa energia tal como definiu Tesla, que nunca se dispersa de todo, está sempre presente ligando todas as coisas: do dia à noite, da morte à vida, do matemático ao inexplicável, do macrocosmo ao microcosmo, da poeira estrelar aos ecos íntimos que reverberam, tal como a pedra, quando lançada à agua. Tudo está ligado, no sentido da teoria de Anaximandro: todos somos feitos da mesma matéria infinita 
"meu DNA mostra / que estou conectado / quase da mesma forma / à mosca”
 
Tudo está composto por contrários que se autoexcluem e, por isso mesmo, se completam: meio-dia ou meia-noite.
A cristalização do tempo, diante de sua circularidade infinita, define o que vai permanecer em determinado momento, num eterno retorno de agoras, na filosofia nietzscheana. O pai, que já foi filho, será o pai de um filho que será pai e que terá um filho. O tempo torna-se um eterno revisitar, o déjà-vu, o repetir / paisagens visitadas / ritmos experimentados, / odores que se perderam no caminho / e que retornam / sem aviso; como um “cometa que volta ao mesmo ponto”.
Se podemos dizer que há uma quebra na sinfonia circular do livro, esta quebra centra-se em “três poemas do desvio”, antepenúltima parte do livro. Sem nunca largar a mão do leitor, o poeta rompe o mundo esférico do dia e da noite internalista e faz alusão a três elementos factuais da realidade nacional (a exploração da natureza, as questões de gênero e a dominação política), explícitos em poemas que estabelecem ligação direta com o real e se situam como um braço social do livro. Ainda que toda a poesia seja política, no desvio está a personificação do poeta político. No badalar dos relógio temporal do livro, é onde os ponteiros fazem pausa brusca, emperram na recolha de momentos que fazem o poeta falar mais alto. Agora, às margens de Colatina, / quase tudo morreu / inclusive a narcísica figura / do que pensei que fosse eu”.
Por fim, “ecos intimos” encerram o livro com claras referências às influências literárias do autor, que vão desde Manuel de Barros a Stephane Mallarmé, encerrando, novamente, com o devir cíclico do trabalho do poeta, que, de sol a sol, passa pela meio dia e pela meia noite a ler e a escrever a poesia de si e a poesia do universo num movimento infinito.
 
 
 
 




O livro “Poemas da meia-noite (e do meio-dia)” oferece ao leitor uma extraordinária viagem pelo insólito tempo-espaço descortinado pelo poeta. O livro é divido em sete partes, cada uma das quais anunciada por uma gravura e um título. Estes são: “A dança das esferas…”, “Meia-noite…”, “A alvorada”, “Meio-dia (ou Manhãs sem sol…)”, “Três poesias do desvio”, “Tecer palavras” e “Ecos íntimos…”. As primeiras partes têm a ver não apenas com o tempo do dia, mas também com o da história e o do cosmo, por cujos mistérios é um prazer viajar com o poeta. No seu caminho, ele dialoga sobre os mais variados e poéticos enigmas com inúmeros outros poetas e pensadores. Finalmente, em “Ecos íntimos”, é fascinante acompanhar o mergulho de William Soares dos Santos na poesia de cerca de quarenta poetas cujos nomes – dispostos em ordem alfabética, de Adélia Prado a William Wordsworth – nomeiam os admiráveis últimos poemas desse livro cativante.

Texto de orelha de Antonio CICERO




 
ALGUMAS POESIAS
 
 
 
 
Só há sol
 
Só há sol
em intervalos
de sistemas
que dançam.
Só há vida
em sistemas
cujo sol
soube bailar,
em harmonias de
distâncias
com planetas,
a celestial
e sempiterna
dança das esferas.


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Horizontes
 
Horizontes
imensos
nos quais o
limiar
do mar
se perde
em pleno caos.
Em meio a
desassossegos
sem fim,
a terra se aquece
no silêncio.
 
 
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A vida
 
 
A vida,
um processo
entre
energia
e
movimento
entre
sonharmos
e
sermos sonhados
entre
poeira cósmica
e
pensarmos.


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Big Bang
 
Se a energia
não pode ser
criada,
nem destruída,

isso significa
que a alma é
a nossa forma
energética
em

caminhar
eterno?
Onde eu estava
no
Big Bang?
 





 
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SOBRE O AUTOR
 
 
William Soares dos Santos (1972) é carioca, Professor da UFRJ, tradutor, escritor e membro titular do PEN Clube do Brasil. Dentre seus trabalhos literários, se destacam o livro de poemas “Rarefeito” (2015), o livro de contos “Um Amor” (2016) e o livro de poesias “Poemas da meia-noite (e do meio-dia)”, editado pela Editora Moinhos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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