ERNESTO JÚLIO DE NAZARETH ou
simplesmente, ERNESTO NAZARETH foi um pianista e compositor brasileiro,
considerado um dos grandes nomes do maxixe, considerado, desde os anos 1920, um
subgênero do choro. É o Patrono da Cadeira de número 28 da Academia Brasileira
de Música.
Ernesto Nazareth nasceu na casa
nº 9 da Rua do Bom Jardim (atual Rua Marquês de Sapucaí), na encosta do então
Morro do Nheco (atual Morro do Pinto), no bairro do Santo Cristo. Era filho do
despachante aduaneiro Vasco Lourenço da Silva Nazareth (1838 - 1940) e de
Carolina Augusta da Cunha Nazareth. Sua mãe foi quem lhe apresentou ao piano e
lhe ministrou as primeiras noções do instrumento. Após a morte da mãe em 1874,
Nazareth passou a receber lições de Eduardo Rodolpho de Andrade Madeira, amigo
da família e, mais tarde, lições de Charles Lucien Lambert, um afamado
professor de piano de Nova Orleans radicado no Rio de Janeiro e grande amigo de
Louis Moreau Gottschalk.
Aos 14 anos, compôs sua primeira
música, a polca-lundu "Você bem sabe", editada no ano seguinte pela
famosa Casa Arthur Napoleão.
Em 1879, escreveu a polca
"Cruz, perigo!!". Em 1880, com 17 anos de idade fez sua primeira
provável apresentação pública, no Club Mozart. No ano seguinte, compôs a polca
"Não caio noutra!!!", seu primeiro grande sucesso, com diversas reedições.
Em 1885, apresentou-se em concertos em diferentes clubes da corte. Em 1893, a
Casa Vieira Machado lançou uma nova composição sua, o tango
"Brejeiro", com o qual alcançou sucesso nacional e até mesmo
internacional, sendo publicada em Paris e nos Estados Unidos em 1914.
Em 14 de julho de 1886, casou-se
com Theodora Amália Leal de Meirelles, com quem teve quatro filhos: Eulina,
Diniz, Maria de Lourdes e Ernestinho.
Seu primeiro concerto como
pianista realizou-se em 1898. No ano seguinte, foi feita a primeira edição do
tango "Turuna". Em 1902, teve sua primeira obra gravada, o tango
brasileiro "Está Chumbado", pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio
de Janeiro. Em 1904, sua composição "Brejeiro" foi gravada pelo
cantor Mário Pinheiro com o título de "O sertanejo enamorado", com
letra de Catulo da Paixão Cearense. Em 1908, começou a trabalhar como pianista
na Casa Mozart. No ano seguinte, participou de recital realizado no Instituto
Nacional de Música, interpretando a gavota "Corbeille de fleurs" e o tango
característico "Batuque".
Em 1919, começou a trabalhar como
pianista demonstrador da Casa Carlos Gomes à Rua Gonçalves Dias, de propriedade
do também pianista e compositor Eduardo Souto, com a função de executar músicas
para serem vendidas. Na época, a maneira mais comum de se tomar conhecimento
das as novidades musicais era através das casas de música e seus pianistas
demonstradores. Não havia rádio, os discos eram raros e o cinema, mudo. Em
1919, a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro gravou os tangos
"Sarambeque" e "Menino de ouro" e a valsa
"Henriette". E, em 1920, Heitor Villa-Lobos dedicou, a ele, a peça
"Choro nº 1", para violão.
Intérprete constante de suas
próprias composições, Nazareth apresentava-se como pianista em salas de cinema,
bailes, reuniões e cerimônias sociais. De 1909 a 1913 e de 1917 a 1918,
trabalhou na sala de espera do antigo Cinema Odeon (anterior ao prédio moderno
da Cinelândia), onde muitas personalidades ilustres iam apenas para ouvi-lo.
Foi em homenagem à famosa sala de exibições que Nazareth batizou sua composição
mais famosa, o tango "Odeon". No mesmo Cine Odeon, travou
conhecimento entre outros com o pianista Arthur Rubinstein e com o compositor
Darius Milhaud, que viveu no Brasil entre 1917 e 1918 como secretário diplomático
da missão francesa.
"Seu jogo fluido,
desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma brasileira",
declarou Milhaud sobre Ernesto Nazareth. Trechos de canções de Nazareth foram
citadas por Milhaud em seu balé Le Boeuf sur le Toit (O Boi no Telhado) e a
suíte "Saudades do Brasil".
Em 1922, foi convidado pelo
compositor Luciano Gallet a participar de um recital no Instituto Nacional de
Música do Rio de Janeiro, onde executou seus tangos "Brejeiro",
"Nenê", "Bambino" e "Turuna". Esta iniciativa
encontrou resistência, tendo sido necessária a intervenção policial para garantir
a realização do concerto.
Em 1926, Nazareth embarcou para
uma turnê no estado de São Paulo, que foi planejada inicialmente para durar 3
meses mas que acabou se prolongando por 11 meses, com concertos na capital,
Campinas, Sorocaba e Tatuí. Tinha, então, 63 anos, e foi a primeira vez que
saiu do estado do Rio de Janeiro. Foi homenageado pela Cultura Artística de São
Paulo e tocou no Conservatório Dramático e Musical de Campinas. Apresentou-se
no Teatro Municipal de São Paulo, sendo precedido por uma conferência do
escritor e musicólogo Mário de Andrade sobre sua obra, na qual afirmou:
"Por todos esses caracteres e excelências, a riqueza rítmica, a falta de
vocalidade, a celularidade, o pianístico muito feita de execução difícil, a
obra de Ernesto Nazaré se distancia da produção geral congênere. É mais
artística do que a gente imagina pelo destino que teve, e deveria estar no
repertório dos nossos recitalistas. Posso lhes garantir que não estou fazendo
nenhuma afirmativa sentimental não. É a convicção desassombrada de quem desde
muito observa a obra dele. Se alguma vez a prolixidade encomprida certos
tangos, muitas das composições deste mestre de dança brasileira são criações
magistrais, em que a força conceptiva, a boniteza da invenção melódica, a
qualidade expressiva, estão dignificadas por uma perfeição de forma e
equilíbrio surpreendentes.”
Foi um dos primeiros artistas a
tocar na Rádio Sociedade (atual Rádio MEC do Rio de Janeiro). Em 1930, concluiu
sua última composição, a valsa "Resignação". No mesmo ano, gravou, ao
piano, a polca "Apanhei-te, cavaquinho" e os tangos brasileiros
"Escovado", "Turuna" e "Nenê", de sua autoria. Em
1932, apresentou um recital só com músicas de sua autoria em um concerto
precedido por uma conferência de Gastão Penalva. Neste mesmo ano, realizou uma
turnê pelo sul do país.
Vivia em uma casa no bairro de
Ipanema desde 1917. Nos final dos anos 1920, seu problema de audição,
resultante de uma queda que sofrera na infância, é agravado. Em 1932, é
diagnosticado como portador de sífilis e, em 1933, é internado na Colônia
Juliano Moreira, em Jacarepaguá.
No dia 1 de fevereiro de 1934,
Nazareth fugiu do manicômio. Seu corpo só foi encontrado três dias depois, em
estado de decomposição, flutuando nas águas da represa que abastecia a Colônia.
Jamais foi possível determinar a causa de sua morte. Foi sepultado no Cemitério
de São Francisco Xavier, no Caju, mesma região da cidade onde nascera.
Deixou 211 peças completas para
piano. Suas obras mais conhecidas são: "Apanhei-te, cavaquinho",
"Ameno Resedá" (polcas), "Confidências", "Coração que
sente", "Expansiva", "Turbilhão de beijos" (valsas),
"Odeon", "Fon-fon", "Escorregando",
"Brejeiro" "Bambino" (tangos brasileiros).
Importância musical.
Suas composições, apesar de
extremamente pianísticas, por muitas vezes retrataram o ambiente musical das
serestas e choros, expressando através do instrumento a musicalidade típica do
violão, da flauta, do cavaquinho, instrumental característico do choro, fazendo-o
revelador da alma brasileira, ou, mais especificamente, carioca. A esse
respeito, diz o musicólogo Mozart de Araújo: "As características da música
nacional foram de tal forma fixadas por ele e de tal modo ele se identificou
com o jeito brasileiro de sentir a música, que a sua obra, perdendo embora a
sua funcionalidade coreográfica imediata, se revalorizou, transformando-se hoje
no mais rico repositório de fórmulas e constâncias rítmico-melódicas, jamais
devidas, em qualquer tempo, a qualquer compositor de sua categoria". Na
produção musical do compositor, destacam-se numericamente os tangos (em torno
de 90 peças), as valsas (cerca de 40) e as polcas (cerca de 20), destinando-se
o restante a gêneros variados como mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas
etc.
É sabido que o compositor rejeitava a denominação de maxixe a seus tangos,
distinguindo-se daquele fundamentalmente pelo caráter pouco coreográfico e
predominantemente instrumental de sua obra. Deve-se ainda ressaltar em sua
produção a influência de compositores europeus, notadamente de Chopin, compositor cuja obra se dedicou a estudar meticulosamente e cuja inspiração se
reflete, sobretudo, na elaboração melódica de suas valsas.
Ernesto Nazareth ouviu os sons
que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os levou para o
piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira
do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas. Em nada
destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um
chorão como Jacob do Bandolim. O espírito do choro estará sempre presente,
estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo.
E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série
de seus quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon".
Mário de Andrade assim definiu
Nazareth: "compositor brasileiro dotado de uma extraordinária
originalidade, porque transita com fôlego entre a música popular e erudita,
fazendo-lhe a ponte, a união, o enlace".
Em 2004, por ocasião dos 70 anos
da morte do compositor, a STV em parceria com a produtora paulistana We Do
Comunicação apresentou o documentário "Ernesto Nazareth", com direção
de Dimas de Oliveira Junior e Felipe Harazim, refazendo a trajetória artística
do compositor desde seu primeiro sucesso, "Você bem sabe", de 1877,
quando tinha 14 anos. Estão presentes no documentário: declarações das
pianistas Eudóxia de Barros e Maria Teresa Madeira, do compositor Osvaldo
Lacerda, e do biógrafo Luiz Antonio de Almeida, entre outros.
Seu nome foi escolhido em votação
popular para batizar uma nova rua na região portuária do Rio de Janeiro, o
Passeio Ernesto Nazareth, inaugurado em 03 de dezembro de 2016,
Nasceu no Rio de Janeiro -
Império do Brasil, em 20 de março de 1863 e faleceu também no Rio de Janeiro em 01 de fevereiro de 1934. Estamos há 155 anos do nascimento.
SEMPRE ADMIRADA PELA IMPORTÃNCIA DO FOCUS. É NOSSA CULTURA VIVA, A CADA DIA. PARABÉNS E MUITO OBRIGADA, ALBERTO ARAÚJO. BEATRIZ ESCORCIO CHACON.
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